Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador suíços. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador suíços. Mostrar todas as postagens

sábado, 9 de julho de 2022

Supremas cortes nas democracias e no Brasil - Fernão Lara Mesquita

Com a repercussão das decisões recentes da Suprema Corte americana reinterpretando a constituição para barrar abortos e limitar os poderes do governo central de impor ao país inteiro medidas para o meio ambiente ou a segurança pública e das comparações que têm aparecido na imprensa dessas manobras técnicas com as estrepolias do "trio assombro" do STF que legisla em cima da perna conforme a cara do freguês à revelia mesmo da vasta constituição brasileira com seus 250 artigos e 111 emendas (por enquanto), cabe uma nota comparativa sobre os limites dos poderes desses tribunais nas duas democracias federativas mais sólidas do mundo. 

Sonhar não custa nada... 

A questão da atribuição de novos poderes para o governo central, para os estados e para os municípios (ditos "comunas" na Suíça) é uma discussão permanente nas duas.

O Artigo 3 da constituição suíça diz que todos os poderes futuros pertencem aos cantões (os estados), a menos que o eleitorado como um todo (nas comunas) e os cantões entre si decidam, por emenda constitucional, que eles sejam atribuídos à federação (o governo central).

A constituição americana tem uma provisão semelhante na 10a Emenda que afirma que "todos os poderes que não foram formalmente entregues ou negados à União pela constituição (em seus escassos 7 artigos e 27 emendas), pertencem, respectivamente, aos estados ou ao povo".

As duas federações exigem, portanto, que qualquer aumento dos poderes do governo central tem de acontecer via emenda constitucional.

Em outras democracias como a francesa ou mesmo a inglesa uma simples decisão governamental pode criar ou eliminar poderes e mesmo autoridades locais, o que as põem em outra prateleira em matéria de hegemonia do povo.

Mas as autoridades americanas encontraram um meio de furar esse cerco com o conceito dos "poderes implícitos" (implied powers) ou a "cláusula interestadual" (interstate clause) que permite ao governo central assumir poderes adicionais por mera interpretação da constituição a cargo da Suprema Corte que, graças a isso, ganhou os poderes excepcionais ao longo do caminho que hoje a faz objeto de cooptação por correntes ideológicas.

Se a sabedoria suíça pudesse ser reduzida a uma única frase ela seria "Todo poder concentrado gerará um foco de corrupção"
O único país da Europa que nunca teve um rei e que não tem mais nem presidente da república, elege um board de sete membros para fazer o papel que eles têm em outras praias, não permite essa pequena trapaça no governo "do povo, pelo povo e para o povo". 
Ela interpreta o Artigo 3 em seu senso estrito. 
Não apenas a criação de um banco nacional, o estabelecimento de todo e qualquer imposto federal, a criação de um sistema nacional de segurança social, a construção de estradas federais, a criação de subsídios para as universidades cantonais ou a criação de políticas ambientais, mas até assuntos muito pequenos como a concessão de subsídios federais para trilhas em parques públicos, nada escapa da obrigação de passar por emenda constitucional seguida de ratificação em referendo pelos eleitores.

Essa é a razão pela qual os suíços emendam sua constituição várias vezes por ano todo ano, o que depende de uma votação como outra qualquer que pode ser iniciada por qualquer cidadão mediante coleta de assinaturas como acontece com as emendas às constituições estaduais e municipais nos Estados Unidos. É também a razão pela qual a constituição federal americana passou por tão poucas emendas desde a sua adoção. E, finalmente, é o que explica porque a Suprema Corte americana tem tanto poder e a suíça tem tão poucos e não precisa ser disputada na guerra pelo poder que só o povo e ninguém mais que o povo tem: seus juízes, com mandatos de 8 anos, não podem mudar nada que o povo não tenha, explicitamente, querido mudar.

A consequência prática é que as mudanças na Suíça em geral demoram mais não propriamente porque o processo, que requer voto majoritário das duas câmaras do parlamento, voto majoritário do conjunto dos cantões, cada um valendo um voto e, finalmente, voto majoritário de todo o povo num referendo, seja em si mesmo demorado - tudo isso acontece com muita agilidade - mas porque é mais custoso toda a gente estar de acordo.  

Os suíços não têm pressa. Preferem não engolir sapos. As coisas lá só acontecem se e quando todo o povo está convencido da conveniência de fazê-las e pagar por elas, o que explica, além do resto, porque os gastos do governo suíço e a dívida que ele transfere ao povo são comparativamente muito menores que todos os demais do mundo.

Conclusão: democracia mesmo é a suíça. A americana já é uma cópia que manquitola um pouco. As que substituíram reis, Europa afora, são próteses e meias-solas com graus variados de desgaste. Já o resto...[Matéria excelente, didática, clara; só que o ilustre articulista não entrou em detalhes sobre a democracia brasileira (que no entendimento de algumas autoridades, especialmente, das contrárias ao governo do presidente Bolsonaro, vive sob a égide do 'estado democrático de direito) - talvez por não considerar que no Brasil exista uma democracia.
Existe sim. É uma democracia que a exemplo da prisão perpétua à brasileira = prisão preventiva no Brasil, que pode durar anos e anos, o que impede de sabermos quando acaba = das jabuticabas, da justiças eleitoral e do trabalho, que são criações brasileiras, a nossa democracia tem uma característica exclusiva: na ótica de algumas autoridades - para identificá-las vide  observação acima destacada - para preservar princípios democráticos é necessário a destruição da democracia.]
 
Vespeiro -  Fernão Lara Mesquita
 
 
 

domingo, 18 de novembro de 2018

As regras do jogo” e outras notas de Carlos Brickmann

Lula jamais ganhou eleição presidencial no primeiro turno. Mas, já que não disputou mesmo, que mal faz proclamar a vitória?

Em boa parte dos meios jurídicos, o depoimento de Lula à Justiça não foi bem visto. Com a oportunidade de ver sua defesa divulgada na íntegra para todo o país, teria tido atitude prepotente, ao tentar interrogar a juíza Gabriela Hardt – o que lhe valeu uma resposta dura e ao pôr em dúvida o tema do julgamento, algo que seus defensores devem ter-lhe informado.

Pode ser – mas o que aconteceu em Curitiba é que Lula não estava nem um pouco interessado em melhorar sua posição como réu. Seu objetivo, e não é de hoje, é político, não jurídico: é reforçar sua imagem de Salvador da Pátria e Defensor Perpétuo dos Pobres, impedido pelos poderosos, que não gostam de misturar-se à plebe nos aeroportos, de voltar à Presidência da República. Para ele, toda a questão jurídica se resume nisso: a Justiça é o instrumento de seus adversários para evitar seu grande retorno, vitorioso no primeiro turno. Lula jamais ganhou eleição presidencial no primeiro turno. Mas, já que não disputou mesmo, que mal faz proclamar a vitória?

O problema é que essa tática beneficia apenas Lula e fere seu partido. Fingir que Lula seria candidato, sabendo que não seria, custou ao PT uma pesada derrota nacional. Se Lula tinha mesmo a força que acha que tem, não precisaria fingir: bastaria dizer que, como a Justiça o perseguia e o impedia de disputar, Haddad seria seu candidato. Mas não buscava a vitória do partido: buscava, e para ele isso era o importante, crescer como lenda.

Rei morto, mas vivo
Nossa História está cheia de salvadores que só não nos levaram ao Paraíso porque algum inimigo do povo os bloqueou. Em Pernambuco, havia o “chá de Arraes”: o cidadão pegava uma foto de Miguel Arraes, fervia e guardava a água. O chá era milagroso, curava qualquer doença. Getúlio Vargas, falecido há muitos anos, foi usado por grileiros que procuravam posseiros e lhes davam algum dinheiro, “por ordem do dr. Getúlio”. O posseiro assinava o recibo com a impressão digital – e o recibo era o documento de compra e venda da terra.
Muito antes, houve Dom Sebastião, rei de Portugal: morto em batalha na África, criou-se a lenda de que um dia voltaria. Lula tem tudo, até a imagem de amigo dos pobres, para virar lenda. É nisso que aposta. E espera que o PT trabalhe para isso.

Por outro lado
O antigo presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, está preso por envolvimento no Mensalão tucano. Paulo Preto, engenheiro de destaque em governos tucanos, é investigado na Suíça. Surge agora outra investigação, na Suíça, de uma movimentação equivalente a R$ 43 milhões. O nome dos envolvidos não foi divulgado. A origem dos recursos, informam os suíços, é uma campanha presidencial tucana.

Se gritar…
Muda o partido, mudam as alianças, há gente que passa o tempo falando da corrupção (dos adversários), mas é impressionante: sai uma minhoca a cada enxadada. Como diria o sábio Sílvio Santos, quem procura acha.

Nome de peso
Foi um sucesso o nome do presidente do Banco Central escolhido pelo presidente Bolsonaro: Roberto Campos Neto, descendente de um dos criadores do Banco Central e ministro do Planejamento de Castello Branco, Roberto Campos. O ministro foi tão lembrado que, em algumas páginas de notícias, havia mais fotos dele do que do neto. Algumas lembranças foram equivocadas. Afinal, Campos deixou o Planejamento há 51 anos.
 

É mas não foi
O primeiro engano é dizer que Campos foi um guru do liberalismo brasileiro. É verdade: perto do que havia na época, Campos era ultraliberal. Mas não é verdade: ele trabalhava com controle de preços. Lembram também de Campos como economista. Não: era diplomata e historiador.
Nada que tenha a menor importância. Campos entendia de economia e, homem culto, conhecedor de História, sabia qual o destino dos países cheios de controles. Tinha humor refinado. E como escrevia bem!

Caso médico
Com a saída dos médicos cubanos, haverá problemas de atendimento ou a substituição será simples?  
 
Os cubanos, como funcionários públicos, ganhavam aqui o mesmo salário dos que ficaram em Cuba, ou eram explorados, porque dos  
R$ 11 mil mensais pagos aqui só podiam ficar com R$ 3 mil?  
 
Este colunista já encontrou as duas versões. Uma reportagem do Huffington Post traz boas entrevistas com médicos cubanos.
 
Blog do Augusto Nunes