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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

O radical Barack Obama - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

O ex-presidente norte-americano deixou uma economia em frangalhos, uma divisão grave na espinha dorsal norte-americana, e suas digitais não serão encontradas em realizações na política externa ou interna

 Em razão do aniversário de morte de Olavo de Carvalho, o primeiro a me apresentar a nefasta cartilha da Escola de Frankfurt e seus nomes, semana passada resolvi abordar aqui em Oeste não apenas o nome, mas o legado de Saul Alinsky, um apreciador da bizarra Escola de Frankfurt e mentor de Barack Obama. A interação nas redes sociais com o artigo que mostra o personagem por trás do atual Partido Democrata nos EUA foi bastante interessante e muitos, assim como eu há algum tempo, ficaram surpresos e curiosos diante do diabólico mentor do fofo Obama. Então, já que falamos do criador, hoje falaremos da criatura.

A mídia militante global baba em Barack Obama. O sujeito é um fenômeno. Não vou negar que Obama é carismático e tem uma brilhante oratória, mas vou direto ao ponto sem rodeios: Barack Obama é uma farsa. [limitando o julgamento aos presidentes dos EUA pós 2ª Guerra Mundial, divide com Jimmy Carter, o primeiro lugar entre os piores presidentes norte-americanos. Agora, com Biden, prestes a ingressar na disputa, há o risco dos dois  perderem a primeira posição entre os piores.]

Uma das primeiras mentiras espalhadas por Obama e seus minions na imprensa é a de que não houve escândalo em seu governo. Aposto que você já ouviu que o governo Obama, quaisquer que sejam suas outras pequenas falhas, claro, foi um governo “livre de escândalos” (scandal free). Muitos de seus oficiais repetiram incansavelmente, quase como um mantra, que “se orgulhavam do fato de que o governo não teve um escândalo e nunca fez absolutamente nada para se envergonhar”.

Vamos começar por um campo muito, muito sagrado para os norte-americanos. Seus veteranos de guerras e combates. Durante o segundo mandato de Obama, pelo menos 40 veteranos morreram esperando por consultas em uma Secretaria para Veteranos (Veterans Affairs), em Phoenix, Arizona. Muitos estavam em uma lista de espera secreta — parte de um esforço para esconder que entre 1,4 mil e 1,6 mil veteranos foram forçados a esperar meses por consultas. 
Uma auditoria interna em 2014 na Secretaria descobriu que quase 60 mil veteranos recém-inscritos no programa tiveram uma espera mínima de 90 dias para atendimento médico; e que outros 63 mil veteranos que se inscreveram na última década, solicitando uma consulta, nunca foram atendidos. Até mesmo Obama admitiu em uma coletiva de imprensa, em novembro de 2016, que “foi escandaloso o que aconteceu”, mesmo tendo se gabado minutos antes na mesma entrevista de que deixaria sua administração sem nenhum escândalo significativo.

Mas não foi bem assim. Um dos maiores escândalos para qualquer administração norte-americana aconteceu sob o comando de Obama: Benghazi. O norte-americano Chris Stevens e três outros oficiais foram mortos no ataque a um complexo diplomático dos EUA na Líbia e soldados norte-americanos não tiveram ajuda na operação. Faltando menos de dois meses para a eleição de 2012 (Obama concorria à reeleição), o Departamento de Estado alegou falsamente que o ataque não foi um ataque terrorista, mas uma reação a um filme antimuçulmano. E-mails oficiais mostraram posteriormente que Hillary Clinton, secretária de Estado do governo Obama, sabia que o ataque era um ato terrorista. Os promotores do Departamento de Justiça chegaram a convencer um juiz a prender o cineasta que produziu o filme que criticava muçulmanos. Há um filme espetacular sobre essa mancha militar na história norte-americana com a digital de Obama e Hillary, “13 Horas: os Soldados Secretos de Benghazi”.

Operação Fast and Furious: o Departamento de Justiça de Obama perdeu o rastro de milhares de armas que permitiu que passassem para as mãos de supostos contrabandistas, na esperança de rastreá-las aos cartéis de drogas mexicanos. Uma das armas foi usada no tiroteio fatal de 2010 contra o agente da Patrulha de Fronteira Brian Terry. O Congresso condenou o então procurador-geral, Eric Holder, por desacato, quando ele se recusou a entregar os documentos sobre a operação.

O escândalo da Receita Federal. Em 2013, foi divulgado que oficiais da Internal Revenue Service, um braço da Receita Federal norte-americana, tinham como alvo grupos conservadores e do Tea Party para um escrutínio extra antes da eleição presidencial de 2012 entre o presidente democrata Barack Obama e o republicano Mitt Romney. As consequências foram pesadas e, pelo menos nessa ocasião, levaram à renúncia do chefe da agência tributária.

E o escândalo dos e-mails de Hillary Clinton. Quem não se lembra! Em um esforço para burlar as leis federais de registros, a secretária de Estado de Obama criou um servidor privado e usou-o exclusivamente para conduzir negócios oficiais, incluindo comunicações com o presidente e transmissão de material confidencial. Uma investigação criminal federal não produziu acusações (não é só no Brasil, não…), mas o diretor do FBI, James Comey, relatou que Hillary e seus colegas “foram extremamente descuidados” ao lidar com segredos nacionais. O caso veio à tona novamente na eleição presidencial em 2016, quando Hillary era a oponente de Donald Trump. Ela acusou o ex-diretor do FBI de prejudicar sua campanha.

O assunto petróleo sempre foi de interesse global, claro, mas, diante da atual guerra na Ucrânia, o tópico permeia também o debate público de maneira bem mais detalhada. O que poucos norte-americanos sabem é que em 2019, pela primeira vez desde pelo menos a década de 1940, os Estados Unidos exportaram mais petróleo do que importaram, estimulando o crescimento econômico. Isso foi conquistado em grande parte devido à decisão de Donald Trump de remover as onerosas restrições da era Obama à produção de petróleo em terras federais. Há apenas uma década, os avanços tecnológicos em perfuração direcional — comumente chamado de “fracking” — criaram um aumento na produção de petróleo dos EUA. A produção de petróleo do ano fiscal de 2009 a 2017 mais que dobrou em terras privadas e estatais, graças quase inteiramente à revolução do fracking. No entanto, durante o mesmo período em terras federais, praticamente não houve mudança na produção de petróleo. Embora os produtores de petróleo pudessem extrair melhor o petróleo de terras federais arrendadas, o governo Obama reduziu drasticamente o acesso dos produtores a essas terras. Como resultado, a porcentagem de petróleo produzido em terras federais caiu de 36% em 2009 para apenas 22% em 2016.

Uma vez que perdeu a maioria no Congresso, Obama assinou leis incrivelmente inconstitucionais, como o Obamacare, um programa de saúde federal que ignora o sagrado federalismo norte-americano

Em 2017, Trump iniciou seu primeiro mandato revertendo as políticas restritivas de perfuração de Obama. Como resultado, a produção de petróleo em terras federais em 2017 aumentou dramaticamente. De acordo com o Bureau of Land Management federal, a receita das vendas de aluguel de petróleo e gás quase dobrou no primeiro ano do governo Trump, em comparação com o último ano do governo Obama. A revolução do fracking aumentou significativamente a produção de petróleo dos EUA e baixou os preços do petróleo e da gasolina, explorados em propriedades federais. Além de sufocar a produção de petróleo em terras federais, Obama criticou rotineiramente o petróleo como fonte de energia e até impediu os produtores nos EUA de exportarem petróleo para outros países. Em 2015, Obama concordou em não vetar a legislação do Congresso que permitia as exportações de petróleo, mas só o fez depois que os republicanos concordaram em autorizar subsídios adicionais de energia renovável em troca. Depois da quase impossível independência energética adquirida pela administração de Trump, Joe Biden revogou as medidas do republicano, e hoje os EUA não apenas importam mais que exportam, mas Biden teve de pedir ao ditador venezuelano para ajudar na produção.

A administração Obama pode ter sido uma das que mais cometeram ilegalidades na história dos Estados Unidos. O 44º presidente norte-americano se viu muitas vezes acima da lei, ignorando os limites legais do Executivo e desrespeitando limites constitucionais como o federalismo e a separação dos Poderes, coisa de Terceiro Mundo. Até progressistas, como o professor de Direito Garrett Epps, admitiram que, “mesmo para aqueles que, como eu, admiram Barack Obama, o registro constitucional da administração é perturbadoramente confuso. Obama deixa a Constituição mais fraca do que no início de seus mandatos”. Epps rotula a postura de Obama de “conformidade agressiva”, torturando a linguagem estatutária o máximo possível para evitar reivindicações constitucionais.

Epps aponta primeiro para a intervenção na Líbia, em 2011, a mesma que gerou Benghazi. Essa intervenção não envolveu autorização do Congresso para o uso da força, nem conformidade com a Lei dos Poderes de Guerra de 1973, que exige pelo menos notificação do Congresso sobre compromissos de tropas e permissão afirmativa após 60 dias. Obama ignorou a Constituição e afirmou que os ataques com mísseis e dezenas de missões aéreas com drones constituíam apenas “ação militar cinética”, e não operação de guerra.

Uma vez que perdeu a maioria no Congresso, Obama assinou leis incrivelmente inconstitucionais, como o Obamacare, um programa de saúde federal que ignora o sagrado federalismo norte-americano e a autonomia dos Estados. Obama, mirando na visão progressista de Woodrow Wilson sobre o Estado administrativo, constantemente aplicou suas frustrações no sistema de freios e contrapesos que inibia sua capacidade de “transformar fundamentalmente o país”, como ele sempre pregou. A falta de aquiescência do Congresso não impediu Obama de fazer o que queria para “transformar fundamentalmente o país”. Já no primeiro mandato, o governo lançou uma iniciativa “Não podemos esperar”, com o assessor sênior Dan Pfeiffer explicando que, “quando o Congresso não agir, este presidente o fará”. E, quando o reeleito presidente Obama anunciou seus planos econômicos para o segundo mandato, ele disse: “Não permitirei que o impasse, a inação ou a indiferença deliberada se interponham em nosso caminho”.

(Vocês têm alguém em mente?)

Obamagate. Só esse tópico daria um livro. Em todas as discussões sobre o uso do Departamento de Justiça (DOJ) e do FBI como armas políticas, a corrupção nos mais altos escalões dessas agências e o abuso em série do processo secreto da Fisa (pedidos de mandados especiais para juízes especiais em assuntos que envolvem segurança nacional) em torno da eleição presidencial de 2016, um nome está sempre envolvido: Barack Obama. É claro que essas vertentes obscuras institucionais não se materializaram da noite para o dia. Uma das críticas ao presidente Nixon foi que, embora não soubesse da invasão de Watergate, ele havia criado um ambiente no qual tal ação era aceitável. Décadas depois, Obama criou um clima no qual o uso indevido e potencialmente criminoso do DOJ e do FBI, como atualmente vem sendo desvendado, não era apenas aceitável, mas talvez encorajado, dando origem ao que poderia ser o escândalo mais perigoso da história norte-americana: o Obamagate. Uma teia de espionagem e uso das instituições para derrotar e até incriminar inimigos políticos.

Mas algo muito mais profundo impulsionou os esforços do fofo Obama para implementar sua agenda e sua urgência na “transformação fundamental do país” — um grande projeto muito maior do que o próprio Obama ou qualquer outra figura isolada. Ele cumpriu em grande parte a ambição progressista de longa data de mudar o curso da nação. As pautas identitárias saíram de todas as teorias alinskyanas e ganharam escolas e universidades com uma força brutal, impulsionada por Hollywood e seus satélites.

Em uma revolução silenciosa, como ensina seu mentor, Obama pregou a divisão completa do país, começando por negros vs. brancos. A agenda segregacionista e divisiva seguiu a todo vapor na sociedade norte-americana: 
- gays contra héteros, filhos contra pais, mulheres contra homens, e a pior de todas elas: norte-americanos contra norte-americanos. 
 Foi durante a administração Obama que republicanos — eleitores, políticos e oficiais — passaram a receber uma intolerância jamais vista. Nazista, fascista, racista… toda a lista de “istas” saiu das pequenas esferas de uma animosidade política cotidiana e tomou conta do grande debate e de braços do Judiciário, com sérios investimentos de Obama em estigmatizar aqueles que não rezavam a cartilha de Alinsky, agora implementada por Barack e sua fofurice diabólica na sociedade norte-americana.

Obama entendeu que uma revolução eficiente hoje em dia é aquela que implode tradições e pilares democráticos de dentro para fora. Numa viagem pela Ásia, em 2016, por exemplo, Obama caracterizou seus compatriotas norte-americanos — os trabalhadores mais produtivos da nação mais próspera do mundo — como “preguiçosos”. Ele chegou a ridicularizar os norte-americanos por uma lista de supostas transgressões que vão desde a Guerra do Vietnã até a profanação ambiental e o tratamento dado aos nativos norte-americanos no século 19: “Se você está nos Estados Unidos, às vezes você pode se sentir preguiçoso e pensar que somos tão grandes que não precisamos realmente saber nada sobre outras pessoas”.

Há muito mais para ser mostrado sobre o que — de fato — foi o governo Obama e quem é Barack Obama. O livro The Worst President in History: The Legacy of Barack Obama, de Matt Margolis e Mark Noonan, mostra detalhes de todos os fatos de seus oito anos na Casa Branca, para que o livro ganhasse esse título. Mas o legado do filhote de Alinsky pode ser resumido no fato de que Obama fortaleceu a esquerda radical nos EUA. Outros tentaram no passado, fato. Mas ele estabeleceu um legado retórico progressista no lugar de qualquer conquista legislativa ou de política externa duradoura e fez de sua Presidência um eterno palanque histérico para a promessa de “transformar fundamentalmente o país”. (Parece familiar?)

The Worst President in History , de Matt Margolis e Mark Noonan | Foto: Divulgação

Obama deixou uma economia em frangalhos, uma divisão grave na espinha dorsal norte-americana, e suas digitais não serão encontradas em realizações na política externa ou interna. Mais provavelmente, ele será visto como um progressista radical que deixou o cargo da mesma maneira que entrou — como um crítico da cultura e do país em que prosperou e se tornou presidente. Um país “racista” que elegeu um homem negro para a Presidência por duas vezes.

Leia também “Quem é Saul Alinsky”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste 

 

terça-feira, 31 de maio de 2022

A farsa da linguagem “neutra” - Gazeta do Povo

J.R. Guzzo

linguagem neutra

Veteranos do curso de Letras da UFMG recepcionam calouros com uso da linguagem neutra. -  Foto: Reprodução

A linguagem “neutra”, que tanto encanta burocratas de RH, gerentes de marketing inclusivos e demais devotos de “pautas” definidas por eles mesmos como “progressistas”, é um tipo de estupidez francamente incomum. Em geral, esse tipo de anomalia germina nos lixões mentais onde se cultivam e se colhem as ideias vadias.  
No caso, porém, a mania de eliminar o feminino e o masculino da gramática portuguesa vem de onde se espera que venha justamente o contrário – as escolas secundárias e as universidades, cujo dever perante a sociedade é promover o avanço do conhecimento, da cultura e da lógica. É para isso que são pagas. Se for para propagar o erro e a ignorância, elas perdem o sentido. É o que está acontecendo.
 
A linguagem do “todes” e do “iles”, que tanto prospera hoje em dia nas cerimônias de formatura de universidades e no credo ideológico de escolas de gente rica, é antes de tudo um erro de português – seria mais o menos como ensinar, na aritmética, que 2 + 2 são 22, ou que o ângulo reto ferve a 90 graus. 
 Não há, realmente, como sair disso: usar o feminino e o masculino é um requisito fundamental do português, idioma oficial do Brasil e, mais do que tudo, a língua que o povo brasileiro fala no seu dia a dia, de maneira livre, natural e sem nenhuma imposição vinda de cima ou de fora.

O cidadão fala o português da maneira como aprende em casa, como lhe vem à cabeça e como está acostumado a falar em sua vida: não pode, simplesmente, ser obrigado a falar de um modo diferente. Querer impor o contrário é uma violência. Acima de tudo, é contra a lógica. Nossos catedráticos e outros altos pedagogos querem que os bebês sejam chamados de ”menines”. Tudo bem: mas é menino ou menina? Xeque-mate.

Fica, desde logo, um problema insolúvel: por acaso as escolas e as universidades vão passar a reprovar, nos exames, os alunos que escreverem ou falarem o português correto? 
Os devotos da “abolição de gêneros” não admitem que se chame uma mulher de “ela” e um homem de “ele”, mas nos manuais de gramática portuguesa está escrito que é isso, exatamente isso, o que as pessoas devem fazer, se quiserem se expressar no idioma nacional.

Como é que fica, então? Os militantes da “linguagem neutra” vão chamar o Ministério Público para processar criminalmente os infratores por atos contra a democracia, o igualitarismo e as “causas identitárias”? Ou, pior ainda, por “homofobia” – crime “equivalente ao racismo”? Será que vão apresentar um projeto de lei no Congresso para impor a sua nova língua à população?

Tudo isso é um completo absurdo, mas é assim que os responsáveis pelas universidades e escolas secundárias querem que seja. Não vão conseguir, é claro. O que chama a atenção, nessa história toda, não é o efeito concreto da fantasia que querem impor; ninguém vai começar a falar “ile”, “bem vinde” e outras cretinices do mesmo tipo, porque ninguém consegue obrigar um povo a falar uma língua que não é a sua.

Língua não é produto de alguma cerebração intelectual processada em agências de publicidade
, e sim da vontade, da prática e da inclinação da população em falar de uma determinada maneira. A “linguagem neutra”, nesse sentido, tem as mesmas possibilidades de sucesso que o esperanto, e demais tentativas de se criar línguas artificiais. O que impressiona, mesmo, é o tamanho da farsa.

J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

 

sábado, 4 de julho de 2020

Ibaneis decreta abertura total

 Julianna Sofia – Folha de S. Paulo


Governador do DF determinou reabertura total
Na largada da pandemia, Ibaneis Rocha (Distrito Federal) ousou ser o primeiro governador do país a fechar escolas e impor medidas restritivas de circulação de pessoas para conter o vírus. O DF registrava apenas um caso da doença, e a prontidão da medida suscitou críticas sobre sua precocidade. Contrastava com o negacionismo do Palácio do Planalto. Por vezes, Ibaneis censurou Jair Bolsonaro pela participação em manifestações na Esplanada. "Atrapalha. Traz uma informação de cenário político dividido e, para a população, sinaliza de forma errada."

Tanta cautela e ainda assim o DF era considerado em fase de aceleração descontrolada do vírus. Com o surto aparentemente contido após semanas e com a baixa ocupação de leitos para Covid-19 (25%), o Palácio do Buriti voltou a ousar. Foi uma das primeiras unidades da federação a flexibilizar as regras de isolamento. Simultaneamente lançou um amplo programa de testagem. [Programa de testagem que conseguiu a proeza de enviar resultado de NEGATIVO, antes do exame ser realizado.] Mas os frutos da impertinência brotaram. O relaxamento fez o quadro se deteriorar e, mesmo com o aumento da oferta de leitos, a ocupação de unidades exclusivas se aproxima do limite. Na rede privada, o índice supera 90%, e na pública, 64%; as UTIs registram 75%.

Com alta taxa de transmissão, a capital federal se torna um dos eixos do novo epicentro da pandemia — Sul e Centro-Oeste. Relatos médicos viralizam, alertando para iminente colapso do sistema, ao passo que surgem investigações sobre fraudes nas compras públicas de testes. Um tresloucado Ibaneis declarou, na segunda (29), estado de calamidade (por mais verbas federais?). Na quinta (2), porém, editou decreto para reabertura total, inclusive das escolas, em um abreviado cronograma até agosto. Em espasmos doidivanas, agora declara que restrições à circulação "não servem mais para nada" e que é preciso tratar a doença "como uma gripe".

[apesar das restrições que temos ao Ibaneis, nosso compromisso com a verdade  impõe:
No DF desde o inicio desta semana que o número de pacientes recuperados a cada 24 horas supera o de contaminados no mesmo tempo.
Tendencia firme, visto que há pouco mais de 20 dias a diferença entre contaminados e recuperados diminui - pelo crescimento do número dos curados.
Nos últimos 15 dias, o índice de letalidade só cai - atualmente é de 1,2.

Uma contra o Ibaneis: ele foi flagrado em local público, sem máscara - decretou o uso obrigatório de máscara (multa de R$ 2.000,00) e não usa máscara e nem é multado.

Razões do desalento: nas primeiras reuniões de governadores, Ibaneis começou a ter aspirações de ser nomeado PRESIDENTE do 'conselho de governadores'.
Mas, logo percebeu que lealdade e sinceridade são qualidades raras naquele conselho e ficou desalentado.

Governador Ibaneis, política é para profissionais, veteranos.]

Emula Bolsonaro, de quem se aproxima cada vez mais politicamente, para empilhar mortos.

Julianna Sofia, jornalista - Folha de S. Paulo


sábado, 2 de fevereiro de 2019

A hora da verdade

A lufada de ar fresco na política é benéfica. Resta saber como irão se portar deputados e senadores quando tiverem de decidir entre o desejo de seus eleitores e o que for melhor para o País

Começou, enfim, o teste da chamada “nova política”. Os congressistas que tomaram posse ontem compõem uma legislatura marcada por histórica renovação. Na Câmara dos Deputados, 243 das 513 cadeiras agora são ocupadas por parlamentares que jamais exerceram o cargo de deputado federal, uma taxa de renovação de 47,4%, a maior desde 1998. No Senado a mudança é ainda mais expressiva. Das 54 vagas disputadas no ano passado, 46 foram conquistadas por novos nomes. Tamanha renovação - 85%, o que dá aos novatos a maioria na Casa, composta por 81 senadores - é a maior desde a redemocratização.

A lufada de ar fresco no Congresso é benéfica na medida em que reflete o estado de espírito da Nação. Nada mais democrático do que um Parlamento que reproduz as vontades e disposições da sociedade que o elegeu. Nos últimos cinco anos, em especial na esteira das manifestações de junho de 2013, cresceu no seio de parcela expressiva da população o sentimento de fastio, não raro combinado com repugnância, em relação a tudo e a todos que representavam o que se passou a chamar de “velha política”. Nesta expressão cabem desde práticas de compadrio, patrimonialismo e corrupção - alijando o interesse nacional das discussões políticas - até oligarcas que vinham perpetuando um modo de fazer política que mantém o País no atraso. Desejou-se algo “novo” na política e assim se deu.

A novidade, no entanto, não é uma qualidade em si mesma. Um Congresso renovado não será, necessariamente, um Congresso melhor se, ao fim e ao cabo, novos rostos reproduzirem velhas mentalidades. A sociedade há de ser vigilante sobre os recém-empossados - novos ou não - se quiser, de fato, ver materializada a “nova política” que tanto desejou. A esmagadora maioria dos novos parlamentares foi eleita sob o signo da antipolítica, por paradoxal que isso pareça. Uma nuvem cinzenta pairou sobre o debate eleitoral havido no último ano, confundindo um legítimo anseio por mudanças na política com a sua própria negação. Essa perigosíssima confusão, em boa medida, foi provocada pelo jacobinismo de setores do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário, que por interesses nunca bem explicados disseminaram a ideia de que todos os políticos são iguais e todos são corruptos. 

Assim foi pavimentada a estrada que nos trouxe até aqui.  Fato é que tanto os calouros como os veteranos da política terão de fazer parte de legítimos esforços para sanear os hábitos perniciosos que contaminaram a atividade parlamentar e aprovar projetos de lei e emendas à Constituição sem os quais não serão debeladas as crises política, econômica, social e moral que solapam o desenvolvimento nacional.
Por “nova política”, assim como foi clamada pela sociedade, deve-se entender, antes de tudo, o exercício da representação parlamentar tendo o interesse nacional acima de tudo. Aqueles que são novos no Congresso e pretendem escrever história devem ter isso em mente, pois não serão raros os momentos em que os parlamentares desta legislatura estarão diante de um conflito entre os interesses imediatos de seus eleitores e aquilo que é melhor e essencial para o País. E esse conflito de interesses deve-se resolver, sempre, em favor do bem-estar da Nação e nunca em favor do conforto dos grupos que se organizam para obter benesses e “adquirir” direitos.

Como é sabido, as redes sociais, entre outros fatores, revolucionaram o modo de fazer campanha eleitoral. A atual composição do Congresso é um retrato bem acabado deste fenômeno. Será comum ver parlamentares transitando pelos corredores de Brasília falando “sozinhos” olhando para seus telefones celulares, praticamente exercendo seus mandatos ao vivo para os eleitores que a tudo acompanham na internet. A comunicação instantânea funcionará muito bem enquanto for bem servido o interesse nacional. Resta saber como irão se portar deputados e senadores quando tiverem de decidir entre duas coisas que nem sempre andam juntas: o desejo de seus eleitores e o que for melhor para o Brasil. Esta será a hora da verdade para antigos e novos políticos.

N. da R. - Pelos acontecimentos de ontem no Senado, conclui-se que, pelo menos naquela Casa, não haverá nada de novo.