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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

O radical Barack Obama - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

O ex-presidente norte-americano deixou uma economia em frangalhos, uma divisão grave na espinha dorsal norte-americana, e suas digitais não serão encontradas em realizações na política externa ou interna

 Em razão do aniversário de morte de Olavo de Carvalho, o primeiro a me apresentar a nefasta cartilha da Escola de Frankfurt e seus nomes, semana passada resolvi abordar aqui em Oeste não apenas o nome, mas o legado de Saul Alinsky, um apreciador da bizarra Escola de Frankfurt e mentor de Barack Obama. A interação nas redes sociais com o artigo que mostra o personagem por trás do atual Partido Democrata nos EUA foi bastante interessante e muitos, assim como eu há algum tempo, ficaram surpresos e curiosos diante do diabólico mentor do fofo Obama. Então, já que falamos do criador, hoje falaremos da criatura.

A mídia militante global baba em Barack Obama. O sujeito é um fenômeno. Não vou negar que Obama é carismático e tem uma brilhante oratória, mas vou direto ao ponto sem rodeios: Barack Obama é uma farsa. [limitando o julgamento aos presidentes dos EUA pós 2ª Guerra Mundial, divide com Jimmy Carter, o primeiro lugar entre os piores presidentes norte-americanos. Agora, com Biden, prestes a ingressar na disputa, há o risco dos dois  perderem a primeira posição entre os piores.]

Uma das primeiras mentiras espalhadas por Obama e seus minions na imprensa é a de que não houve escândalo em seu governo. Aposto que você já ouviu que o governo Obama, quaisquer que sejam suas outras pequenas falhas, claro, foi um governo “livre de escândalos” (scandal free). Muitos de seus oficiais repetiram incansavelmente, quase como um mantra, que “se orgulhavam do fato de que o governo não teve um escândalo e nunca fez absolutamente nada para se envergonhar”.

Vamos começar por um campo muito, muito sagrado para os norte-americanos. Seus veteranos de guerras e combates. Durante o segundo mandato de Obama, pelo menos 40 veteranos morreram esperando por consultas em uma Secretaria para Veteranos (Veterans Affairs), em Phoenix, Arizona. Muitos estavam em uma lista de espera secreta — parte de um esforço para esconder que entre 1,4 mil e 1,6 mil veteranos foram forçados a esperar meses por consultas. 
Uma auditoria interna em 2014 na Secretaria descobriu que quase 60 mil veteranos recém-inscritos no programa tiveram uma espera mínima de 90 dias para atendimento médico; e que outros 63 mil veteranos que se inscreveram na última década, solicitando uma consulta, nunca foram atendidos. Até mesmo Obama admitiu em uma coletiva de imprensa, em novembro de 2016, que “foi escandaloso o que aconteceu”, mesmo tendo se gabado minutos antes na mesma entrevista de que deixaria sua administração sem nenhum escândalo significativo.

Mas não foi bem assim. Um dos maiores escândalos para qualquer administração norte-americana aconteceu sob o comando de Obama: Benghazi. O norte-americano Chris Stevens e três outros oficiais foram mortos no ataque a um complexo diplomático dos EUA na Líbia e soldados norte-americanos não tiveram ajuda na operação. Faltando menos de dois meses para a eleição de 2012 (Obama concorria à reeleição), o Departamento de Estado alegou falsamente que o ataque não foi um ataque terrorista, mas uma reação a um filme antimuçulmano. E-mails oficiais mostraram posteriormente que Hillary Clinton, secretária de Estado do governo Obama, sabia que o ataque era um ato terrorista. Os promotores do Departamento de Justiça chegaram a convencer um juiz a prender o cineasta que produziu o filme que criticava muçulmanos. Há um filme espetacular sobre essa mancha militar na história norte-americana com a digital de Obama e Hillary, “13 Horas: os Soldados Secretos de Benghazi”.

Operação Fast and Furious: o Departamento de Justiça de Obama perdeu o rastro de milhares de armas que permitiu que passassem para as mãos de supostos contrabandistas, na esperança de rastreá-las aos cartéis de drogas mexicanos. Uma das armas foi usada no tiroteio fatal de 2010 contra o agente da Patrulha de Fronteira Brian Terry. O Congresso condenou o então procurador-geral, Eric Holder, por desacato, quando ele se recusou a entregar os documentos sobre a operação.

O escândalo da Receita Federal. Em 2013, foi divulgado que oficiais da Internal Revenue Service, um braço da Receita Federal norte-americana, tinham como alvo grupos conservadores e do Tea Party para um escrutínio extra antes da eleição presidencial de 2012 entre o presidente democrata Barack Obama e o republicano Mitt Romney. As consequências foram pesadas e, pelo menos nessa ocasião, levaram à renúncia do chefe da agência tributária.

E o escândalo dos e-mails de Hillary Clinton. Quem não se lembra! Em um esforço para burlar as leis federais de registros, a secretária de Estado de Obama criou um servidor privado e usou-o exclusivamente para conduzir negócios oficiais, incluindo comunicações com o presidente e transmissão de material confidencial. Uma investigação criminal federal não produziu acusações (não é só no Brasil, não…), mas o diretor do FBI, James Comey, relatou que Hillary e seus colegas “foram extremamente descuidados” ao lidar com segredos nacionais. O caso veio à tona novamente na eleição presidencial em 2016, quando Hillary era a oponente de Donald Trump. Ela acusou o ex-diretor do FBI de prejudicar sua campanha.

O assunto petróleo sempre foi de interesse global, claro, mas, diante da atual guerra na Ucrânia, o tópico permeia também o debate público de maneira bem mais detalhada. O que poucos norte-americanos sabem é que em 2019, pela primeira vez desde pelo menos a década de 1940, os Estados Unidos exportaram mais petróleo do que importaram, estimulando o crescimento econômico. Isso foi conquistado em grande parte devido à decisão de Donald Trump de remover as onerosas restrições da era Obama à produção de petróleo em terras federais. Há apenas uma década, os avanços tecnológicos em perfuração direcional — comumente chamado de “fracking” — criaram um aumento na produção de petróleo dos EUA. A produção de petróleo do ano fiscal de 2009 a 2017 mais que dobrou em terras privadas e estatais, graças quase inteiramente à revolução do fracking. No entanto, durante o mesmo período em terras federais, praticamente não houve mudança na produção de petróleo. Embora os produtores de petróleo pudessem extrair melhor o petróleo de terras federais arrendadas, o governo Obama reduziu drasticamente o acesso dos produtores a essas terras. Como resultado, a porcentagem de petróleo produzido em terras federais caiu de 36% em 2009 para apenas 22% em 2016.

Uma vez que perdeu a maioria no Congresso, Obama assinou leis incrivelmente inconstitucionais, como o Obamacare, um programa de saúde federal que ignora o sagrado federalismo norte-americano

Em 2017, Trump iniciou seu primeiro mandato revertendo as políticas restritivas de perfuração de Obama. Como resultado, a produção de petróleo em terras federais em 2017 aumentou dramaticamente. De acordo com o Bureau of Land Management federal, a receita das vendas de aluguel de petróleo e gás quase dobrou no primeiro ano do governo Trump, em comparação com o último ano do governo Obama. A revolução do fracking aumentou significativamente a produção de petróleo dos EUA e baixou os preços do petróleo e da gasolina, explorados em propriedades federais. Além de sufocar a produção de petróleo em terras federais, Obama criticou rotineiramente o petróleo como fonte de energia e até impediu os produtores nos EUA de exportarem petróleo para outros países. Em 2015, Obama concordou em não vetar a legislação do Congresso que permitia as exportações de petróleo, mas só o fez depois que os republicanos concordaram em autorizar subsídios adicionais de energia renovável em troca. Depois da quase impossível independência energética adquirida pela administração de Trump, Joe Biden revogou as medidas do republicano, e hoje os EUA não apenas importam mais que exportam, mas Biden teve de pedir ao ditador venezuelano para ajudar na produção.

A administração Obama pode ter sido uma das que mais cometeram ilegalidades na história dos Estados Unidos. O 44º presidente norte-americano se viu muitas vezes acima da lei, ignorando os limites legais do Executivo e desrespeitando limites constitucionais como o federalismo e a separação dos Poderes, coisa de Terceiro Mundo. Até progressistas, como o professor de Direito Garrett Epps, admitiram que, “mesmo para aqueles que, como eu, admiram Barack Obama, o registro constitucional da administração é perturbadoramente confuso. Obama deixa a Constituição mais fraca do que no início de seus mandatos”. Epps rotula a postura de Obama de “conformidade agressiva”, torturando a linguagem estatutária o máximo possível para evitar reivindicações constitucionais.

Epps aponta primeiro para a intervenção na Líbia, em 2011, a mesma que gerou Benghazi. Essa intervenção não envolveu autorização do Congresso para o uso da força, nem conformidade com a Lei dos Poderes de Guerra de 1973, que exige pelo menos notificação do Congresso sobre compromissos de tropas e permissão afirmativa após 60 dias. Obama ignorou a Constituição e afirmou que os ataques com mísseis e dezenas de missões aéreas com drones constituíam apenas “ação militar cinética”, e não operação de guerra.

Uma vez que perdeu a maioria no Congresso, Obama assinou leis incrivelmente inconstitucionais, como o Obamacare, um programa de saúde federal que ignora o sagrado federalismo norte-americano e a autonomia dos Estados. Obama, mirando na visão progressista de Woodrow Wilson sobre o Estado administrativo, constantemente aplicou suas frustrações no sistema de freios e contrapesos que inibia sua capacidade de “transformar fundamentalmente o país”, como ele sempre pregou. A falta de aquiescência do Congresso não impediu Obama de fazer o que queria para “transformar fundamentalmente o país”. Já no primeiro mandato, o governo lançou uma iniciativa “Não podemos esperar”, com o assessor sênior Dan Pfeiffer explicando que, “quando o Congresso não agir, este presidente o fará”. E, quando o reeleito presidente Obama anunciou seus planos econômicos para o segundo mandato, ele disse: “Não permitirei que o impasse, a inação ou a indiferença deliberada se interponham em nosso caminho”.

(Vocês têm alguém em mente?)

Obamagate. Só esse tópico daria um livro. Em todas as discussões sobre o uso do Departamento de Justiça (DOJ) e do FBI como armas políticas, a corrupção nos mais altos escalões dessas agências e o abuso em série do processo secreto da Fisa (pedidos de mandados especiais para juízes especiais em assuntos que envolvem segurança nacional) em torno da eleição presidencial de 2016, um nome está sempre envolvido: Barack Obama. É claro que essas vertentes obscuras institucionais não se materializaram da noite para o dia. Uma das críticas ao presidente Nixon foi que, embora não soubesse da invasão de Watergate, ele havia criado um ambiente no qual tal ação era aceitável. Décadas depois, Obama criou um clima no qual o uso indevido e potencialmente criminoso do DOJ e do FBI, como atualmente vem sendo desvendado, não era apenas aceitável, mas talvez encorajado, dando origem ao que poderia ser o escândalo mais perigoso da história norte-americana: o Obamagate. Uma teia de espionagem e uso das instituições para derrotar e até incriminar inimigos políticos.

Mas algo muito mais profundo impulsionou os esforços do fofo Obama para implementar sua agenda e sua urgência na “transformação fundamental do país” — um grande projeto muito maior do que o próprio Obama ou qualquer outra figura isolada. Ele cumpriu em grande parte a ambição progressista de longa data de mudar o curso da nação. As pautas identitárias saíram de todas as teorias alinskyanas e ganharam escolas e universidades com uma força brutal, impulsionada por Hollywood e seus satélites.

Em uma revolução silenciosa, como ensina seu mentor, Obama pregou a divisão completa do país, começando por negros vs. brancos. A agenda segregacionista e divisiva seguiu a todo vapor na sociedade norte-americana: 
- gays contra héteros, filhos contra pais, mulheres contra homens, e a pior de todas elas: norte-americanos contra norte-americanos. 
 Foi durante a administração Obama que republicanos — eleitores, políticos e oficiais — passaram a receber uma intolerância jamais vista. Nazista, fascista, racista… toda a lista de “istas” saiu das pequenas esferas de uma animosidade política cotidiana e tomou conta do grande debate e de braços do Judiciário, com sérios investimentos de Obama em estigmatizar aqueles que não rezavam a cartilha de Alinsky, agora implementada por Barack e sua fofurice diabólica na sociedade norte-americana.

Obama entendeu que uma revolução eficiente hoje em dia é aquela que implode tradições e pilares democráticos de dentro para fora. Numa viagem pela Ásia, em 2016, por exemplo, Obama caracterizou seus compatriotas norte-americanos — os trabalhadores mais produtivos da nação mais próspera do mundo — como “preguiçosos”. Ele chegou a ridicularizar os norte-americanos por uma lista de supostas transgressões que vão desde a Guerra do Vietnã até a profanação ambiental e o tratamento dado aos nativos norte-americanos no século 19: “Se você está nos Estados Unidos, às vezes você pode se sentir preguiçoso e pensar que somos tão grandes que não precisamos realmente saber nada sobre outras pessoas”.

Há muito mais para ser mostrado sobre o que — de fato — foi o governo Obama e quem é Barack Obama. O livro The Worst President in History: The Legacy of Barack Obama, de Matt Margolis e Mark Noonan, mostra detalhes de todos os fatos de seus oito anos na Casa Branca, para que o livro ganhasse esse título. Mas o legado do filhote de Alinsky pode ser resumido no fato de que Obama fortaleceu a esquerda radical nos EUA. Outros tentaram no passado, fato. Mas ele estabeleceu um legado retórico progressista no lugar de qualquer conquista legislativa ou de política externa duradoura e fez de sua Presidência um eterno palanque histérico para a promessa de “transformar fundamentalmente o país”. (Parece familiar?)

The Worst President in History , de Matt Margolis e Mark Noonan | Foto: Divulgação

Obama deixou uma economia em frangalhos, uma divisão grave na espinha dorsal norte-americana, e suas digitais não serão encontradas em realizações na política externa ou interna. Mais provavelmente, ele será visto como um progressista radical que deixou o cargo da mesma maneira que entrou — como um crítico da cultura e do país em que prosperou e se tornou presidente. Um país “racista” que elegeu um homem negro para a Presidência por duas vezes.

Leia também “Quem é Saul Alinsky”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste 

 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

A mulher de 3,5 trilhões de dólares: senadora americana trava Biden - Blog Mundialista

O programa de gigantescos projetos sociais do presidente depende de dois senadores - e Kyrsten Sinema é o mais inesperado obstáculo

Kyrsten Sinema é bissexual. Pronto, tiramos o assunto do caminho. Muito mais incomum é a trajetória política que ela fez: foi da esquerda do Partido Verde para a direita do Partido Democrata.

A senadora pelo estado do Arizona e o colega Joe Manchin são os dois maiores obstáculos à gastança que Joe Biden quer liberar, com o apoio entusiasmado da ala de esquerda do partido, louca para ver 3,5 trilhões de dólares jorrando sobre vastos projetos sociais, de creches a projetos de transição para a economia verde.

Manchin sempre foi um moderado defensor do bom comportamento fiscal. A surpresa  é Sinema nessa dança pelos votos no Senado, onde o governo precisa dos 50 senadores que votam com os democratas, mais o desempate da vice-presidente Kamala Harris, para aprovar os projetos que têm apoio zero do Partido Republicano. Além de achar que o pacote de 3,5 trilhões é excessivamente gastador, ela também é contra aumento de impostos para as faixas de renda mais altas, outra heresia para os progressistas.

Tendo se transformado em alvo preferencial de múltiplas correntes esquerdistas, Kyrsten Sinema sentiu na pele o que é virar vilã: foi seguida, cobrada e filmada por um grupo de jovens militantes que a abordaram na saída da classe onde dá aulas para o curso de assistência social da Universidade do Estado do Arizona. Os ativistas entraram com ela no banheiro feminino e não largaram do celular nem no momento de intimidade que deveria ser protegido pelo direito à privacidade garantido a qualquer cidadão.

O vídeo viralizou e a senadora de 45 anos ganhou mais pontos com a direita, uma posição altamente improvável para uma política que gosta de usar roupas espalhafatosas, botas pelo meio da coxa, bijuterias gigantescas, perucas em tons de verde ou rosa, vestidos cavados e decotados, mostrando o corpo moldado em maratonas e competições de triatlo.

E na cabeça, o que vai?  “Às pessoas que gostam de achar que podem entendê-la, eu gostaria de dizer: não podem”, disse um integrante de seu círculo próximo a Maureen Dowd, que escreveu uma coluna no Times inevitavelmente fazendo um trocadilho com o sobrenome dela, de origem holandesa: Sinema estrela seu próprio filme. “Ela não pensa de modo linear, tipo ‘Ok, como isso pode impactar minha reeleição’. Ela simplesmente dança conforme sua própria música. Quando diz ‘Tenho coisas para fazer’, é porque tem planos. Às vezes, ela só está mais interessada em treinar para mais um Ironman. Palmas para ela. É como assistir um filme”, elogiou o confidente.

Na mesma linha, Sinema (pronuncia-se cínema) já foi chamada de esfinge e de Greta Garbo do Congresso. O Los Angeles Times disse que ela “faz a cabeça dos liberais explodir”, lembrando que sua “heresia” vai além de bloquear o pacotão de 3,5 trilhões: votou contra o aumento do salário mínimo para 15 dólares a hora e a favor da manutenção dos processos de obstrução no Senado, outra causa progressista que largou sem pestanejar os cílios postiços.

O espírito independente – ou qualquer outra coisa que explique o que vai pela cabeça de Sinema – já havia sido demonstrado quando ela era deputada e votou contra o acordo nuclear com o Irã. Joe Biden hoje está dando um duro danado para reativar o acordo renegado por Donald Trump e é difícil prever o que acontecerá se ele vier a ser novamente votado no Senado. Como mulher, com uma prática sexual minoritária, Kyrsten Sinema foi relativamente poupada pelos progressistas e ganhou elogios quando levou o lugar no Senado, um feito no Arizona.

Hoje, ela é mais popular em seu Estado entre as mulheres que normalmente votam em republicanos. Seus antigos adeptos a chamam de traidora e narcisista. Os assessores de Sinema gostam de plantar que ela se inspira no estilo de John McCain, o senador republicano pelo Arizona que, depois de ser impiedosamente chicoteado pela imprensa liberal quando disputou a presidência com Barack Obama, tornou-se objeto de culto ao se estranhar com Donald Trump.

Sinema diz que McCain é um “herói pessoal” e tenta imitar o estilo cáustico do senador.  A um repórter que, numa entrevista de corredor do Congresso, perguntou o que diria aos progressistas frustrados por não saber de que lado ela está, Sinema respondeu: “Estou no Senado”. O repórter insistiu que também no Senado havia progressistas frustrados por não saber onde exatamente ela se situa.“Estou claramente em frente do elevador”.

O estilo esfinge da senadora vai resistir às realidades da política? 
Ela aceitará uma solução negociada para o pacotão? 
Até que ponto está disposta a comprar briga ou a ceder?
E quando disputará o próximo Ironman?
O filme de Kyrsten Sinema por enquanto é de suspense.
 
Blog Mundialista - Vilma Gryzynski - VEJA
 
 

sábado, 7 de novembro de 2020

Juiz da Suprema Corte dos EUA manda Pensilvânia separar votos enviados pelo correio

O Globo e AFP

Decisão será apreciada neste sábado pelo plenário e pode beneficiar o presidente Donald Trump 

[Talvez, por enquanto  apenas um provável talvez, a esquerda e seus apoiadores mais uma vez fracassem.
A Suprema Corte mandou separar os votos enviados pelo correio e se decidir que tais votos são inválidos - valendo  apenas os conferidos pelos  eleitores que compareceram às seções eleitorais - ou que sejam considerados apenas os presenciais e os enviados via postal (no caso destes,  valendo que chegaram ao destino até o dia das eleições, 3 nov 2020) abre espaço para que a decisão seja válida para todos os estados = TRUMP VENCE.]
Várias pessoas foram às ruas exigindo que todos os votos fossem contados Foto: Getty Images
Várias pessoas foram às ruas exigindo que todos os votos fossem contados Foto: Getty Images
O juiz Samuel Alito, da Suprema Corte dos Estados Unidos, determinou que votos recebidos na Pensilvânia após 3 de novembro sejam contados separadamente, de acordo com uma ação do Partido Republicano. Uma decisão colegiada dos nove juízes da Corte deverá ser tomada neste sábado. A quantidade de votos nesta situação, no entanto, é pequena e provavelmente não influenciará no resultado final, segundo imprensa americana.

Mesmo que Trump consiga uma improvável virada, ele ainda precisaria ultrapassar Biden na Geórgia, onde haverá uma recontagem devido à pequena margem entre os candidatos, e em ao menos mais um estado um dos estados onde a apuração ainda está pendente — Arizona, Nevada Carolina do Norte, para ter chances de se reeleger. Dos cinco estados, o presidente só lidera neste último.

A Pensilvânia é a mais provável fiel da balança das eleições americanas, cuja apuração se prolonga desde a noite de terça-feira. Com 96% dos votos apurados, Biden lidera com 49,6% dos votos, contra 49,1% de Trump. A vantagem do ex-vice-presidente, que ultrapassou Trump na manhã de sexta-feira, não para de crescer e deve continuar a se expandir, já que parte dos votos restantes são postais ou originários de redutos eleitorais democratas.

O secretário de estado da Pensilvânia já ordenara que todas as cédulas que chegassem entre quarta-feira, 4 de novembro, e sexta-feira, 6 de novembro, fossem separadas daquelas que chegaram até o dia da eleição, enquanto se aguarda um litígio em andamento, a pedido dos republicanos, para decidir a validade desses votos. "Dados os resultados da eleição geral em 3 de novembro de 2020, a votação na Pensilvânia pode muito bem determinar o próximo presidente dos Estados Unidos", disseram os republicanos. "Não está claro se os 67 conselhos eleitorais do condado estão deixando de lado as votações tardias".

Pela lei do estado, votos que chegassem até três dias após a eleição poderiam ser normalmente computados — extensão aprovada para garantir que atrasos no correio não impedissem que votos por correspondência entregues dentro do prazo fossem aferidos. Como os EUA não têm uma Justiça Eleitoral unificada, cada estado define suas próprias regras.[conforme o caso uma decisão da Suprema Corte  tem validade nacional; 

decisões monocráticas de grande repercussão, são proferidas em situações excepcionais e, de imediato,  são submetidas do plenário para decisão final.]

Em razão da pandemia de Covid-19, mais de 65,4 milhões votaram desta maneira em 2020 — em sua maciça maioria, eleitores do Partido Democrata. Diante disso, Trump tenta há meses pôr em xeque a lisura da modalidade, mesmo sem quaisquer evidências de irregularidade.Os ataques se consolidaram após Biden ultrapassar o presidente na disputa em uma série de estados disputados, consolidando-se como favorito para vencer a eleição. Como votos pelo correio levam mais tempo para ser apurados que os presenciais, modalidade mais popular entre os republicanos, já se esperava que as primeiras parciais mostrassem uma ilusória vantagem republicana e que os democratas ganhassem força com o tempo.

Diante da derrota iminente, o presidente Trump reiterou que contestará judicialmente os resultados nos estados em que a vitória de Biden ocorre por pequena margem  —  apesar de ele próprio ter vencido nos estados de Michigan, Wisconsin e Pensilvânia em 2016 por uma margem total de apenas 80 mil votos. Além da Pensilvânia, a campanha republicana entrou com ações judiciais na  quinta para suspender a contagem em Michigan, Geórgia e Nevada, além de recontagem em Wisconsin, e dois de seus pedidos já foram rejeitados pela Justiça.[nada ainda definido, mas os pedidos rejeitados foram por juízes singulares ou de instância inferiores.]

 O Globo e AFP

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Que susto, hein? - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 5 de novembro de 2020

Que susto, hein? Quando Donald Trump derrotou Hillary Clinton em 2016, fazendo jogo sujo, fazia sentido supor que isso tivesse acontecido por falta de conhecimento. Os americanos conheciam Trump como apresentador de tevê e, digamos, um milionário metido a besta. Era razoável supor também que boa parte dos eleitores estivesse farta da velha política, ali representada pela figura de um clã. Ok, Bill Clinton havia sido um bom presidente, Hillary tinha uma carreira pessoal de muito sucesso, mas de novo?

Também dava para imaginar que depois de Obama, os americanos estariam decididos a experimentar uma virada à direita, como acontecia em outras partes do mundo. Mas tudo isso se pensou depois da eleição. Porque antes era difícil imaginar que depois de eleger o primeiro presidente negro, com o nome Barack Hussein, os americanos passassem para Trump. Passaram, ganharam o benefício da dúvida. 

Mas passados quatro anos e Trump confirmando todo o jogo sujo que se esperava dele, e sendo agora amplamente conhecido como político – admito que me surpreendi com a competitividade dele. E mais ainda com alguns números apanhados nestes primeiros momentos, com dados do NY Times. Por exemplo: em comparação com 2016, Trump perdeu votos entre homens brancos com e sem diploma universitário. Em compensação, ganhou votos entre latinos de Miami (ok, são cubanos, em geral), mas também entre os mexicanos do Arizona. Os mexicanos, aqueles foram simplesmente xingados por Trump.

De outro lado, Biden foi pior que Hilary entre negros (homens e mulheres) e latinos (também homens e mulheres). Era de se imaginar o contrário depois de tudo que Trump e seu pessoal haviam feito. As primárias mostraram um Partido Democrata bastante dividido num amplo espectro político. Sim, há socialistas na esquerda democrata, embora não haja um programa propriamente claro. Não há ninguém propondo a expropriação dos meios de produção, mas há muita gente contra o “grande capital”. Isso até vem de longe: Al Gore, por exemplo, fez campanha contra o “big pharma” e o “big oil”.

Binden, talvez para atender essa esquerda, criticou o “big oil” e propôs algum tipo de controle de preços ou distribuição social de remédios. Tudo na direção de evoluir o Obamacare, que não pode ser chamado de socialista, talvez nem de social-democrata. Mas isso, em parte do eleitorado americano, deu alguma credibilidade às acusações de Trump de que há uma conspiração socialista e anti-cristã que precisa ser varrida dos EUA e do mundo. 

Aliás, Trump voltou à ideia ontem quando se declarou vencedor e que estava sendo roubado – não se importando nem um pouco em criar uma crise institucional de proporções inimagináveis. Por outro lado, há republicanos do bem, gente que quer reorganizar o país. Aliás, Binden foi senador por muitos anos, presidiu o Senado quando foi o vice de Obama, conhece republicanos. Pode, portanto, ser uma fonte de entendimento na direção do centro. Mas tanto os republicanos quanto os democratas também elegeram os seus radicais. Permanecerão nos seus partidos ou haverá divisões?

De todo modo, para o mundo, a quarta-feira terminou melhor do que começou. Binden agora é o favorito e isso muda para melhor o panorama global. Com Binden, os EUA voltam ao Acordo de Paris, à OMS, à aliança atlântica. Claro que continua a disputa com a China pela hegemonia econômica, militar e tecnológica, mas será uma disputa, digamos, mais inteligente e com muito menos chance de descambar para algum conflito.

Mas que há muita confusão política/ideológica nos EUA e no mundo, disso não há dúvida. E para terminar, uma vitória de Binden deixa Bolsonaro inteiramente isolado nas Américas. E será bem feito. A tal amizade com Trump não trouxe nada de significativamente lucrativo para o Brasil. Mas os bolsonaristas continuam por aí. Vão dizer que Trump foi roubado, assim como Bolsonaro acha que foi roubado numa eleição que ganhou. Aliás, tem uma ironia aí. As nossas urnas eletrônicas saíram-se muito bem, obrigado. [Quanto às urnas eletrônicas o que melhorou o seu conceito foi que o presidente Bolsonaro foi eleito em eleição na qual foram utilizadas - e sabemos que a eleição do capitão não foi aceita pelos inimigos do Brasil = adeptos do 'quanto pior, melhor' + mais 'turma do mecanismo' + inimigos da democracia + corja esquerdista - assim, se ele foi eleito não foi por falta de vontade daqueles inimigos de  fraudar as eleições, e sim por impossibilidade.]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 


sábado, 13 de janeiro de 2018

Trump e a guerra dos demagogos contra a imprensa



Como Trump sequestrou os fatos e os travestiu de fake news

Essa é a estratégia do presidente dos Estados Unidos e de demagogos de todo o mundo na guerra contra a imprensa
 


Eram 19h19 daquela terça-feira de agosto de 2017. Donald Trump subira havia pouco ao palco do Centro de Convenções de Phoenix, no Arizona, para mais um inflamado comício, mais como candidato do que como o presidente dos Estados Unidos que é. Naquele instante, ele apontou os indicadores de suas pequenas mãos para os fundos, onde estavam acomodados as câmeras e os repórteres. “A mídia tão desonesta....” foi o que bastou. Por precisos 59 segundos, os 8 mil presentes vaiaram. Eram homens e mulheres, muitos idosos, numa massa branca – um negro foi meticulosamente instalado atrás de Trump na moldura para as TVs, com uma camiseta estampada de “Trump & republicanos não são racistas”. As vaias eram pontuadas com urros de “Chupa CNN” e “F...-se a mídia”. O público fazia gestos obscenos para os jornalistas. Alguns tentaram invadir o “cercadinho” da imprensa – devidamente protegido por agentes do Serviço Secreto, que impediram um avanço maior. “Se o presidente Trump tivesse dado ordem para nos atacar, teríamos sido massacrados”, disse a ÉPOCA um jornalista credenciado na Casa Branca que cobria a viagem. A virulência física era a materialização de um bombardeio virtual diário de Trump e seus tuítes contra a imprensa desde que ele assumiu a Presidência, em janeiro de 2017. O ódio à verdade é, na era Trump, plataforma de governo.

Trump hostilizou e desafiou a imprensa por 25 ininterruptos minutos naquela noite. Dias antes, militantes de ultradireita tomaram as ruas de Charlottesville, na Virgínia, empunhando tochas e gritando contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus, numa manifestação que em muito lembrou os nazistas e a Ku Klux Klan. Do lobby de um de seus hotéis em Nova York, Trump condenou a violência dos ultradireitistas. No dia seguinte, pressionado por seus apoiadores, recuou. Culpou os “vários lados” envolvidos e disse que os manifestantes de ultradireita, boa parte deles seus eleitores, não poderiam ser tachados como “neonazistas” ou “supremacistas brancos”. Responsabilizou a “ultraesquerda”, cuja existência organizada nos EUA é questionável, pelo conflito. 

E a imprensa, pela divisão no país. Em Phoenix, Trump ignorou esse recuo. Colocou-se como vítima incompreendida da mídia. “Uns desonestos desgraçados” distorceram sua mensagem. “Eu acredito, de verdade, que eles [jornalistas] não gostam do nosso país”, escolheu cirurgicamente as palavras. Sempre que pôde, o presidente encaixou a expressão que ele transformou em slogan de sua gestão e jura, falsamente, ser de sua autoria: Fake news.

Antes mesmo de se eleger presidente, Donald Trump elegeu para si e seus seguidores um inimigo. A imprensa e, fatalmente, a verdade. Menos de um mês depois de assumir a Casa Branca, Trump aninhou-se em sua ágora digital para trombetear, em um tuíte: “A mídia FAKE NEWS (os falidos @nytimes, @NBCNews, @ABC, @CBS, @CNN) não é minha inimiga, é inimiga do povo americano!”. Nomear um oponente forte e contra quem as pessoas possam facilmente se voltar é uma tática de exercício de poder tão antiga e universal quanto eficaz. A Revolução Francesa e os comunistas russos designaram “inimigos do povo” para justificar o uso da guilhotina, dos gulag. Destacar o jornalismo profissional como esse inimigo tampouco é um recurso original – e é uma das maneiras mais eficientes de retroalimentar a polarização de uma sociedade. 

Nos Estados Unidos, Richard Nixon, que renunciou em 1974 emparedado pelo escândalo de Watergate, exposto pelo jornal Washington Post, foi feroz contra a mídia já no início dos anos 1960. Em 2006, Evo Morales, presidente da Bolívia, classificou como seus “inimigos número 1” a “maioria da mídia” argumento recorrente de Hugo Chávez, da Venezuela. Daniel Ortega, da Nicarágua, chama repórteres de “filhos de Goebbels”. Trump soa, a essa altura, como uma paródia de populistas latino-americanos.

>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana