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domingo, 6 de maio de 2018

Bolsonaro e política economica



Um dos maiores desafios da eleição de 2010 era saber o que pensava exatamente Dilma Rousseff sobre economia. Se, de um lado, ela mostrava-se crítica à ala pró-mercado do governo Lula, encabeçada por Antonio Palocci e Henrique Meirelles, do outro, sinalizava que manteria a política econômica de seu antecessor, sem descer aos detalhes. Eleita, botou para funcionar sua nova matriz econômica e deixou o Planalto, após sofrer impeachment, como responsável por uma das mais graves recessões de nossa história.

Ironicamente, dois anos após Dilma deixar o Planalto, Jair Bolsonaro chega à liderança da corrida eleitoral deste ano vivendo situação semelhante. Egresso da carreira militar, lutou contra todos os pontos relevantes do Plano Real, mas, às vésperas das eleições, deste ano passou a renegar seu passado. [errar é aceitável; Bolsonaro pode ter errado sobre economia no passado mas reconheceu seu erro - tanto que terá ao seu lado um economista;
ao aceitar ao seu lado um  Bolsonaro está reconhecendo seus erros sobre o assunto no passado e garantindo que não vai repeti-los?]
 
Alegou não entender de economia e colocou a seu lado o economista Paulo Guedes, um liberal egresso da Universidade de Chicago. Fora o objetivo de chegar ao Planalto, é difícil encontrar algo que os una. [Salvo engano,  não está em questão um eventual casamento entre Bolsonaro e Paulo Guedes,  e sim a necessidade do futuro presidente do Brasil contar com o assessoramento em assuntos econômicos de um economista e o escolhido foi Paulo Guedes.]

Mesmo tendo sido reduzida, a campanha eleitoral é longa o suficiente para cobrar a exposição dos candidatos a temas incômodos. A propaganda de rua começará oficialmente no dia 16 de agosto. Para efeito de comparação, foi exatamente neste dia, quatro anos atrás, que o PSB decidiu que Marina Silva assumiria a candidatura no lugar de Eduardo Campos, morto três dias antes. E, diante de uma duríssima campanha de ataques, que levantou dúvidas sobre os rumos que ela daria ao país, Marina sequer chegou ao segundo turno, mesmo depois de uma ascensão meteórica. [Marina seria causa,  se eleita presidente do Brasil,  de um desastre igual ou maior que o causado pelo corrupto Lula e seu 'poste'.]

À revista Época da última semana, Bolsonaro garantiu que já escolheu metade de seu ministério e que divulgará os nomes um mês antes das eleições. Seria um bom caminho para o eleitor, mas é difícil que seus marqueteiros apoiem a ideia. Em 2014, boa parte das propagandas de ataque do PT a Aécio Neves se baseavam em uma entrevista dada por Arminio Fraga, anunciado pelo tucano como seu futuro ministro da Fazenda. Quanto mais nomes Bolsonaro anunciar, mais exposto a ataques ele ficará.

Em um país com 13 milhões de desempregados, saindo de uma das mais profundas crises de sua história, a economia tende a assumir (novamente) papel central no debate eleitoral. O primeiro ponto sobre o qual os candidatos precisarão se pronunciar é se defendem uma reforma da Previdência,  e qual seria ela. Verdade seja dita, nenhum dos candidatos que lideram as pesquisas veio a público até agora explicar de fato como pretendem sanar o rombo crescente provocado pelo atual regime de aposentadoria, que não condiz mais com a evolução da pirâmide etária da população. No entanto, ao contrário de seus concorrentes, que prometem um posicionamento, Bolsonaro arranjou um biombo para manter-se em silêncio: diz que nada entende de economia.

Quando se candidatou pela primeira vez, Dilma beneficiou-se de um duplo wishful thinking : os eleitores mais à esquerda acreditavam que ela daria uma guinada à esquerda na política econômica – o que ocorreu –, e os que viam com bons olhos o estilo Lula de manter uma condução econômica pró-mercado achavam que ela simplesmente repetiria seu antecessor – estes se frustraram. Hoje, parece se desenhar quadro semelhante entre bolsonaristas: os liberais acham que ele de fato abandonará sua formação estatista de décadas e entregará o comando da economia ao mercado, enquanto os militaristas acham que esse flerte deve durar até a eleição e que, depois, ele voltará a pensar no “Brasil grande”. Resta torcer para que desta vez a campanha deixe claro qual lado prevalecerá. [uma certeza nos garante: com Bolsonaro o lema ORDEM e PROGRESSO da Bandeira Nacional voltará a ter valor, a ser cumprido;
A MORAL, os BONS COSTUMES, a FAMÍLIA voltarão a ter valor.
A economia - Bolsonaro já parte com uma vantagem de assumir que não entende nada de economia (não simpatizamos com FHC, achamos que já não tem muito controle sobre o que fala, mas temos que reconhecer que consertou o Brasil acabando com a hiperinflação e sua formação é de sociólogo) mas se dispõe a entregar o comando da economia a quem entende.]


Por: e-mail 
 


Miséria explorada



O desabamento do edifício em São Paulo ocupado por uma dissidência do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) explicitou o descaso das autoridades públicas que, além de não terem programas habitacionais para combater a tragédia da falta de moradia, não fiscalizam os pardieiros invadidos por uma centena de movimentos ditos sociais, mas que, em sua maioria, se transformaram em milícias urbanas, arrancando dinheiro de quem não tem nem para viver.

Por outro lado, o principal movimento, o MTST, que ganhou notoriedade pelo protagonismo de Guilherme Boulos no cenário político nacional, não atua para coibir essas verdadeiras quadrilhas que se aproveitam dos que o candidato à presidência do PSOL alega representar e proteger. [o que interessa ao Boulos é sua carreira política,  que ele acredita vai deslanchar, ainda que sob o patrocínio do PSOL  e pós desmonte da farsa Lula e inicio da revelação de que os tais movimentos sociais são verdadeiras quadrilhas - aliás o exército do general da banda Stédile não faz nada de efetivo para defender Lula e o exército do coronel Boulos, também ficará omisso? - que extorquem os que nada possuem -  apesar de entre os realmente necessitados de moradias, existe dezenas de invasores profissionais.] 
 
O máximo que Boulos conseguiu fazer foi uma declaração de solidariedade, e garantir, estranhamente, que nunca havia ouvido falar nesse movimento que extorquia dinheiro dos sem teto que ele pretende liderar. E ainda deu-se ao luxo de criticar “os que querem se aproveitar de uma tragédia para fazer política”.  Se não sabe da existência desse e de outros movimentos semelhantes, no mínimo é um relapso, pois deveria ter informações sobre os que atuam no seu terreno, desmoralizando uma campanha que se anuncia como séria e defensora dos direitos humanos dos que não tem casa para morar.

Boulos e seus assessores tinham, na verdade, obrigação de denunciar esse tipo de gente que se aproveita da miséria alheia. Poderiam aproveitar o acesso que têm às autoridades para propor uma campanha conjunta de moralização desses cortiços, ocupados muitas vezes por quadrilhas de bandidos que encontraram neles um novo filão para ganhar dinheiro ilegalmente, da mesma maneira que vendem drogas dentro das ocupações e facilitam instalações clandestinas, os chamados gatos, que acabam provocando tragédias como a do edifício Wilton Paes de Almeida.  Esses grupos, que no limite são ligados a facções criminosas, assemelham-se às milícias que atuam nas comunidades pobres e favelas do Rio, e precisam ser combatidos. A união de milicianos com traficantes, que a polícia paulista está investigando e a intervenção no Rio está combatendo arduamente, é uma ameaça a toda a sociedade. 
 
Guilherme Boulos teria credibilidade para cobrar da prefeitura atitudes mais eficazes para transformar esses prédios invadidos em moradia barata, com direito à fiscalização dos poderes públicos. A prefeitura de São Paulo, em versões recentes ou mais remotas, desde 1997, quando ocorreu a primeira invasão do MTST em um prédio público de São Paulo, têm responsabilidade maior ainda, pois não podem governar apenas para uma parte da população, esquecendo os que são explorados e permanecem vivendo como animais.

Se Guilherme Boulos não se dedicasse tanto à política partidária, e tivesse uma visão mais ampla do que seja uma verdadeira ação política, não permaneceria em Curitiba prestando homenagem a Lula, esperando receber migalhas do espólio do lulismo. E usando os miseráveis que o seguem com fins partidários, colocando-os à disposição da luta política do ex-presidente.  O presidente Michel Temer, já escrevi aqui, não deveria ter ido aos escombros, por ser uma clara ação política indevida, num ambiente hostil. Mas Boulos tinha obrigação de lá estar presente, e de denunciar a extorsão que estava em curso, distorcendo o sentido da ação social que ele alegadamente lidera.

Dizer que nunca ouviu falar desse movimento, e de diversos outros espalhados pelo país, não é suficiente para expiar sua irresponsabilidade. Afinal, um verdadeiro líder tem obrigação de denunciar os que se aproveitam de situações miseráveis para explorar o próximo. Ou basta denunciar as autoridades burguesas e os capitalistas desalmados para justificar sua atuação política? 


Merval Pereira - O Globo
 

Vidas blindadas



Não seria melhor blindar tudo numa cidade que, apesar da intervenção federal, já teve 42 PMs assassinados em 2018?

A novidade só podia mesmo vir dos Estados Unidos. Motivado pelas frequentes fuzilarias em escolas de seu país, o artista gráfico e veterano de guerra Dave Hollenbach deu entrada com um pedido de registro no U.S. Patent & Trademark Office (equivalente ao nosso INPI, Instituto Nacional da Propriedade Intelectual): a patente de uma carteira escolar blindada. De altura ajustável para acompanhar o crescer das crianças, a ideia é fazer do móvel um bunker individual, que as acompanharia até o ginásio.

À primeira vista, trata-se de uma carteira convencional, com cadeira e mesa fechada até o chão. Só que o tampo é duplo. Se um atirador irromper na classe, garante o inventor, uma mola de fácil manejo faz saltar um segundo tampo, que trava na posição vertical. Vira escudo. Composto de fibra de vidro de densidade máxima, ele é do mesmo material blindado da parte frontal da carteira. Segundo Hollenbach, o conjunto foi testado para aguentar até 30 disparos de pistolas e fuzis de assalto. Não fala em metralhadoras nem bazucas.

Como cada carteira/escudo sairia em torno de US$ 700, a solução, embora tentadora para um Rio à beira da insânia, seria cara demais para os cofres saqueados da cidade. Por ora, o foco do prefeito Marcelo Crivella se concentra na blindagem dos muros externos da rede de ensino municipal. Anunciado em abril passado na esteira da morte da menina Maria Eduarda (baleada no pátio da escola Daniel Piza, em Acari), esse projeto de fortificação entra agora em fase de licitação. Segundo reportagem de Luã Marinatto, do jornal “Extra”, a argamassa especial de blindagem acaba de passar em testes de resistência a tiros de fuzil disparados de 15 metros de distância. Pelo menos é o que diz o burgomestre.

Mas e as janelas das escolas? E os telhados? E as várias Faixas de Gaza que brotam sem avisar no trajeto a ser percorrido pelas crianças — na rua, no ponto de ônibus, na van, no bairro, na Linha Amarela, na Linha Vermelha, em qualquer canto. E por que apenas escolas (elas são perto de 400 situadas em regiões dominadas por milícias e/ou tráfico)? E os hospitais? E o céu e o mar? Não seria melhor blindar tudo numa cidade que, apesar de estar sob intervenção federal, já teve 42 policiais militares assassinados em 2018? Ou melhor não fazer nada, visto que argamassa não erradica violência?  Entende-se a complexidade do problema e a dimensão da encrenca. Por vezes, soluções paliativas podem injetar alento pontual, ajudar a respirar quem precisa de gás até a desilusão seguinte.  Esta semana, coube à repórter Berenice Seara revelar que as cinco câmeras da Secretaria de Segurança instaladas no trajeto da vereadora assassinada Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foram desligadas 24 ou 48 horas antes do crime. Uma delas, com imagens em 360 graus remetidas ao sistema do Centro Integrado do Comando e Controle (CICC), fica em frente ao local dos disparos contra o carro da vereadora. Os autores e mandantes da execução — e do desligamento das câmeras — continuam anônimos e soltos por aí.

Assim como não há proteção do cidadão contra a ausência de políticas públicas, também não existe blindagem para políticos contra a impopularidade que arrebanham. Um assessor do presidente Michel Temer destacou-se esta semana ao desfraldar uma maleta para desviar objetos arremessados contra o chefe que visitava as ruínas do edifício implodido pelo fogo no centro de São Paulo.  Feito mágica, a maleta executiva desdobrou-se em duas, como o tampo da carteira escolar idealizada por Hollenbach, e ajudou a evitar que peças voadoras atingissem o alvo. Mas nada pode contra a impopularidade do presidente. Falta a Temer, e a tantos nas muitas esferas do poder nacional, a argamassa com que se constrói uma biografia: credibilidade.
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Em tempo: para não perder o gancho e porque hoje é domingo, vale mencionar o caso do energúmeno Scott Pruitt, secretário (ministro) do Meio Ambiente de Donald Trump. Ao assumir o cargo, Pruitt enumerou sua lista de necessidades:
trancas biométricas nas portas do gabinete;
varredura permanente contra aparelhos de escuta em suas salas;
proteção 24 horas por 20 agentes de segurança;
assentos com revestimento à prova de balas em carro blindado de última geração;
cabine telefônica à prova de som no gabinete (US$ 43 mil);
duas mesas executivas blindadas ao estilo Hollenbach (US$ 70 mil) para o trabalho.

Os dois últimos itens lhe foram negados. Pruitt continua à frente de uma das pastas de maior consequência para o planeta, apesar de envolto em escândalos.

Dorrit Harazim é jornalista


Ocupações criminosas - as máfias que exploram os sem-teto e o risco de novas tragédias em prédios invadidos

Descaso, desespero e oportunismo

Tragédia em prédio no centro de São Paulo expõe a situação precária de milhares de pessoas sem moradia, atesta fracasso do poder público na proteção dos cidadãos e revela o submundo das máfias que fazem das ocupações um negócio lucrativo

Cães farejadores localizaram na sexta-feira 4 o primeiro corpo sob o escombros do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, que desabou por causa de um incêndio na madrugada de 1º de maio. As buscas por vítimas soterradas na tragédia são apenas uma das inúmeras consequências de um desastre que expôs as fissuras de um sistema falho em muitos aspectos. Além de exibir um erro geral de controle de segurança sobre uma ocupação de sem-teto que sequer deveria existir naquele local, a queda do edifício trouxe à tona o descaso das autoridades diante do grave problema da falta de moradia na cidade de São Paulo, metrópole onde milhares de pessoas vivem em situação de abandono em dezenas de imóveis ocupados. Havia motivos de sobra para evacuar o prédio ou fazê-lo passar por uma completa revisão de segurança há pelo menos um ano. A Prefeitura, os bombeiros e os órgãos fiscalizadores sabiam disso. 

Antes que a poeira baixasse sobre os escombros que engoliram no mínimo seis pessoas e deixaram outras 372 sem abrigo — incluindo cerca de 40 crianças e adolescentes —, veio à tona também uma estrutura de negócio que acompanha algumas ocupações na qual se cobra para oferecer muito pouco em troca. Paga-se para viver em extrema precariedade, sem qualquer proteção e sob o evidente risco de morte.  As famílias ocupantes dos “apartamentos” do prédio, localizado no Largo do Paissandu, um dos pontos mais movimentados da cidade, pagavam uma taxa que variava de R$ 160 a R$ 400, de acordo com as condições de cada um. Pela média, eram arrecadados ao menos R$ 30 mil por mês dos moradores, na maioria trabalhadores informais que atuam como vendedores ambulantes, balconistas, carroceiros e na faxina de prédios e do comércio da região. O objetivo da coordenação do Movimento Luta por Moradia Digna (MLMD), um dos diversos que atuam na cidade, seria manter uma portaria em funcionamento, pagar taxas de luz, água e os custos dos advogados que atendiam à ocupação do Wilton Paes de Almeida. Era uma conta salgada e sem contrapartida. 


Seu coordenador, Ricardo Luciano Lima, já aplicou calote no pagamento de tarifas públicas. Mesmo cobrando taxas de R$ 300 por quarto em um prédio invadido no Largo do Belém, em 2016, ele foi denunciado por ligações clandestinas de água e acabou condenado em primeira instância a um ano e dois meses de reclusão em regime semi-aberto. Lima não vive no prédio, mas em outra ocupação na Zona Leste. “Ninguém paga aluguel. É tudo para manutenção. Aqui não tem milionário”, diz ele. Eventuais atrasos no pagamento das taxas não eram tolerados por mais de três ou quatro dias até “ordens de despejo” fossem executadas. Quem era removido tinha seus poucos pertences jogados na calçada.

O valor mais alto cobrada no prédio estava além do dobro de ocupações mais estruturadas, como as da Rua Mauá e da Av. Prestes Maia, as maiores da cidade — juntas, elas abrigam 3 mil pessoas. Organizados, nestes locais há extintores em todos os andares e grupos encarregados da limpeza e manutenção. Algo bem diferente do Largo do Paissandu, onde o lixo se acumulava no poço do elevador — o que ajudou a propagar as chamas que, ao atingir temperaturas superiores a 600º C comprometeram a resistência das estruturas metálicas, que suportaram por cerca de uma hora e meia, antes de ruírem. Dois prédios vizinhos foram atingidos e correm o risco de cair. A primeira igreja luterana de São Paulo, erguida em 1908, foi destruída. Restaram apenas o altar e a torre, que também está condenada. 

O chocante desmoronamento do edifício em chamas foi acompanhado de uma cena dolorosa: as imagens do morador Ricardo Pinheiro, filmado tombando junto com o prédio no momento em que seria içado por uma corda lançada pelos bombeiros. Moradores contaram que Tatuagem, como era conhecido, ajudou a tirar crianças do local. Os bombeiros acreditam ser de Ricardo o primeiro corpo resgatado. Além dele, podem estar sob as lajes Selma Almeida Silva e seus filhos gêmeos, Wendel e Werner, de 9 anos. Também está desaparecido o casal Eva Barbosa Silveira e Walmir Souza Santos, que ocupava uma área no 8° andar do prédio.

A evacuação rápida e a pronta ação dos bombeiros salvaram vidas. A manicure Michele de Oliveira Silva, de 35 anos, morava com o marido e a filha no quinto andar — local onde o fogo começou — e afirma que os acontecimentos foram muito rápidos. Segurando uma boneca nos braços, ela lembra de cenas da tragédia. “Eu ouvi ‘pum’ e aí todo mundo começou a gritar ‘tá pegando fogo’”, afirma. Depois disso, Michele diz que as pessoas começaram a correr e as chamas passaram a consumir a fiação do prédio. Durante a fuga, a manicure afirma que o marido dela teve que quebrar uma porta que estava trancada com cadeado e que os vidros da fachada do prédio começaram a quebrar por causa do calor. Porém, a angústia dela não acabou quando finalmente conseguiu descer as escadas com a família e chegar até a rua. “Quando descemos, meu marido voltou para pegar a roupa e fiquei preocupada. Eu falei ‘já morreu’. Mas depois ele desceu vivo, graças a Deus”, afirma a mulher fechando os olhos e levando a mão ao coração. 

Depois de passar pelo trauma, Michele perdeu roupas, documentos e outros objetos pessoais. “Fiquei na rua aqui. Estão ajudando a gente dando alimento e roupa”, mas mesmo com a solidariedade das pessoas, ela não sabe ao certo qual será seu futuro. A única coisa que ela afirma ter certeza é que não quer ir para um albergue: “Lá é ruim. Eles roubam as coisas da gente. Eu já morei em albergue e quando a gente volta do trabalho, não tem mais nada.”

(...) 

... edifício inadequado até para quem não tem onde viver. Por isso estava em poder do MLMD desde 2010. Dois integrantes de movimentos sociais afirmaram, sob condição de anonimato, que o nível de organização desse movimento é mínimo. Ele não participa ativamente das reuniões com os órgãos de habitação. “O que não adianta é culpar as vítimas. Nós queremos que se façam vistorias nos prédios ocupados e que eles sejam transformados em moradias definitivas”, afirma Benedito Roberto Barbosa, advogado da União dos Movimentos de Moradia de São Paulo (UMM). “Não se pode criminalizar as ocupações e transformar vítimas em culpados”.  


(...)

Proprietário do edifício, a União solicitou que a Polícia Federal também atue no caso. Outra frente de investigação tenta vasculhar possíveis vínculos de algumas ocupações com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Prédios ocupados são territórios quase inexpugnáveis para a polícia e, eventualmente, servem de esconderijo para drogas e armas. Em 2016, o Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) desbaratou uma quadrilha ligada ao PCC sob a fachada do Movimento Sem Teto de São Paulo (MSTS), que ocupava o Cine Marrocos, no Centro. Vinte e oito pessoas foram presas.

 MATÉRIA COMPLETA em IstoÉ