É Lula quem quer Dilma sangrando no poder. Assim, ele pode tocar a sua campanha para 2018, que começa hoje.
Ou: O golpe do PT institucional e do não institucional
Luiz
Inácio Lula da Silva, o Nosferatu que vampiriza a política brasileira
há muitos anos, convocou os petistas e cutistas a se mobilizar contra o
Projeto de Lei 4.330, que regulamenta a terceirização em empresas
privadas, mistas e públicas. O texto permite que elas recorram a
serviços de terceiros também nas chamadas atividades-fim. Boa parte dos
sindicatos é contra porque vê nisso a chamada precarização da mão de
obra. É conversa fiada, papo para boi dormir. O que as máquinas
sindicais querem manter é o mercado cativo do imposto sindical. O texto
pode ser votado na Câmara nesta terça-feira. Os companheiros de Lula
estarão lá para fazer pressão e tentar derrubá-lo.
Lula
convocou os petistas, cutistas, esquerdistas no geral e os ditos
movimentos sociais a se manifestar no país inteiro. Além de se mobilizar
contra o PL 4.330, está na pauta a defesa da Petrobras — quem, senão os
ladrões, a ameaça? — e da democracia, que, até onde sei, não está em
perigo. Escrevi na tarde de ontem a respeito e volto ao assunto. Há quem não tenha entendido a natureza do jogo.
O Babalorixá
de Banânia está empenhado hoje em duas operações políticas para tentar
salvar seu partido do desastre eleitoral — e, quem diria?, salvar a si
mesmo. Quer que Dilma entregue metade ou mais do governo ao PMDB, de
porteira fechada. E pronto. Isso asseguraria à presidente, em meio à
crise econômica, a estabilidade congressual para governar. No
Parlamento, o PT institucional continuaria a compor essa maioria.
Lula,
pessoalmente, quer se encarregar do “PT não institucional”. Ele julga
ter encontrado a fórmula ideal: o Congresso deixa de criar dificuldades
para a presidente, o pacote fiscal será aprovado sem grandes alterações,
o mercado se acalma — como vem se acalmando, basta olhar os números —
com o fortalecimento de Joaquim Levy, e o PT volta a liderar as pressões
de rua, mas pela esquerda.
Qual é a
diagnóstico — em parte sensato — de Lula? A economia vai demorar a
reagir. Levará tempo até que os mais pobres voltem a sentir os efeitos
da retomada do crescimento, sem prazo para começar. Os descontentes de
todas as classes, mas muito especialmente os mais pobres — que o PT
pretendia que fosse seu mercado cativo —, continuarão a sacar contra o
patrimônio do… petismo! Afinal, essa é a força que está no governo.
Ora, indaga
Lula, o que o PT fará enquanto isso? Vai se limitar a defender o
necessário ajuste recessivo e se enterrar ainda mais? Vai ficar na
defensiva, tomando pancada de todo lado? Caminhará para as eleições do
ano que vem — SIM, HAVERÁ ELEIÇÕES NO ANO QUE VEM — com a reputação na
lona? Até Marco Aurélio TOP TOP Garcia, assessor de Dilma, admitiu que está
sendo hostilizado na rua.
Um eventual
desastre eleitoral em 2016 será prenúncio de dias ainda mais difíceis em
2018, quando Lula pretende se recandidatar à Presidência da República.
Hoje, não tenho dúvida, seria derrotado por um nome da oposição. E ele é
esperto demais para não saber disso.
Hoje, quem,
de verdade, quer que Dilma sangre no poder, mas não caia, é Lula. Ele
está numa operação muito sutil para articular dois movimentos em si
opostos, mas que se combinam:
a: garantir no Parlamento o apoio institucional a Dilma — e, por isso, quer dividir, de verdade, o poder com o PMDB, de olho, inclusive, nos palanques do ano que vem; b: descolar o PT do governo recessivo de Dilma, propondo uma agenda que sabe que este não pode adotar. Logo, essa nova agenda pede um novo — e velho! — demiurgo: ele próprio.
a: garantir no Parlamento o apoio institucional a Dilma — e, por isso, quer dividir, de verdade, o poder com o PMDB, de olho, inclusive, nos palanques do ano que vem; b: descolar o PT do governo recessivo de Dilma, propondo uma agenda que sabe que este não pode adotar. Logo, essa nova agenda pede um novo — e velho! — demiurgo: ele próprio.
E esse
salvador, que viria, então, para coroar a obra petista já não
pretende falar em nome de um partido — o PT —, mas de uma “frente”, que
reunificaria as esquerdas e os movimentos sociais, numa espécie de
réquiem virtuoso de sua carreira, que seria marcado com uma espécie de
luta final do “Bem” (ele e sua turma) contra o “Mal” (todos os outros
que estarão contra ele).
É por isso
que o chefão decadente do PT convocou a sua tropa contra o PL 4.330, que
conta com o apoio do governo federal. Ele só pensa em 2018 e está
empenhado, hoje, em salvar o partido de uma crise sem precedentes. Uma
pergunta óbvia: “Esse movimento é combinado com Dilma?”. Resposta: não!
Não é! Até porque é muito arriscado. Mas ela não tem o que fazer para
conter os seus apetites.
Outra
eventual questão: “E por que Lula ainda quer salvar Dilma e não a deixa
de vez para cuidar de seu projeto salvacionista?”. Porque isso poderia
implicar a entrega do poder para o PMDB, de Michel Temer, que não
encontraria dificuldades para governar sem o PT. De resto, os
companheiros não vão abrir mão de 25 mil cargos federais de confiança,
mais o estupefaciente aparelhamento de todas as esferas do estado
brasileiro.
Lula precisa
de Dilma na Presidência para poder pôr o seu partido na rua — inclusive
contra Dilma se necessário. Se ela sangra no cargo, o vampiro se
alimenta. Nesta terça, ele deu início à sua campanha a 2018. Eis a
natureza do jogo. Podem escrever aí.
Por: Reinaldo Azevedo
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