Goste ou não a
presidente Dilma dos delatores, é fato que os
constrangimentos que a operação Lava Jato impõe ao governo vão se aprofundando.
Exceto os casos mais estapafúrdios, como a tentativa de envolver o
senador mineiro Antonio Anastásia, os indiciamentos têm confirmado o teor geral
das delações conhecidas.
Daí
que a decisão do juiz Teori Zavascki de mandar investigar o ministro Edinho
Silva, tesoureiro
da campanha de Dilma, põe a crise dentro do gabinete presidencial. Dessa vez ela não poderá atribuir ao
Congresso ou à oposição a instabilidade do ambiente político. A crise está
toda lá dentro do Palácio do Planalto.
Ao
ministro, como a qualquer cidadão, a Constituição garante amplo direito de
defesa. Até que se prove, ele nada deve. Ainda
assim, melhor seria se afastar imediatamente das funções. Por que? Porque a Lava Jato investiga exatamente crimes surgidos do
abuso da influência. A permanência dele
no governo, logo, é imprópria.
O ex-presidente Itamar Franco,
que consolidou nossa transição democrática, afastou e readmitiu seu
chefe da Casa Civil assim que as denúncias foram desacreditadas. Dilma
deveria seguir o exemplo. Caso contrário, a apreensão crescente vai
desestabilizar ainda mais o país. Quem ganha com isso? Ninguém.
Parte
do governo demora a entender que é impossível dar uma amostra convincente de
credibilidade e solidez se a
máquina política do Executivo está sob suspeita. Como amortecer a desconfiança
da sociedade com interlocutores e articuladores tão fragilizados? Em vez de
descomprimir, o Planalto provoca a pressão interna.
Como não há crise que o próprio
governo não possa aprimorar, o ministro da Justiça,
louco por câmeras, saiu por aí a dizer que tem "absoluta certeza" de que as
investigações vão dar com os burros n'água. Investigações, diga-se, em parte a cargo
da Polícia Federal (que ele, ministro da Justiça, comanda). Pode isso?
Então
a gente abre os jornais e lê que a presidente, que ainda sequer percebeu o que
fez ("se cometemos algum erro, e isso é
possível"), clama por união acima dos interesses individuais e
partidários. Como se ela não
fosse a mãe da crise. Como se ela não tivesse colocado os interesses de seu
partido acima dos do Brasil.
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