'É um tríplex Minha casa, Minha vida', diz Lula
sobre imóvel no Guarujá
Em
depoimento marcado por forte tensão, ex-presidente
compara apartamento de 215 metros no Guarujá, que afirma não lhe pertencer,
a unidades populares do programa do governo federal
O
ex-presidente Lula disse à Polícia Federal que o tríplex 164/A do Condomínio
Solaris – antigo Condomínio Mar Cantábrico -, no Guarujá, com
215 metros quadrados de área ‘era pequeno’. O relato de Lula ocorreu no dia 4
de março, no Aeroporto de Congonhas, em meio a um clima de forte tensão.
Em
um trecho do depoimento, o petista
comparou o imóvel na praia das Astúrias às unidades habitacionais do programa
do governo federal tocado pela Caixa. A PF e o Ministério Público Federal suspeitam
que Lula é o verdadeiro proprietário do apartamento no Guarujá – empreendimento
iniciado pela Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) e que acabou
incorporado pela OAS, de Léo Pinheiro, amigo de Lula. O ex-presidente afirma que não é dono do tríplex.
Ele
relatou à PF que ao visitar pela primeira vez o imóvel disse a seu amigo Léo
Pinheiro, o empreiteiro da OAS condenado na Operação Lava Jato, que ‘o prédio era inadequado porque além de ser
pequeno, um tríplex de 215 metros é um tríplex ‘Minha Casa, Minha Vida, era
pequeno’.
O
delegado da PF que ouviu Lula, conduzido coercitivamente para depor na Operação
Aletheia, perguntou se ‘isso é bom ou é
ruim’.
Lula
disse. “Era muito pequeno, os quartos,
era a escada muito, muito… Eu falei ‘Léo, é inadequado, para um velho como eu,
é inadequado’. O Léo falou ‘Eu vou tentar pensar um projeto pra cá’. Quando a
Marisa voltou lá não tinha sido feito nada ainda. Aí eu falei pra Marisa:
‘Olhe, vou tomar a decisão de não fazer, eu não quero.’ Uma das razões é porque
eu cheguei à conclusão que seria inútil pra mim um apartamento na praia, eu só
poderia frequentar a praia dia de Finados, se tivesse chovendo. Então eu tomei
a decisão de não ficar com o apartamento.”
O
ex-presidente reafirmou à PF sua versão de que não é o verdadeiro proprietário
do tríplex do Solaris. A PF e o Ministério Público
trabalham com outra linha de investigação, que aponta o petista como o dono do
imóvel. Os investigadores suspeitam que a OAS também bancou a instalação
da cozinha de alto padrão do imóvel e a colocação de elevador privativo –
equipamento que custou R$ 62,5 mil.
A investigação mostra que Lula e
Marisa foram ao apartamento depois de concluída a obra no tríplex. Léo Pinheiro teria ido junto com
o casal ao apartamento que, formalmente, está registrado em nome da OAS –
empreiteira que assumiu pelo menos quinze empreendimentos da Cooperativa
Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop). O delegado da PF perguntou a
Lula. “Essa unidade era 164/A, que o
senhor visitou?”
“Era, era”, respondeu Lula.
“O sr. visitou o imóvel?”, perguntou o delegado.
“Visitei, eu estive lá”, disse Lula.
“Foi em todos os cômodos?”
“Fui.”
“Tinha elevador no imóvel?”
“Não.”
“Tinha móveis nos quartos?”
“Nada.”
“Tinha cozinha montada?”
“Não, nada, nada.”
Lula disse que foi ‘uma outra vez’ no apartamento.
“Com quem?”, perguntou o delegado.
“Com o meu filho Fábio (Fábio Luiz, o Lulinha,
filho mais velho do casal).”
“Mais quem?, insistiu o delegado.
“Só, e o Léo deve ter ido junto”, disse o ex-presidente.
“O Léo. Mais alguém além do Léo
Pinheiro?
“Ah, não sei.”
O
delegado quis saber ‘qual era a intenção
dessa segunda visita’.
Lula. “Quando eu fui a primeira vez, eu disse ao
Léo que o prédio era inadequado porque além de ser pequeno, um triplex de 215
metros é um triplex ‘Minha Casa, Minha Vida’, era pequeno.” [enquanto o estrupício do Lula ironiza o tamanho do apartamento, 215 m²,
a ‘cérebro baldio’ entrega micro casas – tamanho inferior a 50m² - do Minha
Casa Minha Vida e ainda frauda na solenidade de entrega.
Na entrega mais recente, realizada em
Caxias do Sul – RS, a casa escolhida para a ‘sessão’ estava completamente
decorada.
Assim que a ‘neurônio solitário’ se
retirou, todos os móveis foram removidos.]
Nessa
altura, o ex-presidente interrompeu o
depoimento para fazer um desabafo.
“Eu acho que eu estou
participando do caso mais complicado da história jurídica do Brasil, porque
tenho um apartamento que não é meu, eu não paguei, estou querendo receber o
dinheiro que eu paguei, um procurador disse que é meu, a revista Veja diz que é
meu, a Folha diz que é meu, a Polícia Federal inventa a história do tríplex que
foi uma sacanagem homérica, inventa história de tríplex, inventa a história de
uma offshore do Panamá que veio pra cá, que tinha vendido o prédio, toda uma
história pra tentar me ligar à Lava Jato, porque foi essa a história do
tríplex. Ou seja, aí passado alguns dias descobrem que a empresa offshore, não
era dona do triplex, que dizem que é meu, mas era dono do triplex da Globo, era
dono do helicóptero da Globo. Aí desaparece o noticiário da empresa de
offshore. A empresária panamenha é solta rapidamente, nem chegou a esquentar o
banco da cadeia já foi solta porque não era dona do Solaris que dizem que é do
Lula, ela é dona do Solaris que dizem que é do Roberto Marinho, lá em Parati. E
desapareceu do noticiário. E eu fico aqui que nem um babaca respondendo coisas
de um procurador, sabe, que não deve estar de boa fé, quando pega a revista
Veja a pedido de um deputado do PSDB do Acre e faz uma denúncia. Então eu não
posso me conformar. Como cidadão brasileiro, eu não posso me conformar com esse
gesto de leviandade.”
O delegado da PF retomou o
depoimento referindo-se ao tríplex do Solaris. “Passado o desabafo, vamos voltar a nossa… Qual tempo transcorreu entre
a sua visita, a primeira visita, e a segunda visita?”
Lula: “Não sei, não sei.”
“Foi mais de mês?”
“Não sei, não sei.”
O
delegado incluiu a ex-primeira dama no depoimento. “A dona Marisa, quando foi eventualmente pra ver se tinha interesse,
como o senhor explicou, já tinha instalado a tal cozinha, elevador?”
Lula: “Não tinha nada. Segundo ela, não tinha
nada.”
O
delegado: “Na segunda, nada, nenhum móvel
na…”
Lula: “Nada, nada.”
Delegado: “Então essa história de cozinha, de
elevador, ela não chegou nem a presenciar?”
O
ex-presidente irritou-se. “Não. E se ela
presenciasse, se tivesse alguma coisa pronta, se eu tivesse que comprar, eu
teria que pagar a diferença, eu quero saber aonde está o maldito crime.”
Fonte: Estadão – Conteúdo
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