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domingo, 14 de agosto de 2022

As previsões de Alexandre de Moraes sobre 7 de Setembro e o risco de golpe

Moraes diz a auxiliares não ver ameaça concreta no 7 de Setembro

Ministro afirmou a interlocutores que não acredita em sublevação militar e, otimista, estimou não haver grandes turbulências provocadas por apoiadores do presidente Bolsonaro no feriado

Apontado como algoz do presidente Jair Bolsonaro e foco principal das críticas do mandatário ao Poder Judiciário, o ministro Alexandre de Moraes fez um diagnóstico reservado a interlocutores sobre o que considera uma deterioração acelerada, desde o início da pandemia, da relação do ex-capitão [presidente da República.] com as instituições da República. Mas para a surpresa dos auxiliares que ouviram suas avaliações, o futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diz não ver qualquer ameaça concreta nas manifestações programadas para o feriado de Sete de Setembro, considerado uma prévia do que apoiadores de Bolsonaro podem pretender no primeiro e do segundo turnos e na posse de um eventual novo presidente, e tampouco chances reais de qualquer golpe.

A convicção do magistrado baseia-se, entre outros pontos, no fato de ele conhecer há anos os principais militares que compõem o primeiro escalão do governo. Ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre mantém relações com o general da reserva Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria-geral do governo, com o atual ministro da Defesa Paulo Sérgio Oliveira e com o candidato a vice de Bolsonaro, Walter Braga Netto. Reservadamente, o ministro tem reservas à atuação da caserna no Executivo, como, por exemplo, na enxurrada de ofícios ao TSE com questionamentos  sobre as urnas eletrônicas, mas considera que nenhum dos generais pretende romper com o regime democrático e que tampouco cumpriria qualquer ordem desatinada.

Um raciocínio feito pelo futuro presidente do TSE passa pela avaliação de que dos 16 generais do Alto Comando, nenhum morre de amores por Bolsonaro, a quem criticam, por exemplo, pela anormal troca de comando no Exército – foram três comandantes em pouco mais de três anos de governo, um pecado mortal para uma carreira que preza pela hierarquia e disciplina.

Ao traçar a auxiliares o que imagina que acontecerá também no feriado de Sete de Setembro, Alexandre de Moraes também faz relatos de que não vê riscos efetivos de brigas generalizadas ou invasão de prédios públicos, embora mantenha um sinal de alerta em relação aos chamados CACs, grupo de caçadores, atiradores e colecionadores de armas que, a pretexto de exaltarem o feriado ou o próprio presidente, podem comparecer armados às celebrações do Dia da Independência.  

O ministro tem uma tese própria sobre o motivo de o principal ato, do qual participará Bolsonaro, não ser realizado em São Paulo. No ano passado, o presidente, exaltado, disse, por meio de um telão na capital paulista, que não mais cumpriria ordens judiciais de Moraes. Segundo avaliação do magistrado, São Paulo não foi escolhida para que não seja possível mensurar a adesão dos manifestantes de um ano para outro. Como efeito benéfico, Alexandre projeta que a opção do presidente da República pelo Rio de Janeiro esvazia um importante foco de tensão no feriado: Brasília. [Felizmente, o ministro Moraes caiu na real e reconhece que golpe no 7 de setembro, só existe na cabeça suja da turma contra o Brasil e o presidente da República = inimigos do Brasil, a turma do 'quanto pior, melhor', arautos do pessimismo e que quer voltar a cena do crime e será impedida não por um golpe e sim pelos quase 100.000.000 de votos que o presidente, com as bênçãos de DEUS,  receberá mas eleições de outubro próximo.
Temos convicção, já expressa em postagens anteriores que o descondenado vai renunciar à candidatura o mais tardar no próximo mês. Ele não quer encerrar o que ele chama de carreira política perdendo para o capitão do  povo.]

Política - Revista VEJA


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Sabotadores da República - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

Em seu editorial de hoje, o Estadão alega que não passa de uma desculpa esfarrapada a narrativa bolsonarista de que o presidente eleito não consegue governar por conta do Congresso e do Supremo. O jornal dá exemplos de reformas importantes aprovadas nos governos FHC e Temer, e rechaça qualquer pretensão utópica na política. Eis um trecho:

O argumento é um tanto perigoso para o regime democrático, uma vez que exclui a responsabilidade do governante em relação ao seu governo e, para piorar, atribui a ineficácia do Executivo à separação de Poderes. Sob essa lógica, tivesse o presidente da República mais poderes e recaíssem sobre ele menos controles, as coisas seriam diferentes. Ou seja, a argumentação encaminha-se, velada ou explicitamente, para o autoritarismo.

A ideia é, no entanto, uma falácia. Quando quer, o presidente da República é capaz de governar, implementando seu programa de governo e suas propostas. Logicamente, não será capaz de realizar tudo aquilo que se propôs. Mas conseguirá promover, a despeito de todas as dificuldades e oposições, muitos projetos e muitas mudanças.

Em tese, o jornal está certo: a divisão de poderes serve para impedir arroubos autoritários - de qualquer lado! Flertar com utopias em política é mesmo perigoso. A necessidade de contemporizar, de ceder, de enfrentar os freios e contrapesos do sistema, tudo isso impede uma concentração de poder indevida e indesejável.

Mas o jornal adota a premissa de que temos as instituições funcionando normalmente. O Estadão, até hoje, foi incapaz de criticar com veemência o abuso de poder supremo, por exemplo, ou de apontar as sabotagens parlamentares explícitas.  
O jornal resolveu levar a sério até essa CPI patética! Tudo para colaborar com o desgaste de Bolsonaro. 
Tanto que o editorial conclui culpando apenas Bolsonaro pela situação toda e fazendo campanha por sua troca: Semelhante eficácia do Executivo federal foi vista no governo de Michel Temer. Em 2016, o Congresso aprovou a Emenda Constitucional do Teto dos Gastos. Na época, Michel Temer tinha baixa aprovação popular, e mesmo assim conseguiu instaurar a medida saneadora.

Tal histórico é muito alentador, especialmente para depois de 2022. Quando se quer, quando se colocam os meios, é possível governar. Não é preciso ter um Congresso excepcional para que o regime democrático funcione. A separação de Poderes dispensa utópicas perfeições, pois há limites e controles. Basta que cada um faça a sua parte. Ao Executivo compete governar.

Estranho o Estadão reconhecer reformas importantes aprovadas por FHC e Temer, mas nada falar sobre os avanços institucionais no atual governo. Ora, não foi no governo Bolsonaro que tivemos a maior reforma previdenciária aprovada? A independência do Banco Central? O marco do saneamento básico? Avanços nas privatizações?

O governo atual não está paralisado, como dá a entender o jornal. Mas há, sim, uma tentativa de sabotagem sem precedentes.  O ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assim que saiu do cargo admitiu ser oposição, e hoje está colado no PT. O atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, acaba de anunciar sua mudança para o PSD, de Kassab, que estaria costurando seu nome como vice de Lula. E é desnecessário mencionar o ativismo político do STF neste governo.

O Estadão ignora tudo isso para fingir que a dificuldade de governar não tem relação com essas sabotagens, mas deriva somente da incompetência de Bolsonaro. Isso para não falar de corrupção, já que sabemos bem quais métodos eram utilizados antes para a aprovação das reformas.

Um presidente, mesmo eleito com quase 60 milhões de votos, não pode tudo, e é bom que assim seja. Não queremos, afinal, um "déspota esclarecido". A descentralização do poder é importante para impedir o autoritarismo, e nisso o Estadão acerta. Mas fingir que Bolsonaro é simplesmente incapaz de governar porque não sabe negociar com o Congresso beira o cinismo. Não mencionar a postura golpista de alguns ministros do Supremo é desonestidade.

Bolsonaro, como um típico militar, enxerga o cenário de forma binária, com aliados leais ou inimigos mortais. Não é o melhor exemplo de alguém que sabe construir pontes, é verdade. Poderia ter evitado muito conflito desnecessário também. Mas responsabilizar o presidente - e apenas o presidente - pela dificuldade de avançar com certas pautas, ignorando o contexto golpista do sistema, isso é fazer péssima análise, deixando o essencial de fora para atacar um desafeto político.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

 

segunda-feira, 6 de julho de 2020

A Constituição e a defesa do regime democrático - Geraldo Brindeiro

O Estado de S. Paulo

Os ministros do STF são os guardiães da vontade do povo expressa na Assembleia Constituinte [ = é preciso estabelecer linha divisória entre o que a Constituição diz e o que o intérprete deseja que ela diga.]

A Constituição estabelece que todo o poder emana do povo e em seu nome é exercido, por intermédio de representantes eleitos ou diretamente. A soberania popular é norma constitucional. E o voto direto, secreto, universal e periódico é cláusula pétrea. Na democracia representativa, contudo, as maiorias são eventuais. Daí a importância da preservação das liberdades e dos direitos fundamentais – não apenas no período eleitoral, mas durante todo o mandato dos eleitos. O eleitorado – sobretudo as novas gerações de eleitores – precisa ter garantida a plenitude das liberdades e do acesso às informações dos governantes para avaliar seu desempenho e votar livremente nas eleições seguintes.

No regime presidencialista – adotado no Brasil desde o início da República, nos moldes do presidencialismo originário dos Estados Unidos da América – a maioria elege o presidente da República e os membros do Congresso Nacional para exercerem o poder durante os respectivos mandatos. Na República e na democracia, portanto, por definição, o poder político é temporário e limitado. Deve ser exercido, durante o mandato eletivo, com o devido respeito à Constituição e às leis do País e observado o princípio da separação dos Poderes – que é também cláusula pétrea, assim como a Federação e os direitos e garantias individuais.

Na célebre obra De l’Esprit des Lois, em 1748, Montesquieu criou a doutrina da separação dos Poderes exatamente para evitar a concentração de poder e preservar as liberdades e os direitos fundamentais. E nos The Federalist Papers, escritos durante o período de realização da Convenção de Filadélfia, que deu origem ao presidencialismo e à Constituição americana de 1787, James Madison foi além e preconizou a adoção do sistema de freios e contrapesos (checks and balances) para realizar o controle recíproco dos Poderes no exercício de suas funções constitucionais, evitando abusos e excessos do que denominou majority tyranny (Federalist n.º 51). Finalmente, Alexander Hamilton observou ainda que a garantia da supremacia da Constituição é responsabilidade do Poder Judiciário em razão da natureza de suas funções: “... the judiciary, from the nature of its functions, will always be the least dangerous to the political rights of the Constitution” (Federalist n.º 78).

O Poder Executivo dirige a administração pública (“holds the sword”), o Poder Legislativo controla as finanças do Estado (commands the purse) e prescreve as normas legais (“prescribe the rules”...) e o Poder Judiciário julga de acordo com a Constituição e as leis (“The interpretation of the laws is the proper and peculiar province of the courts”).

Os ministros do Supremo Tribunal Federal – tal como os justices da Suprema Corte americana – não são eleitos pelo voto popular. São, todavia, os guardiães da vontade do povo expressa na Assembleia Constituinte e formalizada na Constituição. E sua nomeação transcende o mandato do presidente que os nomeou após prévia aprovação do Senado. A vitaliciedade garante sua independência para realizar os julgamentos. [que pode ser perfeitamente substituída por um mandato fixo de dez anos - evitando que muitos ministros se sintam tentados a confundir a condição de ministro do Supremo Tribunal Federal com 'supremo' ministro do Absoluto Tribunal Federal;
outra vantagem da não vitaliciedade é que evita que alguns ministros se considerem insubstituíveis.] 
A vedação de atividade político-partidária lhes confere isenção e imparcialidade ao interpretar a Constituição e as leis do País, sem estar adstritos às contingências de mandato eletivo, o que assegura a estabilidade jurídica e a promoção do bem comum, e não de interesses de facções políticas.

No livro A Preface to Democratic Theory, Robert Dahl observa que James Madison, ao referir-se ao princípio republicano, preconiza a necessidade de instituição “that will blend stability and liberty” de maneira a assegurar os interesses comuns e permanentes da comunidade (Federalist n.º 63). Alexander Bickel, professor de Yale, na obra The Least Dangerous Branch – The Supreme Court at the Bar of Politics, argumenta que, desde Marbury versus Madison em 1803, quando a Suprema Corte criou o judicial review, esta tem a última palavra sobre a interpretação da Constituição. E observa que a Suprema Corte tem mantido contínuo colóquio com as instituições políticas para alcançar acomodação e compromisso sem abandono de princípio, destacando o caráter contramajoritário do seu papel. Laurence Tribe, professor de Harvard, no livro On Reading the Constitution argumenta que interpretar a Constituição não é reescrevê-la. E a despeito de teorias de interpretação e hermenêutica com alto grau de abstração dos princípios e normas constitucionais, é preciso estabelecer linha divisória entre o que a Constituição diz e o que o intérprete deseja que ela diga, sob pena de violação da vontade do povo manifestada na assembleia constituinte. Alexander Hamilton já observara que não se deve supor que o Judiciário seja superior ao Legislativo, mas sim que o poder do povo expresso na Constituição é superior a ambos.

O governo democrático deve respeitar a liberdade de expressão e de imprensa, admitir críticas e garantir o acesso de todos às informações governamentais. Não há democracia sem liberdade, pluralidade de ideias e de partidos políticos e tolerância recíproca na convivência e na diversidade. E a Constituição estabelece que compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição. E ao Ministério Público, a defesa da ordem jurídica e do regime democrático.

Geraldo Brindeiro, ex-procurador-geral da República - O Estado de S. Paulo

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Estado de exceção

Um grupo de ministros do STF está em guerra com a democracia

Esqueça por um momento, se for possível, as ordens do STF que mais uma vez mandaram soltar José Dirceu, o príncipe do PT condenado a 30 anos e nove meses de cadeia por corrupção, além de outros dois colossos da vida pública nacional — um, do PSDB, é acusado de roubar merenda escolar e o outro é tesoureiro do PP. (Só isso: tesoureiro do PP. Não é preciso dizer mais nada.) Faz sentido um negócio desses? 

Claro que não. Não existe na história do Judiciário brasileiro nenhum réu condenado a mais de 30 anos de prisão por engano, ou só de sacanagem; dos outros dois nem vale a pena falar mais do que já se vem falando há anos. Mas a questão, à esta altura, já não é o que cada um deles fez ou é acusado de ter feito no mundo do crime — a questão é o que estão fazendo os ministros supremos que abriram a porta da cadeia para os três, e virtualmente para todo o sujeito que hoje em dia é condenado por roubar o erário neste país. Os ministros, pelo que escrevem nas suas sentenças, decidiram na prática que ninguém mais pode ser preso no Brasil por cometer crimes de corrupção. Tudo bem, mas há uma pergunta que terá de ser respondida uma hora qualquer: é possível existir democracia num país onde Gilmar Mendes, Antonio Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello, com a ajuda de algumas nulidades assustadas e capazes de tudo para remar a favor da corrente, decidem o que é permitido e o que é proibido para 200 milhões de pessoas?

Esse grupo de cidadãos está no STF por indicação, basicamente, de um ex-presidente da República hoje na cadeia, condenado a 12 anos por corrupção e lavagem de dinheiro, e por uma ex-presidente deposta por quase três quartos dos votos do Congresso. Foram aprovados para seus cargos pelo Senado Federal do Brasil um dos ajuntamentos mais corruptos que se pode encontrar entre os seres humanos vivos no momento sobre a face da Terra. Jamais receberam um voto. Não respondem a ninguém. Como os loucos, os pródigos e os silvícolas, estão fora do alcance da lei — não podem ser acusados de nada, e muito menos punidos por qualquer ato que venham a cometer. Têm o direito de ficar nos seus cargos pelo resto da vida. Com essa proteção toda, garantida pela Constituição suicida em vigor no Brasil, deram a si próprios o poder de anular provas. Podem ignorar qualquer lei em vigor, recusar-se a aplicar normas legais, não aceitar decisões do Congresso e suprimir procedimentos judiciais. Dizem, é claro, que todas as suas sentenças estão de acordo com as leis — mas são eles, e só eles, que decidem o que a lei quer dizer. Se resolverem que dois mais dois são sete, nenhum brasileiro terá o direito de dizer que são quatro.

Os grandes gênios da nossa criatividade política, com os seus imensos estoques de sabedoria acumulada, devem ter alguma resposta para a pergunta feita acima. Talvez eles saibam como seria possível manter, ao mesmo tempo, o regime democrático e uma corte suprema povoada por Toffolis, Gilmares e Lewandowskis e dedicada a manter a corrupção como uma atividade legal no Brasil. Para os mortais comuns, está difícil de entender. Não existe em lugar nenhum do mundo, e nunca existiu, uma democracia em que o tribunal mais alto do Poder Judiciário faz uso da lei para impedir a prestação de justiça. 

Se as atuais leis brasileiras, como garantem os ministros a cada vez que soltam um ladrão de dinheiro público, os obrigam a transformar o direito de defesa em impunidade, então todo o sistema de justiça está em colapso; nesse caso, o que existe é um Estado de exceção, onde as pessoas que mandam valem mais que todas as outras. Contra eles, no entendimento de parte do STF, nenhum fato existe; nenhuma prova é válida. Os Toffolis, etc., conseguiram montar no Brasil um novo fenômeno: ao contrário da fábula narrada por Kafka em “O Processo”, o simples fato de alguém ser acusado perante o tribunal é a prova indiscutível de sua inocência.

 J R Guzzo - Veja

 

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Agora, Lula é dúvida para o PT até 2036 [2036 é um cálculo generoso para Lula - novas condenações virão e aquela data só tende a aumentar

Lula se impôs como alternativa única de candidatura a duas gerações de adeptos do PT e suas organizações satélites 

Sexta-feira passada, em Brasília, quando Lula iniciava um depoimento na Justiça Federal, pediram-lhe para falar mais próximo do aparato de gravação:  — Tem que falar para a câmera? Olha que candidato não pode ver uma câmera — ironizou.

Foi a segunda vez, nos últimos dois meses, que ele fez questão de registrar em juízo o seu projeto de candidatura.  Havia sido incisivo quando falou ao juiz Sérgio Moro em maio, em Curitiba:  — Eu estava encerrando a minha carreira política, mas, agora, depois de tudo o que está acontecendo, estou dizendo em alto e bom som que vou quer ser candidato em 2018.

Por ironia, foi em Curitiba que Lula completou três décadas e meia de candidatura permanente pelo Partido dos Trabalhadores. Em 1982, escolheu a capital do Paraná para seu primeiro comício de aspirante ao poder central.  Desde então, há 35 anos ele se mantém em campanha como candidato do PT, e com o mesmo objetivo — a Presidência.

Lula se impôs como alternativa única de candidatura a duas gerações de adeptos do PT e suas organizações satélites. Não há precedente em países sob regime democrático.
Na quarta-feira, ele foi condenado pelo juiz Moro a 3.420 dias de prisão, em regime fechado. E, ainda, ao dobro desse tempo para “exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza”, ou mesmo como dirigente na iniciativa privada, como determina a lei sobre crimes de “lavagem” ou ocultação de patrimônio e dinheiro.

A punição foi porque, segundo Moro, “envolveu a destinação de R$ 16 milhões a agentes políticos do PT”. O então presidente integrava “um esquema criminoso no qual o pagamento de propinas havia se tornado rotina”. Acrescentou: “O custo da propina era repassado à Petrobras, através da cobrança de preço superior à estimativa, aliás propiciado pela corrupção”.
O juiz foi duro: “A culpabilidade é elevada. A responsabilidade de um Presidente da República é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes”.

A sentença de Moro ainda depende de confirmação em segunda instância judicial. Lula poderá recorrer em liberdade, isto é, em campanha.  Até lá, o candidato é dúvida para o PT. Não apenas para a disputa eleitoral de 2018, mas para todas as seguintes, pelo menos até 2036, quando completa 89 anos de idade.  Caso em algum momento desista da candidatura, Lula poderá se entrar para o clube dos caciques de partidos em virtual aposentadoria por condenação judicial. Lá estão, por exemplo, alguns dos antigos parceiros da campanha de 2002. Entre eles, Pedro Correia e Valdemar Costa Neto, sócios de Lula e José Dirceu na operação política que passou à história como “Mensalão”.

Fonte: José Casado, jornalista - O Globo
 

domingo, 25 de junho de 2017

A corrupção e a democracia

Carta ao leitor: A corrupção e a democracia

O combate à corrupção não fere a democracia. Ao contrário: a democracia, associada à liberdade de imprensa, é o elemento que viabiliza o combate à corrupção

Agora, a Lava-Jato faz mal à democracia. Sim, a mais recente onda de ataques à maior investigação de corrupção na história do Brasil agora desfila o argumento de que estamos fazendo mal ao regime democrático. Não é exatamente recente, mas o coro engrossou.
Na semana passada, o atual ministro da Justiça do presidente Michel Temer, Torquato Jardim, em entrevista ao jornal Valor Econômico, disse que a Lava-Jato é uma amea­ça à democracia, na medida em que está “desfazendo a classe política”. Também na semana passada, Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, a voz mais insistente contra o que considera abusos da Lava-­Jato, afirmou em palestra no Recife que o país precisa evitar o risco de “despencar para um modelo de Estado policial”. Disse Mendes: “Expandiu-se demais a investigação, além dos limites”.
E chegou a ser aplaudido.

O que Torquato Jardim e Gilmar Mendes denunciam hoje, o PT e os petistas denunciavam ontem. Em outubro do ano passado, quando já era ex-ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff, Eugênio Aragão deu entrevista em que dizia que a Lava-Jato “faz mal à democracia brasileira” porque os poderes vinham sendo exercidos “sem limites” — o mesmo problema dos “limites” de Gilmar Mendes. Em março deste ano, o PT promoveu um seminário para discutir o impacto da Lava-Jato e concluiu, entre outras coisas, que a operação era uma ameaça à democracia, pois enxergava nas investigações uma escalada de um Estado autoritário e de exceção.

É forçoso notar que há uma sintonia, mas também há uma diferença. As autoridades que hoje denunciam os males que a Lava-Jato causa à democracia brasileira acompanham uma mudança da própria operação. Antes, concentrada em Curitiba nas mãos do juiz Sergio Moro, a Lava-Jato tinha como alvos preferenciais assessores de segundo escalão e políticos sem foro privilegiado. Agora, conforme se transfere para Brasília, porque a operação passou a mirar em autoridades ainda no exercício do cargo e, portanto, beneficiárias do foro privilegiado, os protestos permanecem iguais — mas mudam seus autores.

Só isso já mostra o oportunismo das críticas, mas mostra algo mais: é também um equívoco monumental. O combate à corrupção não fere a democracia. É o contrário: a democracia, associada à liberdade de imprensa, é o elemento que permite e viabiliza o combate à corrupção o qual, num círculo virtuoso, fortalece o próprio regime democrático.

Nesse sentido, a voz que não mudou de lado continua sendo a do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na semana passada, diante do bombardeio de críticas à Lava-Ja­to e das insinuações de agressões à democracia, Janot disse o seguinte: “Basta de hipocrisia. Não há mais espaço para a apatia. Ou caminhamos juntos contra essa vilania que abastarda a política ou estaremos condenados a uma eterna cidadania de segunda classe, servil e impotente contra aqueles que deveriam nos representar com lealdade”. [é necessário apenas que se evite o uso político da Lava Jato; o uso da operação para promoção pessoal de determinadas autoridades.
No mais,  é continuar investigando, denunciando e fornecendo elementos que permitam a condenação dos corruptos a penas elevadas  e também se evite que a pretexto de condenar alguns peixes miúdos se deixe impunes bandidos que confessaram mais de 200 crimes.]
VEJA assina embaixo.

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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

15 ANOS DEPOIS DE CRIADA A PALAVRA, OS PETRALHAS ESTÃO NO OLHO DA RUA - Agora temos que despetizar o estado

A resistência venceu. Ao longo dos anos de contínua depredação da verdade e da lógica, soubemos manter as nossas instituições e reagimos com a devida presteza todas as vezes em que eles tentaram mudar os códigos do regime democrático. Não estão mortos. Não estão acabados

Quinze anos depois de eu ter criado a palavra “petralha” para designar as práticas dos petistas em Santo André, lá se vão eles. Morrem com retrato e com bilhete, mas sem luar, sem violão. Sei muito bem o peso de enfrentá-los ao longo dos anos. Hoje é fácil. 

Felizmente, os grupos de oposição ao petralhismo se multiplicaram. E ninguém corre o risco de morrer de solidão por enfrentar a turma. Alguns o fazem até por oportunismo. Outros ainda porque farejam uma oportunidade de negócios. O tempo que depure as sinceridades, as vocações, as convicções. Não serei eu o juiz.

Sinto-me intelectualmente recompensado. A razão é simples. Desses 15 anos de combate, 10 estão no arquivo deste blog, vejam aí. Houve até um tempo em que um blogueiro petista sugeriu à grande imprensa que tentasse investigar quem eram e como viviam os leitores desta página. Afinal, integrávamos o grupo, dizia ele, dos apenas 6% que achavam o governo Lula ruim ou péssimo. E é claro que os companheiros tentaram transformar a repulsa ideológica ao partido num crime.

A recompensa intelectual não se confunde, nesse caso, com vaidade. A minha satisfação não decorre de ter antevisto a queda dos brutos. Isso seria fácil. Em algum momento, claro!, eles cairiam, ainda que fosse pelas urnas. O meu conforto deriva do fato de que, então, eu não via fantasmas quando apontava a máquina formidável de assalto ao estado que se havia criado. Ela se destinava não só a enriquecer alguns canalhas como a assaltar as instituições.

Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu exagerava! Ah, quantas vezes tive de ouvir que a palavra “petralha” designava, na verdade, um preconceito! Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu criminalizava no PT o que considerava normal e corriqueiro nos outros partidos! Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu estava a serviço do tucanato! Essa última acusação, diga-se, em tempos mais recentes, também ganhou as hostes da extrema direita caquética, que precisava que o PT fosse um monstro invencível para que sua ladainha impotente e escatológica continuasse a se alimentar da paranoia dos tolos.

E, no entanto, as coisas estão aí. Os petralhas foram derrotados por sua alma… petralha! Porque a maioria dos brasileiros pôde, afinal, enxergá-los como eles de fato são.  Não! A palavra “petralha” nunca designou apenas uma caricatura a serviço do embate ideológico. Os petistas adorariam que assim fosse. A máquina de propaganda esquerdista tentou até criar o contraponto à direita, que seriam os “coxinhas”. Mas foram malsucedidos no intento. Porque, afinal, de um coxinha, pode-se dizer o diabo. Mas uma coisa é certa: coxinha, em nenhuma de suas acepções, virou sinônimo de ladrão. Marilena Chaui, aquela, pode achar um coxinha reacionário, preconceituoso, abominável… Mas não tenho a menor dúvida de que ela confiaria sua carteira a um coxinha e jamais a deixaria à mercê de um de seus pupilos petralhas.

José Eduardo Cardozo e os demais petistas se zangam quando se diz que Dilma caiu pelo “conjunto da obra”. No seu entendimento perturbado do mundo, entendem que se está admitindo que ela não cometeu crime de responsabilidade. Trata-se, obviamente, de uma mentira. Sim, o crime foi cometido, mas é fato que ele não teria sido condição suficiente, embora necessária, para a deposição. Foi, sim, o jeito petralha de governar que derrubou a governanta, aliado a uma brutal crise econômica, derivada, diga-se, desse mesmo petralhismo: não fosse a determinação de jamais largar o osso, a então mandatária teria tomado medidas para evitar o abismo. Ocorre que ela não devia satisfações ao Brasil, mas ao projeto de poder, tornado realização, que havia se assenhoreado do estado e que vivia de assaltá-lo.

A resistência venceu. Ao longo dos anos de contínua depredação da verdade e da lógica, soubemos manter as nossas instituições e reagimos com a devida presteza todas as vezes em que eles tentaram mudar os códigos do regime democrático. Não estão mortos. Não estão acabados. Estão severamente avariados, e cumpre aos defensores da democracia que sua obra seja sempre lembrada como um sinal de advertência. Até porque, a exemplo de todas as tentações totalitárias, também a petista tem seus ditos intelectuais, seus pensadores, seus… cineastas. As candidatas a Leni Riefenstahl do petismo, sem o mesmo talento maldito da original, não conseguiram fazer a epopeia do triunfo; então se preparam agora para fazer o réquiem, na esperança de que o ressentimento venha a alimentar o renascimento.

Vem muita coisa por aí. Não completamos nem o primeiro passo da necessária despetização do estado. O trabalho será longo, vai durar muitos anos. Não temos como banir os petralhas da política, mas é um dever civilizacional combater suas ideias, enfrentá-los, resistir a suas investidas — e pouco importa o nome que tenham.
Publiquei “O País dos Petralhas I”.
Publiquei “O País dos Petralhas II”.
Anuncio aqui, para breve, fechando o ciclo, o livro “Petralhas Go”.
Acabou.
Eles perderam. A democracia venceu.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - VEJA 
 

domingo, 6 de março de 2016

Não mandaremos Dilma e Lula tomar no c… Nós vamos asfixiá-los com o oxigênio da democracia

Dilma sabe que, a exemplo de Lula, perdeu as ruas. E isso ficará bem claro no próximo dia 13. 

Os milicianos que saem em defesa do PT, do Poderoso Chefão e, secundariamente, da presidente são militantes ligados ao partido e a seus aparelhos. [que dependem do PT no poder para manter seus empregos - são analfabetos, estúpidos e só estão 'empregados' para servir ao projeto de poder do PT - projeto em processo incontrolável de extinção.

São a periferia da nova “classe social” que o PT representa no Brasil, para usar a expressão cravada por Milovan Djilas em 1957

Acesse este endereço:  https://www.youtube.com/watch?v=vbxcPorIF54&feature=youtu.be

e veja o vídeo em que Lula manda Dilma

  "enfiar a Lava-Jato no cu" 

A deputada comunista Jandira Feghali queria gravar um vídeo para exibir ao Povo Brasileiro sua proximidade com o "puder" do PT. Acabou registrando para a posteridade o lado mais "republicano" do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, vulgo "Lula". Ao fundo, logo no início do vídeo e falando ao telefone com a presidente Dilma 

A política se exercita segundo duas lógicas principais: a da publicidade e a do bunker. A primeira é própria dos regimes democráticos, que, segundo seus críticos, produz o milagre às avessas de equiparar os melhores aos piores. Em parte, a objeção é mesmo procedente.  É por isso que as democracias mais avançadas preservam alguns domínios do escrutínio da maioria. É o caso da ciência, por exemplo. Ainda que a sua dimensão ética possa e deva ser submetida ao debate público, não convém pedir que as maiorias decidam qual deve ser a estrutura do DNA. Sobre o dito-cujo, só uma postura é correta: a procura do “em si” da coisa. Nem o regime democrático é capaz de fabricar um para cada gosto.


Se a democracia não é o regime perfeito porque tanto os Schopenhauers como os idiotas valem um voto, ainda assim, já inferiu aquele, é o melhor de todos os regimes ruins. Seu oposto é a opacidade do “bunker”, que é típica das ditaduras, sim, mas que pode se manifestar mesmo num regime democrático.


Um vídeo espetacular circula na Internet. Jandira Feghali (RJ), deputada do PCdoB, conhecida por “Jandirão” em razão de seu estilo, da fineza da retórica e da delicadeza do pensamento, resolveu se comportar como cineasta de interiores. Depois do depoimento de Lula, ela flagra o ex-presidente da intimidade, numa conversa, segundo ela própria, com Dilma Rousseff.


O homem que, segundo o Instituto Lula, não tem nem usa celular se mostrava muito à vontade falando com a chefe da nação. Aos berros, expressou a importância que confere à Justiça: “Eles que enfiem o processo no c…”. E usou aquele monossílabo tônico de duas letras, que começa com “c” e termina com “u”com assento e sem acento, na melhor fisiologia gramatical —, revelando, uma vez mais, as cavernas do pensamento onde se produz o autêntico petismo.


Como se nota, Lula gritava, como fazem os chefes mal-educados em seus ataques de assédio moral contra subordinados incompetentes ou, ainda que competentes, submissos. Submissa, Dilma é. Competente, sabe-se que não. Logo, suponho que, do outro lado da linha, ouvia-se apenas um muxoxo, uma fala presa na garganta, que não se voltava para o mundo; antes, ficava retornava ao diafragma, esmagada. Também a fala, na lógica do bunker, se exercita para dentro, não para fora.


No dia em que esse espetáculo grotesco veio a público, a presidente se desloca de Brasília para São Bernardocom o nosso dinheiro, como tudo o mais e vai visitar Lula em seu apartamento. Emprestava, assim, a solidariedade da presidente da República, não da amigajá que tal dimensão deixa de existir quando se ocupa tal cargo, àquele que é alvo de investigação, numa clara afronta à Justiça.


É a lógica do bunker se manifestando em plena democracia. Dilma sabe que, a exemplo de Lula, perdeu as ruas. E isso ficará bem claro no próximo dia 13. Os milicianos que saem em defesa do PT, do Poderoso Chefão e, secundariamente, da presidente são militantes ligados ao partido e a seus aparelhos. São a periferia da nova “classe social” que o PT representa no Brasil, para usar a expressão cravada por Milovan Djilas em 1957, título de seu livro, ao se referir ao sistema comunista (não só o iugoslavo), ao qual havia servido como presidente da Assembleia e vice-presidente. Mas sempre lutando por democracia, diga-se.


Djilas percebeu a impossibilidade de conciliar um regime de liberdades com o socialismo. Não estou atrás de medalhas, claro!, mas fui o primeiro no Brasil tenho as provas, rsssa associar as teses de Djilas ao PT. E era ainda o PT que disputava o poder. O livro é encontrável em inglês. Já teve tradução no Brasil. Acha-se em algum bom sebo, talvez.


A desnecessária condução coercitiva de Lula inflamou a nova classe, e quase nada de útil pode advir disso. Traz, no entanto, um efeito associado que pode ser positivo: levou Dilma para o bunker de Lula. Já não é possível distinguir, e é bom que não, o governo dela das artimanhas dele. É evidente que não existe “dilmismo”. Ela é mera funcionária da máquina de assalto ao estado em que se transformou o PT.


Mas existe o lulismo, ao qual intelectuais pés-rapados conferiram o estatuto de uma teoria do poder, que o Babalorixá de Banânia expôs ligeiramente na sua entrevista-pronunciamento. Ela consiste, como ele mesmo deixou claro, em garantir lucros formidáveis aos muito ricos e distribuir caraminguás aos pobres, silenciando-os com benesses mesquinhas, roubando-lhes cidadania em troca de alguns reais.


O vídeo feito por Jandirão e a visita de Dilma ao apartamento de Lula restarão para a história como aberrações que antecederam a queda da presidente e do lulismo. Lula não estava mandando a Justiça enfiar o processo no monossílabo tônico sem acento terminado em “u”. Lá do bunker, ele mandava a democracia tomar no c…


Respeitado o devido processo legal, sem atropelo, sem afronta a nenhuma das garantias, há elementos que indicam que o lugar da dupla é a cadeia. Não os mandaremos tomar no c… Vamos asfixiá-los com o oxigênio da democracia.


PS: Desde que se lançou na política, Jandirão prestou seu primeiro serviço à democracia.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo