A
PEC do teto de gastos não resolve o problema, mas sem ela a situação se
agravaria muito. O
economista José Márcio Camargo disse que, se nada fosse feito, o déficit se
acumularia e levaria a dívida a 160% do PIB. Hoje, o déficit brasileiro é maior
do que o de países da Europa que estiveram em crise, e a dívida bruta chegou a
70%, ponto mais alto da série. A vitória
por 366 votos foi significativa, mas é só o primeiro passo.
As
projeções são feitas para que possam ser evitadas. Uma
dívida de 160% do PIB, como a que foi calculada por Camargo, levaria o país a
quebrar antes de ser atingida. A herança mais complexa deixada pelo
governo Dilma foi ter posto o país numa dinâmica de elevação da dívida que
exigirá do país anos para reverter. No início do seu primeiro mandato, a dívida
era 52% do PIB.
No debate
na Câmara, ontem, a oposição protestava contra o limite
para os gastos, afirmando que levaria à redução de investimentos de saúde e
educação, esquecendo que quem levou o país a esta situação dramática
foi o governo Dilma. Pelas contas do professor José Márcio Camargo, que as
apresentou no jantar de domingo para os deputados, se a PEC for aprovada em
todas as várias etapas de tramitação, a
dívida vai se estabilizar em 2023 em 90%. A conta foi feita com o cenário
de o país crescer em média 2,5% ao ano. Se o país crescer um ponto percentual
do PIB a mais, o ajuste será mais rápido. —
Os juros também alteram muito a projeção, mas não funcionaria cortar a Selic na
marra, como foi feito entre 2011 e 2013, porque a taxa relevante é o que os
investidores cobram para financiar o governo — diz o economista.
A PEC do teto de gastos está
longe de ser consenso, mesmo
entre os economistas mais próximos ao governo. Felipe Salto, que fez parte da
assessoria do senador licenciado José Serra, e a economista Monica de Bolle
escreveram juntos um artigo, postado no Blog do Salto,
falando dos defeitos da PEC. “Não dá para
aprovar algo geral e esperar que pela força da gravidade tudo se resolva.”
Eles criticam o tempo, que acham
longo demais, e dizem
que o projeto, na prática, “coloca a
política fiscal no piloto automático”. Acham ainda que a medida terá efeito nulo no curto prazo porque as despesas
serão corrigidas de acordo com a inflação do ano anterior, numa época em que a
taxa estará caindo. De fato, as despesas serão
corrigidas por 7% em 2017, quando a inflação corrente do ano pode ser de 5% ou
menos. Mas isso evitaria as distorções de um corte abrupto.
A crítica
feita pela esquerda é que serão cortados
os gastos com saúde e educação numa época em que, pela crise e por
problemas estruturais, o país precisaria elevar os gastos. A oposição só não
diz como aumentar despesas em um país que entrou em crise fiscal aguda por
culpa do governo que eles defenderam ou do qual fizeram parte. O que o governo
tenta fazer com essa mudança constitucional é evitar que as despesas continuem
com sua forte alta em termos reais e, ao mesmo tempo, dar um horizonte que leve
à queda futura dos déficits primário e nominal. Como se sabe, na economia, os
eventos futuros são trazidos a valor presente e passam a fazer efeito agora. Se
as projeções levarem a uma explosão da dívida/PIB, a crise de confiança
acontece agora. Se, ao contrário, são tomadas medidas para evitar essa
explosão, os efeitos benéficos acontecem no presente.
Só acha que nada precisa ser
feito quem não se importa com a responsabilidade fiscal, quem não
tem noção dos efeitos perversos que a desorganização das contas do governo
provoca na economia. Para se ter uma ideia de como o país se agravou nos
últimos anos, o déficit nominal do Brasil, quando entram na conta os gastos com
juros, já é pior do que o de todos os países da zona do euro, incluindo Grécia,
Espanha, Irlanda e Portugal. A Irlanda chegou a ter um déficit de 32% do PIB em
2010, com o socorro que o governo deu aos bancos do país após a crise
financeira. De lá para cá, fez um forte ajuste, e para este ano o FMI estima
uma taxa negativa de apenas 0,6% do PIB. Os
gregos tiveram perdão da dívida, mas para este ano já têm um déficit estimado
de 3,3%. Espanha e Portugal já têm números entre 3%
e 4%. O do Brasil é 9,6%. Deixar
tudo como está é flertar com o despenhadeiro.
Por: Míriam Leitão, Com Alvaro Gribel, de São Paulo e Marcelo
Loureiro
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