Os
preços dos combustíveis caíram, e a ação da Petrobras subiu. Isso,
segundo o presidente da empresa, Pedro Parente, é sinal de que o mercado
olhou menos para a redução, em si, e mais para o sinal de que a empresa
tem agora liberdade para a formação dos seus preços. A Petrobras havia
perdido, na média de janeiro a setembro, 14% de participação do mercado
de diesel e 4% no de gasolina. ‘Mas isso é na média desses meses, porque, na ponta do período, a empresa estava perdendo em torno de 20%”, disse Pedro Parente.
Outro
a comemorar, além da Bovespa, foi o ministro Henrique Meirelles, que
considerou que a queda será uma ajuda para reduzir a inflação. No que
depender dos revendedores, isso pode não acontecer. Eles dizem que
tentarão recompor as margens que teriam sido reduzidas durante os
últimos meses. Se o preço não cair na ponta, será uma enorme frustração
para o consumidor porque a expectativa é de que caia. Se houver
competição entre os postos, entretanto, é possível que o consumidor
acabe levando parte dessa diminuição. Em alguns lugares, a redução do
preço da Petrobras será maior. No Nordeste, por exemplo, será de 6%,
porque lá tem entrado mais combustíveis de outros importadores. Pedro
Parente conta que alguns desses importadores fazem operações de
transbordo no meio do Rio Amazonas, o que acaba representando também um
risco ambiental.
A decisão anunciada ontem pela Petrobras mostra
autonomia de gestão, mas não é o anúncio de uma fórmula matemática, como
chegou a ser pensada, e usada, no passado. — A fórmula seria um
tabelamento de preços, seria determinística. Colocaríamos algumas
variáveis e o preço seria determinado por ela. Isso acabaria sendo uma
camisa de força para a empresa também. Na nova política, são levados em
consideração vários elementos, mas haverá também um grau de liberdade
para a Petrobras — diz Parente.
O controle de preços foi mais um
dos raios que caíram sobre a Petrobras nos últimos anos. Os outros foram
a corrupção e a má gestão. A interferência do governo impediu o
reajuste e elevou o rombo da companhia. Quanto a Petrobras perdeu e o
que ela conseguiu recuperar nestes tempos em que os preços ficaram acima
dos níveis internacionais? Há cálculos no mercado, mas a empresa não os
confirma.
Parente prefere falar da política estabelecida para os preços daqui para diante: —
O que a gente quer é que esse assunto seja natural. Em outros países, a
alta e a queda dos combustíveis são normais e não viram notícia de
primeira página. Pela avaliação feita na empresa, quanto mais frequente
for o ajuste de preços, em todas as direções, mais natural se tornará. A
nova política foi formulada depois de muitos debates internos, que
ficaram restrito a um grupo pequeno de pessoas. A partir de agora, o
Grupo Executivo de Mercados e Preços vai avaliar os custos, pelo menos
uma vez por mês, seguindo a diretriz de nunca ficar abaixo da paridade
internacional.
A grande vantagem é que isso dá previsibilidade à
política de formação de preços. Por outro lado, sempre se temeu que a
Petrobras formulasse seus próprios preços, porque ela tem enorme poder
de mercado. O que os dados apresentados agora mostram é que os
importadores conseguem empurrar para baixo quando a Petrobras estiver
cobrando muito acima do nível internacional. Como empresa que exerceu
por décadas o monopólio na lei, ou na prática, ela não tinha
concorrentes. Desta vez, a importação conseguiu se organizar para pegar
nacos do mercado.
Parente confirma que tem havido enorme
interesse na compra da participação na BR Distribuidora no novo modelo
em que a Petrobras permanece como a maior acionista, mas com uma fatia
abaixo de 49%. A próxima etapa é os interessados assinarem termo de
confidencialidade com a empresa. Ele acha que as propostas vinculantes
devem ser apresentadas no final do primeiro trimestre de 2017. Se houver
igualdade de condições, a decisão será pelo preço. O tempo de conclusão
do processo dependerá de quem for o comprador. Se for uma empresa
revendedora, precisará ser ouvido o CADE, que pode levar 11 meses para
decidir. Se for uma empresa sem atuação na distribuição de combustíveis,
o fechamento do negócio será simplificado.
Fonte: Blog da Míriam Leitão - O Globo
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