A ex-presidente mais uma vez ofendeu as instituições do país.
Na “Folha de S. Paulo”, Dilma Rousseff trata a colaboração de Marcelo Odebrecht como “delaçãozinha de uma pessoa que foi submetida a uma variante de tortura, minha filha. Ou melhor, de coação”. Na tentativa de diminuir as revelações sobre sua campanha de 2014, ela acaba por atacar a Procuradoria-Geral da República e o Tribunal Superior Eleitoral, como que acusando o ministro Herman Benjamin de torturar e coagir a testemunha a falar falsidades. De tudo o que disse Dilma, o que faz sentido é que a chapa é uma só, o que torna impossível separar os candidatos a presidente e a vice.
Na entrevista, bem conduzida por Mônica Bergamo, Dilma faz uma reconstrução dos fatos que não fica de pé. Ela conta que Marcelo Odebrecht não gostava dela desde a licitação da usina de Santo Antonio, em 2007. É preciso lembrar a história da obra. A ideia partiu da empreiteira, que fez os estudos e levou o projeto ao governo. Dilma era ministra.
Técnicos apontavam problemas na obra, como a grande quantidade de resíduos na água que poderia reduzir a vida útil dos equipamentos. O governo desconsiderou esse e outros alertas, lutou pela obra. Na entrevista, Dilma disse que por atuação dela o preço ficou abaixo do que a Odebrecht queria, por isso Marcelo não a teria “perdoado”. Essa tese não se sustenta. A empresa ganhou a licitação e ainda financiou, oficialmente e de maneira clandestina, a campanha de Dilma em 2010 e em 2014.
A argumentação da ex-presidente sobre a chapa faz sentido. É muito difícil separar Dilma Rousseff e Michel Temer no julgamento que começa nesta terça-feira no TSE. Tanto é que as duas defesas usam os mesmos argumentos no processo. Elas seguem linha idêntica ao tentar desqualificar os depoimentos de executivos da Odebrecht. Dilma e Temer têm o mesmo interesse na ação. A intenção dos dois é prolongar o julgamento. Assim, Dilma preserva sua elegibilidade e Temer poderia permanecer no cargo até 2018.
Fonte: Coluna da Míriam Leitão - O Globo
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