Públicas ou privadas, alguém paga pelas universidades
O lado positivo de crises fiscais é que elas nos obrigam a repensar
prioridades, oferecendo a possibilidade de nos livrarmos de dogmas. O
governador da Bahia, Rui Costa, afirmou que estudantes de famílias ricas
poderiam contribuir com a universidade pública pagando mensalidades.
Costa, é importante frisá-lo, é do PT, partido que se destaca na defesa
da chamada “universidade pública, gratuita e de qualidade”.
Universidades podem ser públicas ou privadas, podem exceler ou ser
péssimas, mas não podem ser gratuitas. Alguém paga por elas. Ou a conta
vai para o tesouro, recaindo sobre o conjunto dos contribuintes, ou fica
com o aluno e sua família. É aqui que lógica e ideologia se divorciam.
A esquerda defende em bloco a gratuidade, para o estudante, do ensino
superior, mas é difícil até imaginar um arranjo mais regressivo do que
esse. Afinal, o sujeito que se forma em medicina ou engenharia ganhará,
ao longo de toda a sua vida profissional, salários 15 a 20 vezes maiores
do que a média nacional. Usar os impostos pagos pelos mais pobres para
financiar os estudos de quem ocupará o topo da pirâmide social deveria
ser visto como uma perversão por todos aqueles que pretendem combater as
desigualdades. Curiosamente, não é o que ocorre.
É claro que nem toda a esquerda é assim tão míope. Karl Marx, na
“Crítica ao Programa de Gotha”, detona a ideia de usar o fundo de
impostos para custear o ensino superior, justamente porque configura um
subsídio dos mais pobres aos mais ricos. Obviamente, existem complicações. Nem toda formação universitária
proporcionará salários tão elevados quanto os de médicos e engenheiros.
Professores do ensino básico, por exemplo, recebem menos do que a média
dos que têm diploma superior. É esse tipo de problema —e como lidar com
eles— que deveríamos discutir, em vez de abraçar palavras de ordem que
nunca fizeram muito sentido.
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