Bolsonaro precisa domar os seus cavaleiros do Apocalipse
Durante a campanha eleitoral o general Hamilton Mourão falava em "autogolpe". Pouco depois da vitória de Jair Bolsonaro, seu ministro da Economia sonhava com uma "prensa" no Congresso.
[Certamente não tem intenção de golpe, mas, algumas atitudes do presidente do STF - a pretexto de pacificar o relacionamento entre os 3 Poderes, deixam a impressão que o ministro Dias Toffoli tem como meta modificar o 'status' do Supremo de - um dos 3 PODERES para o de SUPREMO PODER. Agora defende a participação da Suprema Corte na formulação de um pacto que poderá gerar questionamento jurídicos que serão julgados por um dos autores do pacto - o STF.
Some-se a isso o 'inquérito secreto' e a dedução vem por si.
A propósito: criticam o presidente Bolsonaro, leigo em direito, por assinar decretos inconstitucionais;
que dizer do presidente do STF ser parte de um processo cujo resultado - que expressará, ainda que parcialmente, fatos pactuados pelo ministro Toffoli?- poderá ser contestado no Supremo, que terá que julgar atos praticados com a participação e/ou concordância do presidente do STF.
Apesar de estranho, não é surpreendente, visto que no 'inquérito secreto' o ministro Toffoli com uma canetada só passou a ter poderes para investigar, acusar, julgar e sentenciar.
Uma pergunta oportuna: quando o Plenário do STF irá julgar o 'inquérito secreto'?
O Globo, coluna do Merval Pereira 'Judiciário não pode fazer pactos sobre assuntos que vai julgar' e o Antagonista, fazem excelente análise sobre a inconveniência e mesmo a impossibilidade do tal pacto.]
Há pouco, o doutor Paulo Guedes queixou-se de uma imprensa "a fim só de bagunçar" e de uma oposição que quer "tumultuar, explodir e correr o risco de um confronto sério". [não chega a ser um grupo sequer com intenção de ser oposição e fim uma turma desejando o 'quanto pior, melhor', mesmo que para isso tenham que destruir o Brasil;
a forma de atuar da gang do 'quanto pior, melhor' lembra o marido que não aceita a separação e diante do inevitável decreta: já que não vai ser minha, não será de mais ninguém' e mata a mulher. No caso, a mulher é o Brasil.]
Quem ouviu a rua no domingo sabe que o sujeito oculto, e às vezes explícito, dos discursos e cartazes era a hostilidade ao Congresso. Esse é o nome do golpismo.
Nem todas as 58 milhões de pessoas que votaram em Jair Bolsonaro eram golpistas, mas todos os golpistas votaram no capitão. Passados cinco meses, a banda golpista encolheu na rua e no andar de cima. Como o sapo de Guimarães Rosa, não fez isso por boniteza, mas por precisão. Mesmo assim, escalou-se o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para o papel de Pixuleco da vez. [só petista - e outros que não querem - não percebeu que Rodrigo Maia finge ser o negociador, o pacificadores, o favorável as reformas, que quer ajudar ao governo Bolsonaro e ao Brasil, mas, que cada gesto de 'boa vontade' que faz é seguido de uma crítica ao capitão.
Nós, bolsonaristas da Pátria Amada, já percebemos que a intenção do Maia é desmontar o governo Bolsonaro e ficar com o território livre para 2022 - fazendo um bom governo (e fará, ainda há tempo) Bolsonaro vencerá as eleições de 2022, fracassando o caminho ficar livre para deputado que atualmente preside a Câmara.
Falta apenas ao interessado em levar o governo do capitão ao fracasso, atuando como quinta coluna, combinar com o povo, já que lhe falta o principal para o sucesso de sua candidatura 2002: VOTOS - o parlamentar do DEM, teve em 2018 pouco mais de 70.000 votos.]
De boa-fé, o mais ardente dos bolsonaristas haverá de reconhecer que Maia defende a reforma da Previdência há mais tempo e com mais ardor que Bolsonaro. O golpismo está sem ideias. Tome-se o caso da reforma. Os dois pontos mais contestados são as mudanças no benefício aos miseráveis e a proposta do regime de capitalização. Paulo Guedes já disse que a primeira mudança poderá ser opcional e a segunda, além de opcional, poderá ficar para mais tarde. Admitindo-se que se crie um regime de capitalização opcional para quem entra no mercado de trabalho e que o cidadão possa optar por um fundo do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica, onde está o problema?
A balbúrdia que ronda a reforma e outras iniciativas do governo não é alimentada por uma oposição tumultuante e explosiva. Ela vem de dentro de um governo desconexo onde brilha quem aposta no tumulto. Bolsonaro tem quatro cavaleiros do Apocalipse. São os ministros Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Ambiente) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos). Basta compará-los a quatro ilhas de tranquilidade: Tereza Cristina (Agricultura), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Santos Cruz (Secretaria de Governo). [temos que concordar; mas, logo tudo se ajustará; afinal, o que parecia impossível, tudo indica vai acontecer: os aspones boquirrotos - são vários, com destaque para os três filhos e o aiatolá de Virginia - silenciaram.
Os ministros acertadamente classificados como os 'quatro cavaleiros do Apocalipse', serão excluídos a qualquer momento.
A Damares, precisa melhorar ou ser substituída por alguém com suas ideias, mas, melhor trabalhadas e melhor expressadas.]
Weintraub foi a espoleta que explodiu a crise nas universidades. Sintomaticamente, enquanto ele jogava gasolina, Bolsonaro comportou-se como bombeiro. Aceitou a lista tríplice da Federal do Rio de Janeiro e nomeou a professora Denise Pires de Carvalho para sua reitoria. Pouco depois, mostrou-se contrário à cobrança de anuidades nas universidades públicas. Coisa de comunista, diria um golpista. Ernesto Araújo meteu-se na armação de um golpe perfumado na Venezuela, Ricardo Salles encrencou-se com os financiadores internacionais do Fundo Amazônia e chamuscou a biografia de Joaquim Levy, presidente do BNDES, arrancando-lhe o afastamento da chefe do departamento de Meio Ambiente. Já a doutora Damares descobriu que Chico Buarque é um cantor.
Os cavaleiros do Apocalipse estragam o serviço de ministros que trabalham sem bumbo: Tereza Cristina costurou uma trégua com a China (Deve-se a ela o apoio do Brasil ao candidato chinês para a direção da FAO.); Tarcísio Gomes de Freitas dá nó em pingo-d'água negociando leilões e concessões; já o ministro de Minas e Energia cresce mantendo-se longe de debates inúteis.
No meio, está o Posto Ipiranga. Ainda não começou a vender berinjelas, e suas bagunçadas palestras são certamente um fator de desânimo para o empresariado. Ele ameaça ir embora do Brasil. Ninguém quer saber para onde vai. O que interessa é saber o que ele tem a oferecer, em 2019, para 13 milhões de desempregados. "Confronto sério" não gera emprego.
Elio Gaspari - O Globo
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