Mulher foi morta pelo ex por conhecer esquema de fraude do INSS
Investigação da Polícia Civil conclui que Valéria Barreto foi assassinada por Paulo Henrique Loura, que não aceitava a separação. A vítima também havia descoberto detalhes de um esquema fraudulento comandado por ele
Desaparecida desde 11 outubro de 2016, Valéria Barreto, 34 anos,
foi assassinada pelo ex-companheiro Paulo Henrique Loura, 49, concluiu
apuração da Polícia Civil do DF. Os motivos: ciúmes e o conhecimento de
um esquema que fraudava exames e laudos para obtenção de benefícios do
INSS. A localização do corpo segue misteriosa, mas investigadores
garantem que há elementos suficientes para o desfecho do caso.
As
provas colhidas são sólidas, de acordo com a equipe da Coordenação de
Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP), e foram base para a
prisão preventiva do acusado e a prisão temporária de mais três
familiares dele, envolvidos no crime e no esquema fraudulento. O
trabalho foi conduzido em parceria pela CHPP, Ministério Público — que
deve denunciá-los, com a conclusão do inquérito nesta semana — e Vara
Criminal e Tribunal do Júri de Santa Maria.
De acordo com a investigação, Valéria tinha um relacionamento com
Paulo Henrique Loura e o conheceu por meio do esquema de fraudes. Ela
conseguiu um benefício irregular com a ajuda dele. O esquema é
investigado pela Polícia Federal, mas o inquérito ainda está em
andamento. Os acusados falsificavam exames, documentos e laudos para
conseguir benefícios que não seriam concedidos de maneira legal. A
relação entre Valéria e Paulo era conturbada, relataram testemunhas, e
marcada por ciúmes e brigas. Isso motivou a separação, a pedido dela.
Mas Paulo não aceitou o término e continuou a procurá-la e a pedir que
voltassem. Como Valéria não quis reatar, ele passou a ameaçá-la e dizer
que utilizaria a influência que tinha para cortar o benefício obtido por
ela, por meio do esquema fraudulento dele.
Depois
de uma série de ameaças, Valéria passou a contra-atacar. Disse ao
ex-companheiro que contaria tudo que sabia sobre as irregularidades. A
partir de então, o problema entre os dois passou a envolver também um
primo, um sobrinho e um tio de Paulo, que atuavam com ele nas fraudes. Paralelamente,
Valéria entrou em um novo relacionamento com um homem que conhecia.
Razão suficiente para alimentar ainda mais os ciúmes do ex, de acordo
com os relatos. Paulo passou a persegui-la e continuou com as ameaças, o
que culminou com o desaparecimento dela.
O
sumiço de Valéria fez com que parentes realizassem, meses depois,
buscas em uma chácara de propriedade de Paulo Henrique, em Luziânia
(GO). Lá, encontraram um corpo em um buraco cavado havia um mês a pedido
dele. A mulher encontrada não era Valéria, mas, sim, uma ex-cunhada de
Paulo, que também sabia do esquema de fraudes. O
assassinato da aposentada Márcia Pereira da Silva, 51 anos, foi
motivado pela ameaça de contar o que sabia sobre as irregularidades.
Paulo Henrique foi condenado, pelo crime, a 21 anos de prisão por
assassinato e um ano e seis meses por ocultação de cadáver.
Com
a ligação entre os casos, os investigadores encontraram mais um caminho
para seguir. A condenação facilitou também os pedidos de medidas
cautelares e prisões preventivas para auxiliar no processo. Atualmente,
Paulo Henrique está preso preventivamente, pelo caso Valéria, na Papuda. De
acordo com o delegado Filipe Villela, da Coordenação de Repressão a
Homicídios e de Proteção à Pessoa, os indícios são claros de que Paulo
Henrique é o responsável pelo assassinato de Valéria. Todos os elementos
colhidos levam para esse caminho e descartam a possibilidade de que a
vítima, ainda desaparecida, esteja viva. “O
primeiro passo em uma investigação de homicídio é conhecer detalhes do
cotidiano e da vida da vítima. Nesse caso, foi possível perceber por
todos os elementos e ligações que tudo levava à morte dela e ao
envolvimento de Paulo Henrique no crime”, destaca o delegado.
A
falta do corpo, segundo o delegado, faz com que os criminosos tenham
sensação de impunidade e acreditem que cometeram o crime perfeito, sem
risco de serem punidos por ele. “Mas isso está ultrapassado. Hoje, há
jurisprudência que permite a condenação com base em indícios e outras
provas”, explicou.
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