A existência do bolsonarismo projeta o antibolsonarismo e até o seu líder: Rodrigo Maia
O principal resultado das manifestações de domingo foi confirmar que a
eleição de Jair Bolsonaro à Presidência não foi só um episódio e que o
bolsonarismo vingou. Ocupou um vácuo político na campanha e se consolida
com a rejeição ao que o próprio presidente chama de “velha política” e
os seus filhos e os olavistas desdenham como “establishment”, mas tem um
nome: instituições, à frente os Poderes da República.
O bolsonarismo fecha os olhos, os ouvidos e a razão ao despreparo e aos
erros crassos de Jair Bolsonaro em nome de “algo maior”: uma ideologia, o
conservadorismo de costumes, as reformas liberais (que, aliás, vários
outros candidatos defendiam) e o combate ao crime (que eles também
pregavam), mas a liga mais poderosa é a rejeição contra o Congresso, o
Supremo, a mídia. Ou seja, o “sistema”. [é de se esperar, por ser o correto que um governo democraticamente eleito, ao assumir cumpra o que prometeu durante a campanha - pelo menos o que for possível e isto o governo Bolsonaro está tentando fazer, com algum atraso, visto interferências do seu próprio núcleo.
Mas, as intromissões começam a cessar e nós - os eleitores de Bolsonaro - esperamos que ele comece a cumprir o que prometeu, se articulando com o Congresso e tendo como 'norte' o entendimento que cada Poder da República cumpra suas atribuições constitucionais, sem excesso e/ou interferência na seara dos demais poderes e também sem omissão.]
A economia derrete, mas o presidente dá prioridade a armas e transforma
suas crenças pessoais em política de Estado, contra a defesa do meio
ambiente, as universidades, as pesquisas, a área de Humanas. E ele rechaça os políticos, mas dá um excesso de poder nunca visto aos
próprios filhos – aliás, políticos, um deles enrolado com um esquema no
Rio que pode ser tudo, menos uma saudável “nova política”. Bolsonaro já derrubou ações da Petrobrás, criou sobressaltos na CEF,
assustou a comunidade internacional, gerou temores na China e no mundo
árabe e se mete despudoradamente nas eleições da Argentina.
O bolsonarismo, porém, não está nem aí para isso. Prefere acreditar, e
alardear pelas redes sociais, que é tudo fake news, perseguição de uma
imprensa esquerdista e mal-intencionada. O que importa para o
bolsonarismo não é Bolsonaro, é o que ele representa. Bolsonaro é fraco,
mas a simbologia (ou o marketing) dele é forte. [entendemos que não há perseguição ao governo Bolsonaro por parte da imprensa, havendo apenas uma tendencia de parte da mídia de maximizar os erros do governo, omitir ou diminuir os acertos.
Quanto as universidades, existem abusos em algumas, que vão desde a promoção, utilizando recursos públicos, de seminários sobre temas insignificantes, até mesmo bizarros - até seminário sobre filosofia do sexo anal foi realizado em universidade pública - cursos desnecessários, servidores da USP ganhando acima do teto, sendo recordista um professor com salário de mais de R$60mil e outros aspectos que estão detalhados aqui e/ou aqui.
O tão falado corte nos recursos das universidades é na realidade o contingenciamento, prática feita por todos os governos, há mais de 50 anos.
Quem sofre mesmo, estando totalmente abandonado, desamparado é o ensino fundamental e até mesmo o básico.]
Quem foi às ruas no domingo, em mais de 150 municípios, de todas as
unidades da Federação, comprou a ideia de que ele é como um Dom Quixote
contra os males e os maus do Brasil. Mas eles precisam tomar cuidado. A
existência do bolsonarismo automaticamente projeta o antibolsonarismo.
Manifestações a favor (aliás, inéditas em início de governos) chamam
manifestações contra. Isso significa uma polarização perigosa: o “nós
contra eles” da era do PT, com o sinal contrário.
As multidões de domingo foram uma demonstração de força e produziram
fotos poderosas, mas elas já lançam até os potenciais líderes de hoje e
do futuro. Quem desponta entre os bolsonaristas é Sérgio Moro, mas ele é
muito além disso: rechaçado por petistas, é endeusado por diferentes
frentes e setores da sociedade. E quem surge no horizonte para comandar o antibolsonarismo? O presidente
da Câmara, Rodrigo Maia. Quanto mais o bolsonarismo eleger Maia como
inimigo número um, mais ele ganha força no antibolsonarismo, difuso e
ainda confuso, mas real.
Maia e o DEM, porém, devem se descolar o quanto antes do Centrão, que
Jair Bolsonaro chama de “palavrão” e transformou, habilmente, na síntese
de tudo o que há de ruim, de podre, de execrável na política. Apesar de
ter sido filiado a siglas que são, ou bem poderiam ser, desse bloco,
como PP, PTB, PRB e o próprio PFL, que deu origem ao DEM de Rodrigo
Maia. Outra ironia nessa história é que Centrão e bolsonarismo estão unidos em
torno de pelo menos uma bandeira: a reforma da Previdência. Nunca se
viu manifestação a favor da reforma, só contra. Pois, agora, os
bolsonaristas nas ruas e o Centrão no Congresso é que vão aprovar a
reforma e garantir não apenas a aposentadoria das novas gerações, mas
também as chances de recuperação econômica do País. Tudo o que Bolsonaro
precisa fazer é não atrapalhar. Ou parar de atrapalhar.
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