Leandro Colon
Ao contrário do que disse a senadores, ministro teve acesso a investigação sobre hackers
Os registros de áudio e das notas taquigráficas do Senado —um arquivo
oficial, autêntico e não editado— guardam as palavras do ministro Sergio
Moro (Justiça) aos senadores no depoimento de 8 horas e 30 minutos em 19 de junho. Disse o inistro às 9h36 sobre o caso dos hackers: “A investigação está
sendo realizada com autonomia pela Polícia Federal. Eu já disse mais de
uma vez no passado: o meu papel, como ministro da Justiça, é um papel
estrutural, apenas para garantir também a autonomia dos órgãos
vinculados ao Ministério da Justiça. Então, eu não acompanho, pari
passu, cada um desses acontecimentos.”
[salvo um equívoco, improvável, de nossa parte, o ilustre colunista da Folha se confundiu com as datas - engano que atribuímos a um equívoco.
Em 19 junho, Moro - que apesar de seu prestígio popular, sua competência e ser integrante do governo Bolsonaro, é um ser humano e não advinha o futuro - declarou por várias vezes que o inquérito sobre os crimes que motivaram seu comparecimento ao Senado Federal, era atribuição da Polícia Federal e não estava acompanhava, pari passu, os acontecimentos do seu ministério.
Em 23 de JULHO - mais de um mês após as várias declarações de junho - a PF efetuou prisões e no decorrer dos interrogatórios apurou que celulares de uso do senhor presidente da República tinham sido hackeados. Por envolver autoridade máxima da República, o assunto se tornou da SEGURANÇA NACIONAL e, por óbvio, o presidente da República teria que ser avisado, com urgência, e por questões de hierarquia, caberia a PF informar o ministro Moro e este informar ao presidente da República.
Assim, Moro não mentiu nos depoimentos nem nas declarações que prestou em junho, visto que só tomou conhecimento do inquérito (apenas da relação das autoridades cujos celulares foram invadidos) em julho.]
Ele voltou ao assunto às 11h32. “Relativamente à investigação, são duas
questões: a investigação é sigilosa. Então, não se pode informar fatos
relativos a essa investigação, sob risco de ineficácia; e, dois, eu,
como ministro da Justiça, não tenho o papel de, vamos dizer assim, atuar
nessas investigações diretamente. Meu papel é mais estrutural”,
afirmou.
Às 16h48, Moro declarou aos senadores: “Eu, de todo modo, estou
afastado, vamos dizer assim, da condução concreta desse inquérito. Essa é
uma atribuição da Polícia Federal.”
Na terça-feira (23), depois de ser preso, [- 23 de JULHO de 2019 ] - Walter Delgatti Neto prestou
depoimento à PF em que confessou ser o autor dos ataques aos celulares
das autoridades e a fonte que repassou os dados ao The Intercept Brasil. Às 14h09 do dia 24, [24 de JULHO ] Moro postou em sua conta no Twitter: “Parabenizo a
Polícia Federal pela investigação do grupo de hackers, assim como o MPF e
a Justiça Federal. Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em
várias espécies de crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que
divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime.”
Na quinta (25), [TAMBÉM de JULHO] às 14h04, ele escreveu: “Pelo apurado, ninguém foi
hackeado por falta de cautela”. O ministro telefonou para informar
autoridades que foram atacadas e anunciar a destruição das mensagens. Ele não se afastou da investigação e ainda repassou fatos dela. O Moro do Twitter desmentiu o do Senado.
Leandro Colon - Folha de S. Paulo
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