Reportagem de Felipe Frazão em "O Estado de S. Paulo" revelou que tramitam na Câmara dos Deputados projetos para diminuir o poder e o controle dos governadores dos estados e do Distrito Federal sobre as polícias civis e militares.
São várias propostas de mudança na estrutura desses aparatos policiais. Uma delas é a criação da patente de general para os policiais militares, nível hierárquico exclusivo das Forças Armadas. Hoje, os PMs chegam, no máximo, a coronel. Os comandantes-gerais também seriam nomeados a partir de uma lista tríplice formulada pelos oficiais.
[saiba mais lendo: Propostas que limitam poder dos governadores sobre as polícias estaduais são criticadas.]
Os chefes das duas polícias passariam a ter mandato de dois anos e haveria regras estritas para suas exonerações. O governador só poderia destituir o comandante da PM por motivo "relevante" e "devidamente comprovado". Já o chefe da Civil só perderá o cargo se a dispensa for aprovada pelo Legislativo estadual, "por maioria absoluta" de votos. E as polícias civis seriam ligadas a um certo Conselho Nacional da Polícia Civil, no âmbito do governo federal.
Há
uma extensa e perniciosa tradição de rebeliões nas
polícias, e nisso elas não diferem da atuação das Forças Armadas no Brasil.
Mais recentemente, episódios corroboram a preocupação com o extremismo cada vez
maior desses contingentes. Foi o que se viu, por exemplo, em 2017, no Espírito
Santo, e quase um ano atrás no motim de policiais militares no Ceará, que
terminou com um senador baleado. [aliás, um senador que a melhor produção política em toda sua vida pública foi, até agora, a frase: 'Lula tá preso, seu babaca.']
As propostas abrem as portas, definitivamente, para a partidarização das forças de segurança e a formação de esquemas de poder paralelos que escapariam totalmente de qualquer forma de controle político-institucional. Se aprovadas, teriam o efeito de um anabolizante nas fileiras policiais, sob a égide escancarada do bolsonarismo. Os partidos progressistas têm que exigir do candidato à presidência da Câmara que apoiam o firme compromisso de conter a agenda da ultradireita. Esses projetos preparam o terreno para a radicalização em 2022.
Cristina Serra, jornalista - Folha de S. Paulo
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