Edson Leal Pujol completou ontem 49 anos daquele começo como cadete. As estrelas na farda atestam o êxito na Cavalaria, mas o general ainda não venceu o maior desafio de um comandante do Exército no governo Jair Bolsonaro: evitar a contaminação política dos quartéis.

Pujol lidera generais preocupados com os efeitos do discurso e do método Bolsonaro sobre a tropa. Há três décadas o ex-capitão tenta se impor como líder sindical de soldados e suboficiais (260 mil) e de policiais militares (300 mil).  [atualização; Por vedação legal os militares - Forças Armadas e Auxiliares - não podem ser sindicalizados.] Na presidência, emoldurou o governo civil em rituais militares e testa limites institucionais. Aos avanços nas investigações sobre os laços do clã Bolsonaro com milicianos, reage na ofensiva contra o Legislativo e o Judiciário, e apelos à agitação.

Fez isso no ano passado, depois das revelações sobre como o ex-PM Fabrício Queiroz administrava os gabinetes parlamentares da família, amparando parentes de milicianos, como o ex-caveira carioca Adriano da Nóbrega —“um herói”, definiu. Caçado e morto dias atrás na Bahia, o miliciano deixou rastros eletrônicos.

O presidente abriu novo conflito contra o Congresso por fatia (0,2%) do Orçamento da União — resultado de acordo feito pelo próprio governo.
Abstraiu o deputado Bolsonaro de 19 anos atrás, que se queixava: “Ninguém libera uma emenda de R$ 50 mil para nós, sem muito sacrifício, e, muitas vezes, temos de propinar. Se não propinarmos, não há recurso.”

A rotina de agitação e insinuações de ruptura incomoda militares. Eles veem em Bolsonaro riscos de contaminação política dos quartéis, incluídos os das PMs, como ocorreu no motim do Ceará. O fantasma da anarquia na caserna persegue oficiais como Pujol, cadete no Brasil dos 70, quando o general Emílio Médici presidia comandantes que ordenavam matanças, e terroristas assassinavam até os companheiros.

José Casado, jornalista - O Globo