Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador árvore. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador árvore. Mostrar todas as postagens

sábado, 8 de outubro de 2022

A proteção à vida em 2023 - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

O Brasil não aguenta mais dois Barrosos, dois Alexandres ou dois Fachins indicados por um corrupto que estava preso e que foi solto exatamente por uma manobra ativista da Corte 
 
Há enormes diferenças entre a política norte-americana e a brasileira, desde o próprio colégio eleitoral até o cenário que envolve partidos; no Brasil são dezenas deles, e nos EUA apenas os dois maiores importam e ditam os caminhos políticos. No entanto, há muito que podemos aprender com algumas lições que a política norte-americana oferece. Uma delas é o pragmatismo de muitos eleitores e como a paixão por políticos — mas sim por políticas! — dificilmente rege a tomada de decisões na urna.
 
Jair Bolsonaro vota no Rio de Janeiro, no primeiro turno das eleições 2022 | Foto: Pedro Kirilos/Estadão Conteúdo

Jair Bolsonaro vota no Rio de Janeiro, no primeiro turno das eleições 2022 | Foto: Pedro Kirilos/Estadão Conteúdo  Fraser Myers

A eleição presidencial norte-americana de 2016 traz um ponto de reflexão para os brasileiros que não votaram em nenhum candidato no primeiro turno no último domingo. Talvez seja hora de pensarmos como muitos norte-americanos pensaram na época daquela também polarizada corrida eleitoral. Na histórica eleição que deu a vitória a Donald Trump, os eleitores rejeitavam ambos os candidatos, e o pleito de 2016 ficou marcado como “uma eleição entre dois candidatos ruins”. E foi ali que muitos — muitos — republicanos mostraram o que é chamado aqui nos EUA de “single issue voter”, ou “eleitor de questão única”.

Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos - 
Foto: Shealah Craighead/White House

Alguns, sem demonstrar apoio incondicional a Trump, votaram no empresário de sucesso apenas pela experiência na economia e em negociações, afinal, a América é a terra da oportunidade. Outros votaram contra Hillary Clinton e sua plataforma de governo que já demonstrava que o Partido Democrata fazia uma guinada severa à esquerda radical. No entanto, como uma grande nação cristã, um dos pontos mais importantes que pesaram a balança a favor do malcriado do Twitter foi o foco “na floresta, e não na árvore”, como dizem por aqui. Principalmente para os eleitores nada nada Trumpistas. O alvo? A Suprema Corte Americana.

Em 2016, em seu último ano na Presidência, Barack Obama teve a chance de nomear um juiz para a Suprema Corte, Merrick Garland, para suceder a Antonin Scalia (nomeado por Ronald Reagan) e que havia falecido em fevereiro daquele ano. Na época, comentaristas políticos e historiadores reconheceram amplamente o juiz Scalia como um dos membros mais conservadores do Tribunal e observaram que Merrick Garland, um centrista para muitos, seria um substituto menos conservador — mudando assim o equilíbrio ideológico do Tribunal por muitos anos no futuro. A confirmação de Garland daria aos democratas uma maioria na Suprema Corte pela primeira vez desde 1970. Com maioria no Senado em 2016, os republicanos não votaram a indicação de Obama, e a decisão que pesasse a balança ideológica da SCOTUS ficou para o presidente eleito em novembro de 2016.

Com uma mancha brutalmente ativista em sua história, o famoso caso Roe vs Wade, processo usado pela Suprema Corte Americana para legalizar o aborto em 1973, muitos cristãos, republicanos, democratas e independentes que são contra o aborto taparam o nariz em 2016, miraram na floresta e ajudaram a eleger Donald Trump. O principal motivo, de acordo com uma pesquisa em 2017, foi exatamente o pensamento voltado para o tribunal mais alto nos EUA: resgatar a maioria na Corte e trabalhar para reverter a lei que nasceu de um ativismo judicial histórico e que já ceifou a vida de quase 63 milhões de bebês desde 1974.

Eleição ganha em 2016, logo em abril de 2017, Neil Gorsuch, um defensor do originalismo na interpretação da Constituição dos Estados Unidos (o que os Pais Fundadores estabeleceram nos documentos) foi confirmado para a SCOTUS através da primeira nomeação de Trump. Em 9 de julho de 2018, o presidente Trump nomeou mais um juiz conservador para a Suprema Corte dos EUA, Brett Kavanaugh, desta vez para preencher o cargo vago pelo juiz Anthony Kennedy, que havia se aposentado.

A balança, até então sólida para o lado progressista e ativista, havia finalmente sofrido severo dano. Para aqueles que votaram em Donald Trump de olhos fechados, mas com olhos na Suprema Corte — aqueles que clamavam e defendiam que 2016 seria uma eleição para 40 anos, e não apenas quatro —, o trabalho estava iniciado e a partir dali seria uma questão de tempo até a Corte revisitar o diabólico Roe v. Wade. 
A Suprema Corte nos EUA é sempre um assunto extremamente estratégico para qualquer presidente nos EUA — e deveria ser para nós brasileiros também. 
Em 2020, a morte de uma importante juíza da ala mais progressista da Suprema Corte Americana, Ruth Bader Ginsburg, deu a Donald Trump mais uma indicação para o Supremo Tribunal. Embora a juíza tenha sido uma mulher discreta, ela se tornou um ícone da esquerda norte-americana ainda em vida, muito por suas decisões inflamadas, recheadas de ativismo e interpretações muito particulares acerca da Constituição norte-americana. Ginsburg tinha uma visão para a América de “tornar a América mais justa, para tornar a justiça maior”. Algo como um Barroso de saias nos EUA.

O vencedor das nossas eleições no segundo turno no Brasil em 30 de outubro indicará dois — DOIS! — ministros para o Supremo Tribunal Federal em 2023. Depois de tudo que vimos nos últimos dois anos, tantas barbaridades inconstitucionais cometidas por aqueles que deveriam respeitar e proteger nossa Constituição, o que mais precisamos testemunhar para fazer retórica pergunta se o Brasil aguenta mais dois Barrosos, dois Alexandres ou dois Fachins indicados por um corrupto que estava preso e que foi solto exatamente por uma manobra ativista da Corte?

Barroso ou Ginsburg não representam minorias ou mulheres como tentam se autorretratar. Eles estampam muito mais. Eles são a configuração do tipo de “jurisprudência” que essa espécie de ungido pratica: o ativismo judicial em sua mais pura essência.  
Não há uma palavra sequer sobre aborto nas Constituições norte-americana e brasileira, e é absurdo pensar que tal direito estava (ou está) escondido, esperando para ser descoberto por advogados ou juízes progressistas que de alguma forma veem a Constituição “real” como algo que precisa ir mudando de acordo com a sociedade ao prazer de suas canetas. 
 
Para esses moradores das torres de marfim, “direitos” e outros elementos que são magicamente descobertos na Constituição sem passar pelas Casas Legislativas. Fazer leis não é tarefa de juiz
O trabalho do juiz é garantir que a lei seja seguida e aplicada num determinado caso. 
Não importa se a lei é injusta — isso não é uma premissa do Judiciário. 
Se alguém tem uma visão para a América ou para o Brasil e deseja tornar as leis mais justas, então há um lugar para você: o Congresso. É ali que as leis são feitas.
Para 30 de outubro, a situação para os milhões de brasileiros, como eu, que defendem a vida fica mais frágil ainda com a vitória do ex-presidiário. Não são apenas os dois ministros indicados para o STF que trazem preocupação, mas o fato de que Lula diz abertamente ser a favor da legalização do aborto e o pior: 
- a já anunciada implementação da prática diabólica de ceifar vidas inocentes no ventre de suas mães como “política de saúde pública”,             
- ladainha demoníaca também empurrada aos norte-americanos usando Roe. V. Wade.  
Por décadas, os regressistas (chega de escrever progressistas) na Suprema Corte dos EUA lutaram para justificar a decisão de Roe v. Wade, mas sempre foi muito difícil defender o indefensável. 
Em Roe v. Wade, os juízes simplesmente inventaram um direito que não existe. 
E este foi um erro lamentável que não apenas tirou dos Estados o direito e a autonomia para decidirem a questão através de suas legislaturas estaduais, mas ceifou a vida SESSENTA E TRÊS MILHÕES de bebês nos ventres de suas mães desde os anos 1970.

A democracia não é muito boa em muitos aspectos, ou sequer perfeita, mas as instituições democráticas são a forma como resolvemos essas divergências

Para aqueles que taparam o nariz e votaram no malcriado do Twitter exatamente pelas indicações à SCOTUS para a reversão de Roe v. Wade, os dividendos foram colhidos em 2022. Depois de quase meio século, os eleitores norte-americanos finalmente tiveram seus direitos restaurados sobre a questão do aborto
Em junho deste ano, a decisão mais desonesta e destrutiva da história dos Estados Unidos finalmente foi derrubada.
 A Suprema Corte, com maioria conservadora graças a Donald Trump, anulou Roe v. Wade e, efetivamente, encerrou o reconhecimento do “direito constitucional” ao aborto, dando aos Estados o poder de permitir, limitar ou proibir completamente a prática. 
Uma vitória não apenas para aqueles que são contra o aborto, mas para aqueles que têm Constituições como o único norte possível em uma nação séria, já que o que sempre esteve no centro desse debate não era apenas a sagrada proteção à vida humana, defesa importante para um país fundado em preceitos cristãos, mas a manutenção de um dos pilares mais preciosos da república norte-americana: o federalismo e a autonomia dos Estados de passar suas próprias leis de acordo com o que a população deseja.

Para milhões de cristãos nos EUA, o voto em Donald Trump em 2016 tinha um objetivo bem maior que todos nós: a proteção à vida humana. Em uma passagem de uma decisão da Suprema Corte de 1992, no caso Planned Parenthood vs. Casey, o juiz Anthony Kennedy, também nomeado por Ronald Reagan, escrevendo para a maioria, disse: “No coração da liberdade está o direito de definir o próprio conceito de existência, de propósito, de universo e do mistério da vida humana. Crenças sobre esses assuntos não podem definir os atributos da personalidade se forem formadas sob coação do Estado”. Derrubar Roe. v. Wade não encerrará a luta para proteger a vida humana no útero, mas é uma das batalhas mais importantes para os cristãos aqui nos Estados Unidos, principalmente pelo que o caso simboliza no mundo, com eco também no Brasil.

Alguns de nós têm ideias sobre o que é justo, decente, bom, prudente e necessário que são radicalmente diferentes das ideias que outros norte-americanos ou brasileiros têm sobre o que é justo, decente, bom, prudente e necessário. 
A democracia não é muito boa em muitos aspectos, ou sequer perfeita, mas as instituições democráticas são a forma como resolvemos essas divergências. 
É disso que elas derivam sua legitimidade. 
A democracia tem suas deficiências — principalmente enraizadas no fato de que os seres humanos são universalmente falhos, mas a alternativa — a de não obedecer ou respeitar os pilares institucionais de uma nação — é inflamar a sociedade, já tão inflamada, por causa de desentendimentos. E talvez algumas graves fagulhas que estejam mantendo o fogo da discórdia aceso estejam vindo exatamente dessas falhas de nossas instituições em se manterem em suas esferas e prerrogativas.
plano de governo de bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro, durante evento no Centro de 
Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília – 10/08/2022 - 
 Foto: Fátima Meira/Estadão Conteúdo

A verdadeira fissura que atravessa a SCOTUS e o STF não é entre os chamados progressistas e conservadores, mas entre aqueles que acreditam que os juízes são super legisladoresa grande maioria hoje no Supremo Tribunal Federal com poderes para impor sua própria visão sobre a sociedade, e aqueles que acreditam que os juízes são limitados pelo que a lei realmente diz. Podemos escolher o que falar, o que fazer, como votar — mas não podemos escolher as consequências de atos levianos, impensados ou imaturos.

Há muito em jogo nesta eleição presidencial no Brasil e, assim como a de 2016 nos EUA, será marcada pela pavimentação dos próximos 40 anos e não apenas quatro. Há muito em jogo nos campos sociais, econômicos, intelectuais — fato. Mas há algo maior também em jogo a sagrada proteção à vida humana e ao direito nos dado por Deus de nascer. Em 30 de outubro, cabe a nós, cristãos, sermos também a voz dos milhões de vidas inocentes que ainda não podem falar. [ao digitar 22 e pressionar a tecla  confirmar, devemos vibrar,  criativamente: 
- BOLSONARO PRESIDENTE, Lula na cadeia; não é absurdo, supremas decisões, podem ser revistas, por um simples voto de diferença.]

Leia também “Se eu posso sonhar”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 16 de março de 2022

"Jabuti não sobe em árvore" - Alexandre Garcia

"Jabuti não sobe em árvore", diz a sabedoria popular. Sexta-feira passada, no Senado, o presidente Rodrigo Pacheco  instalou uma comissão, presidida pelo ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, tendo como relatora a ex-secretária-geral do Supremo na presidência de Lewandowski e mais nove integrantes, para, em 180 dias, oferecer ao Senado um anteprojeto de lei de impeachment, para substituir a Lei 1.079, de 1950. 

O normal é que isso comece na Câmara, porque o Senado é a casa revisora; o estranho é que, teoricamente, Lewandowski pode ser julgado no Senado, que é a Casa julgadora de ministros do Supremo;  
Estranho é que quem faz lei são os congressistas, e não integrantes de uma comissão composta de pessoas sem mandato popular para isso. 
Estranho é que vá presidir a comissão um ministro do Supremo que também é juiz do Tribunal Eleitoral, em ano de eleição
E logo Lewandowski, que entrou para a História por ter presidido julgamento no mesmo Senado, em que se rasgou o parágrafo único do art. 52 da Constituição, deixando elegível a presidente condenada. Tantas estranhezas levaram o senador Lasier Martins a expressar suas desconfianças na tribuna. O jabuti "ou foi enchente, ou mão de gente".
 
Um dia antes da instalação da comissão, Bolsonaro havia anunciado que a ministra da Agricultura e deputada, Tereza Cristina, seria sua candidata ao Senado por Mato Grosso do Sul, e o ministro do Turismo, Gilson Machado, por Pernambuco. Isso revela a estratégia de, nessas 27 vagas, reforçar uma bancada de voz ativa e poderosa no SenadoCasa julgadora de presidente e de ministro do Supremo. 
Talvez como força dissuasiva contra tantas incursões do Supremo sobre o Poder Executivo. 
São quase duas dezenas de pedidos de impeachment paradas no Senado, à espera de que Rodrigo Pacheco os ponha em exame — o maior número tem Alexandre de Moraes como alvo. A comissão instalada por Pacheco terá seis meses para deliberar, o que já dá ao presidente do Senado uma desculpa para esperar sentado sobre os pedidos até setembro, véspera das eleições.
 
O senador Lasier Martins disse ontem, na tribuna, que o real autor da iniciativa é o ministro Lewandowski e que ele pode legislar em causa própria dos ministros do Supremo. Na instalação, o ministro havia dito que é preciso punir quem apresentar pedido de impeachment não aceito e que é preciso deixar claro o que é crime de responsabilidade e que é preciso dar direito à ampla defesa e ao contraditório. 
Punir o denunciante se a denúncia não for aceita? 
Vai atingir os promotores também? [será que no anteprojeto de lei a ser elaborado, que segundo o senador Lasier Martins é de iniciativa do Lewandowski, vai deixar espaço para uma 'interpretação criativa' que só permita a punição do denunciante, não sendo a denúncia aceita, se a mesma for contra ministro do Supremo?]
 
Eu cobri o julgamento de Dilma, e ela teve todo o direito de defesa e do contraditório.  
Quanto a esclarecer o que seja crime de responsabilidade, basta ser alfabetizado e saber ler a lei 1.079, que trata do assunto há 72 anos. 
Está abundantemente esclarecido. O jurista Modesto Carvalhos, à revista Oeste, disse que "é uma lei primorosa, que nada tem a ser modificado".
 
A lei afirma que é crime do presidente agir contra o livre exercício do Legislativo ou do Judiciário e contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais. Imagino que isso valha reciprocamente para os três Poderes, como sonhou Montesquieu. 
Se alguém quer mexer na lei neste ano eleitoral, sem que isso se configure uma necessidade ou urgência, já que serviu para Collor e Dilma; se começou com um ato de subserviência do presidente do Senado, como sugere o senador Lasier; 
se há tanta esquisitice em torno desse jabuti que apareceu ex machina, o patrão desses servidores do público, que é o cidadão, o pagador de impostos, o eleitor, precisa saber o que estão preparando assim de forma tão estranha quanto um jabuti no galho.
 
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense
 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

É dura a vida do canguru - Revista Oeste

Guilherme Fiuza 

Nossa meta é limpar tudo. E se prepare porque chegará o momento de vacinar os cangurus” 

Placa de trânsito na Austrália
Placa de trânsito na Austrália | Foto: Petr Kratochvila/ Shutterstock

– Onde o senhor vai?

Não sei ainda. Estou passeando.

– O senhor precisa informar o seu destino.

– Como assim? Eu vou aonde eu quiser.

– Não é bem assim. De qualquer forma, é necessário reportar a rota que o senhor pretende fazer.

Que história é essa? Nunca foi assim.

– Agora é.

– Por quê?

– Segurança.

– Segurança de quem?

– De todos. Segurança sanitária.

– Ok. Se é para o bem de todos…

– Qual o seu destino, então?

Deixa eu ver… Bem, vou até aquela árvore grande lá no final.

– Vai fazer o que lá?

– Descansar.

– Positivo. Seus documentos, por favor.

– Ué, preciso apresentar documentos pra descansar debaixo de uma árvore?

– Sim. Para estar em qualquer lugar, o senhor precisa mostrar seus documentos.

– Quais?

– Basta o passaporte vacinal.

– Não tenho.

– Então o senhor está preso.

Preso por quê? Ninguém me disse que eu precisava me vacinar.

– O senhor não lê jornal? Não vê televisão?

– Não.

– Por quê?

– Porque sou um canguru.

– Ah, perfeitamente. Não tinha reparado.

– Tudo bem.

– De qualquer forma, preciso prosseguir com a abordagem: o que o senhor tem nessa bolsa?

– Nada. Já falei, sou um canguru.

– Entendo. Mas os cangurus não guardam nada na bolsa?

– Às vezes carregamos nossos filhos.

– O senhor não tem filhos?

– Não é da sua conta.

– Assim vou ter que detê-lo por desacato.

– Não quis ofendê-lo.

– Ok. Já vou encerrar a abordagem. Só mais uma pergunta: o senhor joga tênis?

– Não. Cangurus não jogam tênis.

– Entendo. Mas o senhor conhece um elemento chamado Novak?

– Novak de quê?

– Novak Djokovic.

– Ele é canguru?

– Não. É um humano negacionista.

“Se o senhor estiver me escondendo algum vínculo com o elemento Djokovic, depois vai ser pior”

Nem sei que espécie é essa. Só conheço cangurus.

– Estranho. Não se relaciona com mais ninguém?

– Por quê? Deveria? Nasci aqui mesmo, sempre me bastaram os cangurus.

– Estranho. Bem, de qualquer forma, saiba que se o senhor estiver me escondendo algum vínculo com o elemento Djokovic, depois vai ser pior.

– Pior que essa conversa?

– Sim. Teremos de recolhê-lo aos campos de covid.

– A Austrália mudou mesmo.

– E ainda vai mudar mais.

– Imagino.

– Nossa meta é limpar tudo. E se prepare porque chegará o momento de vacinar os cangurus.

– …

– Por que o senhor está pulando?

– Porque sou um canguru.

– Mas ainda não liberei a sua ida para debaixo da árvore.

– Não estou mais indo pra lá.

– Para onde o senhor está indo, então?

Para a Sérvia.

Leia também “A Síndrome de Melbourne”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste

 

quarta-feira, 21 de julho de 2021

"Foi vontade do povo triplicar o fundo eleitoral?"

Alexandre Garcia

"Perguntaram ao contribuinte se gostaria que parte de seu imposto fosse para a propaganda eleitoral?"

Deputados e senadores aprovaram a quase triplicação do fundo eleitoral. O presidente diz que vai vetar, sancionando a Lei de Diretrizes Orçamentárias sem esse jabuti. Foi um escárnio; enquanto em 2020 e 2021 a economia vai ter um saldo de crescimento de 1,1% (encolhimento de 4,1% do PIB no ano passado e expansão esperada de 5,2% neste ano) e o salário mínimo previsto na mesma LDO sobe menos de 5%, o dinheiro dos impostos destinado às campanhas eleitorais se multiplica por três.
 
O jabuti foi posto no galho do orçamento da Justiça Eleitoral;
não conseguiram votar em separado e entrou tudo na votação por lideranças, na Câmara;  
no Senado pegou carona com a aprovação da LDO de última hora, pelo placar de 40 a 33. Quem votou diz que não votou, quem conduziu diz que só conduziu, mas o jabuti ficou lá, aprovado pelo Congresso Nacional, que é o responsável por isso, já que não foi o acaso nem jabuti sobe em árvore.

Agora, é fazer a tradicional pergunta: a quem interessa? O campeão de verba nessa enxurrada seria o PT, com R$ 600 milhões — e é o partido que mais deve estar com crise de abstinência, com torneiras fechadas na Petrobras, empreiteiras, ministérios, bancos oficiais… mas a verdade é que isso interessa aos partidos. E não é só. O Senado recriou a propaganda partidária no último dia 14: serão R$ 527 milhões para o ano que vem, antes mesmo das convenções. E tramita um projeto que permite candidaturas de gestores com contas reprovadas, enfraquecendo mais a Lei da Ficha Limpa. Na Câmara, está em regime de urgência um projeto para eximir da cláusula de barreira partidos sem voto.

Será que isso interessa aos milhões de brasileiros que tiveram sua renda, seu emprego, suas lojas, suas indústrias, seus empreendimentos prejudicados pelo vírus? 
Ou só interessa aos políticos e seus partidos, visando à eleição do ano que vem? 
Perguntaram ao contribuinte se gostaria que parte de seu imposto fosse para a propaganda eleitoral? 
O atual presidente se elegeu com tão pouco; por que querem tanto? 
O poder emana do povo e só é legítimo quando reflete a vontade desse mesmo povo. Foi vontade do povo triplicar o fundo eleitoral?

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

 

domingo, 16 de agosto de 2020

Não é o apocalipse (por Mary Zaidan)

Aprovação de Bolsonaro cresceu, mas é baixa, e os instrumentos para mantê-la são frágeis 

[quanto mais batem no presidente Bolsonaro, quanto mais  torcem contra, mais ele cresce. 

A pandemia aliada a sabotagem e a um boicote sistemático, tudo conspirando contra o Governo Bolsonaro, travou um pouco seu crescimento.Mas, com a melhora da economia, o fim próximo da pandemia - os contadores de cadáveres vão continuar sua luta inútil pela prorrogação da tragédia, mas, fracassarão.

Os brasileiros estando bem o presidente Bolsonaro, seu governo e sua carreira política também ficam bem.]  

Com aflição semelhante à dos que há três meses decretaram o enterro antecipado do governo Jair Bolsonaro, muitos passaram a considerar inevitável a reeleição do presidente diante dos resultados  da pesquisa Datafolha. Faltando longos 25 meses para o pleito, os de agora, tal como os de lá, exageram na miragem apocalíptica. Alavancado pelo auxílio emergencial e por um providencial silêncio Bolsonaro viu sua aprovação crescer de 32% para 37% em 50 dias e sua rejeição despencar 10 pontos percentuais. Ainda assim, continua altíssima – 34% – para um presidente com pouco mais de 18 meses de mandato. [a articulista esqueceu um detalhe: o presidente Bolsonaro neste curto período de mandato além de uma oposição formada em sua maioria por adeptos do 'quanto pior, melhor' = inimigos do presidente = inimigos do Brasil, da democracia e aliados da turma do mecanismo.
Com um quadro tão adverso, qualquer um dos abaixo citados teria uma rejeição superior aos 60%.
Aceitem, dói menos. E terão que aguentar tudo, sempre crescendo,  de agora até 2022 e de 2023 a 2026.] Perde feio para os três antecessores que se reelegeram quando comparado à aprovação de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff no exercício do segundo ano de seus primeiros mandatos. 

O pico registrado agora ainda não é capaz de esconder o derretimento do cacife de Bolsonaro, bastante acentuado quando os índices são cotejados com o resultado eleitoral. Está 9 pontos  percentuais abaixo dos 46% que obteve no primeiro turno das eleições de 2018, etapa que mede o desejo do eleitor, e 18 pontos a menos dos 55% que o levaram ao Planalto. Em setembro de 1996, FHC tinha aprovação de 47%. Foi o único eleito no primeiro turno, com 55%, 12 pontos acima da avaliação feita 19 meses depois. Lula era considerado ótimo ou bom por 45% em agosto de 2004 contra os 46% obtidos no primeiro turno de 2002 e Dilma alcançou 62% de aprovação, quase 10 pontos a mais dos 46,9% colhidos no primeiro turno de 2010. Pertenceu a FHC a mais alta  rejeição registrada no segundo ano de mandato dos presidentes que se reelegeram, 25%, 9 pontos inferior à que Bolsonaro tem agora. [o problema mais grave é que os três ex, já eram, passaram.
Bolsonaro, com as bençãos de DEUS, é atual e futuro.]

Apenas Fernando Collor de Mello, que congelou a poupança dos brasileiros, e Michel Temer, flagrado em conversas nada republicanas com o enroladíssimo Joesley Batista, exibiram performances piores. [conversas que até agora nada provaram contra o ex-presidente temer;  fosse o Brasil um país sério - a frase não é de De Gaulle - o 'enganot' estaria preso por sabotar o governo Temer, que foi impedido de consertar o muito que a corja petista destruiu e foi obrigado a entregar ao 'capitão' um Brasil com sérios problemas econômicos.
Bolsonaro, apesar da pandemia, está recuperando passo a passo.]
..........

Nessa seara, a pesquisa confirma o descalabro social brasileiro: 53% dos beneficiários usam o dinheiro do auxílio para comer, número que salta para 65% no Nordeste do país. Na região, antes dominada pelo PT de Lula, que fez cabresto com o Bolsa Família, a aprovação de Bolsonaro subiu 16 pontos, de 17% para 33%.[dobrou]Mas emergência, como o nome diz, tem prazo. Sem ela, a aprovação despenca. Para mantê-la, só estourando o teto ou criando novos impostos, alternativas complexas. A primeira, por justificar um processo de impeachment embasado nos mesmos fundamentos da cassação da ex-Dilma – com o voto do então deputado. A outra é rejeitada pela sociedade que já paga demais para receber quase nada em troca. [lembrando que qualquer despesa considerada excessiva do governo Bolsonaro,  será para satisfazer os mais necessitados, os esquecidos e tudo resultado de 13 anos de um governo maldito e de uma maldita pandemia.]

...................

Falta a árvore de dinheiro. Os frutos amargos – inflação, desemprego e maior empobrecimento não inibem a surrada e abusada semeadura da gastança eleitoral. Pode até dar certo de novo. Mas é cedo para vaticinar que já deu. [formamos ao lado da ilustre jornalista quando fala em gastança eleitoral.
Por isso, lembramos que o Davi Alcolumbre, senador da República, eleito presidente do Senado Federal em eleição com 82 votos - o total de senadores é 81 - em defesa da gastança eleitoral, entrou na Justiça recorrendo de decisão de juiz federal de primeiro grau que determinava que os recursos dos Fundos Eleitoral e Partidário fossem aplicados no combate à pandemia.
Alcolumbre ganhou o recurso e agora os bilhões serão usados na gastança eleitoral.]

Blog do Noblat - VEJA - Mary Zaidan, jornalista 


quinta-feira, 5 de março de 2020

Haja Confusão - William Waack

O Estado de S.Paulo


O cenário político está embaralhado, mas o pequeno PIB de 2019 não confunde

É óbvio que um presidente contracenando com humoristas faz parte do arsenal de promoção de imagem “humana” ou “popular” em qualquer lugar – Barack “Late Night Show” Obama que o diga. Mas quando Jair Bolsonaro divide a cena com um humorista fantasiado de presidente do Brasil diante do Alvorada (um edifício oficial) – como ocorreu ontem –, a quem encarrega de responder a perguntas de repórteres, e depois o próprio presidente divulga o vídeo em redes sociais, sugere uma confusão: afinal, quem é o comediante? [curioso é que durante o carnaval, um humorista em fim de carreira, o 'alguma coisa'  Adnet, desfilou fantasiado de presidente da República, simulando o uso de uma faixa presidencial e fazendo flexões e muitos criticaram Bolsonaro - ausente do local. Agora o presidente resolveu prestigiar um humorista e é criticado, suscitando a pergunta: 'quem é o comediante'?] 

Pode-se até acreditar que confusão seja uma arma conscientemente empregada por Bolsonaro para desequilibrar adversários, mas não se pode fugir à constatação de que virou uma de suas características permanentes. Para focar no que é mais recente, é confusa a pauta da manifestação que ele apoia (ou não?) para o dia 15, além da palavra de ordem mais abrangente de prestigiar o presidente.

Ficou confusa também a demanda, do ministro da Economia, Paulo Guedes, para que participantes do ato “defendam reformas”. No caso da tributária, qual a ser defendida? Existe uma do governo? Qual das várias que tramitam no Legislativo? Qual se deveria pedir em primeiro lugar? A PEC emergencial, talvez?  A favor de Bolsonaro deve-se assinalar que não é o único, de propósito ou não, a criar confusões. Na raiz da queda de braço entre Legislativo e Executivo para disputar migalhas do Orçamento (afinal, mais de 90% já estão comprometidos em despesas obrigatórias), está uma confusão política de autoria dos próprios parlamentares.

O fundo da questão não era o Orçamento impositivo, mas a esdrúxula criação do dispositivo que permitiria a um relator dispor de R$ 30 bilhões do Orçamento. Os parlamentares criaram uma perigosa confusão entre “legisladores” e “executores” do Orçamento. Que o governo, confuso, demorou para perceber.

Nos desdobramentos da original criou-se mais uma confusão espetacular. Os que apoiaram a manutenção de vetos presidenciais (que o Planalto havia negociado, depois repudiado, depois renegociado) à “emenda do relator” eram em boa parte senadores conhecidos pela oposição ao governo, mas cientes de uma confusão de interesses dentro do próprio Congresso. Querendo arranjar um jeito de continuar onde estão além do fim do ano, os dois presidentes das casas legislativas tinham topado uma manobra (a tal “emenda do relator”) de políticos aglomerados numa massa em geral amorfa (o tal “Centrão”), ao preço de deslegitimar a própria instituição.

Desembarcar de acordos “meia boca” discutidos em conversas de bastidores não ficou fácil pra ninguém dos dois lados da praça. Mesmo a projetada tramitação “normal” e seguindo ritos daquilo destinado a eliminar confusões – os projetos do governo regulamentando a execução de emendas, parte dos “acordos” – não diminuiu as ansiedades. Raposas felpudas no Congresso alertam para o fato de que na Comissão Mista Orçamentária, que vai examinar os tais projetos, jabuti sobe em árvore. Em outras palavras, não consideram letra morta a esdrúxula “emenda do relator”, pois é oCentrão seu motor e a grande força no Congresso.

De novo a favor de Bolsonaro deve-se reconhecer que ele tinha de proteger seu ministro da Economia ao retirar dele poderes para movimentar o Orçamento – que mais fazer, diante da confusão sobre aplicação e alcance do Orçamento impositivo? Note-se, porém, que, ao se evitar uma confusão dessas, torna-se ainda mais evidente uma outra de imensa abrangência na economia: a da insegurança jurídica. Fora a ironia do fato de Guedes ter ingressado no nutrido clube de gestores públicos que preferem nada decidir, pois temem ver seu CPF envolvido numa averiguação de órgãos de controle.

Nesse cenário, talvez só o PIB de 1,1% em 2019 não confunda. É muito pouco. 

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo


domingo, 23 de fevereiro de 2020

Lembrai-vos de 1968, de 1937, e de 1984 - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

A turma em Brasília a fim de arrumar briga pode estar perdendo tempo

Um governo pode viver das intrigas que inventa, mas elas não o livram de encarar os problemas reais; Em 13 meses, Jair Bolsonaro conseguiu um prodígio de desarticulação política, implodiu seu partido, não criou outro e demitiu colaboradores imediatos 

A incontinência da retórica política dos Bolsonaro, do general da reserva Augusto Heleno e até mesmo do ministro Paulo Guedes indica que eles cultivam um conflito institucional. Pelos seus sonhos, com o Congresso, mas na falta dele qualquer coisa serve. Com 12 milhões de desempregados, “pibinho”, filas nas agências do INSS, motins de PMs e encrencas com milicianos, busca-se uma briga.

Há um ano tudo parecia fácil, de um lado estaria um presidente cacifado por 58 milhões de votos e do outro, um Congresso de crista baixa. Em 13 meses, Jair Bolsonaro conseguiu um prodígio de desarticulação política, implodiu seu partido, não criou outro e demitiu colaboradores imediatos, entre os quais seis generais da reserva. Trocou um ministro da Educação delirante por outro, desastroso. Defenestrou o presidente do BNDES, o secretário da Receita e dois presidentes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

No endinheirado FNDE ainda falta saber quem preparou um edital para a  compra de 1,3 milhão de computadores, notebooks e laptops ao custo de R$ 3 bilhões. A CGU apontou o vício do certame e ele foi revogado, mas jabuti não sobe em árvore. [jabuti não sobe em árvore, mas, o vício da licitação foi descoberto, gerando medidas corretivas, antes de causar qualquer danos ao Erário.
Tal situação pode ser corrigida e seus autores punidos com a defenestração dos culpados por ação ou omissão, o que ocorreu.] Como disse o presidente há poucos dias, “nossa luta contra a corrupção continuará sendo forte, fazendo o possível pelo Brasil melhor”. Faça-se. Um governo pode viver das brigas que inventa (basta olhar para Donald Trump), mas elas não o livram de encarar os problemas cotidianos da administração. Nesse departamento, Bolsonaro vai devagar, quase parando.

A turma que está em Brasília a fim de arrumar uma briga pode estar perdendo seu tempo. Dois governos armaram cenários que desembocavam em golpes e foram bem-sucedidos. O de Costa e Silva, em 1968, e o de Getulio Vargas, em 1937. Ambos tinham conjunturas internacionais radicalizadas. Vargas enfrentara uma insurreição militar em 1935. Costa e Silva estava diante de um surto terrorista e deixou-se boiar numa provocação palaciana que criou o conflito com o Congresso. A Bolsonaro e aos seus cavaleiros do Apocalipse ainda faltam todos esses ingredientes. As ruas estão em paz e, hoje, em festa. Quarta-feira abre-se a quitanda e continuarão lá os PMs dispostos a se amotinar, bem como os milicianos.

Os golpes bem-sucedidos são sempre lembrados, mas aprende-se também com aqueles que fracassam. Em 1984, quando Tancredo Neves estava virtualmente eleito (indiretamente) para a Presidência, armou-se no invencível Centro de Informações do Exército (CIE) uma provocação venenosa. Pediram-se soldados ao Comando Militar do Planalto para colar em paredes de Brasília cartazes vermelhos, com a foice e o martelo, a sigla PCB, uma figura de Tancredo e o slogan: “Chegaremos Lá”. Ia tudo muito bem até que a polícia prendeu os soldados, e o carro do CIE que lhes daria cobertura escafedeu-se. Exposta a provocação, fez-se silêncio, até que na reunião do Alto Comando do Exército o general que comandava a tropa do Rio perguntou o que tinha sido aquilo. “Gente do meu gabinete, não foi”, respondeu o ministro. O general Newton Cruz, comandante do Planalto, estava na reunião e viria a contar: “Senti um frio na espinha. O CIE era um anexo do gabinete dele. Se não tinham sido eles, tinha sido eu.”

Não tinha, mas acabou sendo. A tropa era dele, porém a operação era do CIE. Nas semanas seguintes fritaram Newton Cruz, negando-lhe a promoção, e ele passou para a reserva, transformado em bode expiatório de todas as bruxarias.  

Em 1961, Costa e Silva reprimiu motim de bombeiros e policiais em SP

O que havia sido uma passeata virou coluna em marcha, cantando o hino em direção à cadeia 
Em janeiro de 1961 a Assembleia Legislativa de São Paulo negou um aumento ao Corpo de Bombeiros e à Polícia Militar (Força Pública, na época). Amotinados, eles hastearam uma bandeira preta no alto de uma escada Magirus do quartel da Praça Clóvis Beviláqua. Uma tropa mandada para controlá-los insubordinou-se.

No dia seguinte, amotinados seguiram em passeata e cercaram portões do Palácio dos Campos Elíseos, onde vivia o governador.  O comandante da 2ª Divisão de Infantaria chegou acompanhado de um major e, empunhando seu bastão de general, informou: “Isso é uma baderna. Será dissolvida a bala. Pensem nos seus filhos.” Logo depois veio sua tropa, com blindados.  O que havia sido uma passeata virou coluna em marcha, cantando o Hino Nacional em direção à cadeia. Foram indiciados 513 policiais.

O general chamava-se Arthur da Costa e Silva. Antes de chegar à Presidência da República, fizera fama como chefe militar, daqueles que comandam sua tropa.
(Em tempo: os amotinados ganharam uma anistia do Congresso, pedida pelo então deputado Ulysses Guimarães.)  Não existe parlamentarismo branco, nem verde e rosa. 

(....)

Na Folha de S. Paulo e O Globo, MATÉRIA COMPLETA - Elio Gaspari, jornalista


domingo, 5 de janeiro de 2020

A gestão desastrada do FNDE - Elio Gaspari


O Globo

Presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação soube que havia sido demitido durante feriado


Gestões desastradas do FNDE lidam mal com suas lambanças


Uma escola de Minas Gerais receberia 30 mil laptops (117 para cada aluno)


No escurinho dos feriados, o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Rodrigo Sérgio Dias, soube pelo Diário Oficial que havia sido demitido. Ele assumira em agosto, substituindo um professor nomeado em fevereiro. O FNDE não é uma repartição qualquer, tem uma caixa de R$ 58 bilhões e transfere recursos tanto para a merenda escolar como para o malfadado Fies, um programa de financiamento de vagas em faculdades privadas, cujo rombo está em R$ 12 bilhões, com 584 mil inadimplentes. É, sem dúvida, o maior escândalo da História do ensino superior brasileiro.

Os repórteres Pedro Prata e Pepita Ortega revelaram o teor da colaboração de uma ex-diretora da Universidade Brasil, de Fernandópolis (SP), na qual ela contou à Polícia Federal que a instituição vendia vagas no curso de Medicina por R$ 80 mil. Se o aluno quisesse financiamento do Fies (com a Viúva pagando), o pedágio custava R$ 100 mil. À época, só tinham acesso ao Fies jovens de famílias com renda per capita de até três salários mínimos. O MEC engolia dados fraudados.

As trocas do FNDE poderiam ficar por conta do caráter errático do governo, mas no FNDE há algo a mais. Na sua primeira gestão bolsonariana, o fundo publicou um edital para a compra de 1,3 milhão de computadores, laptops e notebooks destinados à rede pública de ensino. Coisa de R$ 3 bilhões. Entre agosto e a segunda metade de setembro, a Controladoria Geral da União achou maluquices e sinais de direcionamento no edital. Uma escola de Minas Gerais receberia 30 mil laptops (117 para cada um de seus 255 alunos). O sinal de perigo dado pela CGU levou à suspensão e ao posterior cancelamento do edital por Rodrigo Dias na primeira semana de sua curta gestão. Numa atitude tão esquisita quanto a concepção do edital, passaram-se quatro meses e não se falou mais no assunto. Um governo que pretende combater a corrupção precisa perguntar quem botou aquele jabuti na árvore. [muitos odeiam, mas, fato inconteste no Governo Bolsonaro:nenhuma denúncia de corrupção.
Eventuais tentativas são descobertas,a licitação cancelada e na sequência os responsáveis pela tentativa demitidos,sem prejuízo da responsabilização penal. Só que as medidas administrativas dependem do governo  e a responsabilização penal, depende de denúncia do MP.]

As gestões do FNDE lidaram mal com suas lambanças. Mexer com o Fies significa desafiar os donos de faculdades privadas, com sua bancada de congressistas y otras cositas más. Em janeiro do ano passado, uma mão invisível alterou o edital para a compra de livros didáticos, e o MEC disse que ocorreu um “erro operacional de versionamento”. No caso do edital de R$ 3 bilhões, o negócio é bem outro. Até hoje não se sabe como o jabuti subiu na forquilha, nem o nome do dono da árvore.

Um novo Kennedy
Enquanto o partido Democrata não tem um favorito para disputar a presidência dos Estados Unidos com Donald Trump, daqui até março será possível acompanhar a disputa pela vaga de candidato ao Senado pelo estado de Massachusetts. O deputado Joseph Kennedy III (39 anos) resolveu disputar a vaga do senador Ed Markey (73 anos), que está no Congresso desde 1976.

O que parece ser o novo contra o velho pode também ser o velho contra o novo, pois Markey tem uma folha de serviços impecável, inclusive na defesa do meio ambiente. Kennedy está bem nas pesquisas, mas suas chances parecem pequenas. A senadora Elizabeth Warren, do mesmo estado, disputa a presidência e apoia Markey.

Joseph Kennedy III tem a marca da família: liberal, bonitão e onipotente. Apesar do III no sobrenome, ele é o quarto Joseph. Joe I foi um milionário detestável que desejou disputar a Casa Branca, não conseguiu e resolveu colocar lá seu filho mais velho, o segundo Joseph. Ele morreu quando seu avião explodiu na Europa, durante a Segunda Guerra. (O jovem namorou a linda Aimée Sotto Mayor, depois Simões Lopes, finalmente De Heeren, amante de Getulio Vargas nos anos 1930.) 

Em 1960, John, o segundo filho homem de Joe I, elegeu-se presidente e foi assassinado em 1963. Seu irmão Robert, avô de Joe III, quase chegou lá, mas tomou um tiro em 1969. Joe II elegeu-se deputado e, depois de uma carreira medíocre, deixou a política para o filho. A tumultuada dinastia dos Kennedy acha que pode tudo. Às vezes se dá mal: três Keynes — o segundo Joe em 1944, sua irmã Kathleen em 1948 e John Jr. em 1999, decidiram voar em condições arriscadas e morreram. Às vezes eles conseguem o que parece impossível. A Arquidiocese de Boston anulou o casamento de 12 anos de Joe II com Sheila Rauch, apesar do casal ter dois filhos. Ela derrubou a decisão no Vaticano. Um dos filhos é Joe III.

(.....)


Representatividade
A Associação dos Magistrados Brasileiros e a Associação dos Juízes Federais recorreram ao STF com argumentos legais contra a instituição dos juízes de garantias. Entidades que se denominam associações devem ter algum compromisso com os associados. Cinquenta desembargadores e juízes federais assinaram uma carta aberta defendendo o novo instituto. Isso indica que gente com qualificação jurídica apoia a iniciativa.

Se há magistrados a favor e contra, o melhor que as guildas tem a fazer é manter silêncio. Já basta a Ordem dos Advogados do Brasil, que há duas décadas se mete até em briga de cachorro.

(.....) 

Na Folha de S. Paulo e em O Globo, MATÉRIA COMPLETA -  Elio Gaspari, jornalista





terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Luciana foi golpeada mais de 30 vezes, diz Polícia Civil - Colisão frontal entre viatura da Polícia Civil e Õnibus - CB

A delegada Claudia Alcântara define assassinato de Luciana de Melo como 'bárbaro e premeditado'. Ela foi morta no sábado (21/12), no Sudoeste e é a 33ª vítima de feminicídio do DF

A funcionária terceirizada do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Luciana de Melo Ferreira, 49 anos, foi golpeada mais de 30 vezes pelo ex-namorado, um vigilante de 44 anos, morador de Ceilândia, segundo a delegada que investiga o 33° feminicídio do ano no Distrito Federal. A suspeita é a de que ele tenha usado uma faca para cometer o crime.

De acordo com Claudia Alcântara, chefe da investigação da 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro), a perícia inicial mostrou um crime bárbaro e premeditado. "O homem é uma pessoa extremamente agressiva e já havia sido preso, em outubro, por tentar jogar o carro em que os dois estavam contra uma árvore", informou a delegada. 
 
A delegada diz que a vítima foi morta no último sábado (21/12). Mas o corpo foi encontrado somente na segunda-feira (23/12), quando a filha de Luciana retornou ao apartamento em que vivia com a mãe. Em depoimento, a garota contou que Luciana iria realizar um boletim de ocorrência contra as ameaças dele na segunda. O vigilante teria deixado um bilhete no carro dela na semana passada.
 
Imagens das câmeras de segurança mostram que o acusado chegou ao apartamento da vítima, localizado no Sudoeste Econômico, pelo menos duas horas antes do crime. Ele entrou no edifício às 20h31 e conseguiu abrir porta, usando uma blusa escura, com capuz e calça laranja. Duas horas mais tarde, às 22h32, Luciana chega e entra. Dezessete minutos mais tarde, as imagens mostram o homem saindo do prédio levando uma bolsa de cor escura, provavelmente da vítima, para simular um roubo seguido de morte. 
 
FORA DO TEMA: 
Pelo absurdo da situação, publicamos uma foto e link para a matéria.
Óbvio que a perícia apresentará a dinâmica e causas  do acidente, mas, pela clareza da imagem o coletivo  estava na via reversa e a viatura chocou-se contra o mesmo.s.
Pela imagem ou houve imprudência do policial civil que conduzia a viatura ou falha mecânica no veículo policial. 

 
 
 

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Morre bombeira do DF atingida por árvore e fio de alta tensão

Marizelli Armelinda Dias trabalhava no combate ao fogo que atingia uma área de vegetação em Taguatinga, na manhã deste domingo

Marizelli Armelinda Dias, a militar do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBM-DF) atingida por uma árvore e por um fio de alta tensão, não resistiu aos ferimentos e morreu na tarde deste domingo (15/9). 

Integrada à corporação em 2018, Marizelli, 31 anos, trabalhava no combate a um incêndio em uma mata na QNL 02, em Taguatinga, de manhã. Em determinado momento, uma árvore caiu, arrastando fios de alta tensão.

Marizelli ingressou no Corpo de Bombeiros em 2018. Ela deixa dois filhos (foto: Reprodução)
Tanto a árvore quanto os fios atingiram a bombeira, que sofreu uma parada cardíaca. Reanimada, ela foi levada ao Hospital Regional de Ceilândia, onde acabou falecendo horas depois. Ela deixa dois filhos, Raniele, 4 anos, e Erick, 5. O acidente foi gravíssimo. Segundo informações do Tenente Machado, Marizelli foi atingida do lado esquerdo por um galho de eucalipto de médio porte. A árvore teria caído em decorrência das chamas.

Ele ainda informou que ela teve traumatismo craniano, fratura na coluna torácica em dois pontos, no fêmur e no braço — ambos esquerdos —, e edema torácico.As primeiras informações eram de que ela havia sido eletrocutada pelo cabo de energia. Embora a militar tenha sido mesmo atingida pela fiação, não foi confirmado se a parada cardíaca foi causada por descarga elétrica.

 Correio Braziliense