Sem razão, Sua Excelência o Ministro do STF, Alexandre de Moraes, em dizer que a “a internet deu voz aos imbecis”,apesar de celeuma surgida após essa declaração,e o escancarado plágio dessa “idéia”, a partir do pensador italiano Umberto Eco, segundo o qual “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”.
Na verdade os internautas habituais das redes sociais somente ampliaram para meia dúzia o número de “ouvidos” para as suas vozes. Isto é,os usuários das redes sociais,ou da internet, efetivamente passaram a ter, minimamente, mais “ouvintes”,ou “leitores”,sobre o que dizem ou escrevem.
Mas creio que Sua Excelência, o Senhor Ministro, e também Umberto Eco, com essas declarações, quiseram simplesmente se referir ao que se denomina de “democracia representativa”,onde a “voz” dos imbecis que votam no determinado candidato passam a ser (teoricamente) reproduzidas no discurso político do seu “representante”,mas que em última análise faz ou diz na tribuna o que bem entende,geralmente no próprio interesse,independentemente da opinião do eleitor que lhe deu o voto.
Mas enquanto o “imbecil” do eleitor pode efetivamente ter ampliado um pouco, cerca de meia dúzia de vezes,os “ouvidos” para a sua voz,não a “voz” propriamente dita,os seus “representantes”,numa democracia absolutamente deturpada ,que é a essência da “democracia” defendida pelo Ministro,no tal “inquérito do fim do mundo”,passaram não só a ter “voz”,em “nome” dos representados,porém “milhões e milhões” de “ouvidos”,monopolizando não só os temas discutidos nas redes sociais,porém os assuntos da grande e da pequena mídia.
Esse “monopólio” da voz e ouvidos para os políticos foi compartilhado “ferozmente” pelos chamados “famosos” (artistas, comunicadores, atletas,etc.),pelas autoridades públicas dos Três Poderes, parlamentares, governantes,”ministros” dos Tribunais Superiores,e assemelhados. Todos esses têm a exclusividade da voz conjugada com a dos ouvidos.
Mas Alexandre de Moraes e Umberto Eco podem ter razão se considerarmos que a voz dos imbecis (da internet) seria o mero comparecimento “compulsório” dos eleitores às urnas para escolherem os seus “representantes”,transferindo-lhes as suas “vozes” (representativas) e dando-lhes ao mesmo tempo milhões de ouvidos.
Talvez consigamos melhor compreensão se considerarmos que dentre os diversos sinônimos da palavra “imbecil” está a palavra “idiota”,e nos reportarmos ao mesmo tempo a uma vision ária manifestação de Nelson Rodrigues,segundo o qual “ a maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas,que são a maioria da humanidade”,e que “os idiotas vão tomar conta do mundo,não pela capacidade,mas pela quantidade,eles são muitos”.
Mas uma coisa é certa: os idiotas,os imbecis,estão no andar de baixo de sociedade brasileira. Eles têm alguma voz,mas não têm ouvidos. Os de “cima”,das classes sociais dominantes da riqueza,da política e da magistratura,que exerce “cargo de confiança” de políticos,certamente não têm absolutamente nada de “imbecilidade”,ou de “idiotia”.Muito pelo contrário.
Têm muito de esperteza,senso de oportunismo ,e ilimitada capacidade de mentir e enganar o povo, com suas “cretinas” tergiversações políticas e jurídicas.
Mas o clímax dessa perversa situação se dá agora com a injusta acusação que o culpado de todo esse descalabro moral,político,social e econômico do Brasil, coincidiria com o “imbecil” que passou a ter voz na internet,quando na verdade a regra de todo esse jogo político,jurídico,e eleitoral,está na delegação de poderes do povo (“todo o poder emana do povo”, há,há,há !!!) a seus representantes eleitos ,que “montam” a estrutura política,governamental e dos tribunais superiores,que “nomeiam”.
No fundo,a culpa não é dos “imbecis da internet”,embora possa sê-lo “indiretamente”,porém,e “diretamente”, dos que os representam na política,governam e fazem as leis, escolhendo “a dedo” os nomes que integrarão os tribunais superiores.
Seria esse o falso significado do parágrafo único do artigo 1º da Constituição,pelo qual “todo o poder emana do povo...”? Qual povo?
Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário