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terça-feira, 23 de agosto de 2022

Uma questão de vida ou morte da liberdade - Rodrigo Constantino

Tenho vindo ao Brasil com maior frequência. E a cada nova vinda, fico impressionado com a reação do público em geral. Em tudo que é lugar sou abordado por vários seguidores, e há uma mensagem mais comum, um tipo de recado que se repete bastante: essas pessoas agradecem por eu lhes dar voz, parabenizam pelo trabalho, brincam com as narrativas pipérnicas que preciso aturar, e costumam terminar pedindo para que eu não desista da luta pelo país.

Desta vez, depois de a comissária de bordo da companhia aérea solicitar uma visita minha ao cockpit após a aterrissagem, para falar com o capitão e sua equipe, admiradores do meu trabalho - e muito simpáticos, entrei na fila da imigração com um amigo meu da Flórida, que estava no mesmo voo. Ao ser abordado algumas vezes na fila, meu amigo comentou: "você é um comentarista político, não um jogador de futebol ou um ator global; o que está acontecendo?"

A pergunta ficou em minha cabeça. Lidar com a fama não é algo trivial, pois gosto do anonimato. Mas claro que há um fator muito comovente nisso tudo, que é o reconhecimento pelo meu trabalho, e isso envaidece, motiva, estimula. Só que a pergunta continua em minha cabeça: por que um comentarista político é tratado como popstar? Isso é... normal?

E minha primeira resposta é: não, isso não é exatamente algo normal, esperado. Logo, é preciso ter uma explicação. E eis minha tese: o Brasil vive um momento bem atípico, anormal, perigoso, e o povo ganhou gosto pela política, acordou
O gigante despertou de fato e não quer voltar a dormir. Ciente dos abusos por parte de um sistema podre e carcomido, que tornou elegível um corrupto que desgraçou o país, a multidão reage. É uma sensação de encruzilhada, de batalha pela própria sobrevivência, uma questão de vida ou morte.

É nesse contexto que um comentarista político se torna uma espécie de celebridade. Sim, há uma nova realidade fruto do advento das redes sociais, o fenômeno dos influencers com milhões de seguidores e tal. Mas não se trata disso. Não é a fama pela fama, ou a abordagem a alguém simplesmente conhecido. É quase um olhar de desespero de quem entende o que está em jogo e reconhece nesses (infelizmente) poucos comentaristas independentes a coragem de resistir ao avanço do sistema corrupto. "Lula não vai vencer, né?", perguntam quase todos, depositando em nós a esperança de dias melhores no futuro.

Em um país normal, em situação estável e solidez institucional, os comentaristas políticos teriam lá o seu papel ao influenciar o debate com suas análises, alguns se destacariam, teriam um caloroso reconhecimento de parte do público, mas jamais seria nessa magnitude, desta forma. Do jeito que a coisa acontece hoje, parece um sintoma de uma nação enfrentando uma doença, um movimento golpista, buscando expurgar o câncer da corrupção e do autoritarismo.

A política só ganha tanta dimensão assim quando ela pode afundar de vez uma sociedade, como acontece agora mesmo na Argentina e já aconteceu na Venezuela. O brasileiro se deu conta disso, e resolveu reagir para impedir tal destino cruel. É por isso que a manifestação no dia 7 de setembro será enorme, gigante. E quando um ministro supremo arrogante e ativista resolve rotular um protesto patriótico desses como "fascista", isso apenas joga mais lenha na fogueira
Vamos mostrar o tamanho do "fascismo" aos ativistas!

Se a democracia liberal vencer, se o ativismo for derrotado pela defesa do império das leis, o embate político ganhará um plano mais secundário, sobre nuanças, diferenças legítimas e até saudáveis numa democracia. Aí os comentaristas políticos poderão voltar a ser apenas comentaristas, não ícones de uma resistência heroica.

Até lá, temos de aceitar o fardo da exposição por representarmos a ponta da lança nesse batalhão. 
E o apoio que recebemos em todo lugar é prova de que não estamos sozinhos, de que somos muitos, uma maioria que cansou de ser silenciosa.

Não se trata de apoiar Bolsonaro ou não. É algo bem maior, pois está em jogo nossa liberdade mais básica. Uni-vos, brasileiros de bem! Não temos nada a perder além desses grilhões esquerdistas. Pois se o ladrão voltar à cena do crime, o Brasil acaba de vez como um país minimamente sério e livre.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

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