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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

A batalha de Minas - Revista Oeste

Augusto Nunes  e Silvio Navarro

A vitória no Estado que abriga regiões marcadas por diferenças demográficas e econômicas é o objetivo prioritário da estratégia de Bolsonaro para o segundo turno 

Mapa de Minas Gerais | Foto: Shutterstock

 Mapa de Minas Gerais | Foto: Shutterstock 

Mais uma vez, um falatório improvisado do ex-presidente em campanha, no tom de voz colérico que vem caracterizando o Lula modelo 2022, deixou de cabelos em pé os responsáveis pela estratégia eleitoral do candidato do PT. Durante um comício em Belo Horizonte — tão mirrado que os organizadores procuraram ocultar suas dimensões diminutas publicando só fotografias do miolo da plateia —, a estrela do palanque resolveu fustigar o governador Romeu Zema, reeleito no primeiro turno, pelo pecado de apoiar Jair Bolsonaro na segunda etapa da disputa. “A única coisa que ele tem que levar em conta é não pensar que o povo é gado”, derrapou o orador.É não pensar que o povo pode ser tangido para lá ou para cá, o povo tem consciência do que está acontecendo no país. Se o governador souber 10% do que nós fizemos em Minas Gerais, ele terá um problema de remorso ao não me apoiar. Mas ele é livre e eu vim aqui tentar convencer o povo mineiro.” A provocação pode ter sido um tiro pela culatra — e com bala de grosso calibre.

 

Ao conseguir 6 milhões de votos (56% do total), Zema provou nas urnas que sua popularidade atravessou incólume a pandemia de coronavírus. 

Além de ter saneado as contas estaduais, socorreu municípios debilitados pela medonha gestão do antecessor petista, Fernando Pimentel. Autorizado pela vontade popular a permanecer no cargo mais quatro anos, o governador replicou com altivez: “O mineiro não é gado. É um povo sábio e honrado, que do PT já está vacinado”.

Única celebridade ainda filiada ao Partido Novo, Zema fez das duras críticas ao PT uma das diretrizes do discurso de campanha. Os ataques ao partido que sustentou a candidatura do adversário Alexandre Kalil, ex-prefeito da capital, tornaram previsível a aliança com Bolsonaro. Só poderia ser essa a opção de quem continua inconformado com a herança que recebeu em janeiro de 2019, começando pela dívida de R$ 30 bilhões que o sucessor, numa proeza admirável, conseguiu pagar ao longo dos quatro anos seguintes.

Fernando Pimentel também deixou no colo de Zema um assustador acervo de obras interrompidas ou abandonadas, formado sobretudo por esqueletos de hospitais, ruínas de prédios escolares e estradas em frangalhos. Investigado pela Polícia Federal, o parteiro do desastre político e administrativo deixou o governo pela porta dos fundos.  

Em 2018, além de negar-lhe um segundo mandato, o eleitorado mineiro devolveu ao Rio Grande do Sul sua melhor amiga, a ex-presidente Dilma Rousseff, que pretendia voltar a Brasília como representante no Senado do Estado onde nasceu.Nas eleições municipais de 2020, o campeão de impopularidade sumiu do horário eleitoral do PT.

A aposentadoria foi consumada neste ano: candidato a deputado federal, o ex-ministro de Dilma e ex-governador naufragou a bordo da votação desmoralizante: apenas 37 mil eleitores acharam que ele merecia um gabinete no Congresso. Um dia depois da aparição de Lula no palanque em Belo Horizonte, Zema fez a constatação constrangedora: “No comício de ontem, duas figuras não apareceram: o ex-governador Pimentel e a ex-presidente Dilma. Por que será que eles vivem escondendo essas pessoas?”. Resposta óbvia: porque também para o PT cada voto em Minas Gerais é precioso demais para ser colocado em risco por companheiros que inevitavelmente perturbam milhões de eleitores com péssimas lembranças.

Onde estão os votos?
Ao fim das conversas com os poucos aliados que efetivamente influenciam a montagem da estratégia eleitoral, Bolsonaro fixou já na noite de 2 de outubro a mais relevante prioridade do segundo turno: a ofensiva na frente mineira, liderada pelo governador vitorioso. Baseado no tamanho do eleitorado no Norte e no Nordeste, o Q.G. da campanha concluiu que não valeria a pena investir muito tempo e suor para tentar ampliar a votação obtida na região. Bastaria preservar os índices registrados no primeiro turno.
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Prefeitos
Bolsonaro e Zema foram igualmente ágeis. Já na segunda-feira 3 de outubro, o governador emitiu sinais de que ficaria ao lado do presidente, que o convidou para uma conversa em Brasília no dia seguinte. Na terça-feira, menos de 48 horas depois da divulgação dos resultados oficiais, seguiu-se ao encontro no Palácio do Planalto a formalização da aliança. Na quarta-feira 4 de outubro, Bolsonaro anunciou que visitaria Zema no dia 6. Deverá voltar a Belo Horizonte nesta sexta-feira, 14 de outubro, para formar com o governador a dupla de protagonistas da reunião convocada pela Associação Mineira de Municípios.

“Acho que o ex-presidente Lula está muito mal-informado. Na minha opinião, ele deveria estar aqui pedindo perdão aos mineiros pela catástrofe que foi a gestão PT-Pimentel

Trata-se da maior entidade do gênero: Minas tem 853 municípios. E mais de 600 prefeitos haviam confirmado presença ainda no começo da semana. As boas relações entre Zema e os líderes municipais se tornaram excelentes depois que o governador quitou metade do calote de R$ 6 bilhões aplicado por Fernando Pimentel no repasse do ICMS e do IPVA devidos às prefeituras. “Todas as regiões estarão representadas no encontro”, garantiu Zema em entrevista ao programa 4 por 4.

Os representantes voltarão para casa com boas notícias. Atendendo a um pedido do governador, por exemplo, o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, vai liberar R$ 5,4 bilhões para obras de duplicação e reformas requeridas pelas rodovias federais que ligam Belo Horizonte a Governador Valadares e Betim a Uberaba. O metrô da capital será contemplado com R$ 4 bilhões. “Os prefeitos serão grandes apoiadores porque ninguém sofreu tanto com o PT quanto eles”, reiterou Zema em entrevista à Folha de S.Paulo.

A opção por Bolsonaro colocou instantaneamente o governador mineiro na mira do consórcio da imprensa. Na mais recente edição, Veja insinua que uma financeira pertencente à família Zema foi premiada com uma medida provisória do governo, convertida em lei pelo Congresso. A revista também se dispensou de ressalvar que Zema não ocupa nenhum cargo de direção na empresa e detém meros 16% das cotas de participação.

Cabos eleitorais

Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal mais votado do país - 
Foto: Reprodução Facebook

Além dos prefeitos, participam da ofensiva na frente mineira políticos que as urnas promoveram a oficiais graduados. Um deles é o senador eleito Cleitinho Azevedo, filiado ao PSC. Popularíssimo na região centro-oeste, especialmente em Divinópolis, onde trabalhava num sacolão de verduras, Cleitinho pousará em Brasília a bordo de 4,2 milhões de votos. Outro é Nikolas Ferreira, do PL, um vereador de Belo Horizonte que virou celebridade das redes sociais e foi promovido a menino-prodígio da nova direita. Aos 26 anos, ele puxou a fila dos candidatos a deputado federal amparado em 1,5 milhão de votos.

Nesta semana, Nikolas tornou-se alvo preferencial da usina de fake news infiltrada na internet pelo deputado federal André Janones, que conseguiu mais um mandato no Congresso. Homiziado no Avante, Janones fantasiou-se de candidato à Presidência da República até a entrevista concedida ao jornalista Roberto Dávila em que instalou o governante francês Emmanuel Macron na Presidência da Argentina. Rebaixado a prestador de serviços sujos alugado pelo PT, Janones inventou na semana passada, por exemplo, que o senador Fernando Collor de Mello seria nomeado ministro por Bolsonaro para confiscar, pela segunda vez, a poupança de todos os brasileiros.

Com generais desse calibre, as tropas de Lula dificilmente resistirão ao avanço do exército de prefeitos comandado por Zema. É improvável que o mineiro Janones conheça as peculiaridades históricas e geopolíticas do Estado onde nasceu. Como mostra o mapa acima, o singular desenho demográfico fez de Minas Gerais uma populosa miniatura do país. O Norte-Nordeste é mais pobre e, em consequência disso, mais dependente de programas sociais. Mais rico, graças à industrialização e ao agronegócio, o Sul-Sudeste vai ficando cada vez mais parecido com um prolongamento do território paulista.

É natural que a luta pelo voto cruze as divisas que separam os dois maiores colégios eleitorais do país. Somados, São Paulo e Minas abrigam 33% do eleitorado nacional. Um terço do total. 

O bom desempenho de Tarcísio de Freitas, que venceu o petista Fernando Haddad por uma diferença de 1,5 milhão de votos e vai ampliando a vantagem, promete expandir a votação de Bolsonaro, também vitorioso no primeiro turno em São Paulo. Mas os aliados do presidente seguem convencidos de que nenhum caminho levará ao Palácio do Planalto sem a escala triunfante em Minas Gerais.

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