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sexta-feira, 19 de maio de 2023

É um esculacho - Bolsonaro fala das suspeitas sobre Cid e da possibilidade de ser preso

Em entrevista exclusiva, ex-presidente diz que se considera vítima de perseguição, critica Lula e chama os vândalos do 8 de Janeiro de 'marginais'

SEM SOSSEGO - Bolsonaro e Michelle: alvos de investigações que envolvem joias, dinheiro e conspiração

SEM SOSSEGO - Bolsonaro e Michelle: alvos de investigações que envolvem joias, dinheiro e conspiração (Sergio Dutti/.)
 
No Supremo Tribunal Federal prevalece a convicção da maioria dos ministros de que em algum momento entre o fim das eleições e a posse do novo governo houve uma movimentação de certos setores para criar condições para um golpe de estado. 
Prevalece também a desconfiança de que Jair Bolsonaro estaria por trás dessa trama. 
Até agora, porém, não há provas concretas de que o ex-presidente ou algum de seus ministros militares estivessem de fato envolvidos num plano para solapar o poder. O mesmo não se pode dizer em relação ao entorno do ex-capitão. No inquérito que apura os chamados atos antidemocráticos, a Polícia Federal encontrou mensagens de áudio trocadas entre um coronel que serviu como assessor na Casa Civil da Presidência da República e um ex-major que foi expulso do Exército por indisciplina há mais de quinze anos. 
O teor das conversas não deixa dúvidas de que havia gente dentro do Planalto no mínimo flertando com a hipótese de uma quartelada.
 
A mesma investigação fisgou um peixe grande metido na suposta conspirata: o tenente-coronel Mauro Cesar Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
Durante quatro anos, ele foi uma espécie de faz-tudo do presidente — o assessor que, como nenhum outro, testemunhou os momentos cruciais do governo e também compartilhou (mais do que devia) da intimidade da família Bolsonaro no Palácio da Alvorada. 
O militar é guardião de segredos que podem revelar muito sobre a passagem do ex-capitão pelo Planalto.
Esse arquivo vivo de um dos governos mais polêmicos da história está preso há mais duas semanas numa cela de 16 metros quadrados no Batalhão da Polícia do Exército em Brasília, acusado de falsificar certificados de vacinação contra a Covid-19 para ele e a família e também para Bolsonaro e a filha. 
A fraude no sistema do Ministério da Saúde teria sido executada com a ajuda de Ailton Barros, o tal ex-major que compartilhava as mensagens golpistas com o entorno do presidente. Cid estava na lista de transmissão.
 
A prisão do ex-ajudante de ordens esquentou os bastidores da política nas últimas três semanas, principalmente depois de revelado que Mauro Cid pagava as contas pessoais de Michelle Bolsonaro. 
A polícia considerou suspeita a movimentação financeira e viu indícios de desvio de recursos públicos no fato de o coronel usar dinheiro vivo para custear despesas como cabeleireiro, gastos médicos e roupas. 
Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, os celulares do militar também foram apreendidos. Os investigadores acreditam que da perícia nos aparelhos poderão emergir novas revelações.
Na terça-feira 16, o ex-­pre­siden­te prestou mais um depoimento à PF — o terceiro nos últimos dois meses. Ele foi interrogado sobre a falsificação de seu cartão de vacinação. Disse, em resumo, que não sabia da fraude, reafirmou que não tomou a vacina e, portanto, não haveria motivo algum para emitir um certificado atestando o contrário.

No dia seguinte, Bolsonaro recebeu VEJA em sua nova residência, localizada num condomínio distante cerca de 15 quilômetros do centro de Brasília. Estava acompanhado da ex-­primeira-­dama e munido de uma pilha de documentos — recibos, boletos e cópias de extratos bancários que, segundo Michelle Bolsonaro, mostram que Cid, de fato, pagava as despesas dela, mas o dinheiro usado na operação saia da conta pessoal do então presidente. “Não há nenhum tostão de dinheiro público ou de qualquer outro lugar”, diz ela. 

O casal se considera alvo de perseguição. Na linha de raciocínio deles, o cerco ao ex-ajudante de ordens seria uma tentativa de envolver o ex-presidente em alguma situação constrangedora. Bolsonaro ressalta que antes de deixar o governo já havia sido advertido sobre a possibilidade de prisão. “Para ter um motivo que justificasse isso, eu precisaria ter feito pelo menos 10% do que ele fez. E eu fiz 0%”, acrescenta. O “ele” a quem Bolsonaro se refere é o presidente Lula — “uma figura senil e ultrapassada”. O ex-capitão se recusa a pronunciar o nome do atual presidente.

Na entrevista, da qual Michelle também participa, fica evidente que Bolsonaro evita entrar em polêmica com o STF, especialmente com o ministro Alexandre de Moraes, o relator dos inquéritos que o fustigam há três anos. O ex-presidente afirma que nunca incentivou golpe. Ao contrário. Ele conta que teria colhido inimizades exatamente por exigir que o seu governo “jogasse dentro das quatro linhas”, desconversa quando perguntado quem pregava o contrário disso e classifica como “marginais” os responsáveis pelas depredações do dia 8 de janeiro.  O ex-presidente também ressaltou que o tema fraude nas urnas eletrônicas é coisa do passado e disse acreditar que ainda pode escapar da inelegibilidade. Caso isso aconteça, não descarta a possibilidade de disputar mais uma vez as eleições presidenciais de 2026. A seguir os principais trechos.

O senhor prestou o terceiro depoimento à Polícia Federal nos últimos dois meses. Isso não é constrangedor para um ex-presidente? 
O pessoal está vindo para cima de mim com lupa. Eu esperava perseguição, mas não dessa maneira. Na terça-feira, nem tinha deixado o prédio da PF ainda e a cópia do meu depoimento já estava na televisão. É um esculacho. Todo o meu entorno é monitorado desde 2021. Quebraram os sigilos do coronel Cid para quê? Para chegar a mim.
 
As evidências de que seu ex-ajudante de ordens falsificou certificados de vacinação parecem bem nítidas.
Ao que tudo indica, alguém fez besteira. Não estou batendo o martelo. Da minha parte não tem problema nenhum. Eu não precisava de vacina para entrar nos EUA. A minha filha também não precisava de nada. Estão investigando essas fraudes de 2022, tudo bem. Mas ninguém está investigando aquela outra que aconteceu em 2021. Alguém entrou no sistema usando o endereço “lula@gmail” para falsificar meu cartão de vacina. O cara pode ser ligado ao PT. Por que não estão investigando? São parciais, na verdade.
 
A relação do senhor com o ex-ajudante de ordens era, ao que parece, de muita proximidade.
Quem indicou o Cid foi o comando do Exército da época, mas ele me serviu muito bem. Nunca tive nenhum motivo para desconfiar dele, e não quero acusá-lo de nada. Eu tenho um carinho muito especial por ele. É filho de um general da minha turma, considero um filho.
 
Quais eram exatamente as atribuições dele no governo? 
Ele atendia o telefone, às vezes um parlamentar, organizava algumas missões que eu dava. Também ficava com ele o meu cartão do Banco do Brasil. Ele movimentava minhas contas, pagava as contas da Michelle, mas não participava das decisões do governo, não interferia, não era, como alguns acham, um conselheiro. Agora, com todo o respeito, quebrar o sigilo de mensagens de um ajudante de ordens do presidente da República é… Vai se ter acesso a 90% da rotina do presidente e também de alguns ministros.
 
Existe a chance de aparecer algo comprometedor? 
Quando se fala em comprometedor...
 
(...) 
 
Mas o ex-major trocou mensagens golpistas com um coronel que estava lotado na Casa Civil. Isso revela que o entorno do presidente no mínimo flertava com essa possibilidade, não? 
Desde que assumi, sou acusado de tentar dar um golpe. O que eu fiz desde o começo, e arranjei inimizade por causa disso, foi repetir que “nós temos que jogar dentro das quatro linhas”. Muitos diziam que “os caras lá estão fora das quatro linhas”. Em muitos casos, estavam mesmo. E quais seriam as consequências de se tomar uma medida de força? Como ficaria o Brasil perante o mundo? Resposta: o país iria acabar, virar uma Venezuela mais rápido do que o PT conseguiria com a desgraça econômica que se está pintando no horizonte.
 
(...)

Por que a senhora acha que os ataques são políticos? Percebi que os ataques a mim aumentaram quando levantaram a possibilidade de uma candidatura. Hoje estou no PL porque acredito no propósito, na missão. Estou lá para ajudar o partido do meu marido e porque eles me veem com esse potencial de influenciar outras mulheres. Agora, se no meio do caminho o meu coração arder, eu posso até vir a ser candidata a um cargo do Legislativo.

(...)

AQUI, ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

Publicado em VEJA,  edição nº 2842, de 24 de maio de 2023


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