Revista Oeste
O que há no lote de imagens que tirou o sono e o juízo do ministro da Justiça?
Flávio Dino | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O primeiro lote de imagens lavou a alma dos donos do poder. Bastaram alguns minutos de transmissão ao vivo para que os comandantes do Executivo e do Judiciário enxergassem nas cenas exibidas pela TV muito mais que um surto de vandalismo, muito mais que um crime contra o patrimônio público. Os ataques às sedes dos Três Poderes em curso naquele 8 de janeiro anunciavam o início do golpe de Estado urdido por bolsonaristas derrotados na eleição presidencial.
Era hora de mostrar quem é que manda aos extremistas entrincheirados havia semanas nos arredores dos quartéis de Brasília.
O presidente Lula, acampado em Araraquara, e o onipresente ministro Alexandre de Moraes esbanjaram sintonia na imediata contraofensiva.
A leva inaugural de decretos e decisões monocráticas rebaixou o Distrito Federal a puxadinho do Palácio do Planalto.
Por não ter mantido a ordem no cenário do crime, o governador Ibaneis Rocha foi substituído por um interventor indicado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino.
Acusado de tirar férias na data errada, o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, voltou dos Estados Unidos diretamente para a cadeia.
Empunhando o tresoitão que defende a democracia com tiros
na testa do Estado de Direito, o ministro Alexandre de Moraes abriu outros seis
inquéritos secretos, aumentou o valor das multas, lotou duas cadeias com a
captura de mais de 1,5 mil adoradores de fake news e celebrou a façanha com a
exibição da face generosa.
Com a institucionalização do julgamento por atacado
e a universalização da tornozeleira eletrônica, inventou a meia liberdade.
As coisas pareciam sob controle, até que a comissão parlamentar de inquérito quis saber como fora o 8 de janeiro no Ministério da Justiça e Segurança Pública
O segundo lote de imagens tirou o sossego dos donos do
poder. Divulgadas pela CNN, gravações feitas pelo sistema de segurança do
Palácio do Planalto teriam apenas ampliado os registros visuais do 8 de janeiro
se não incluíssem a desconcertante performance do general Gonçalves Dias.
Instalado pelo amigo Lula na chefia do Gabinete de Segurança Institucional, era
lá mesmo que GDias deveria estar.
Mas para impedir ataques do gênero, não para
caprichar no papel de guia turístico.
Lula, Flávio Dino e Alexandre de Moraes | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Entre uma paulada na janela e um pontapé na relíquia
histórica, os invasores ouvem do general instruções que os ajudarão a
afastar-se em sossego da área conflagrada.
Ele não estava só, informa a
aparição de outro oficial que oferece água aos cansados de guerra. Os dois
militares perderam o emprego.
E as coisas pareciam sob controle, até que a
comissão parlamentar de inquérito quis saber como fora o 8 de janeiro no
Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Primeiro, o ministro negou-se a entregar o material gravado
pelas câmeras de vigilância. Diante da insistência do presidente da CPMI,
deputado Arthur Maia, Flávio Dino recomendou-lhe que encaminhasse a solicitação
à Polícia Federal.
Maia lembrou-lhe de que a PF é subordinada ao Ministério da
Justiça e exigiu a entrega das imagens no prazo de 48 horas.
Dino alegou que
não poderia liberar gravação nenhuma sem a autorização do Supremo Tribunal
Federal. O que há nesse terceiro lote de imagens para tirar o sono e o juízo do
seu guardião?
Dino já admitiu que chegou ao seu gabinete antes que os
ataques terminassem, mas tarde demais para agir.
Avisos não faltaram: entre os
dias 2 e 8 de janeiro, a Abin encaminhou 33 alertas ao GSI e a outros 12 órgãos
vinculados ao sistema de segurança.
No dia 7, dois alertas nível máximo
ressaltaram o risco de ataques violentos.
Em casos assim, deve ser acionado o
Plano Escudo, que estabelece os procedimentos que devem ser adotados pelo GSI
quando o Palácio do Planalto está sob ameaça.
Uma das medidas é a atuação
conjunta das tropas de choque do Batalhão da Guarda Presidencial, do Batalhão
de Polícia do Exército e do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas do Exército.
No dia 8, apenas o Batalhão da Guarda Presidencial estava de prontidão.
O presidente viajou para Araraquara. As tropas permaneceram
nos quartéis. Alguns ministros ficaram em casa.
Outros se instalaram no
gabinete para ver, encostados na janela, a passagem dos manifestantes rumo à
armadilha montada por provocadores especializados na atração de radicais.
As
imagens que atormentam Flávio Dino também mostram a posição dos ponteiros dos
relógios.
Talvez ensinem como se monta um golpe que melhora a vida dos possíveis
golpeados.
Leia também “A Abolição dos Sem-Teto”
Coluna Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário