J. R. Guzzo
O que acaba de ser realizado, na verdade, é uma operação de compra e venda para o presidente arranjar mais votos no Congresso
Mal se completaram oito meses de governo e o presidente da República manda para o público pagante a fatura da sua primeira “reforma ministerial”.
Já?
Para quem quer ficar oito anos no Palácio do Planalto, pelo menos, o
mercadinho de secos e molhados movido com dinheiro do erário parece
estar abrindo cedo demais – nesse ritmo, quanta gente ainda vai ter de
subir no bonde? Não há reforma nenhuma, é claro.
Reforma ministerial é
mudança nas opções, prioridades e projetos do governo – e para isso é
preciso que haja opções, prioridades e projetos.
O que acaba de ser
feito é uma operação de compra e venda para Lula arranjar mais votos no Congresso
– ou a gravíssima “governabilidade”, que serve como absolvição
antecipada para tudo e para todos.
Lembram-se do “projeto de país” que Lula e o PT
prometiam para o Brasil? O “projeto de país” é isso: abrir o Tesouro
Nacional para as gangues partidárias que operam na política brasileira
sob a denominação genérica de “Centrão”.
A
operação, mais uma vez, foi cara e malfeita. O ministro dos Portos, que
em oito meses no cargo não foi capaz de projetar um único metro de
cais, ou de qualquer outra coisa útil, foi demitido e rebaixado para um
ministério que até agora não existia – e do qual ninguém jamais sentiu a
menor falta.
Mais um, além dos 37 que Lula já conseguiu socar em cima
do pagador de impostos? Sim: esse é o 38º.
O nome que inventaram,
acredite se quiser, é “Ministério do Empreendedorismo, do
Cooperativismo e da Economia Criativa”.
O ex-ministro dos Portos, cuja
cadeira foi entregue a um fidalgo do “Centrão”, achou que ficava ruim
ser ministro da “Pequena e Média Empresa”, como se anunciou no começo;
perdeu o cargo que realmente o interessava, esse de chefe dos portos,
mas levou um título mais bonito.
O mais cômico nessa história foi
dizerem que ele tinha “aceito” o novo ministério. É mesmo? E quem
recusa? Se não aceitasse já estaria no olho da rua – só isso.
A ministra dos Esportes, cujo desempenho na função também ficou entre o zero e o menos um, não teve essa escolha: foi mandada embora, simplesmente, sem que o seu nome sequer fosse citado no palavrório oficial. Quem se lembrou dela, no consórcio da esquerda, diz que fez um “grande trabalho”. Qual? E se fez, por que foi demitida?
Parece que tentaram
compensar a dispensa de uma “mulher” fazendo Lula aparecer cercado de
mulheres no palanque do desfile do 7 de Setembro; tudo bem, mas isso não
lhe devolveu o emprego.
Para o seu lugar foi o deputado “Fufuca”, outra
estrela do “centro democrático”.
Eis aí, então, o “novo Brasil” de
Lula. Mais um ministério – e “Fufuca” no governo.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
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