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quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Vaga no STF, eleições e insatisfações pressionam Planalto a fazer reforma ministerial - O Globo

Por — Brasília

A indicação de Flávio Dino ao Supremo Tribunal Federal (STF), as eleições municipais e insatisfações com integrantes do primeiro escalão pressionam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a antecipar as discussões sobre uma possível reforma ministerial, no início de 2024. Além do Ministério da Justiça, a dança das cadeiras pode envolver ao menos sete pastas. Segundo auxiliares próximos ao petista, um dos planos dele é encontrar um lugar na Esplanada para a atual comandante do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR).

Na lista de ministros que podem cair estão Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, Juscelino Filho (Comunicações), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Silvio Almeida (Direitos Humanos), José Múcio (Defesa), Rui Costa (Casa Civil) e Marcio Macêdo (Secretaria-geral), além de Flávio Dino.

Filiada ao PCdoB, partido com apenas sete deputados na Câmara, Luciana quase foi substituída no meio do ano para abrir espaço ao Centrão. A ministra já demonstrou intenção de disputar a prefeitura de Olinda (PE) no ano que vem, motivo pelo qual sua saída pode ser antecipada. Integrantes do ministério afirmam que ela não gostaria de deixar o posto, mas ponderam ser natural a lembrança de seu nome para disputar o comando da cidade pernambucana. Ela foi prefeita de Olinda por duas vezes.

Uma das situações mais delicadas é a de Juscelino Filho. Alvo de investigações da Polícia Federal no Maranhão, o titular das Comunicações se mantém no cargo especialmente pela influência do senador Davi Alcolumbre (União-AP) no Palácio do Planalto e por contar com a solidariedade da bancada de seu partido na Câmara. Deputado licenciado, ele é suspeito de desvio de dinheiro público por meio de emenda parlamentar.

Embora parte do PT pressione Lula pela troca, auxiliares palacianos afirmam que o presidente só mexerá em Juscelino se o próprio União Brasil concordar. Integrantes da legenda, entretanto, admitem a possibilidade de substitui-lo pelo deputado Paulo Azi (União-BA), sondado para a cadeira durante a transição.

Clique aqui, MATÉRIA COMPLETA  - Em Política - O Globo

 


domingo, 10 de setembro de 2023

Reforma ministerial feita por Lula é cara e malfeita - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

O que acaba de ser realizado, na verdade, é uma operação de compra e venda para o presidente arranjar mais votos no Congresso

Mal se completaram oito meses de governo e o presidente da República manda para o público pagante a fatura da sua primeira “reforma ministerial”. Já?  
Para quem quer ficar oito anos no Palácio do Planalto, pelo menos, o mercadinho de secos e molhados movido com dinheiro do erário parece estar abrindo cedo demais – nesse ritmo, quanta gente ainda vai ter de subir no bonde? Não há reforma nenhuma, é claro. 
Reforma ministerial é mudança nas opções, prioridades e projetos do governo – e para isso é preciso que haja opções, prioridades e projetos. 
O que acaba de ser feito é uma operação de compra e venda para Lula arranjar mais votos no Congresso – ou a gravíssima “governabilidade”, que serve como absolvição antecipada para tudo e para todos. 
Lembram-se do “projeto de país” que Lula e o PT prometiam para o Brasil? O “projeto de país” é isso: abrir o Tesouro Nacional para as gangues partidárias que operam na política brasileira sob a denominação genérica de “Centrão”.
A operação, mais uma vez, foi cara e malfeita. O ministro dos Portos, que em oito meses no cargo não foi capaz de projetar um único metro de cais, ou de qualquer outra coisa útil, foi demitido e rebaixado para um ministério que até agora não existia – e do qual ninguém jamais sentiu a menor falta.  
Mais um, além dos 37 que Lula já conseguiu socar em cima do pagador de impostos? Sim: esse é o 38º. 
O nome que inventaram, acredite se quiser, é “Ministério do Empreendedorismo, do Cooperativismo e da Economia Criativa”.  
O ex-ministro dos Portos, cuja cadeira foi entregue a um fidalgo do “Centrão”, achou que ficava ruim ser ministro da “Pequena e Média Empresa”, como se anunciou no começo; perdeu o cargo que realmente o interessava, esse de chefe dos portos, mas levou um título mais bonito. 
O mais cômico nessa história foi dizerem que ele tinha “aceito” o novo ministério. É mesmo? E quem recusa? Se não aceitasse já estaria no olho da rua – só isso.

A ministra dos Esportes, cujo desempenho na função também ficou entre o zero e o menos um, não teve essa escolha: foi mandada embora, simplesmente, sem que o seu nome sequer fosse citado no palavrório oficial. Quem se lembrou dela, no consórcio da esquerda, diz que fez um “grande trabalho”. Qual? E se fez, por que foi demitida? 

Parece que tentaram compensar a dispensa de uma “mulher” fazendo Lula aparecer cercado de mulheres no palanque do desfile do 7 de Setembro; tudo bem, mas isso não lhe devolveu o emprego
Para o seu lugar foi o deputado “Fufuca”, outra estrela do “centro democrático”. 
Eis aí, então, o “novo Brasil” de Lula. Mais um ministério – e “Fufuca” no governo.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
 

terça-feira, 12 de abril de 2022

Quem é Braga Netto, general cotado para vice de Bolsonaro na chapa à reeleição

Jair Bolsonaro afirmou que há "90% de chances" de o general Braga Netto ser vice dele na chapa da reeleição à Presidência

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que já escolheu seu vice na candidatura à reeleição e, apesar de ter afirmado que não adiantaria o nome, deu pistas que apontam para o general de Exército Walter Souza Braga Netto, seu atual ministro da Defesa.

Bolsonaro disse que a reforma ministerial prevista para 31 de março deixará claro seu vice. Para formar uma chapa com Bolsonaro, Braga Netto, que é apontado como um dos ministros mais próximos do presidente, teria que sair do governo.

Jair Bolsonaro afirmou em entrevista à rádio O Liberal, do Pará, nesta segunda-feira (11/04) que há "90% de chances" de o general Braga Netto ser vice dele na chapa da reeleição à Presidência. Caso se confirme, a troca será de um general por outro: o atual vice é Hamilton Mourão, também general de Exército, que deixou a ativa em 2018, filiou-se ao PRTB para concorrer na chapa de Bolsonaro e atualmente é filiado ao Republicanos.

A lei eleitoral exige que ministros de Estado que disputarão a eleição para a Presidência ou Vice-presidência deixassem o cargo seis meses antes do primeiro turno, ou seja, até 2 de abril. Netto não só deixou o cargo antes da data como também se filiou ao PL, o mesmo partido de Bolsonaro.

O presidente afirmou ainda que quer um vice "que não tenha ambições de assumir" seu lugar em um eventual próximo mandato. "Eu posso adiantar para vocês, hoje em dia o vice é de Minas Gerais", declarou. "Obviamente, vocês vão tomar conhecimento de quem vai ser meu vice, apesar de (a definição) só ser em agosto, pelas possíveis saídas de ministro agora dia 31 de março. Não quero adiantar agora o nome dele, o Salles talvez saiba, pode sugerir ou tentar adivinhar", afirmou o presidente.

O presidente se referia ao ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, presente à entrevista. Salles saiu em defesa de Braga Netto. "Dou meu palpite, aliás, não é só o meu palpite, é o meu desejo, que o nosso colega Braga Netto, um grande general, um homem leal ao senhor, competente, sério, e acima de tudo muito discreto e eficiente. Espero que seja ele o mineiro a que o senhor está se referindo".

Ao ser questionado diretamente se o general é seu escolhido, Bolsonaro respondeu: "Vou dar mais uma dica: é nascido em Belo Horizonte. Mais uma dica: fez colégio militar". Braga Netto é de Belo Horizonte.

Denúncias
No início deste mês, o jornal "O Globo" publicou reportagens que apontavam uma série de denúncias durante a gestão de Braga Netto no Ministério da Defesa, em 2021. O periódico afirmou que, na época, a pasta aprovou um pacote secreto no valor de R$ 588 milhões. Dessa quantia, segundo a reportagem, R$ 401 milhões foram destinados a 11 senadores, a maior parte ligada ao governo, e cada um definiu onde o dinheiro seria gasto. Na maior parte das vezes, em seus redutos eleitorais, e sem relação com a área militar.

Procurado pelo jornal, o Ministério da Defesa informou que o programa Calha Norte não leva em consideração a forma como os parlamentares indicam recursos, se as emendas que chegam são impositivas ou de relatoria, "mas, sim, se estão em conformidade com as diretrizes técnicas". O órgão afirmou ainda que "o ministro não interfere na destinação de recursos do Programa Calha Norte". O ministério, porém, não explicou por que apenas 11 senadores tiveram a prerrogativa de enviar recursos via emendas de relator.

Trajetória no Exército
Braga Netto entrou para o Exército em 1975 e atuou no Rio durante grande parte da sua carreira. Foi promovido a general em 2009 e nomeado chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Oeste no mesmo ano.

Colegas de Braga Netto definem o novo ministro como respeitado pela tropa, "durão" e experiente. O general é visto entre seus pares como um nome de "forte liderança" e "bem articulado". Parte da articulação pode ser atribuída aos "estágios" na área diplomática feitos pelo militar.


Braga Netto no Rio
General comandou intervenção no Rio

Quando ainda era coronel, Braga Netto ocupou o cargo de adido militar do Brasil na Polônia, entre os anos de 2005 e 2006. Depois, foi promovido a general de divisão ainda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em novembro de 2009.

Em 2012, passou a ocupar a aditância militar nos Estados Unidos e Canadá — enquanto exercia o cargo em Washington, foi promovido a general de Exército. Pouco depois da promoção, em 2013, foi exonerado para, em maio, assumir a função de diretor de Educação Superior Militar, no Rio de Janeiro.

No mesmo ano, por decreto assinado pela então presidente Dilma Rousseff, o general recebeu o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito Militar. Ainda no Rio, Braga Netto foi o responsável pela segurança dos Jogos Olímpicos de 2016, antes de ser nomeado para assumir o Comando Militar do Leste.

Em 2018, Braga Netto comandou a intervenção federal do governo Michel Temer na segurança pública do Rio de Janeiro e passou a controlar a Polícia Civil, a Polícia Militar, os bombeiros e administração penitenciária do Estado.

Nos pouco mais de dez meses em que o general comandou a segurança pública fluminense, o Estado registrou queda de roubos e aumento das mortes provocadas pela polícia. [quando a polícia tem apoio e espaço para trabalhar a criminalidade cai e mais bandidos são abatidos. É o normal e esperado.] A intervenção acabou em 31 de dezembro de 2018.

"Fizemos uma choque de gestão muito baseado na meritrocracia. Eu praticamente não aceitei pedidos políticos. Se a pessoa tinha mérito, eu colocava no cargo. Se não tinha mérito, eu não colocava no cargo", disse o general em janeiro de 2019, em entrevista à TV Aparecida, sobre seu período no comando da intervenção.

Na ocasião, o general argumentou que houve aumento do "número de pessoas mortas em confronto com a polícia" porque criminosos reagiam às operações policiais, em vez de se entregar.

"Não é que nós demos autorização para matar, nada disso, simplesmente foi a metodologia empregada. Nós passamos a realizar os patrulhamentos em cima das manchas criminais. Um exemplo: eu sabia muito bem que quarta-feira, (às) tantas horas, aumentava o número de roubo de carro, ou roubo de carga, em determinado lugar, havia essa mancha (de crimes recorrentes). Aí você fazia uma operação conjunta (das polícias estaduais e Forças Armadas)", disse ao canal católico.

"O que ocorre é que o bandido no Rio tinha uma política de enfrentamento irracional. Ele estava às vezes cercado, com armamento pesado, e buscava o confronto. Mas a tropa estava adestrada e tinha muita tropa no local, Polícia Militar, Polícia Civil, o que fosse. Nessa postura irracional do bandido, se ele não se entregava, ele acabava morrendo. Essa (categoria de morte) aí realmente aumentou", completou.

Na avaliação do Observatório da Intervenção, iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (CESeC/Ucam), a atuação das Forças Armadas não trouxe melhorias estruturais para a segurança pública do Rio. [esses observatórios estão sempre a serviço dos bandidos e por razões escusas sempre defendem os marginais e minimizam as operações exitosas das polícias. Para eles o ideal é que os policias morram e os bandidos escapem ilesos.]

"Durante esses dez meses de 2018, não foram feitos investimentos significativos no combate aos grupos de milícias e à corrupção policial. A modernização da gestão das polícias também não foi priorizada — a renovação se restringiu à compra de equipamentos", destaca relatório do Observatório ao final da intervenção.

"Ao mesmo tempo, práticas violentas da polícia fluminense continuaram e se agravaram. Em vez de modernizar, reformar ou mudar, a intervenção levou ao extremo políticas que o Rio de Janeiro já conhecia: a abordagem dos problemas de violência e criminalidade a partir de uma lógica de guerra, baseada no uso de tropas de combate, ocupações de favelas e grandes operações", diz ainda o documento.

Governo Bolsonaro
Braga Netto entrou para o governo em fevereiro de 2020, quando foi anunciado como novo ministro chefe da Casa Civil, no lugar de Onyx Lorenzoni. A troca deu mais poder à ala militar do governo, grupo que havia perdido espaço para a ala mais ideológica ao longo de 2019.

Um oficial que serve no Rio descreveu Braga Netto à BBC News Brasil como um militar rígido, mas que não compartilha o pensamento "linha dura" de outros generais como Sérgio Etchegoyen, que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência durante o governo Temer, ou Carlos Alberto dos Santos Cruz, que foi ministro de Bolsonaro até junho e hoje é rompido com o presidente.

Lorenzoni, que está afastado do seu mandato deputado federal (DEM-RS), continuou na Esplanada dos Ministérios, assumindo o comando da pasta da Cidadania, no lugar de Osmar Terra, também deputado gaúcho, mas pelo MDB. Tradicionalmente, a Casa Civil é um dos ministérios mais importantes, atuando na coordenação das demais pastas e na articulação com o Congresso Nacional. No entanto, o órgão vinha sendo esvaziado no governo Bolsonaro desde junho, quando a responsabilidade pela negociação política foi transferida para a Secretaria de Governo, comanda então ministro general Luiz Eduardo Ramos, e a coordenação do PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), responsável por impulsionar obras de infraestrutura por meio de concessões à iniciativa privada, ficou nas mãos do ministro da Economia, Paulo Guedes.

O esvaziamento da pasta deixou evidente o enfraquecimento de Lorenzoni, que no início era homem forte do governo, tendo inclusive chefiado a equipe que coordenou a transição entre a administração Temer e a gestão Bolsonaro, devido ao desempenho considerado ruim na articulação política com o Congresso.

CONTINUE LENDO - Correio Braziliense

*Com reportagem de Mariana Shreiber, da BBC News em Brasília.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Mercado e costumes - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

Não há demagogia que resista a doença, morte, desemprego, queda de renda e de expectativas

As eleições para as Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado cruzam-se com as intenções demonstradas pelo presidente de uma minirreforma ministerial, tendo como pano de fundo as eleições de 2022. Mais importante ainda, como chegará o Brasil até lá, atolado em grave crise fiscal, desemprego, queda do produto interno bruto (PIB) e numa pandemia que não dá sinais de arrefecer? Nada é aleatório na correlação de forças que assim se estabelece.

No que diz respeito à reforma ministerial anunciada, há dois tipos de projetos em questão. Um seria uma reforma pró-mercado, mexendo com os Ministérios do Meio Ambiente, da Economia e das Relações Exteriores; outro seria pró-costumes, mexendo com os Mistérios da Cidadania, do Turismo, a Secretaria de Governo e a recriação do Ministério dos Esportes. Sob outra óptica, o mesmo estaria ocorrendo na disputa pelas duas Casas Legislativas, principalmente na Câmara, com as candidaturas em voga sinalizando para o mesmo cenário: o candidato do presidente adotando uma postura pró-costumes e o do grupo do deputado Rodrigo Maia, pró-mercado. À esquerda caberá escolher entre as duas, guardando a posição de partícipe espectadora. Pode ser decisiva por seus votos, porém perdeu protagonismo do ponto de vista das ideias.

A reforma ministerial pró-mercado estaria voltada para enfrentar os problemas do Brasil, a saber, crise fiscal, de investimentos, desemprego, renda e imagem no exterior. Isto implicaria o presidente ter uma visão de longo prazo, permitindo-lhe, se houver sucesso, a sua própria reeleição. O problema, contudo, é que Bolsonaro não tem visão de longo prazo, nem chega a ter clara noção da gravidade da crise atual, que se deve desdobrar com força no próximo ano. Ademais, isso implicaria uma reorientação do seu governo para o centro, abandonando posições ideológicas e cessando de compreender a política sob a forma da relação amigo/inimigo.

Outro tipo de reforma ministerial estaria voltada para o atendimento da pauta de costumes, como é o caso, por exemplo, do decreto presidencial que libera a importação de armamentos. No meio de uma enorme crise fiscal e sanitária, com pessoas sendo hospitalizadas e morrendo, o presidente preocupa-se com a cloroquina, os armamentos e políticas antivacina como se fossem uma questão de liberdade de escolha. Nesse sentido, suas negociações com o Centrão estão focadas em assegurar uma base parlamentar que lhe permita avançar em propostas desse tipo, para além de lhe assegurar um final de mandato tranquilo do ponto de vista legislativo.

Outra ordem de problemas se apresenta nas disputas pelas presidências da Câmara e do Senado. O presidente decidiu entrar pesado, procurando emplacar pessoas de sua estrita confiança. Na Câmara, seu candidato está afinado com sua pauta de costumes, embora tenha afirmado que também defenderia uma posição liberal, numa tentativa de agradar aos que se sentem relegados. O liberalismo não é porém, para ele, a questão central. Na oposição, a pauta pró-reformas econômicas é prioritária, na contramão do que o governo tem feito, uma vez que este, apesar de seu discurso, não tem avançado nessa área. Esboça-se aqui uma disputa entre posições conservadoras e liberais.

Ressalte-se ainda que a discussão sobre o tipo de reforma ministerial põe em cena os mais diretos interesses partidários por cargos e emendas. Uma reforma ministerial pró-mercado pouco oferece em benefícios, pois os ministérios envolvidos são de caráter técnico, não se adequando muito bem a perfis partidários. Não são, nesse sentido, objeto de interesse. Não é o caso dos Ministérios da Cidadania, dos Esportes e do Turismo, com muitos recursos e se adaptando a pleitos partidários, assegurando aos parlamentares influência eleitoral em seus respectivos Estados. Logo, estão mais propensos a esse tipo de reforma pró-costumes. Note-se, contudo, que o cenário eleitoral de 2022 em muito dependerá da situação econômica do País, que não será boa se nada até lá for feito. A pauta pró-costumes pode se mostrar insuficiente para os objetivos partidários. Não há discurso, não há demagogia que resistam à doença, à morte, ao desemprego, à queda de renda e de expectativas.

No curto prazo, a posição pró-costumes pode render dividendos ao presidente, mas no longo prazo tende a se esgotar na ausência de um efetivo enfrentamento da questão econômica, com a necessária realização de várias reformas, dentre as quais a tributária, a administrativa e a aprovação da PEC emergencial. Ou seja, o presidente Bolsonaro, se mantiver o seu olhar focado em seus ganhos imediatos, traduzindo-se por aproximadamente um terço de apoio do eleitorado, pode chegar exaurido a 2022 e, com ele, o Brasil. O País está sendo testado em sua resistência. De nada adiantam os discursos liberais de sua equipe econômica, se nada for feito na prática. A questão aqui é que as ideias liberais estão sendo politicamente contaminadas, desgastando-se sem se terem realizado. O perigo é que o liberalismo morra sem sequer ter nascido. [somos radicalmente contra o aborto, mas temos que reconhecer que seria bem melhor para o Brasil e a maioria dos brasileiros, se alguns dos atuais políticos tivessem morrido antes de nascer.]

Denis Lerrer Rosenfield, filósofo  - O Estado de S. Paulo 


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Temer quer frente anti-Lula nos ministérios

O Palácio do Planalto vai condicionar a manutenção dos partidos no comando de ministérios ao apoio a um candidato que tenha aval do governo para a disputa à Presidência e seja uma espécie de anti-Lula. A estratégia do presidente Michel Temer é aproveitar a reforma ministerial, em março, para construir ampla aliança de centro. O plano está sendo desenhado para conquistar mais da metade do horário eleitoral na TV e isolar o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na avaliação de auxiliares de Temer, mesmo que Lula seja condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) no dia 24, em Porto Alegre, o nome dele pode estar na urna, em razão de recursos judiciais. Diante dessa perspectiva, o governo se prepara para uma ofensiva política contra a oposição, menos de dois anos após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. No mínimo 13 dos 28 ministros devem deixar os cargos até 7 de abril para disputar as eleições. Temer, porém, quer fazer todas as trocas na equipe em março. A expectativa é de que, até lá, já esteja claro quem será o nome ungido pelo Planalto.

O PP do senador Ciro Nogueira (PI) flerta com uma possível candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas abriu negociações regionais com o PT de Lula, principalmente no Piauí. “Lula foi o melhor presidente para este país, para o Piauí e para o Nordeste”, disse Ciro, no fim de 2017, à TV Meio Norte. “Lula é o meu candidato a presidente.” [Eleitores: lembrem-se da babaquice expelida por esse senador, cujo passado não o recomenda para nada - exceto para ser aliado de Lula, já que tem muito em comum.]
O partido controla Saúde, Agricultura e o titular das Cidades, Alexandre Baldy, é considerado da cota da legenda, embora ainda não tenha se filiado. O presidente da Caixa, Gilberto Occhi, também foi indicado pelo PP.

Incerteza
A cúpula do PR não definiu quem apoiará para a sucessão de Temer, sob o argumento de que o cenário está nebuloso e ainda nem se sabe se a reforma da Previdência será aprovada. O ex-deputado Valdemar Costa Neto, que na prática dirige o partido, mantém ótima relação com Lula, mas também circula no Planalto. “O PR não descarta apoiar Lula”, disse José Rocha (BA), líder na Câmara.

No comando do Ministério dos Transportes, o PR conseguiu retirar o Aeroporto de Congonhas da lista de privatizações. Em troca, ajudou Temer a derrubar a segunda denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República. O governo defende um único concorrente da base e até agora não se empolgou nem com Maia – que tem contrariado o Planalto ao adotar tom pessimista sobre a aprovação da reforma da Previdência nem com a candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Embora Jair Bolsonaro (PSC-RJ) esteja em segundo lugar nas pesquisas, atrás de Lula, a percepção no Planalto é de que a campanha do deputado não vai decolar.

PSDB
Em recente entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Temer elogiou o governador Geraldo Alckmin, que postula a vaga pelo PSDB, disse preferir Meirelles na Fazenda e avaliou que a prioridade de Maia é a reeleição na Câmara.  Antes de entrar em férias, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, teve conversa reservada com Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes. Tucano, Aloysio deve deixar a equipe em março, para concorrer a novo mandato no Senado, e torce por um acordo entre o PSDB e o MDB para a disputa ao Planalto.
“O Michel não quer perder essa relação com o PSDB, mas eu acho que ele é candidatíssimo à reeleição”, afirmou o deputado Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo na Câmara. “O MDB precisa ter candidato próprio para resgatar sua imagem e parar de ficar servindo de muleta para os outros”, disse o deputado Mauro Pereira (MDB-RS).

Enquanto o quadro não se define, Temer enfrenta disputa judicial para manter a nomeação da deputada Cristiane Brasil (RJ), filha do presidente do PTB, Roberto Jefferson, para o Ministério do Trabalho. Ela foi impedida pela Justiça de assumir por causa de ações trabalhistas.  Para a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), os partidos da base “brigam entre si” para definir um candidato porque não têm propostas. “Qual é o projeto que essa gente tem? Cortar despesas sociais, retirar direitos dos trabalhadores e vender o patrimônio público. Alguém ganha eleição com uma 
plataforma dessas?” 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Governo avalia que pode conseguir até 350 votos para aprovar reforma da Previdência



Mínimo necessário é de 308 votos



O governo não conseguiria aprovar, neste momento, a reforma da Previdência, porque não tem os 308 votos necessários para que a matéria passe no plenário da Câmara. Porém, avalia que tem de 320 a 350 votos “alcançáveis, considerando toda a base aliada, ou seja, tem capacidade de convencer esse número de deputados. Esta foi uma das conclusões de um almoço realizado neste domingo no Palácio da Alvorada, do qual participaram, além do presidente Michel Temer, líderes de partidos alinhados ao Palácio do Planalto, vários ministros e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. A avaliação é que os políticos governistas precisam se esforçar mais para garantir o apoio à proposta de emenda constitucional (PEC).

O Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o ministro Gilberto Kassab deixam o Palácio da Alvorada após almoço com o presidente Michel Temer. Foto Aílton de Freitas / Agência O Globo



Segundo um participante do almoço, um dado positivo é que o argumento que o governo vem usando de que é preciso acabar com os privilégios nas aposentadorias dos servidores públicos está dando certo. Essa impressão já começa a ser assimilada pela sociedade.  — O clima é de muita confiança em relação à Previdência. O governo está fazendo um esforço grande para aprovar (a reforma da Previdência) e a avaliação é que a mudança na comunicação está trazendo resultados positivos, porque a rejeição está caindo — disse um dos participantes do almoço.
Ao ser indagado se o governo trabalha com prazo, respondeu: — Isso é indiferente. O que importa é aprovar. [esse 'participante do almoço' ou é idiota ou considera os leitores idiotas.Motivo: qualquer imbecil, até ele, sabe que não aprovando a reforma pelo menos na Câmara em 2017, em 2018, ano eleitoral não aprova nada.

O governo também mente, tenta enganar a população, quando deixa transparecer na propaganda a impressão que o que chama de privilégio de servidores (que na realidade não é privilégio) acaba imediatamente após a reforma.
Os mais bem informados sabem que não é assim. Haverá um período de transição.
São mentiras desse quilate que fazem com que até os que reconhecem a necessidade das reformas e aprovam o governo Temer, fiquem putos quando imbecis tentam enganar a população menos informada.]

Durante o almoço, Temer discutiu com seus convidados o processo eleitoral de 2018, Segundo um interlocutor, foi feita uma avaliação política e a constatação de que os partidos aliados, especialmente os do Centrão, devem continuar unidos, para que o presidente consiga terminar seu governo, juntamente com a consolidação da recuperação da economia e a estabilidade fiscal. - É importante que essas forças continuem juntas. Isso é bom para aumentar o número de deputados no Congresso, fortalecer a base do governo no Parlamento e, mais do que isso, ganhar as eleições - disse Moreira Franco, ministro da Secretaria Geral da Previdência.

MAIS EMPENHO
Logo mais, haverá um amplo jantar na residência de Rodrigo Maia, em que o cardápio também será a reforma previdenciária. Temer, líderes da base aliada e ministros de Estado estarão presentes, para tentarem mapear de forma mais clara as chances de o governo aprovar a matéria. Porém, já está dado que o governo não trabalha com data e que só decidirá ser vai colocar ou não a PEC em votação no plenário da Câmara no fim desta semana.

O vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), disse ao GLOBO que o presidente da República pedirá durante o jantar mais empenho dos líderes dos partidos que compõem a base aliada. Temer se dirigirá, principalmente, àqueles que têm se posicionado abertamente contra a proposta.  — A reunião será uma DR (expressão que significa discutir o relacionamento). É preciso que os líderes dos partidos da base se empenhem mais — disse Mansur.
Já o líder da Maioria no Congresso, Lelo Coimbra (PMDB-ES), afirmou que nomeações e distribuição de recursos são importantes nesse processo, mas já vêm ocorrendo naturalmente, desde a derrubada da denúncia contra Temer feita pela Procuradoria-Geral da República. Também ajuda a reforma ministerial.

O Globo