Estava imaginando o que passou pela cabeça de um cidadão cubano quando
tomou conhecimento da lista de convênios que Lula e sua comitiva
assinaram com o governo de seu país na recente visita a Havana, espécie
de Jerusalém do comunismo decrépito.
Há alguns
anos, época em que muito debati com representantes dos partidos de
esquerda, em especial membros de um muito ativo movimento de
solidariedade a Cuba, ouvi deles que no Brasil existem miseráveis ainda
mais miseráveis do que em Cuba.
Eu os contestava dizendo que ninguém
desconhecia a pobreza existente aqui, mas era preciso observar uma
diferença essencial entre a situação nos dois países.
Aqui, os pobres
convivem com carências alimentares por falta de meios para adquirir
alimentos;
em Cuba, mesmo que o povo dispusesse dos meios, não teria o
que adquirir porque a economia comunista, como se sabe, é improdutiva.
Esse é um
dos motivos, dentre muitos outros, para que ninguém caia na balela de
que o comunismo é bom para “acabar com a pobreza”. [acabar com a pobreza, de forma direta, discordamos; mas, acabar com os pobres, os comunistas possuem programas de fome PROGRAMADA, tipo grande marcha de Mao, o holodomor e outros que são extremamente eficientes em reduzir em milhões o número de pores na região 'premiada'.]
O que aconteceu com o
setor açucareiro dá excelente exemplo.
No final dos anos 1960, a URSS
se dispôs a comprar 13 milhões de toneladas anuais de açúcar cubano, a
partir da safra 1969/1970.
O país produzia entre três e quatro milhões
de toneladas, com tendência decrescente. Muitas atividades da ilha foram
suspensas e comunistas do mundo todo foram trabalhar naqueles
canaviais. Conseguiram sete milhões de toneladas.
Trinta anos
mais tarde, quando fui a Cuba pela segunda vez, a safra 2002/2003 fora
tão escassa que Cuba importava açúcar!
Depois, a produção andou pela
casa dos dois milhões de toneladas e no ano passado bateu em meio
milhão.
A história do açúcar é a história da balança comercial e do
consequente déficit cambial cubano.
Imagine
então um cidadão cubano sendo informado pelos órgãos de divulgação do
estado de que seu país firmara acordo com o Brasil sobre trocas de
tecnologia e de cooperação técnica em agricultura, pecuária,
agroindústria, soberania e segurança alimentar e nutricional, mudas,
bioinsumos e fertilizantes, agricultura de conservação, agricultura
urbana e periurbana; produtos alimentares prioritários para consumo
humano e animal, reprodução de espécies agroalimentares prioritárias;
uso eficiente da água, cadastro e gestão da terra e abastecimento
agroalimentar. E mais biotecnologia, bioeconomia, biorrefinarias,
biofabricação, energias renováveis, ciências agrárias, clima,
sustentabilidade, redes de ensino e pesquisa (*).
Não sei se
está previsto, mas se em tudo isso e em outros convênios também
firmados, não ligados à produção de alimentos, o Brasil enviar cheque,
pode escrever aí: vem charuto.
Condensado de matéria da Agência Brasil – EBC, íntegra em https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-09/brasil-assina-acordos-de-cooperacao-em-varios-setores-com-cuba .
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A
Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.
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