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domingo, 27 de janeiro de 2019

O paciente

Bolsonaro quer abreviar o período de repouso, após cirurgia de retirada de colostomia, o que não é recomendado pelos médicos; pretende montar um “gabinete presidencial” no próprio hospital


Inspirado no livro de investigação médica O paciente (Editora Cultura), do historiador Luís Mir, o filme de Sérgio Rezende sobre a morte de Tancredo Neves, o presidente da República que não chegou a tomar posse na redemocratização do país, é uma boa pedida para o fim de semana. Mostra o que não deve ser feito com um paciente quando ele é o mandatário da nação. Isto é, dar mais relevo às contingências políticas e ao seu papel na História do que ao tratamento médico adequado para a enfermidade que o acomete.

É óbvio que a referência ao filme decorre do fato de que o presidente Jair Bolsonaro será internado hoje, no Hospital Alberto Einstein, em São Paulo, para ser operado amanhã bem cedo. O objetivo é a retirada da bolsa de colostomia implantada devido à complexa cirurgia pela qual passou em setembro, depois de ser esfaqueado durante ato de campanha eleitoral em Juiz de Fora. O episódio dramático comoveu o país e teve um papel decisivo na eleição. A cirurgia está programada desde dezembro, quando deveria ter sido realizada. Durante dois dias, o vice-presidente, Hamilton Mourão, assumirá o comando do Palácio do Planalto. Sua interinidade durante a recente viagem de Bolsonaro a Davos, na Suíça, mostrou que está muito à vontade no cargo.

Bolsonaro goza de excelente situação clínica. Tem demonstrado até grande vigor físico, apesar das limitações impostas pelo colostomia, haja vista a sua carregada agenda presidencial. Segundo o porta-voz da Presidência, general Otávio Rego Barros, após a cirurgia, “os médicos indicam e iluminam a necessidade de restrito descanso de 48 horas”. Mourão já anunciou que deverá comandar uma reunião do conselho de governo na próxima terça-feira, no Palácio do Planalto. Bolsonaro viaja acompanhado da primeira-dama, Michelle, do ministro Augusto Heleno (GSI) e do próprio Rêgo Barros. Vai direto do aeroporto para o hospital.

Bolsonaro e seus assessores mais próximos tentaram abreviar o período de repouso absoluto, o que não é recomendado pelos médicos, e ainda pretendem montar um “gabinete presidencial” no próprio hospital. Ao contrário de Tancredo, que escondeu a doença enquanto pôde, Bolsonaro sempre tratou com transparência a sua real situação de saúde. Além disso, o contexto é completamente diferente: Tancredo se elegeu num colégio eleitoral, desafiando o regime militar; Bolsonaro foi vítima de uma tentativa de homicídio em plena campanha eleitoral, por muito pouco não morreu, e foi eleito pelo voto direto.

Caso Tancredo
O filme, como o livro de Mir, é pedagógico. O drama de Tancredo começou três dias antes da posse, quando sua saúde se tornou muito frágil e a capacidade de sobreviver até a cerimônia de posse ficou ameaçada. Othon Bastos faz uma interpretação esplendorosa, com a grande atriz Esther Góes no papel da primeira-dama Risoleta. Os atores Otávio Müller, Leonardo Medeiros, Eucir de Souza e Paulo Betti interpretam a confusa equipe médica, que se deixa pressionar pelos políticos, pela fogueira de vaidades e pelo estrelismo individual.

A grande contradição exposta no filme é o tratamento dado ao Tancredo paciente versus o dedicado ao Tancredo presidente, dois pesos e duas medidas que fazem a diferença. O Paciente denuncia erros de diagnóstico, picuinhas e muito ego à margem da ética profissional. Instala-se uma tremenda crise no centro cirúrgico, com desfecho trágico. Nada a ver com a condução dada ao caso de Bolsonaro até agora, com destaque para a equipe médica da Santa Casa de Juiz de Fora, que o salvou da morte. Os médicos dizem que o período de recuperação deve durar dez dias. A Presidência montou uma estrutura em São Paulo para que Bolsonaro receba seus ministros e possa “estabelecer governo efetivo e eficaz”, a partir do terceiro dia de pós-operatório. É aí que está o problema: o mais sensato seria Mourão permanecer como presidente interino até a alta hospitalar. Durante a viagem a Davos, o vice-presidente provou que pode exercer a interinidade sem provocar abalos sísmicos no governo.

Renan e Simone
Líder do MDB, Simone Tebet (MS) conta apenas com os votos dos senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Dario Berger (SC) na sua bancada, de um total de 13 senadores, para disputar a Presidência do Senado. Os demais estão com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que ainda dissimula o jogo, mas é candidatíssimo ao cargo, pela quinta vez. Simone anunciou, porém, que pretende disputar o comando da Casa mesmo que seu nome não seja apoiado pela maioria dos emedebistas. Dos 54 senadores recém-eleitos — de um total de 81 —, apenas 14 são novatos; os demais são políticos escolados. Além de Renan e Simone, Álvaro Dias (Pode-PR), Ângelo Coronel (PSD-BA), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Esperidião Amin (PP-SC), Major Olímpio (PSL-SP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) sonham com o comando da Casa. Hoje, Renan teria mais de 45 votos entre os pares. Para enfrentá-lo e reverter a situação, a oposição teria que chegar a um candidato único. A aposta do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, é Davi Alcolumbre, não é Simone. Meteu a mão nessa cumbuca como um macaco novo.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB


sexta-feira, 3 de junho de 2016

Dilma e a Operação Retorno: com quem, para que e até quando?




O pedido de impeachment de Dilma Rousseff nasceu como vingança de Eduardo Cunha e por  um bom tempo não andou porque Michel Temer não se viabilizava como alternativa. Só pegou embocadura quando o vice saiu em campo, armou o rompimento do PMDB com o Planalto, negociou com o Congresso e conquistou as graças do PIB com o documento “Uma ponte para o futuro”. Da mesma forma, a hipótese de volta de Dilma ao cargo só deixará de ser muito remota quando houver sinais concretos de articulação em torno do cenário que virá depois. As forças políticas que bancarem a operação retorno terão que dizer como, com quem, para quê e até quando ela governará.

Não serão, portanto, dois votos para lá, dois para cá, que irão definir, de forma furtiva ou inesperada, os destinos do país na votação final do impeachment no Senado. Nos últimos dias, os aliados de Dilma se animaram e os neoplanaltinos se apavoraram com declarações de senadores como Cristovam Buarque (PPS-DF), Acyr Gurgacz (PDT-RR) e Romário (PSB-RJ), entre outros, de que, diante dos rumos que vêm tomando o governo Temer, podem mudar de voto para absolver a presidente no julgamento final, viabilizando sua volta. Afinal, na primeira rodada Temer obteve 55 votos, apenas um a mais do que o necessário para tornar efetivo o hoje presidente interino.

Com isso, o Planalto passou a cortejar esses senadores, enquanto os aliados de Dilma iniciavam ofensiva para virar o jogo no Senado acenando com futuros acordos. Bom para eles. Só que, no caso em questão, dificilmente as coisas vão se resolver assim, no varejo de um ou outro voto.  Há uma série de requisitos para que a articulação em torno da volta de Dilma ao Planalto seja bem sucedida, a começar pelo interesse do PT e do ex-presidente Lula na causa. Até agora, temos visto a presidente afastada lutando como guerreira, cavando diariamente espaços na mídia e buscando apoio na sociedade para denunciar o que considera um golpe. Mas Dilma parece sozinha, tendo a seu lado uns poucos ex-ministro que a acompanham nas agendas ou gravam vídeos para Facebook com criticas ao novo governo.

Lula faz uma reunião aqui, outra ali, chama senadores para conversar, manda dizer que vai percorrer o país denunciando o golpe... Mas tudo ainda a portas fechadas. Já vimos esse filme, e ele não conseguiu evitar a autorização para abertura do impeachment nem na Câmara e nem no Senado. Mas todos sabem que, ainda que o ex-presidente ande acabrunhado com as investidas da Lava Jato contra ele, temendo mesmo ser preso, a única chance de restaurar o governo da petista Dilma passa por ele.

Se o criador não sair a campo para salvar a criatura, quem se animará a fazê-lo? Se Lula não for à luta e mostrar a cara, não vai convencer ninguém de que quer a volta da sucessora ao Planalto e que isso é politicamente viável. Ao contrário, alimentará as intrigas de que prefere Dilma fora, o que lhe permitirá passar a mão na bandeira da oposição e construir a estratégia para 2018.

Da mesma forma, dificilmente o PT de Dilma conseguiria agregar em torno de sua volta outras forças políticas sem um compromisso para o futuro. Diversos senadores que admitem mudar de voto a favor da presidente afastada não querem nem Temer, nem Dilma. São favoráveis à realização de novas eleições presidenciais.  Assim como boa parte dos brasileiros nas pesquisas, esse senadores não acreditam que Dilma seria capaz de reunir as condições necessárias para governar numa hipotética volta, seja pelo desgaste político no Congresso, seja pela falta de apoio popular. Ainda que divida o PT e aliados, a questão da nova eleição – autorizada por  um plebiscito – teria que fazer parte do pacote na negociação, com todas as complicações que poderia acarretar. No mínimo, mais alguns meses de incerteza no país.

Não há solução fácil. O desfecho, em qualquer hipótese, vai depender da capacidade de articulação de interesses diversos – e, no momento, Michel Temer, com quilometragem nas negociações políticas e a caneta na mão, tem melhores condições de jogo. Só que o peemedebista está tendo mais dificuldades do que se esperava para governar. Fez escolhas complicadas para o Ministério, constatou que a Lava Jato continua desembestada como um caminhão descendo a ladeira na banguela e continua longe de conquistar a simpatia da população. Descuidou-se dos pleitos e movimentos da sociedade. 

Sua chance de se  tornar presidente definitivo passa por dois decisivos fatores: 1) a capacidade de se blindar da Lava Jato, o que não depende só dele
2) a economia, ou seja, de convencer o país de que a competente equipe que montou para tocar a área vai dar um jeito nas coisas  antes que ela dê de fato.

Nos próximos dois meses, tudo isso vai ficar claro. Será mais um agosto daqueles.

Fonte: Helena Chagas

[Dilma não volta; além de ser condenada no Senado pelos crimes de responsabilidade que cometeu,  por no mínimo 59 votos, a Afastada ainda tem contra seu eventual retorno - diante de uma impossível absolvição - sua notória incompetência.
Quem vai querer a Afastada governando o Brasil?
Só um ou outro jornalista que devido o afastamento de Dilma perdeu o emprego.]

terça-feira, 7 de julho de 2015

Aécio reage à entrevista destrambelhada de Dilma à Folha



Leia a íntegra da nota divulgada pelo senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB:

O discurso do golpe que vemos hoje assumido pela presidente da República, e repetido pelos seus ministros e pelos petistas, nada mais é do que parte de uma estratégia planejada para inibir a ação das instituições e da imprensa brasileiras no momento em que pesam sobre a presidente da República e sobre seu partido denúncias da maior gravidade.
Para o PT, se o TCU identifica ilegalidades e crime de responsabilidade nas manobras fiscais autorizadas pela presidente da República, trata-se de golpe. Para o PT, se o TSE investiga ilegalidades na prestação de contas das campanhas eleitorais da presidente da República, trata-se de golpe.

Se a Polícia Federal e o Ministério Público investigam crimes de corrupção praticados por petistas, para o PT trata-se de golpe. Tudo que contraria o PT, e os interesses do PT, é golpe! Na verdade o discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade em uma democracia. O discurso golpista do PT tem claramente o objetivo de constranger e inibir  instituições legítimas, que cumprem plenamente seu papel. Os partidos de oposição continuarão atentos e trabalhando para impedir as reiteradas tentativas do PT para constranger e inibir a autonomia e independência das instituições brasileiras.

Senador Aécio Neves
Presidente do PSDB