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sábado, 13 de abril de 2019

Rumo ao segundo Israel? Netanyahu rompe com o consenso sionista que se estendia da esquerda à direita


A reeleição de um líder político deve, normalmente, ser examinada sob o registro da continuidade. A regra não se aplica ao triunfo de Binyamin Netanyahu nas eleições gerais israelenses. Na campanha, o primeiro-ministro prometeu anexar as colônias israelenses na Cisjordânia e declarou que "Israel não é um Estado de todos os seus cidadãos". À luz do "Deus de Trump" (apud Ernesto Araújo), Netanyahu avançou os sinais vermelhos sempre respeitados pela corrente principal do sionismo. Nesse passo, ameaça levantar a âncora que prende Israel à rocha da democracia.

A maior vitória militar de Israel trouxe com ela um desafio de natureza existencial. Depois da Guerra dos Seis Dias (1967), o Estado judeu converteu-se em potência ocupante dos territórios palestinos (Jerusalém Oriental, Cisjordânia, faixa de Gaza). O rápido crescimento demográfico palestino descortinou a perspectiva de configuração de uma maioria populacional árabe no conjunto geopolítico Israel/Palestina. O exercício da soberania sobre uma maioria destituída de direitos políticos terminaria por corroer os fundamentos democráticos de Israel. O Estado judeu teria que escolher entre a democracia e a ocupação.

Os Acordos de Oslo (1993) surgiram como solução para o dilema. A paz pela partilha da Terra Santa em dois Estados não só atenderia à demanda nacional palestina como protegeria o caráter judeu e democrático de Israel. O fracasso dos acordos de paz recolocou o dilema. Netanyahu oferece, agora, sua própria solução: a ocupação permanente, a renúncia à democracia, a refundação de Israel como Estado baseado na discriminação étnica oficial. A falência dos Acordos de Oslo foi obra conjunta dos fundamentalistas palestinos do Hamas e da direita israelense polarizada pelo Likud. Mas Ariel Sharon, o "falcão" do Likud, conservou a porta aberta para a solução dos dois Estados ao promover a retirada israelense da faixa de Gaza (2005).

Sharon reconhecia, por meio do desengajamento, que só um Estado, uma nacionalidade e uma cidadania para os palestinos assegurariam a sobrevivência do Israel democrático fundado em 1948. Netanyahu rompe, hoje, com o consenso sionista que se estendia da esquerda à direita. Depois de anos de sabotagem tácita da retomada de negociações de paz, a prometida anexação de extensas áreas da Cisjordânia equivale a uma sentença de morte para a solução dos dois Estados. Sob o amparo de Trump, que acaba de reconhecer a soberania israelense sobre o território sírio das colinas de Golã, o chefe de governo de Israel ameaça inviabilizar um futuro Estado palestino.

Israel não é um, mas dois. Historicamente, é o Estado-nação do povo judeu. Legalmente, é um Estado de todos os seus cidadãos. A alma histórica expressa-se na Lei do Retorno: a concessão de cidadania a qualquer judeu que imigrar para Israel. A alma legal exprime-se na Corte Suprema, que não distingue os direitos de cidadãos judeus dos direitos de cidadãos não judeus. As duas almas convivem em perene tensão, formando as faces paradoxais do Estado judeu. Netanyahu almeja eliminar a tensão pela supressão do princípio da igualdade perante a lei.

O conceito de que "Israel não é um Estado de todos os seus cidadãos" abre a fresta por onde podem passar iniciativas já em curso legislativo como a remoção da cidadania de não judeus "desleais" ao Estado. No limite, a ruptura do princípio da igualdade legal propiciaria a retirada em massa da cidadania dos árabes israelenses, uma violação flagrante dos direitos humanos. A ideia escandalosa circula entre correntes supremacistas judaicas, como o Otzma Yehudit (Poder Judaico), que transitam dos subterrâneos para as cercanias do governo israelense.

Netanyahu é um refundador pós-sionista. O Israel que ele pretende reinventar renega os valores básicos do Estado proclamado por Ben Gurion em 1948.

Por: Demétrio Magnoli, sociólogo, autor de diversas obras e doutor pela USP - Folha de S. Paulo

segunda-feira, 25 de março de 2019

Trump diz que Colinas de Golan pertencem a Israel. NÃO PERTENCEM


Ao lado do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu nesta segunda-feira, 25 as Colinas do Golan como território israelense, na contramão da política externa americana para a questão nas últimas décadas.

[atualizando: antes mesmo do reconhecimento efetuado por Trump, Israel já estava bombardeando com dezenas de foguetes a Faixa de Gaza em resposta a um alegado  ataque com UM foguete feito contra território ocupado por aquele País;
como consequência do ataque israelense dezenas de civis palestinos, desarmados, serão atingidos, com mortes e feridos.]
O anúncio foi feito em meio a um ataque  com foguetes contra Israel atribuído ao Hamasque obrigou Netanyahu a encurtar a visita aos EUA e às vésperas das eleições gerais em Israel. O movimento islâmico nega a autoria do lançamento.
As Colinas do Golan pertencem à Síria e foram ocupadas pelos israelenses na Guerra dos Seis Dias, em 1967, juntamente com a Península do Sinai, que seria devolvida ao Egito, nos anos 70, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, a última desocupada em 2005. O Golan foi formalmente anexado a Israel em 1981. No entanto, a ONU diz que Israel deve se retirar dos territórios.  

"Isso estava sendo preparado há muito tempo", afirmou Trump, ao lado de Netanyahu na Casa Branca."Isso deveria ter acontecido há décadas."
"Sua proclamação vem no momento em que Golã é mais importante do que nunca para nossa segurança", respondeu o premiê israelense.
Síria e Rússia reagiram. Enquanto Damasco acusou os Estados Unidos de atacarem sua soberania, Moscou disse temer "uma nova onda de tensões" no Oriente Médio.

Histórico do status das Colinas do Golan
Historicamente, o governo americano e as Nações Unidas dizem que o território israelense e as fronteiras de um futuro Estado palestino devem ser definidas por meio de negociações. Após os Acordos de Oslo, de 1992, que instituíram a Autoridade Palestina sobre áreas da Cisjordânia, no entanto, o processo não avançou.

No governo do presidente Barack Obama, as negociações fracassaram de vez, após anos de idas e vindas. Com um discurso agressivo, Trump pretende reiniciar as negociações e encarregou seu genro, Jared Kushner, de iniciar o processo, até agora sem avanços práticos.  Desde a anexação do Golan, aumentou a instalação de colonos israelenses no território, o que tem provocado o protesto da Síria, de líderes palestinos e de países árabes em fóruns internacionais.
“O que o amanhã trará? Instabilidade e mais derramamento de sangue”, disse na semana passada o secretário-geral da Organização para Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, veterano negociador de um acordo de paz com os israelenses.


 AP - Associated Press