Há cinco anos, dos 12 países da América do Sul, só três eram governados por partidos de centro ou à direita
Dois fatos políticos registrados na América do Sul nos últimos dias
mostram com clareza como o ambiente político mudou na região,
confirmando uma guinada à direita que vem se processando desde 2015. E
também como a [agonizante] esquerda brasileira está atônita diante dessas mudanças. Dez anos antes, a maioria dos países da América do Sul era governada
pela esquerda. À posse contestada pela ampla maioria dos países
ocidentais de Nicolas Maduro, compareceram apenas quatro presidentes da
América Latina: da Bolívia, Evo Morales; da Nicarágua, Daniel Ortega; de
Cuba, Miguel Díaz-Canel; e de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén.
Isolado na região, Maduro pode contar com o PT, que enviou sua
presidente, Gleisi Hoffman. Segundo ela, a presença era um aval de que
as eleições venezuelanas foram legítimas. A decisão de enviar a
presidente do partido a Caracas para prestigiar a posse de Maduro mostra
que o PT não aprendeu nada com a derrota de 2018, e está completamente
fora da realidade. O partido respeita a eleição na Venezuela, mas diz que a eleição no
Brasil não deveria ser validada, e nem participou da posse do Bolsonaro,
porque não o reconhece como presidente eleito legitimamente. Considera,
depois de ter participado de todos os atos da campanha presidencial,
que a eleição sem Lula é um golpe.
Porém, dois adversários de Maduro foram presos sem julgamento durante a
campanha, e a eleição foi considerada fraudulenta por diversos
organismos internacionais que a acompanharam. A fuga e a captura do italiano Cesare Battisti na Bolívia por forças
policiais da Interpol e da Itália explicitaram falhas da Polícia Federal
brasileira, que não acompanhou o terrorista depois que o então
presidente Temer determinou a extradição, e não conseguiram encontrá-lo.
Mas o fato concreto é que ele foi expulso da Bolívia e já está preso em
Roma. Caso passasse pelo Brasil antes de ir para a Itália, estaria
valendo a extradição, e a pena dele seria de 30 anos no máximo; saindo
direto da Bolívia, pegará prisão perpétua por quatro assassinatos,
conforme condenação da Justiça italiana. O presidente Evo Morales está usando uma nova tática, não cedeu a
pressões ideológicas e expulsou Battisti, claramente para agradar o
presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que estava muito empenhado na
extradição do italiano.
Já os partidos de esquerda brasileiros lamentaram a prisão do
terrorista, que foi comemorada na Itália por partidos políticos de
vários espectros políticos, da direita à esquerda. O PSOL considerou uma
“covardia” de Morales ter expulsado Battisti. O ex-ministro da Justiça
José Eduardo Cardoso disse que a extradição pelo Brasil, no governo
Lula, deveria prevalecer. [Cardoso, seu desorientado, Lula está preso - é um ladrão.] Com a queda do bolivarianismo em vários países da América do Sul, o
ambiente político mudou muito, e Morales, que depende da compra do seu
gás pelo Brasil, precisa mudar também, para não ficar isolado.
A emergência de uma direita politicamente forte no mundo, culminando em
nossa região com a eleição de Jair Bolsonaro, leva a esquerda a perder
força na América do Sul, com a maioria dos países sendo governados por
partidos de direita, revertendo uma situação geopolítica. Há cinco anos,
dos 12 países da região, (Argentina, Bolívia Brasil, Chile, Colômbia,
Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela), só três
eram governados por partidos de centro ou à direita: o Chile, de
Sebastián Piñera, o Paraguai, de Federico Franco, e a Colômbia, de Juan
Manuel Santos.
Dos governantes de esquerda de então, vários estão presos ou sendo
processados por corrupção, como Rafael Correa, do Equador, Cristina
Kirchner, da Argentina, Lula, do Brasil, Maduro da Venezuela, entre
outros. E o escândalo da Odebrecht foi exportado pelo governo Lula para
diversos países da América Latina: Argentina, Brasil, Colômbia,
República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru,
Venezuela.
Quando os novos presidentes da Colômbia, Ivan Duque, e do Paraguai,
Mário Abdo Benitez, tomaram posse em agosto do ano passado, e Temer
governava o Brasil, mais da metade dos países da região estava sendo
governada por políticos de centro ou à direita. Desde 2015, aconteceram
vitórias na Argentina (Mauricio Macri), Peru (Pedro Pablo Kuczynski, que
caiu por corrupção e foi substituído por Martín Vizcarra, da mesma
tendência política), Chile (Sebastián Piñera), Paraguai (Mario Abdo
Benítez). Isto é, dos dez países politicamente relevantes na América do
Sul, apenas Maduro e Morales são da esquerda. [só que a Venezuela é de relevância negativa - país falido, acabado, miséria absoluta - e Morales busca abrigo nas asas do Brasil - mas, espera-se que Bolsonaro para começar a conversar exija que o boliviano devolva as refinarias que expropriou da Petrobras.]
Merval Pereira - O Globo