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domingo, 5 de junho de 2016

Faroeste digital

Metade dos tuiteiros que disparavam os xingamentos mais execráveis contra mulheres era, também, mulher


Era inevitável. Antes mesmo da investigação sobre o estupro da adolescente de 16 anos em uma favela da Zona Oeste do Rio tomar qualquer rumo, o caso adquiriu uma segunda vida. Virou letra de funk, com sua variante de letras chulas de abatedouro machista e degradação da vítima. Também surgiram garotas da comunidade portando cartazes de apoio aos acusados, em manifestação seis dias após o estupro.

Na enxurrada de comentários postados nas redes sociais, nem todas foram de empatia, dor e solidariedade com a jovem. Nem era de se esperar que o fossem. O que chama atenção, porém, é o volume de vozes femininas — ou pelo menos que se identificam como mulheres nos posts — a hostilizar e xingar cruamente a adolescente. [somos radicalmente contra o estupro, tanto que defendemos para o estuprado não reincidente a pena de castração química por um período mínimo  de dez anos e no caso de reincidente castração física com extirpação completa dos testículos.
Também consideramos um absurdo que se atribua a mulher, a vítima, o estupro.
Mas, toda regra tem exceção. E o caso da jovem, apesar de condenável e repugnante, não desperta pela conduta desregrada da vítima nenhum sentimento de solidariedade a mesma. Punição rigorosa para os culpados mas nenhuma solidariedade a vitima - este é o nosso entendimento.
REGISTREM:
-  vítima usuária de ecstasy, lança-perfume, entre outras drogas;
-  mãe aos 13 anos;
- dormindo costumeiramente fora de casa, em companhia do homem que aparecesse;
- adepta de relacionamento íntimo com traficantes e outros bandidos da pior espécie e  frequentadora de bailes funk; e, resumindo: uma devassa.
Com este tipo de vida ela não é responsável por estuprada mas de forma proposital e irresponsável atrai atenção de criminosos em potencial para estrupá-la.
Não é culpada, mas adota um comportamento que facilita em muito os criminosos adeptos da prática do estupro.]  

A menor empunha uma arma em foto divulgada por traficantes: atração por bailes funk, drogas e más companhias(VEJA.com/VEJA) 

 Pelo jeito, revela um estudo divulgado dias atrás na Inglaterra, trata-se de uma tendência global. O Demos é um conceituado instituto apartidário de análises, pesquisa e formulação de políticas públicas. Fundado em Londres há mais de duas décadas por um marxista, isso não o impede de ter conselheiros até mesmo do governo David Cameron.

Seu Centro de Análises de Mídia Social (Casm) é especializado em pesquisas avançadas sobre o universo digital. A mais recente coletou e analisou 1,5 milhão de tuítes contendo as palavras “cachorra”, “puta” e “estupro” postadas ao longo de três semanas (23 de abril a 15 de maio).  Em seguida, usando algoritmos como filtros, foram separadas as postagens intencionalmente agressivas das que usavam os termos em vários outros contextos. 

Resultado da pesquisa: metade dos disseminadores da linguagem misógina mais abusiva no Twitter era mulher e garota. À deriva do seu meio social? Não, diz a pesquisa, inseridas.
O resultado confirma levantamento anterior feito dois anos atrás nos mesmos moldes, quando metade dos tuiteiros que disparavam os xingamentos gratuitos mais execráveis contra mulheres era, também, mulher.

Em nota que acompanha a divulgação da pesquisa, Alex Krasodomski-Jones, um de seus autores, encontra alento no reconhecimento político e preocupação pública (pelo menos na Inglaterra) quanto ao faroeste digital que atinge sobretudo as mulheres.  “Já se tornou evidente que, enquanto o mundo digital criou novas oportunidades para o debate público e a interação social, ele também construiu novos campos de batalha para os piores aspectos do comportamento humanos. Captamos apenas um instantâneo superficial do que pode ser uma experiência muito pessoal e traumática para mulheres”, diz ele. Sobretudo quando o tiroteio vem de todos os lados.

O estudo focou no Twitter porque a empresa se dispôs a colocar seus dados à disposição dos pesquisadores, mas sendo a misoginia prevalente em toda a mídia social, seria importante que os gigantes da indústria também se envolvessem na discussão, acredita Krasodomosky-Jones. “Não se trata de policiar a internet, e sim de lembrar que em geral somos piores cidadãos on-line do que offline”, argumenta ele.

Dawn Foster é uma jornalista inglesa voltada para temas sociais. Em recente artigo para o diário “The Guardian”, ela conta que, depois de publicar um artigo sobre abuso sofrido ao trafegar pela cidade de bicicleta, o primeiro comentário on-line que recebeu dizia “Se eu vê-la na rua algum dia, espero que leve um tiro”.

Ao longo dos dois anos seguintes, ela ocupou um cargo no jornal que considera ter sido o pior emprego de sua vida foi moderadora on-line do jornal. Os comentários não publicáveis eram tão tóxicos, racistas, homofóbicos e sexistas que lhe tiravam o sono — isso, num jornal liberal como o “Guardian”. E quando os autores disponíveis para um chat eram mulheres, a intensidade dos insultos recebidos quintuplicavam.

Não espanta, assim, o corolário de impropérios e ofensas que não cessam de brotar nas redes à menção da jovem estuprada no Morro da Barão.  O importante, para a saúde e confiabilidade da mídia neste caso, é que nas próximas semanas, meses, anos — ou o tempo que for necessário — não haja trégua na apuração miúda de um caso que tanto comoveu o país. Nenhum canto deve permanecer obscuro. A dubiedade serve apenas à manutenção da treva.

Para a consagrada escritora feminista Jessica Valenti, autora do recém-lançado “Sex Object, a Memoir”, que trata do dilema político universal das mulheres, “somos pessoas doentes sem termos qualquer doença”. Nem a inabilidade para ser vulnerável nem a recusa a ser vítima protegem a mulher, apenas encobrem o que está torto.

Para ler mais, incluindo fotos, clique aqui
 

Fonte: Dorrit Harazim,  jornalista - O Globo

domingo, 22 de maio de 2016

Acabou a farra?

Em Sochi, químico teria fornecido um coquetel de três esteroides fabricado sob medida a 15 medalhados russos

Berlinger era apenas um nome de boa tradição na Suíça. Seis gerações atrás, a família estabelecera-se no Vale Toggenburg, no noroeste do país, e ali fundara uma sólida tecelagem de algodão. Mas foi um frasco de vidro de 5cm de largura x 12cm de altura, que a família começou a produzir nos anos 1990, que lhe deu projeção mundial e agora lhe provoca dores de cabeça incalculáveis.

Desde os Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, os frascos Berlinger são os únicos chancelados pelo Comitê Olímpico Internacional para a coleta e armazenamento de amostras de urina de atletas em testes antidoping. E por um bom motivo: eram considerados simplesmente invioláveis, de tão perfeitos. Ao americano Don Catlin, ex-chefe do laboratório de análises da Ucla, por exemplo, pareciam à prova de bala. Eram apelidados de “cofres-fortes” — impossível serem abertos sem que ficasse a marca do crime.

Faltou combinar com os russos. Em denúncia feita duas semanas atrás no “New York Times”, o químico Grigory Rodchenkov, ex-diretor do Laboratório Antidoping de Moscou, contou que os agentes dos serviços especiais de inteligência russos decifraram o enigma e participaram da manipulação de testes durante os Jogos de Inverno de Sochi, em 2014.

A história contada por Rodchenkov, que fugiu para os Estados Unidos meio ano atrás levando apenas uma muda de roupa e o laptop que usou em Sochi, soaria fantasiosa não tivessem os russos a folha corrida que têm. Em novembro passado, descobriu-se a primeira ponta da extensão do envolvimento oficial no acobertamento de doping entre atletas de elite do país.

Naquele escândalo de dimensões pantagruélicas e embaraço indigesto para o governo de Vladimir Putin, Rodchenkov fora demitido e transformado em bode expiatório — havia admitido ter destruído mais de 1.400 amostras estocadas no laboratório de Moscou.  Os detalhes das revelações eram tão cabeludos que a Federação Internacional de Atletismo e a Agência Mundial Antidoping (Wada) se viu compelida a suspender a Rússia de competições internacionais (inclusive da Rio 2016) até nova avaliação, em 17 de junho próximo. À época, o ministro do Esporte russo, Vitaly Mutko, com a confiabilidade de um vendedor de carros usados, assegurava que “em 60 dias” haveria uma renovação total do sistema antidoping no país.

A julgar pelas revelações mais recentes de Rodchenkov, nada mudou muito. Em Sochi, o próprio químico teria fornecido um coquetel de três esteroides fabricado sob medida a 15 medalhados russos. Numa operação clandestina feita durante a noite, ele e um fechado grupo de ajudantes substituíam os frascos de urina contaminada pelos de urina limpa colhida meses antes. A troca era feita através de um pequeno orifício camuflado na parede do laboratório dos Jogos, no qual Rodchenkov tinha função oficial. Segundo seu relato, as amostras A e B de pelo menos desses 15 medalhados foram substituídas antes de serem analisadas, sem que os lacres contendo seus códigos únicos de sete dígitos apontassem qualquer sinal de violação. Trabalho de mestre de quem recebia os frascos através do furo na parede e os devolvia em duas horas e que Rodchenkov acredita ser agente do serviço de inteligência.

Esta sexta feira, finalmente, a Wada decidiu enviar uma equipe de investigadores a Los Angeles para avaliar a seriedade das denúncias do russo, com promessa de concluir um relatório em seis semanas — portanto, a apenas 33 dias do início dos Jogos no Rio. Também o presidente do COI, Thomas Bach, tratou de se posicionar. “Caso fique provada a veracidade das denúncias, isto representa uma nova e revoltante dimensão no doping, com um nível até então inédito de criminalidade”, escreveu em artigo publicado simultaneamente em vários jornais.

Nos próximos dias serão conhecidas as identidades de 31 atletas de 12 países pegos no exame antidoping nos Jogos de Pequim em 2008 e se saberá o resultado dos testes que serão refeitos em 250 amostras colhidas nos Jogos de Londres, em 2012. Cabe a pergunta: por que apenas 250, e não todas as amostras, serão retestadas? Embora o fator custo seja a resposta óbvia, pode-se argumentar, como o faz o britânico Greg Rutherford, atual campeão mundial e olímpico do salto em distância, que está passando da hora de a entidade se interessar por isso. “Em qualquer outro ramo de atividade, os corruptos seriam afastados e suas chances de encontrar emprego seriam poucas, mas parece que as coisas não são assim no esporte”, lamenta ele. (Na política brasileira também não, acrescente-se).

Diante de quadro tão pantanoso, a Associação Europeia de Atletismo tomou uma decisão arrojada esta semana: vai avaliar a credibilidade de cada um dos recordes obtidos em suas competições. O norueguês Svein Arne Hansen, novo presidente da entidade continental, reagiu assim à notícia de que haveria mais 31 casos positivos de doping nos Jogos de Pequim: “Nunca é tarde demais para corrigir erros do passado e garantir que atletas limpos sejam legitimamente recompensados. Apoio inteiramente a remoção de todos os fraudadores dos livros de história, não importa quanto tempo transcorreu desde as datas originais das competições”. Para isso, aprovou a instituição de um grupo de trabalho que julgará a probidade dos resultados avalizados pela entidade.

Isso equivale a se dispor a mexer num vespeiro. Logo de cara, seria preciso retificar os recordes em massa estabelecidos por atletas da antiga Alemanha Oriental (RDA), cujo criminoso programa estatal 14.25 administrou anabolizantes a perto de dez mil atletas ao longo de um quarto de século.

Um caminho apontado por Pierre-Jean Vazel no “Le Monde” poderia ser considerar que os recordes anteriores às técnicas de controle antidoping modernas não devem mais corresponder aos critérios atuais de homologação — algo como quando recordes marcados com cronômetros manuais deixaram de ser validados após a introdução de seus sucessores elétricos, em 1977.

Em matéria de polêmica, essa promete ser das grandes. Mas se é para fazer face à ficção olímpica de que vence o melhor, vale a pena acabar com a farra.

Por: Dorrit Harazim é jornalista

domingo, 24 de abril de 2016

A descida do Olimpo

O fato de Eduardo Paes ter apresentado a ciclovia como parte do chamado ‘legado olímpico’ é parte do problema

Coube ao leitor Rogério Ribeiro de Oliveira apontar a atroz incongruência que salta aos olhos em todas as fotos da tragédia ocorrida na quinta feira na Ciclovia Tim Maia. Em primeiro plano, o fatal rasgo de 50 metros na obra de apenas três meses, erguida com recursos tecnológicos de ponta e saber da engenharia do século 21. Ruiu

Nas fotos logo atrás dela, no mesmo trecho rochoso da encosta, sólido e indiferente ao mar em ressaca, o clássico viaduto construído quase 100 anos antes para a visita do rei Alberto I da Bélgica ao Rio de Janeiro em 1920. Das duas uma: ou o Brasil regrediu ou está apressado demais em chegar no futuro sem passar pelo presente. Ou ainda as duas coisas, em dosagens variadas.

Inicia-se agora o processo de apuração das responsabilidades pelo desmoronamento. Espera-se que, uma vez definidas, elas venham a ser punidas com o empenho que faltou à Justiça no caso do incêndio na boate Kiss, de Santa Maria. O fato de o prefeito Eduardo Paes ter apresentado a ciclovia de R$ 44,7 milhões como parte do chamado “legado olímpico” é parte do problema. Invenção multiuso do Comitê Olímpico Internacional (COI), o termo é deliberadamente impreciso, convenientemente abstrato e frequentemente enganoso. Ainda assim ele é um achado com impacto comunicativo forte. Está presente nas brochuras de todas as candidaturas a cidades-sede dos Jogos, na literatura dos mais de 200 comitês nacionais espalhados pelo mundo e na entidade central com sede em Lausanne. 

O COI faria um enorme favor aos munícipes de toda cidade olímpica se impusesse uma espécie de moratória ao termo. Sugestão: para poder ser chamado de legado olímpico, uma obra, parque ou o que fosse precisaria ter sido usado e aprovado pelos moradores durante um ou dois anos depois de encerrados os Jogos na cidade. Elefantes brancos ou arroubos que nada têm a ver com prioridades locais seriam desestimulados.
No fundo seria apenas uma extensão alvissareira do zelo canino que o COI e comitês nacionais já exercem sobre o uso privativo dos termos olímpico, olimpíada, jogos olímpicos e variações. Ainda no mês passado, um inofensivo conjunto de instrumentistas clássicos da França — o Concerto da Loggia Olímpica — cujo nome data de uma formação do fim do século 18, teve de mudar de identidade artística por ordem judicial. 

Ou seja, quando quer, o olimpismo cuida de sua imagem. Uma cautela maior antes de dar a chancela de legado olímpico a programas ambiciosos como a urbanização das mais de 700 favelas cariocas em dez anos, por exemplo, também feita pelo prefeito do Rio, teria sido prudente. Ultimamente uma questão maior tem envolvido a organização de toda Olimpíada, por ela ser esse evento pantagruélico para o qual é impossível haver um plano B, porém, é outra. Apenas dois tipos de candidaturas têm se revelado confiáveis para entregar no prazo e nos moldes combinados os Jogos memoráveis que prometeram seis anos antes ao serem escolhidas: ou cidades de países autoritários, onde o poder central não precisa prestar contas à população, ou cidades de países desenvolvidos que já contam com boa parte da infraestrutura e instalações necessárias.

E a cada nova edição essa tendência torna-se mais evidente. Tome-se o exemplo das candidaturas para os Jogos de 2024: consultados, os moradores de Boston, Oslo, Cracóvia e Estocolmo disseram “não”, apesar das promessas de que reinaria frugalidade nos gastos. [no Brasil apenas a palavra de um Apedeuta incompetente, estúpido, megalomaníaco, chefe de organização criminosa -  o estrupício do Lula -  foi suficiente para decidir que o Rio e o Brasil teria que ser submetido ao vexame de sediar as Olimpíadas de 2016.] Em contrapartida, Pequim derrotou Almaty, do Cazaquistão, para os Jogos de inverno em 2022, tornando-se assim a primeira cidade do mundo a abrigar uma Olimpíada de Verão (em 2008) e uma de Inverno. Para isso, entre outros malabarismos que envolvem grandes recursos, terá de sugar um lago do entorno da capital e transformá-lo numa montanha de neve. A meta final do regime é sediar uma Copa do Mundo. 

Trinta anos atrás, William E. Simon, ex-secretário do Tesouro e presidente do Comitê Olímpico dos Estados Unidos à época dos Jogos de 1984 em Los Angeles, formulou uma ideia que à época pareceu insana. Hoje, à luz das dificuldades de um mundo em solavancos, ela soa como uma receita de bom senso. Reduziria boa parte das oportunidades para malfeitos, eliminaria os custosos processos de candidatura, garantiria ciclos regulares de bonança regional. 

A fórmula? Definir cinco sedes permanentes e rotativas para os Jogos uma em cada continente, o que preservaria a geopolítica representada pelos cinco anéis olímpicos. No entender de Walker os lucros comerciais, turísticos e esportivos de cada sede acabariam se esparramando para cidades e países vizinhos, devido à previsibilidade do evento. Faltaria combinar com os mais de 200 países membros do COI, é claro. Ou seja, não é coisa para este milênio.

Portanto, para este ano nos resta torcer. E dar a chance ao esporte, aos atletas, ao Rio, aos cariocas e ao Brasil de ser feliz por 17 dias.


Fonte: O Globo - Dorrit Harazim,  é jornalista