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sábado, 17 de agosto de 2019

Brasil e Argentina, amigos por destino - O Globo/Veja



Míriam Leitão
O ministro Paulo Guedes pergunta: desde quando precisamos da Argentina? Desde sempre, caro Paulo. O Brasil e a Argentina são parceiros antigos, tiveram momentos de tensão, juntos enfrentaram um inimigo comum no Império e têm vivido uma história intensa. Eu acompanhei uma parte dessa relação como jornalista de política externa no governo militar. Os dois países estavam de acordo sobre torturar e matar opositores, na operação Condor, mas tinham desconfianças e conflitos no comércio e na energia. Havia quem temesse uma corrida nuclear entre ambos.

O próprio governo militar, que alimentou a desconfiança, tratou de desfazê-la. Foram três intermináveis anos de negociação tocada pelo ministro Ramiro Saraiva Guerreiro até o fechamento do acordo que permitia a conclusão da hidrelétrica de Itaipu e deixava espaço para Corpus. Houve um tempo em que o medo um do outro era tanto que a Argentina achava que Itaipu fora concebida como arma. Abertas as comportas, Buenos Aires seria inundada. Era esse clima que Guerreiro desfez, com paciência, diplomatas profissionais, e a certeza de que se entender com a Argentina é destino, um determinismo geográfico. As guerras começam às vezes por mal entendidos não desfeitos a tempo.

Guerreiro — aprendi muito com ele — nunca criticava a Argentina nas conversas com os jornalistas. Ele preferia elogiar os avanços das negociações. Certa vez ele fez o impossível. Elio Gaspari costuma lembrar desse episódio com uma de suas expressões: “ele tirou a meia sem descalçar o sapato.” Foi quando a ditadura argentina nos seus estertores decretou guerra à Inglaterra. Aqui, a nossa ditadura estava no fim também, mas tentava sair de fininho. Eles, mais sanguíneos, decretaram a guerra contra a velha potência colonial, que havia perdido os dentes, mas ainda controlava as Malvinas, chamada de Falkands pelos britânicos.
Primeiramente, a diplomacia brasileira nunca aceitou o nome inglês. Era um recado. Depois, foi bem-sucedida na meta que se impôs: ficar ao lado da Argentina, ser contra a guerra, e não brigar com a Inglaterra.

A diplomacia brasileira quando bem trabalhou foi nesse sentido. A nós não cabe o uso da força. É um equívoco infantil do candidato a embaixador Eduardo Bolsonaro dizer que “diplomacia sem armas é como música sem instrumentos”. É que o menino não entende de diplomacia nem de música. O Brasil, que nunca será potência militar, tem que exercer o soft power. É nesse campo que poderíamos avançar protegendo as florestas e fazendo disso o arsenal nas negociações do século XXI na política do clima.Houve um tempo de conjunturas macroeconômicas diferentes em que o diálogo ficou áspero. O então embaixador do Brasil na Argentina Marcos Azambuja deu um jeito de jogar uma partida de golfe com o então presidente Carlos Menem. No jogo, entregou o recado: “Señor presidente, nosotros estamos condenados a ser amigos”.

Na diplomacia, às vezes uma coisa leva à outra. Para o bem e para o mal. Palavras hostis minam o chão no qual precisamos andar. No acordo das hidrelétricas o que eu vi foi a retirada de minas de um terreno em que se caminhou penosamente. Depois do tratado, assinado em Assunção, houve um acordo entre os dois países em que cada um abria as instalações nucleares para vistoria do outro. Uma forma de provar que os projetos tinham todos os objetivos pacíficos, da medicina à energia, mas não os militares. Veio, então, o Mercosul, que aumentou muito o comércio entre os quatro países — Uruguai e Paraguai incluídos. Hoje a Argentina é o maior comprador de produtos manufaturados brasileiros, os bens que temos dificuldade em exportar.

No Brasil se fez uma escolha eleitoral em 2018, na Argentina se fará este ano, pelo visto, no sentido oposto. E se os países tiverem governos de ideologias diversas? É hora de minguar a relação e ofender os vizinhos? Evidentemente, não. Os dois governos serão traço na história longa dessa relação bilateral. Argentina e Brasil têm errado, mas o mais inteligente é tirar o máximo proveito dessa parceria. Uma vez, o ex-ministro da Economia argentino Domingo Cavallo me disse: “Argentina es el tango, Brasil es la samba”. Somos distintos. A diferença não pode separar. Esta é a arte da diplomacia.


Blog da Miriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo


#SanatórioGeral: Herança maldita (13)

Deputada da bancada do berreiro jura que Bolsonaro destruiu em sete meses o paraíso construído pelo partido que virou bando


Congelaram o país por 20 anos dizendo que iam gerar milhões de empregos. Rasgaram a CLT e acabaram com o direito à aposentadoria com a mesma cantilena. Agora, aprovam a MP da Liberdade Econômica com esse discurso? O povo brasileiro não acredita nessa gente cruel e mentirosa!”. (Erika Kokay, deputada federal que brilha na bancada do berreiro, jurando no Twitter que Jair Bolsonaro destruiu em sete meses o paraíso que o PT, entre um desvio de dinheiro e um assalto a cofres públicos, inventou durante 13 anos)

#SanatórioGeral: Amante insaciável

Gleisi fica à beira de um ataque de nervos com a ideia de perder a chance de saquear a Petrobras pela segunda vez


“Guedes tem ideia fixa por vender as riquezas do povo num ataque frontal à soberania nacional. É o fim da picada privatizar a Petrobras! Qual sentido nisso? Nenhum país joga pela janela áreas estratégicas e que geram lucro e emprego”. (Gleisi Hoffmann, deputada federal e presidente do PT, conhecida pelo codinome Amante no Departamento de Propinas da Odebrecht, no Twitter, esquecendo de dizer que, se o ministro da Economia sonha com a venda da Petrobras, Gleisi, Lula e seus comparsas só pensam em voltar ao poder e saquear a estatal pela segunda vez)

Blog do Augusto Nunes - Sanatório Geral - Publicado em Veja


domingo, 14 de julho de 2019

Os planos de saúde voltam a atacar - Elio Gaspari

O Globo - Folha de S. Paulo
 
Está no forno de um consórcio das grandes operadoras de planos de saúde um projeto destinado a mudar as leis que desde 1998 regulamentam esse mercado - Projeto que deve ser levado ao ministro da Saúde facilita os reajustes por faixa etária e derruba os prazos máximos de espera, entre outras medidas 

As operadoras querem levar a lei dos seus sonhos ao escurinho de Brasília

Está no forno de um consórcio das grandes operadoras de planos de saúde um projeto destinado a mudar as leis que desde 1998 regulamentam esse mercado. Chama-se “Mundo Novo”, tem 89 artigos e está trancado numa sala de um escritório de advocacia de São Paulo. O plano é levá-lo para o escurinho de Brasília, deixando-o com o ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, e com o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia. Ambos ajudariam o debate se divulgassem o “Mundo Novo” no dia em que chegasse às suas mesas, destampando-lhe a origem.

É a peça dos sonhos das operadoras
. O projeto facilita os reajustes por faixa etária, derruba os prazos máximos de espera, desidrata a Agência Nacional de Saúde Suplementar e passa muitas de suas atribuições para um colegiado político, o Conselho de Saúde Suplementar (Consu), composto por ministros e funcionários demissíveis ad nutum.  Irá para o Consu a prerrogativa de decidir os reajustes de planos individuais e familiares, baseando-se em notas técnicas das operadoras (artigos 85 e 46) e não nos critérios da ANS. Cria a girafa do reajuste extraordinário, quando as contas das operadoras estiverem desequilibradas. Uma festa.

A ANS perderá também o poder de definir o rol de procedimentos obrigatórios que as operadoras devem oferecer. Essa atribuição passa para o Consu, que não tem equipe técnica, mas pode ter amigos. Desossada, a ANS perderá também o poder de mediação entre os consumidores e as operadoras. (Tudo isso no artigo 85.)  Há uma gracinha no artigo 43. Ele determina que os hospitais públicos comuniquem “imediatamente” às operadoras qualquer atendimento prestado a seus clientes para um eventual ressarcimento ao SUS. Exigir isso de uma rede pública que não atende os doentes de seus corredores é uma esperteza para não querer pagar à Viúva o que lhe é devido.

O melhor momento do projeto “Mundo Novo” está no artigo 71. Hoje, se uma pessoa quebrar a perna e não for atendida, a operadora é multada. Feita a mudança, só serão punidas “infrações de natureza coletiva”. Por exemplo, se a empresa tiver deixado de atender cem clientes com pernas quebradas. As operadoras finalmente realizarão seu sonho, criando um teto para a cobrança de multas. Elas nunca poderão passar de R$ 1,5 milhão. Com isso, estimula-se a delinquência.

No papelório do “Mundo Novo” não há um só artigo capaz de beneficiar os consumidores.


(...)

Cabral busca um ninho

O Ministério Público se recusou a negociar um acordo de delação de Sérgio Cabral. Ele está tentando com a Polícia Federal.

Dallagnol e seu ‘agora ou nunca’
Lidas em bruto, as mensagens obtidas pelo Intercept Brasil podem saturar ou até confundir um curioso. Olhadas no contexto em que aconteceram, chegam a surpreender. [montagens buscam exatamente isso: dar sentido ao fraudado quando contextualizado - sem isso não teriam sentido.]  No dia 24 de outubro do ano passado o procurador Deltan Dallagnol escreveu o seguinte para seus colegas:  “Caros, Jaques Wagner evoluiu? É agora ou nunca... Temos alguma chance?. (...) Isso é urgentíssimo. Tipo agora ou nunca kkkkk.”

Dallagnol queria que se fizesse uma operação de busca e apreensão em cima do ex-governador da Bahia, que acabara de se eleger para o Senado. Uma procuradora argumentou que isso já havia sido feito e “nem sei se vale outra”. Dallagnol respondeu: “Acho que se tivermos coisa pra denúncia, vale outra busca e apreensão até, por questão simbólica”.

O que haveria de simbólico num teatro da polícia varejando a casa de Jaques Wagner? Até julho ele havia sido o Plano B do comissariado petista como alternativa de candidato à Presidência. Eleito senador pela Bahia, Jaques Wagner entrou na segunda semana de outubro tentando costurar uma frente de apoio a Fernando Haddad para o segundo turno. A conversa de Dallagnol com os procuradores aconteceu quatro dias antes da votação. Uma operação de busca e apreensão na casa do petista que tentava moderar as bandeiras vermelhas estava para lá de simbólica. Quando Dallagnol diz que o assunto era “urgentíssimo”, “tipo agora ou nunca”, queria a cena para já.

A turma da Lava-Jato pode dizer que trabalhou com isenção e dentro das normas legais, mas o doutor Dallagnol deve admitir que no dia 24 de outubro estava armando uma cama de gato contra um grão-petista, em busca de algo “simbólico”. [estranha armação = só seria válida se fossem encontrada provas contra o grão petista,  localizando provas seria uma operação contra criminosos, o que está dentro da lei e é dever de qualquer autoridade, incluindo procuradores.]

Sinal dos tempos
A embaixada do Brasil em Washington já foi ocupada por gente de fora da carreira.
Rodrigues Alves nomeou Joaquim Nabuco; Getulio nomeou Oswaldo Aranha e o banqueiro Walther Moreira Salles.

Castelo Branco nomeou Juracy Magalhães. Por falar em Castelo, o marechal que demitiu um irmão ficou impassível quando a Marinha negou ao seu filho Paulo a patente de almirante.
Paulo Castelo Branco foi o filho que todo presidente deveria sonhar ter.



Elio Gaspari, jornalista 
 

 

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Sérgio Cabral explica


O ex-governador reitera que foi chantageado para nomear um ministro do STJ 

Do ex-governador Sérgio Cabral chega a seguinte carta:
"Prezado Elio Gaspari,
A propósito de sua coluna de ontem (14 de abril) 'Cabral mente até em confissão', até o Eremildo sabe que a escolha dos ministros do Superior Tribunal de Justiça, feita pela Presidência da República, leva em consideração, além dos atributos do conhecimento jurídico, as questões geopolíticas.
São 33 ministros, oriundos dos Tribunais de Justiça dos estados, dos cinco Tribunais Regionais Federais, dos Ministérios Públicos federal e estaduais e da Ordem dos Advogados do Brasil.
Pois bem, em abril e junho de 2011 duas vagas foram preenchidas por membros oriundos da OAB e dos Tribunais de Justiça, respectivamente. O advogado Rodrigo Cândido foi o mais votado na lista sêxtupla da OAB nacional. E, entre os ministros do STJ, o mais votado da lista tríplice encaminhada à presidente Dilma.

Fui ao Palácio do Planalto acompanhado do meu chefe da Casa Civil, Régis Fichtner, e lá perguntei a Dilma se era possível nomear o Rodrigo e, em junho, nomear Marco Aurélio Bellizze, cunhado do Régis Fichtner, desembargador do Rio de Janeiro e que, possivelmente, chegaria a ela na lista tríplice. Dilma, ao seu estilo, disse que era impossível. Daí vetei o nome do Rodrigo e pedi pelo cunhado do Régis. Ela topou.
Bellizze disputou no dia 15 de junho de 2011, com desembargadores de diversos estados. Ficou em segundo na lista tríplice.
Após sua posse, o ministro Marco Aurélio Bellizze, acompanhado do seu cunhado Régis Fichtner, foi ao Palácio Guanabara.
Me fez loas de agradecimentos ao que, como você bem observou na coluna de ontem, respondi que ele tinha 'currículo'. Régis, seu cunhado, me interrompeu e afirmou: 'Governador, Bellizze já havia disputado no STJ, e com seu currículo teve menos de cinco votos'.
Você mesmo, Gaspari, nesse período de 2011, publicou na sua coluna o mal-estar criado por essa verdadeira chantagem que vivi.
Atenciosamente,
Sérgio Cabral"

É o seguinte o texto da nota a que se refere o ex-governador, publicada em junho de 2011:
"UPP Laranjeiras
Talvez seja necessária a criação de uma UPP para aquietar os ânimos na copa e na cúpula do governo do Rio de Janeiro por conta do preenchimento de uma vaga no Superior Tribunal de Justiça.
Em abril, o advogado Rodrigo Cândido de Oliveira, filho de uma família de juristas cujas raízes vêm do Império, esteve perto da cadeira.
Teve os votos do STJ, mas morreu na praia do Planalto. Ele tinha o apoio de Adriana Ancelmo, mulher do governador Sérgio Cabral e sua sócia no escritório Coelho, Ancelmo e Dourado.
Agora, para a vaga de Luiz Fux, entrou na lista mandada pelo STJ ao Planalto o nome do desembargador Marco Aurélio Bellizze, cunhado de Régis Fichtner, chefe da Casa Civil de Cabral, sócio licenciado do escritório Andrade, Fichtner. Bellizze não é flor do orquidário da doutora Ancelmo."

Gilmar e o "talvez"
O ministro Gilmar Mendes criou o "talvez fake". Em Lisboa, falando à repórter Giuliana Miranda, ele justificou a decisão do seu colega Alexandre de Moraes de censurar a revista Crusoé e o site O Antagonista com o seguinte raciocínio:
"Ali se fez uma avaliação de que talvez houvesse fake news, porque talvez o documento não existisse".
Durante a ditadura, os censores proibiam a notícia de fatos e opiniões. Censura de "talvez" é novidade, até porque a notícia censurada era verdadeira. O "fake" estava na inspiração da tesourada.

Elio Gaspari, jornalista - Folha de S. Paulo

 

domingo, 13 de maio de 2018

Geisel sem pedestal

Não há ‘meio ditador’, mas Geisel foi um ditador que operou pelo fim da ditadura
Tudo nestes tempos revoltos vira uma guerra insana e até cruel na internet e é exatamente esse o caso, agora, da bombástica revelação da CIA de que o então presidente Ernesto Geisel transformou a execução de opositores em política de Estado. Isso mexe com as mais profundas feridas e as mais arraigadas ideologias, mas a radicalização, para qualquer lado, continua sendo o pior caminho.

Como ponderou o presidente Michel Temer, em conversa comigo na sexta-feira, não se trata de uma versão nacional, mas da CIA, e nem tudo o que a CIA diz é necessariamente verdade. Acrescente-se: os Estados Unidos invadiram e aniquilaram o Iraque, sem aval do Conselho de Segurança da ONU, com base na informação da sua agência de inteligência de que Saddam Hussein desenvolvia sofisticadas armas químicas e biológicas. Foi um erro grosseiro. Ou uma mentira intencional. [nem sempre as informações da CIA retratam a verdade;
a CIA é antes de tudo uma agência de inteligência mas que também opera na contra informação  e é extremamente simples divulgar determinado memorando, que vai parar nas mãos de pessoa não confiável, que o divulga de forma deturpada.

Além do que não pode ser olvidado que o Brasil vivia uma situação de guerra, uma guerra suja - e a sujeira era consequência das ações covardes dos terroristas (procurem se informar sobre um dos mentores do terrorismo: Marighella - verão que em nada pensado por um verme daquela laia pode haver lealdade, dignidade, honra.)

Agora mesmo a turma pró esquerda trouxe de volta o que tentam passar como um argumento que prova que Vladimir Herzog foi assassinado no DOI-CODI - tentam desmentir a versão oficial, e verdadeira, de que Herzog se suicidou.

Que fazem: alegam que a verdadeira causa da morte de Herzog se tornou conhecida, visto que que o atestado de óbito, segundo os esquerdistas de plantão, forjado por um médico foi substituído por um verdadeiro.

O considerado verdadeiro aponta como causa da morte do jornalista  ''lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nas dependências do segundo Exército DOI-Codi''  enquanto o anterior (segundo a esquerda,  forjado) dava como causa da morte "enforcamento por asfixia mecânica''.

A turma que defende a esquerda pode ser tudo menos burra e qualquer imbecil com alguma lucidez sabe que em um atestado de óbito deve constar a causa da morte e não a causa de causa de morte.

FATO: a causa da morte do jornalista Vladimir Herzog segundo laudo oficial  foi
"enforcamento por asfixia mecânica'' e ninguém discute que asfixia causa a morte de qualquer ser vivo.

O enforcamento também pode causar a quebra do pescoço da vítima. Assim, é inequívoco que uma pessoa que seja enforcada morrerá por asfixia mecânica (constrição), ou por quebra do pescoço ou ambas as causas.

"lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nas dependências do segundo Exército DOI-Codi'' - ou em qualquer outro local - jamais podem causar a morte de alguém.
Um ser humano pode levar porrada por dias e dias, sofrer maus tratos por dias e dias e simplesmente não morrer - na hipótese,  as porradas e outros maus tratos causaram lesões de gravidade leve ou média, não suficientes para  levar à morte.

O que mata a pessoa, ainda na hipótese, é se as lesões e maus tratos forem de grande gravidade, que causem danos a órgãos vitais, ou prive a pessoa de funções vitais, levando-a a óbito.

Em suma: Vladimir Herzog morreu por enforcamento por asfixia mecânica;
jamais morreu por lesões e maus tratos - tais lesões e maus tratos, se houve, causaram a asfixia mecânica que foi a verdadeira causa da morte.

A digressão é apenas para mostrar que se a esquerda é capaz de transformar a causa da causa mortis para acusar os militares, também são capazes de considerar verdade Bíblica um documento da CIA.]


O documento trazido à luz pelo professor Matias Spektor é uma nova frente de pesquisa sobre a verdadeira identidade e os reais propósitos do governo Geisel. Mas funciona como uma delação premiada: é uma versão, precisa ser recheada de provas. Dúvidas: como a reunião e a decisão de Geisel jamais vazaram no próprio Brasil?  
Por que um ou mais generais envolvidos contariam justamente para os norte-americanos, se eles se baseavam no velho nacionalismo que exalava ojeriza aos EUA? Para agradar a Washington?

Mas, “se non é vero, é ben trovato”. Apesar da “distensão lenta, gradual e segura” de Geisel, a ditadura continuou executando e torturando os adversários – ou “subversivos perigosos”, como registra a CIA.
Presidentes não são obrigados a saber tudo (assim como Lula nunca soube do mensalão?) e Geisel poderia até não saber de uma ou duas mortes. Mas de tantas? Ele demitiu o general Ednardo D’Ávila Mello após o assassinato de Wladimir Herzog, mas pelas mortes e torturas? Ou porque ele desafiava a abertura e o que o então presidente mais prezava: sua autoridade?

O fato é que o documento atinge profundamente a biografia de Geisel, com quem eu conversava uma a duas vezes por ano, depois da Presidência. E ele sempre com muito cuidado de não se vender como o “mocinho” lutando contra os “bandidos” do seu próprio regime. Criticava genericamente a “linha dura”, mas nunca foi enfático, indignado, contra seus métodos. Subliminarmente, era como se fossem um “mal necessário”.

A partir da CIA, há dois personagens num só: o ditador determinado a devolver o País aos civis e o pragmático convencido de que tinha de dançar conforme a música dominante no regime: a favor de matar e torturar, inclusive quase meninos, em nome do combate ao comunismo. Esse confronto entre as intenções de Geisel e sua submissão ao regime é claro na obra magistral de Elio Gaspari sobre a ditadura. E foi bem resumido, ontem, por Spektor: “O que Geisel fez foi chamar para si a responsabilidade (da repressão), para poder abrir”.
Ceder para avançar.


Seria mais fácil, e aplaudido, escrever um texto apaixonado contra o ditador assassino ou, muitíssimo pior, em defesa da guerra contra o comunismo. A política e a história, porém, não se fazem com paixão. Se comprovada, a informação da CIA derruba Geisel do pedestal de quem jamais compactuou com os “desaparecimentos”. Mas não apaga a realidade de que ele efetivamente se empenhou pela abertura. Não existe “meio ditador”, mas Ernesto Geisel foi um ditador que operou para derrubar a ditadura.

Que o documento da CIA reabra serenamente a Comissão da Verdade e o debate sobre o reconhecimento de responsabilidade das Forças Armadas, como defende seu último presidente, Pedro Dallari. A verdade às vezes dói, mas nada como a verdade para curar velhas e evitar futuras feridas. [a Comissão da Verdade não pode ser reaberta pelo simples fato que foi extinta por força de determinação legal; podem, caso queiram, até criar uma outra, mas jamais vão conseguir tornar verdadeiro o que são apenas boatos.
A verdade exige um pequeno detalhe: cuida de fatos e para ser fato é necessário que tenha ocorrido.]

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo

 

sábado, 12 de maio de 2018

Para que se entenda o que são golpe e ditadura



Descoberta de memorando da CIA relembra a violência do regime militar e ajuda os mais jovens e os desinformados em geral a não fazerem comparações descabidas

A antiga lição de que entender o passado ajuda a compreender o presente se aplica a um memorando encontrado pelo pesquisador de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas Matias Spektor, enviado em abril de 1974 pelo então diretor da CIA, central de inteligência dos Estados Unidos, William Colby, para o secretário de Estado Henry Kissinger.  O documento confirma o conhecimento pelo presidente Ernesto Geisel — o penúltimo dos governantes militares do regime de 1964 a 85 — do assassinato de opositores do regime, como consta da obra “Ditadura”, de Elio Gaspari, colunista do GLOBO, composta por cinco livros. Em um deles, é transcrito um diálogo, gravado em fevereiro de 1974 entre Geisel, pouco antes da posse, em março, e outro general, Dale Coutinho: “(...) esse troço de matar é uma barbaridade, mas eu acho que tem que ser".


Já o memorando tem especial importância porque cita o general Milton Tavares de Souza, comandante do temido Centro de Inteligência do Exército (CIE), concorrente em arbitrariedades e violência do DOI-Codi, como fonte da informação de que aproximadamente 104 pessoas foram eliminadas durante pouco mais de um ano, a partir de 1973. Presente à conversa em que Milton Tavares aborda este assunto, Geisel, já presidente, concorda com outro interlocutor, João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e futuro sucessor de Geisel, que “a política (de assassinatos) tem de continuar”. Com a determinação, feita pelo presidente, de que “apenas subversivos perigosos” fossem executados, ficando a palavra final com Figueiredo.
Confirma-se que torturas e execuções eram política de Estado. Para as gerações mais novas, fica o ensinamento de como funciona um verdadeiro regime de exceção, instalado a partir de um golpe real, como foi o de 64, impondo uma ditadura radicalizada em 13 de dezembro de 1968, com a edição do Ato Institucional nº 5, o AI-5. 

[Conheça outras opiniões. Para melhor informação,  leia também:  





 



É oportuno este tema, resgatado pela descoberta do memorando, devido à facilidade e ligeireza com que se acusa a cassação de Dilma Rousseff de “golpe” e se afirma viver o país um ciclo de ilegalidades, a principal delas a prisão do ex-presidente Lula. Credite-se esses desatinos à paixão política e ideológica, mas também à falta de informação histórica.  Revisitar aqueles tempos de escuridão ensina que nada existe no Brasil, a partir da Constituição de 88, que permita ao Estado sequestrar, executar cidadãos e cercear as liberdades em geral. Há imperfeições, é certo, mas as instituições funcionam, e o estado democrático de direito vigora.  É crucial ter consciência das diferenças em relação àquele passado, também para a sociedade poder rejeitar qualquer proposta autoritária que venha da direita ou da esquerda.