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domingo, 5 de julho de 2020
Aras pode fabricar um novo monstro - Elio Gaspari
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quarta-feira, 3 de abril de 2019
Governo suspende instalação de milhares de radares em rodovias federais
São 66.700 quilômetros de rodovias. Bolsonaro disse que ordenou a suspensão porque ‘a grande maioria tem o único intuito de retorno financeiro ao estado’.
O governo suspendeu a instalação e a substituição de milhares de
radares nas rodovias federais. A suspensão de novos radares vale para as
estradas federais administradas pelo Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT). São 66.700 quilômetros de
rodovias.
No fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro determinou o imediato
cancelamento da instalação de novos radares. Disse que fez isso porque
sabe que “a grande maioria tem o único intuito de retorno financeiro ao
estado”. Em nota, o Ministério da Infraestrutura informou que “em função de
determinação presidencial, a instalação de novos sensores foi suspensa
até a revisão e a atualização de critérios” e que “será considerada como
prioritária a redução do uso do equipamento onde estes não são
essenciais à segurança viária”.
O diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT),
Mário Rodrigues Júnior, defendeu os radares, mas disse que também vai
reavaliar os equipamentos nas rodovias concedidas ao setor privado. “Radar bem instalado é condição de sobreviver, questão de salvar vidas, é questão de monitorar rodovia”.
Em dez anos, o DNIT instalou cerca de cinco mil radares nas estradas
federais. Em 2018, metade das multas nessas rodovias foi por excesso de
velocidade. Os radares flagraram 11 milhões de motoristas em todo o
país. Na beira da estrada, não é difícil encontrar motoristas que defendem os radares. “É importante porque tem muita gente irresponsável, além da velocidade”, disse Luiz de França Neto.
“Ajuda bastante, até porque tem motoristas que são muito imprudentes
quanto à velocidade e não respeitam a velocidade da via”, concordou
Isabella Moreira.
Os contratos suspensos do DNIT poderiam aumentar para oito mil o número
de radares nas rodovias federais. Os equipamentos seriam colocados em
novos pontos, e também substituiriam parte dos existentes. O custo
poderia chegar a R$ 1 bilhão em cinco anos. Mas, e o custo das vidas nos milhares de acidentes todo ano? Michelle
Andrade, professora da UnB e especialista em trânsito, diz que quanto
mais investimento na fiscalização eletrônica, menos mortes.
“Os radares de fato reduzem a mortalidade no trânsito porque fazem com
que o usuário infelizmente reduza a velocidade, quando na verdade não
era isso que era para acontecer. Era para o usuário manter a velocidade
da via”, disse.
Na Inglaterra, um estudo feito pela London School of Economics entre
1992 e 2016 mostrou que o uso de radares diminuiu em até 39% os
acidentes e em até 68% as mortes nas estradas. Ronaldo Balassiano, que é mestre em engenharia de transportes, afirmou que é preciso unir engenharia, fiscalização e educação.
“O Brasil pode, como os países da Europa e mesmo os Estados Unidos,
implementar uma conscientização, fazer com que as pessoas se tornem
conscientes de que andar de carro não quer dizer correr, andar de carro e
usar uma tecnologia que faz com que essas pessoas possam chegar mais
cedo, mais rápido, mas com segurança aos seus destinos finais”.
G 1
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domingo, 19 de novembro de 2017
A hora de Monica Lewinsky
Ex-funcionário do governo Clinton, aponta o dedo para a ferida mais incômoda: ‘Ela merece nosso pedido de desculpas’
A
National Portrait Gallery de Washington, que integra o vasto complexo de museus
federais da capital americana, tem em seu acervo 55 retratos do 42º presidente,
Bill Clinton — todos feitos sob encomenda da instituição, que contrata artistas
sem fazer triagem ideológica. Todo
ocupante da Casa Branca gera uma montanha de quadros, esculturas, caricaturas e
fotografias, e essas obras se revezam no espaço do museu seguindo uma
programação múltipla. Muitas jamais saem do porão e permanecem desconhecidas do
público.
Foi o
próprio ex-presidente democrata que, em 2006, inaugurou o mais polêmico desses
retratos oficiais. A obra que leva a assinatura de Nelson Shanks, um artista da
Pensilvânia, gerou um engasgar nos presentes à cerimônia quando o pano que a
encobria foi retirado.
O Clinton
de corpo inteiro foi retratado no Salão Oval. Tem o paletó aberto, usa gravata
vermelha e tem o olhar algo insolente. Mantém uma mão na cintura — a direita,
sem aliança no dedo anular. O quadro contém um sombreado disforme, decodificado
só dois anos atrás pelo autor da obra: seria uma referência ao famoso vestido azul
manchado de sêmen usado pela estagiária Monica Lewinsky, pivô do escândalo
sexual e político que quase pôs a pique o mandato do presidente em 1998. Para
Shanks, o sombreado também serve de metáfora para a marca indelével do governo
Clinton.
O atual
debate mundial sobre poder e abuso sexual é engrossado a cada dia por uma
enxurrada de mulheres dispostas a zerar segredos e humilhações do passado. É no
país hoje presidido por um predador autodeclarado que as narrativas e acusações
mais se multiplicam. Vai daí que intocáveis do mundo do entretenimento, da
esfera política, da mídia, das grandes corporações, ninguém mais parece poder
garantir o silêncio ou a falta de credibilidade das testemunhas de seus atos.
Nem Bill
Clinton. Juanita
Broaddrick, hoje dona de uma casa de repouso para idosos no Arkansas, é uma das
três mulheres que duas décadas atrás alegaram terem sido abusadas por Clinton.
À época, foram tratadas como oportunistas e pistoleiras pelo establishment
liberal que governava o país, com Hillary Clinton à frente da campanha para
desacreditá-las.
Juanita
reemergiu esta semana. Em entrevista para a Fox News, emissora alinhada ao
governo Trump, ela acredita ter chegado o momento em que todas as vítimas têm o
mesmo peso. “Não importa se você é democrata ou republicana, heterossexual ou
gay, se acredita ou não em Deus. Todos temos o direito à credibilidade”, disse
ela. [essa Juanita não desiste de aparecer; o que ela quer narrando algo que talvez nem tenha acontecido? ou se aconteceu ela já esqueceu os detalhes.
Essas 'vítimas' de abusadores famosos, na época tudo fizeram para ser abusadas e diante do insucesso em suas vidas públicas, agora tentam no ocaso da vida divulgar relatos sem nenhuma credibilidade.
O certo é quando for assediada por um famoso. divulgar de imediato; não vale ficar vendo se o assédio vai lhe render alguma fama, ou grana, e quando constata o fracasso, deixa esfriar para depois divulgar.]
Um artigo
de Peter Baker no “New York Times” cita um notável elenco de liberais ensaiando
um mea-culpa. “Acho que erramos ao defender Clinton, ele deveria ter
renunciado”, pensa hoje Matthew Yglesias. “O Partido Democrata precisa fazer
uma análise profunda da proteção que deu a Bill Clinton”, recomenda a democrata
de carteirinha Caitlin Flanagan, inimiga declarada do feminismo automático e ela
mesma vítima de abuso sexual.
David Rothkopf, ex-funcionário do governo
Clinton, aponta o dedo para a ferida mais incômoda: “Monica Lewinsky merece
nosso pedido de desculpas”. Acertou em cheio.
Monica,
como ela mesma insiste em frisar desde que saiu da clausura social três anos
atrás, não foi vítima de qualquer abuso sexual. Sua relação com o presidente
foi tão consentida quanto desejada por ela. O intenso abuso que quase a
destruiu ocorreu depois, quando o affair veio a público e ela se viu engolida
pela complexa engrenagem política de Washington.
Monica,
como se sabe, era uma estagiária na Casa Branca, recém-saída da faculdade.
Tinha 22 anos e apaixonou-se perdidamente pelo chefe sedutor de 49. Mantiveram
uma relação de alta voltagem por dois anos. Numa manhã de janeiro de 1998, o
caso explodiu no Drudge Report, um dos primeiros sites de política daqueles
tempos pré-Google, pré-mídias sociais, pré-Facebook.
Pela
primeira vez na história da imprensa, a mídia tradicional tinha levado um furo
colossal da internet. “Foi um click que reverberou no mundo inteiro, uma
tempestade perfeita que juntou sexo e política”, relembra Monica. De figura
completamente anônima, tornou-se a primeira pessoa a ser humilhada publicamente
em todos os idiomas, muito antes da invenção do termo cyberbullying. “Fui a
paciente número zero da perda de reputação, identidade e dignidade no palco
global. Foi instantâneo”, diz.
Ameaçada
pelo FBI com 27 anos de prisão se não admitisse o relacionamento com o
presidente, não o fez. Sentada numa saleta sem janelas, sob luz fluorescente,
teve que ouvir 20 horas de gravação de seus desabafos mais íntimos para uma
amiga — jamais suspeitou que estivesse sendo gravada pela confidente. A íntegra
das gravações foi anexada ao relatório de Kenneth Starr, e entregue aos
congressistas. Duas semanas depois, num 11 de setembro para Monica mais
marcante do que o do atentado às Torres Gêmeas, as gravações com suas
inconfidências mais cabeludas ecoavam nas redes de TV e se perpetuaram na
internet.
Monica
não se suicidou — a mãe só permitia que tomasse banho de porta aberta —, não
trocou de sobrenome para poder se esgueirar na vida, e jamais se referiu a
Clinton de forma desabonadora. Já o presidente, em seu depoimento, referiu-se a
ela como “aquela mulher”. A ex-periguete conseguiu formar-se em Psicologia
Social pela London School of Economics e aos 41 anos (hoje está com 44) falou
em público pela primeira vez para ser dona de sua história.
Vale a
pena assistir no YouTube à palestra que deu para um fórum da revista “Forbes”,
e sua TED Talk de 2015. Ambas têm momentos tronchos, frases de efeito, tom
edificante e amador. Mas elas conseguem transmitir o essencial: que o
sentimento de humilhação humano é devastador, mais potente do que a felicidade
plena ou a raiva. E que Monica Lewinsky dá uma aula de caráter em quem tem
apenas poder.
Por: Dorrit
Harazim é jornalista
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