Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador London School of Economics. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador London School of Economics. Mostrar todas as postagens

domingo, 5 de julho de 2020

Aras pode fabricar um novo monstro - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Pode-se fazer tudo pela Lava-Jato, menos papel de bobo

Centralização do Ministério Público pode preservar excessos, somando-lhe uma capacidade engavetadora

A turma da Lava-Jato já divulgou conversa telefônica da presidente Dilma Rousseff captada fora do horário legal. Já tentou criar uma fundação bilionária para azeitar seus objetivos. Isso, deixando-se de lado uma indústria de palestras muito bem remuneradas. Nenhuma dessas extravagâncias pode resultar na perda do cargo para seus autores. A invenção dos tais “Rodrigo Felinto” e “David Samuel”, pode. O procurador-geral Augusto Aras não bica com as forças-tarefas em geral e com a de Curitiba em particular. Negociações com réus do Paraná e do Rio de Janeiro estão travadas por causa disso e, com a visita da procuradora Lindora Araújo, a turma da Lava-Jato recorreu ao velho expediente de atacar do uso dos meios de comunicação. Isso funcionou ao tempo do juiz Sergio Moro e virou pó quando ele assumiu o cargo de ministro. As forças-tarefas de procuradores dizem que precisam ser autônomas, mas querem ser inimputáveis.

Aras diz que precisa racionalizar o trabalho do Ministério Público. Em abril ele recebeu a minuta de um projeto que cria uma Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado, a Unac. Em poucas palavras, seria a criação de um investigador-geral da República, escolhido numa lista tríplice da corporação (põe corporação nisso). A Unac decidiria o que investigar, controlando as ações policiais e acompanhando os inquéritos. O coronel Golbery do Couto e Silva propôs a criação de um Serviço Nacional de Informações na década de 1950. Conseguiu em 1964 e em 1981 confessaria: “Criei um monstro”. A ditadura criou também uma Comissão Geral de Investigações, sempre comandada por um general. Ela não foi geral nem investigou grandes coisas.

A descentralização do Ministério Público permitiu o surgimento da Lava-Jato, com todos os seus excessos. Uma centralização pode preservar todos esses excessos, somando-lhe uma capacidade engavetadora. Coisa assim: combate-se a corrupção e o crime organizado aqui e ali, mas não mexam com o Rio de Janeiro. Se centralização resolvesse, a Polícia Federal, a Abin e o Gabinete de Segurança Institucional teriam impedido que as empreiteiras fizessem o que fizeram pelo Brasil afora e, sobretudo, na Petrobras.

Augusto Aras sabia há meses que os procuradores autônomos operavam sistemas de grampos. Para acabar com coisas desse tipo, ou com a divulgação de telefonemas captados fora do prazo legal e até mesmo para impedir a armação de fundações sob medida, não se precisa de uma unidade de investigação geral. Basta que a Corregedoria do Ministério Público funcione. Ela poderá dizer ao doutor Martinazzo quem criou o “Rodrigo Felinto” da planilha enviada ao juiz Luiz Antonio Bonat.

Em tempo: Martinazzo é o sobrenome do meio do procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.

Covardia da FGV
O jornalista americano Murray Kempton definiu os editorialistas da imprensa como aquelas pessoas que depois de uma batalha vão ao campo do combate e matam os feridos. Foi isso que a Fundação Getulio Vargas fez com o ex-futuro-ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli. O falso currículo já o havia derrubado quando a venerável FGV soltou uma nota informando que ele nunca foi professor da instituição, mas apenas “colaborador”. Podia ter feito isso em 2019, quando o doutor foi nomeado para a presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e seu currículo dizia que ele havia sido “professor de Pós-Graduação em Finanças” na FGV.

A Fundação deveria cuidar melhor de sua marca. Uma coisa é um professor do quadro funcional da FGV. Bem outra é uma pessoa que deu uma aula num curso ou numa de suas atividades paralelas. (Faz tempo, um hierarca justificou seu título de professor visitante da Sorbonne dizendo que, como professor, havia visitado a universidade francesa.) O logotipo da FGV é usado para enfeitar eventos semicorporativos e até mesmo seminários de feriadão com verniz acadêmico e essência turística. Entrando no ramo de consultorias, a Fundação viu-se metida nas roubalheiras do governador Sérgio Cabral. Nas suas palavras, a FGV serviu de “biombo para efetivar ilegalidades.” A fundação assinou 58 contratos com a gestão do então governador do Rio, no valor de R$ 115 milhões.

MATÉRIA COMPLETA: Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista


quarta-feira, 3 de abril de 2019

Governo suspende instalação de milhares de radares em rodovias federais

São 66.700 quilômetros de rodovias. Bolsonaro disse que ordenou a suspensão porque ‘a grande maioria tem o único intuito de retorno financeiro ao estado’

O governo suspendeu a instalação e a substituição de milhares de radares nas rodovias federais. A suspensão de novos radares vale para as estradas federais administradas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). São 66.700 quilômetros de rodovias. 

No fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro determinou o imediato cancelamento da instalação de novos radares. Disse que fez isso porque sabe que “a grande maioria tem o único intuito de retorno financeiro ao estado”. Em nota, o Ministério da Infraestrutura informou que “em função de determinação presidencial, a instalação de novos sensores foi suspensa até a revisão e a atualização de critérios” e que “será considerada como prioritária a redução do uso do equipamento onde estes não são essenciais à segurança viária”. 

O diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Mário Rodrigues Júnior, defendeu os radares, mas disse que também vai reavaliar os equipamentos nas rodovias concedidas ao setor privado. “Radar bem instalado é condição de sobreviver, questão de salvar vidas, é questão de monitorar rodovia”.
Em dez anos, o DNIT instalou cerca de cinco mil radares nas estradas federais. Em 2018, metade das multas nessas rodovias foi por excesso de velocidade. Os radares flagraram 11 milhões de motoristas em todo o país. Na beira da estrada, não é difícil encontrar motoristas que defendem os radares. “É importante porque tem muita gente irresponsável, além da velocidade”, disse Luiz de França Neto.
“Ajuda bastante, até porque tem motoristas que são muito imprudentes quanto à velocidade e não respeitam a velocidade da via”, concordou Isabella Moreira. 

Os contratos suspensos do DNIT poderiam aumentar para oito mil o número de radares nas rodovias federais. Os equipamentos seriam colocados em novos pontos, e também substituiriam parte dos existentes. O custo poderia chegar a R$ 1 bilhão em cinco anos. Mas, e o custo das vidas nos milhares de acidentes todo ano? Michelle Andrade, professora da UnB e especialista em trânsito, diz que quanto mais investimento na fiscalização eletrônica, menos mortes.
“Os radares de fato reduzem a mortalidade no trânsito porque fazem com que o usuário infelizmente reduza a velocidade, quando na verdade não era isso que era para acontecer. Era para o usuário manter a velocidade da via, disse. 

Na Inglaterra, um estudo feito pela London School of Economics entre 1992 e 2016 mostrou que o uso de radares diminuiu em até 39% os acidentes e em até 68% as mortes nas estradas. Ronaldo Balassiano, que é mestre em engenharia de transportes, afirmou que é preciso unir engenharia, fiscalização e educação.
O Brasil pode, como os países da Europa e mesmo os Estados Unidos, implementar uma conscientização, fazer com que as pessoas se tornem conscientes de que andar de carro não quer dizer correr, andar de carro e usar uma tecnologia que faz com que essas pessoas possam chegar mais cedo, mais rápido, mas com segurança aos seus destinos finais”.

G 1

 

domingo, 19 de novembro de 2017

A hora de Monica Lewinsky



Ex-funcionário do governo Clinton, aponta o dedo para a ferida mais incômoda: ‘Ela merece nosso pedido de desculpas’


A National Portrait Gallery de Washington, que integra o vasto complexo de museus federais da capital americana, tem em seu acervo 55 retratos do 42º presidente, Bill Clinton — todos feitos sob encomenda da instituição, que contrata artistas sem fazer triagem ideológica.  Todo ocupante da Casa Branca gera uma montanha de quadros, esculturas, caricaturas e fotografias, e essas obras se revezam no espaço do museu seguindo uma programação múltipla. Muitas jamais saem do porão e permanecem desconhecidas do público.

Foi o próprio ex-presidente democrata que, em 2006, inaugurou o mais polêmico desses retratos oficiais. A obra que leva a assinatura de Nelson Shanks, um artista da Pensilvânia, gerou um engasgar nos presentes à cerimônia quando o pano que a encobria foi retirado.
O Clinton de corpo inteiro foi retratado no Salão Oval. Tem o paletó aberto, usa gravata vermelha e tem o olhar algo insolente. Mantém uma mão na cintura — a direita, sem aliança no dedo anular. O quadro contém um sombreado disforme, decodificado só dois anos atrás pelo autor da obra: seria uma referência ao famoso vestido azul manchado de sêmen usado pela estagiária Monica Lewinsky, pivô do escândalo sexual e político que quase pôs a pique o mandato do presidente em 1998. Para Shanks, o sombreado também serve de metáfora para a marca indelével do governo Clinton.

O atual debate mundial sobre poder e abuso sexual é engrossado a cada dia por uma enxurrada de mulheres dispostas a zerar segredos e humilhações do passado. É no país hoje presidido por um predador autodeclarado que as narrativas e acusações mais se multiplicam. Vai daí que intocáveis do mundo do entretenimento, da esfera política, da mídia, das grandes corporações, ninguém mais parece poder garantir o silêncio ou a falta de credibilidade das testemunhas de seus atos.

Nem Bill Clinton.  Juanita Broaddrick, hoje dona de uma casa de repouso para idosos no Arkansas, é uma das três mulheres que duas décadas atrás alegaram terem sido abusadas por Clinton. À época, foram tratadas como oportunistas e pistoleiras pelo establishment liberal que governava o país, com Hillary Clinton à frente da campanha para desacreditá-las.

Juanita reemergiu esta semana. Em entrevista para a Fox News, emissora alinhada ao governo Trump, ela acredita ter chegado o momento em que todas as vítimas têm o mesmo peso. “Não importa se você é democrata ou republicana, heterossexual ou gay, se acredita ou não em Deus. Todos temos o direito à credibilidade”, disse ela. [essa Juanita não desiste de aparecer; o que ela quer narrando algo que talvez nem tenha acontecido? ou se aconteceu ela já esqueceu os detalhes.
Essas 'vítimas' de abusadores famosos, na época tudo fizeram para ser abusadas e diante do insucesso em suas vidas públicas, agora tentam no ocaso da vida divulgar relatos sem nenhuma credibilidade.
O certo é quando for assediada por um famoso. divulgar de imediato; não vale ficar vendo se o assédio vai lhe render alguma fama, ou grana, e quando constata o fracasso, deixa esfriar para depois divulgar.]
 
Um artigo de Peter Baker no “New York Times” cita um notável elenco de liberais ensaiando um mea-culpa. “Acho que erramos ao defender Clinton, ele deveria ter renunciado”, pensa hoje Matthew Yglesias. “O Partido Democrata precisa fazer uma análise profunda da proteção que deu a Bill Clinton”, recomenda a democrata de carteirinha Caitlin Flanagan, inimiga declarada do feminismo automático e ela mesma vítima de abuso sexual. 
David Rothkopf, ex-funcionário do governo Clinton, aponta o dedo para a ferida mais incômoda: “Monica Lewinsky merece nosso pedido de desculpas”. Acertou em cheio.
Monica, como ela mesma insiste em frisar desde que saiu da clausura social três anos atrás, não foi vítima de qualquer abuso sexual. Sua relação com o presidente foi tão consentida quanto desejada por ela. O intenso abuso que quase a destruiu ocorreu depois, quando o affair veio a público e ela se viu engolida pela complexa engrenagem política de Washington.

Monica, como se sabe, era uma estagiária na Casa Branca, recém-saída da faculdade. Tinha 22 anos e apaixonou-se perdidamente pelo chefe sedutor de 49. Mantiveram uma relação de alta voltagem por dois anos. Numa manhã de janeiro de 1998, o caso explodiu no Drudge Report, um dos primeiros sites de política daqueles tempos pré-Google, pré-mídias sociais, pré-Facebook.

Pela primeira vez na história da imprensa, a mídia tradicional tinha levado um furo colossal da internet. “Foi um click que reverberou no mundo inteiro, uma tempestade perfeita que juntou sexo e política”, relembra Monica.  De figura completamente anônima, tornou-se a primeira pessoa a ser humilhada publicamente em todos os idiomas, muito antes da invenção do termo cyberbullying. “Fui a paciente número zero da perda de reputação, identidade e dignidade no palco global. Foi instantâneo”, diz.

Ameaçada pelo FBI com 27 anos de prisão se não admitisse o relacionamento com o presidente, não o fez. Sentada numa saleta sem janelas, sob luz fluorescente, teve que ouvir 20 horas de gravação de seus desabafos mais íntimos para uma amiga — jamais suspeitou que estivesse sendo gravada pela confidente. A íntegra das gravações foi anexada ao relatório de Kenneth Starr, e entregue aos congressistas. Duas semanas depois, num 11 de setembro para Monica mais marcante do que o do atentado às Torres Gêmeas, as gravações com suas inconfidências mais cabeludas ecoavam nas redes de TV e se perpetuaram na internet.

Monica não se suicidou — a mãe só permitia que tomasse banho de porta aberta —, não trocou de sobrenome para poder se esgueirar na vida, e jamais se referiu a Clinton de forma desabonadora. Já o presidente, em seu depoimento, referiu-se a ela como “aquela mulher”. A ex-periguete conseguiu formar-se em Psicologia Social pela London School of Economics e aos 41 anos (hoje está com 44) falou em público pela primeira vez para ser dona de sua história.

Vale a pena assistir no YouTube à palestra que deu para um fórum da revista “Forbes”, e sua TED Talk de 2015. Ambas têm momentos tronchos, frases de efeito, tom edificante e amador. Mas elas conseguem transmitir o essencial: que o sentimento de humilhação humano é devastador, mais potente do que a felicidade plena ou a raiva. E que Monica Lewinsky dá uma aula de caráter em quem tem apenas poder.

Por:  Dorrit Harazim é jornalista