Detalhes da
ação revelam que ex-capitão do Bope foi localizado pela Polícia Civil do
Rio graças aos erros cometidos pela rede de contatos que mantinha
A morte de um dos criminosos mais procurados do país, o carioca
Adriano Magalhães da Nóbrega,
43 anos, localizado pelo núcleo de inteligência da polícia do Rio de
Janeiro e morto pela polícia da Bahia no último domingo 9, encerra um
ciclo de buscas iniciado mais de um ano antes, em janeiro de 2019,
quando a Justiça decretou sua prisão e a de outras doze pessoas. A
razão: Adriano chefiava uma das maiores milícias do Rio, a de Rio das
Pedras, na Zona Oeste carioca. A operação para sua captura, que o
governador
Wilson Witzel (PSC-RJ) celebrou enaltecendo
sua polícia
(“ela está em outro patamar”), deixou um rastro de perguntas
sem respostas e acusações. O advogado do bandido, Paulo Emílio Catta
Preta, e sua mulher, Julia Emília Mello Lotufo, sustentam que o
ex-capitão do
Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) foi executado e não morto durante a troca de tiros com agentes que o capturaram na cidade de Esplanada, no litoral da Bahia.
Adriano foi o último alvo da operação Os Intocáveis a
ser localizado. Outros doze foram presos antes. Segundo policiais que
participaram da operação durante quase um ano, isso tem a ver com o fato
de o ex-caveira, como são conhecidos os integrantes do Bope, ser
extremamente cauteloso e treinado.
“Ele não cometeu nenhum erro durante
esse período todo em que esteve foragido.” Acabou sendo apanhado ao
fazer contato com familiares e outros bandidos que vinham sendo
monitorados. Nesses casos, tomava um cuidado: sempre trocava o chip do
celular. “O contato com parentes e comparsas da milícia nos levaram até
ele”, disse um policial a VEJA. Esses mesmos contatos estão sendo
investigados pelo
Ministério Público.
Foi justamente por meio de interceptações dos contatos de Adriano que
a polícia chegou, pela primeira vez em dezembro, ao condomínio de luxo
Quintas do Sauípe,
no litoral baiano, onde as casas são avaliadas entre 2 e 3 milhões de
reais. A mansão de número 14D foi alugada por Adriano no período de 26
de dezembro a 5 de fevereiro. Até 30 de janeiro era possível encontrar o
ex-policial e a mulher, Julia, frequentando as áreas comuns do
condomínio, como a academia. Além do casal e das filhas de 7 e 17 e 7,
amigos e familiares do miliciano o visitaram no local, segundo relatou
este policial a
VEJA.
O bem-bom foi interrompido quando agentes da polícia baiana viram
Adriano, de bermuda cargo bege e sem camisa, na propriedade. Ao perceber
a movimentação suspeita, o miliciano fugiu pelo mangue nos fundos do
condomínio. “Ele escolheu aquela casa por ser a única rota de fuga que
não era monitorada por câmeras de segurança. Ainda não sabemos se deixou
um carro no local planejando escapar ou se foi resgatado por alguém”,
disse o policial.
(....)
HISTÓRICO DE FUGA
Entre janeiro e junho de 2019 a polícia e o Grupo Especial de
Repressão ao Crime Organizado, o Gaeco, do Ministério Público do Rio,
ficaram completamente no escuro quanto a localização de Adriano. Não
havia nenhuma pista sobre o desaparecimento dele. Nem mesmo o Disque Denúncia,
que costuma receber informações anônimas sobre esse tipo de criminoso,
havia registrado qualquer informação sobre o miliciano. Segundo fontes
da Polícia Civil, Adriano teria passado uma temporada em Minas Gerais no
meio do ano passado, entre junho e julho. Mas não parava muito em um
único lugar. “Quando reunimos informações mais consistentes sobre seu
paradeiro em Minas, já não dava mais tempo de alcançá-lo”. Outra forte suspeita da polícia é de que Adriano esteve no Panamá.
Mas também lá não teria ficado por muito tempo. “Sabíamos que ele não
estava no Rio, mas acreditávamos que, mesmo tendo recursos para se
manter no exterior, ele optaria por permanecer no Brasil para manter o
controle dos negócios ilícitos que tocava: milícia, agiotagem e máquinas
caça-níquel”, disse o mesmo policial a VEJA.
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