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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Às margens do Atlântico



O livro de José Sócrates, com prefácio de Lula, seria só um caso de fraude e oportunismo, mas virou episódio hilariante no inquérito sobre a corrupção do ex-premiê português 

Seis balas. O tiro no rosto ricocheteou no anel da mão espalmada em gesto maquinal de autodefesa. Outras cravejaram o corpo. Recém-chegado de Lisboa, visitava a prima no Recife, então abalada por uma crise conjugal. Foi alvejado pelo ex-marido enciumado, ex-policial, para quem o desconhecido era um rival flagrado sob o sol na calçada da antiga residência. Dezessete anos depois, o sobrevivente Domingos Soares Farino, advogado e professor, está de novo no centro de uma investigação policial. Desta vez, não é vítima, mas suspeito de cumplicidade com o ex-primeiro-ministro de Portugal José Sócrates (2005 a 2011), acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. 

A polícia de Lisboa aponta Farino como verdadeiro autor do livro “A confiança no mundo”, sobre tortura de terroristas da al-Qaeda. A capa tem o nome de Sócrates e destaca o prefácio assinado por Lula “meu melhor amigo da ação”, dizia o ex-primeiro-ministro português.  Sócrates apresentou a obra no fim do seu mestrado no instituto francês Sciences Po. Lula viajou a Paris e discursou no lançamento do livro, na quarta-feira 23 de outubro de 2013. Seria apenas mais um caso de fraude e oportunismo (há provas de que o governo Sócrates permitiu o tráfego clandestino de prisioneiros da CIA para a base de Guantánamo). Porém, se transformou num episódio hilariante dentro do caso de corrupção protagonizado pelo ex-primeiro-ministro português, durante sua parceria com o governo Lula na construção de uma “supertele” de língua portuguesa.

Ao sair do poder, o ex-líder socialista teve uma ideia: breve refúgio acadêmico em Paris, do qual emergiria com um best-seller em Ciência Política. Segundo o Ministério Público, ele gastou € 600 mil (R$ 2,1 milhões) na contratação do sobrevivente Farino para escrever, na edição e na operação de compra de 17,5 mil exemplares do próprio livro, auxiliado por uma equipe que coordenou por mais de nove meses. Os investigadores mapearam as compras, gravaram Sócrates dando ordens e relataram à Justiça: “As pessoas envolvidas na aquisição dos livros podiam, após a compra, desfazer-se dos mesmos, colocando-os no lixo, dado que o único objetivo era aumentar o número estatístico de exemplares vendidos, de forma tomar o livro um fenômeno de vendas sem precedentes.” 

É missão impossível conseguir um único volume de “A confiança no mundo” nas livrarias de Lisboa. No entanto, sobram cópias das quatro mil páginas do inquérito em que Sócrates é acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude fiscal. Nelas afirma-se que o dinheiro usado para criar o seu “best-seller” teve origem em milionário suborno (R$ 105 milhões) pago pelo banqueiro Ricardo Salgado, do Grupo Espírito Santo, como contrapartida à garantia de lucros com a fusão da Portugal Telecom com a Telemar/Oi negócio de R$ 40 bilhões na época. [sempre oportuno lembrar que a OI do Brasil, nos tempos em que era a Telemar, foi quem descabaçou a famiglia Lula da Silva na corrupção passiva, haja vista que ter sido a ex-Telemar quem fez um investimento de US$ 5 milhões na GAMECORPS, ridícula empresa de fundo de quintal, 'produtora' de games e que pertencia a Lulinha, o fenomenal filho de Lula.
O investimento foi para que o nosso guia assinasse decreto permitindo a OI se expandir pelo Brasil - o que a legislação não permitia antes do 'investimento'.]

Sócrates e Lula embriagaram-se com o projeto da “supertele” lusófona. Deram-lhe formato na quinta-feira, 28 de julho de 2010, dois meses antes da eleição de Dilma Rousseff. Sete anos depois, o ex-primeiro ministro, seu escritor, o ex-presidente e o ex-banqueiro batalham nos dois lados do Atlântico para escapar da cadeia. A Portugal Telecom naufragou. A Oi cambaleia à beira do abismo com R$ 70 bilhões em dívidas.

Fonte: José Casado - O Globo

 
 

sexta-feira, 8 de julho de 2016

A delação que compromete Dilma



Em depoimento, a dona da Pepper, Danielle Fonteles, afirma que recebeu recursos "por fora" num total de R$ 58 milhões, para abastecer as campanhas de 2010 e 2014. Quem a orientou no esquema foi o braço direito da presidente, Giles Azevedo

ENCONTROS SECRETOS
As reuniões entre Giles Azevedo e Danielle Fonteles ocorreram na própria residência da dona da Pepper, no Lago Sul, em Brasília
Assessor especial de Dilma Rousseff, o discreto Giles Azevedo é considerado no Palácio do Planalto os olhos e os ouvidos da presidente da República. O único na Esplanada com autorização para falar em nome de Dilma e a quem ela confia as mais delicadas tarefas. Por isso, quem recebe instruções do fiel auxiliar da presidente não entende de outra maneira: ele fala na condição de enviado da principal mandatária do País. Foi com essa credencial que Giles se aproximou da publicitária Danielle Fonteles, dona da agência Pepper Interativa.

 Em uma série de encontros, muitos deles mantidos na própria residência da publicitária no Lago Sul, em Brasília, Giles orientou Danielle a montar a engenharia financeira responsável por abastecer as campanhas de Dilma de 2010 e 2014 com recursos ilegais. A maior parte do dinheiro oriunda de empreiteiras do Petrolão e de agências de comunicação e publicidade que prestam serviço para o governo federal. As revelações foram feitas pela própria dona da Pepper em seu acordo de delação premiada, a cujo conteúdo ISTOÉ teve acesso. Ainda não homologado, o depoimento tem potencial explosivo, pois sepulta o principal argumento usado até agora por Dilma para se apresentar como vítima de um “golpe” destinado a apeá-la do poder: o de que não haveria envolvimento pessoal seu em malfeitos.
 


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Lições do naufrágio da Oi



Por ser o símbolo da megalomania de Lula, vale reconstituir a trajetória do empreendimento que enriqueceu um punhado de espertos, em detrimento dos contribuintes

As “campeãs nacionais” foram empresas escolhidas durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva para disputar o mercado mundial com as gigantes estrangeiras contando com vasto financiamento e participação estatal.

Pretendia-se gerar conglomerados que fossem ao mesmo tempo competitivos e ajudassem a acelerar o desenvolvimento nacional. O retumbante fracasso de tal iniciativa pode ser medido pelo esfarelamento da Oi, a empresa criada para ser a “supertele nacional” e que acaba de pedir recuperação judicial – a maior da história brasileira, com uma dívida total de R$ 65,4 bilhões. Por ser o símbolo da megalomania de Lula, vale reconstituir a trajetória desse empreendimento que tanto embalou os sonhos de grandeza da tigrada e enriqueceu um punhado de espertos, em detrimento dos contribuintes.

O caso da Oi é marcado por intrigas e negócios suspeitos mesmo antes da existência formal dessa empresa. Tudo começou em 1998, quando a Telemar arrematou a Tele Norte-Leste no leilão de concessão do sistema Telebrás. O consórcio, formado a toque de caixa, era liderado por uma construtora, companhias de seguro e uma empresa da área comercial. [sempre lembrando que tudo começou com o ‘investimento’ a fundo perdido pela antiga Telemar, atual OI, na GAMECORPS, empresa de fundo de quintal do Lulinha, filho de Lula, e que se dedicava a fabricar joguinhos eletrônicos. O valor do investimento US$ 5.000.000 foi o suficiente para Lula assinar um decreto permitindo que a Telemar, atual OI, se associasse a Brasil Telecom com liberdade de atuar em todo o território nacional.

O investimento na GAMECORPS ocupa lugar de honra na galeria de corrupção montada pela petralhada: foi o primeiro suborno de um membro da ‘famiglia’ da Silva.] Sem dinheiro para honrar o compromisso, o grupo apelou para os cofres públicos, associando-se aos fundos de pensão de estatais Previ, Petros e Funcef e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em uma conversa gravada ilegalmente, o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, qualificou a Telemar de “telegangue” e de “rataiada”, o que dá uma ideia da natureza do jogo que estava sendo jogado.

Dez anos mais tarde, em 2008, a Telemar já havia trocado de nome – passara a se chamar Oi, numa tentativa de dinamizar a marca, já com vista à expansão que teria generoso apoio do governo Lula. O governo petista esperava transformar a empresa na “supertele verde e amarela” com a compra da Brasil Telecom, o que de fato ocorreu.

No entanto, para que a compra fosse concretizada, foi necessário que Lula alterasse o Plano Geral de Outorgas, eliminando a regra que restringia a atuação da operadora somente em uma das quatro regiões em que o País foi dividido. Foi assim, com uma canetada, que a Oi se tornou a primeira tele de alcance nacional.

Para que a reconstituição dessa trajetória não fique incompleta, não se pode esquecer que um dos sócios da Oi, a Andrade Gutierrez, havia sido o principal doador da campanha de Lula à reeleição em 2006. E também não se pode ignorar que, em 2005, a antiga Telemar investiu R$ 5 milhões na compra de 30% da Gamecorp, empresa de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, especializada em programas de TV e em jogos para celular, que fechou aquele ano com prejuízo superior a R$ 3 milhões. No ano seguinte, a Telemar/Oi investiu mais R$ 5 milhões na empresa, sem que isso fosse capaz de reverter as perdas da empresa de Lulinha.

Graças a esse modo de fazer negócios – eivado de interesses que nada têm a ver com a boa administração – a Oi jamais chegou a ser a “supertele” que Lula queria. Ao contrário, a empresa afundou em dívidas, obrigando o governo a intervir para salvá-la. A solução, mais uma vez envolta em situações mal explicadas, foi a fusão da Oi com a Portugal Telecom, em 2010. A transação entrou nos radares da Lava Jato e das autoridades portuguesas, pois surgiram suspeitas, ainda sob investigação, de que houve pagamento de propina a integrantes do PT – José Dirceu entre eles.

A fusão da Oi com a Portugal Telecom fracassou, e a dívida tornou-se impagável. A companhia jamais cumpriu a função alardeada por Lula – na lista das maiores empresas do mundo feita pela revista Forbes, a Oi amarga o 1.464.º lugar. Entre as 19 empresas brasileiras que aparecem no ranking, ela perde para 17. É evidente, portanto, que a experiência das “campeãs nacionais” não deu certo, pela simples razão de que esse grau de intervenção do Estado causa profundos desequilíbrios, gerando escassos ganhos para o desenvolvimento do País. E o resultado menos visível dessa estratégia é a corrupção, cuja extensão ainda se desconhece.

Por: Augusto Nunes – Coluna do Augusto Nunes

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Delírios estatistas e corrupção na quebra da Oi

Num fato para a História, o PT se liga aos três maiores fracassos empresariais do país desde Cabral: Petrobras, Sete Brasil e a ‘Supertele’. Há causas comuns

A virtual quebra da Oi, sacramentada pelo pedido de proteção judicial, outro nome de concordata, representa a conversão em pó de delírios estatistas, expressos no sonho que virou pesadelo de ressuscitar o espírito da velha Telebras por meio de uma empresa de capital na prática misto, turbinada com dinheiro público via BNDES (sempre ele), fundos de pensão de estatais e, mais tarde, com um braço internacional baseado em Lisboa (Portugal Telecom, Banco Espírito Santo), com extensões na África de língua portuguesa (Angola, Cabo Verde).

Foi assim que a Telemar, saída de várias costelas da privatização das teles regionais do grupo Telebras, com exceção da Telesp, virou a “Supertele”, em que lulopetistas e a CUT (via fundos de pensão, Previ, Petros, Funcef) tiveram grande influência. E certamente benefícios. Mas, no final, dissabores. A ver se vêm processos.  No outro lado do Atlântico estavam a família Espírito Santo e o primeiro-ministro José Sócrates, com quem o próprio Lula manteria contato. Implodido o grupo Espírito Santo, num caso de fraudes financeiras de repercussão mundial, a Portugal Telecom, que no descenso da ex-supertele veio a ser o maior acionista da Oi, também ruiu. Sócrates, condenado à prisão em regime fechado e, depois, domiciliar, volta e meia é citado na imprensa portuguesa como parceiro de Lula no lado obscuro da proximidade entre a tele dos sonhos lulopetistas, também dos socialistas portugueses, e da família Espírito Santo.

Neste roteiro de seriado de escândalo corporativo, circulam o ex-ministro José Dirceu, trancafiado em Curitiba, como um operador dessa proximidade entre o partido e portugueses, Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, virtual dona da Oi num determinado momento, e apanhado na Lava-Jato. Não se sabe se na delação premiada de Otávio haverá algum capítulo sobre a aventura ultramarina. Ou sobre o patrocínio de Dirceu e dos governos Lula e Dilma à vinda de portugueses para montar no Brasil um grupo de comunicação companheiro. Este também não resistiu à debacle de todos.


Restam, como sempre nessas operações, prejuízos para os contribuintes, via perdas do BNDES (a Telemar era um dos “campeões nacionais” do banco). Também para funcionários de estatais, por meio dos prejuízos dos seus fundos de pensão, e por tabela novamente o Tesouro, onde as empresas públicas baterão à porta, no socorro aos planos de seguridade dos empregados. Perdem, ainda, 877 mil pequenos acionistas, além de investidores internacionais, com os quais deverão micar títulos de dívida da telecom.

A Oi se transforma na maior recuperação judicial do país, com uma dívida de R$ 65 bilhões. Só seria superada se a Petrobras fosse uma empresa privada, condição em que tomaria o mesmo caminho. Mas a estatal também socializará seus rombos quando for ao Tesouro, como as demais. Fica, então, para a História que o lulopetismo está ligado aos três maiores fracassos empresariais no Brasil de Cabral até agora, considerando o estouro da Sete Brasil, outro projeto delirante com o selo do PT, para substituir a importação de plataformas. Como esperado, gerou propinas, ineficiência e um rombo de R$ 19,3 bilhões


Fonte: Editorial - O Globo