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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Briga por vacinas, governantes revoltados, fake news? Isso é Europa - Blog Mundialista

Vilma Gryzinski 

Redução de doses reservadas pela União Europeia com a AstraZeneca desencadeia reações indignadas e insinuações de represália

Briga boa é aquela em que as duas partes têm uma certa dose de razão. É isso o que está acontecendo desde que a AstraZeneca, farmacêutica anglo-sueca com sede em Cambridge, anunciou que não poderia fornecer os 400 milhões de vacinas contratados pela União Europeia. Haveria um corte de até 60% dos estoques previstos para o primeiro trimestre, que cairiam de 80 milhões para apenas 31 milhões – um desastre.

Com razão, as autoridades envolvidas estrilaram . E voaram insinuações de que houve “desvio” de vacinas para o Reino Unido, que foi mais rápido e pagou mais por elas, e que a exportação dos imunizantes poderia ser submetida a controles. Diante do climão, foi até criada uma nova expressão, para caracterizar o “nacionalismo supranacional”. O ápice da ironia, considerando-se que a União Europeia tem como seu maior inimigo o nacionalismo, ao qual é debitada a conta de terremotos como o Brexit, um dos panos de fundo das atuais confrontações.

“A Europa investiu bilhões para desenvolver as primeira vacinas contra Covid-19 do mundo e criar um bem comum verdadeiramente global”, disse a alemã Ursula von der Leyer, a presidente da União Europeia. “Agora, as empresas têm que corresponder. Precisam honrar suas obrigações e é por isso que vamos criar um mecanismo de transparência das exportações”. Também conhecido, oficiosamente, como ameaça de controlar a venda de vacinas para além das fronteiras da União Europeia. 

Isso atingiria diretamente as vacinas da Pfizer fabricadas em Puurs, na Bélgica. A Inglaterra estaria entre os primeiros afetados se a guerra das vacinas chegasse a tal ponto, inimaginável em circunstâncias comuns.  Já nas incomuns, como as atuais, existe até um precedente. Em março, quando explodiu a crise do vírus, o bloco europeu impôs restrições às exportações de máscaras e outros equipamentos de proteção individual.

A AstraZeneca precisa explicar melhor as alterações com a mesma veemência que investiu contra informações passadas por “fontes da coalizão” – uma forma de dizer governo – a dois importantes jornais alemães, afirmando que a vacina desenvolvida pelo laboratório em conjunto com a universidade de Oxford tinha uma eficiência de apenas 8% em pessoas acima de 60 anos. Fake news total: aparentemente, houve uma confusão com os dados fornecidos pelos pesquisadores da Astra, indicando que, na fase de testes, participaram 8% de voluntários na faixa dos 56 aos 69 anos.

Em relação à falha no fornecimento ao bloco europeu, as explicações da AstraZeneca sobre problemas de produção nas fábricas na Alemanha e na Holanda foram consideradas “insatisfatórias” pela Comissão de Saúde da UE. Detalhe: a vacina Oxford/AstraZeneca ainda não foi aprovada pelos organismos europeus, cuja burocrática lentidão também tem sido criticada.Em especial quando comparada ao Reino Unido (10% da população vacinada) e Estados Unidos (6%), a taxa de 2% de vacinação na União Europeia é considerada pífia.

 Isso dá, em números, sete milhões de vacinados em território britânico contra 1,8 milhão na Alemanha, onde a indignação pelo “ritmo de lesma” é maior porque foi um laboratório local, a BioNTech, que desenvolveu a vacina com a parceira Pfizer, uma das grandes farmacêuticas americanas. “O contrato com o Reino Unido foi assinado antes e o Reino Unido, naturalmente, disse ‘vocês vão nos fornecer primeiro’ e isso é muito justo”, disse o CEO da Astra, o francês Pascal Soriot.

Ele também ressaltou que as linhas de produção baseadas em território britânico são mais produtivas porque também saíram na frente para aprimorar seus processos, enquanto as fábricas na Alemanha e na Holanda são as com “produtividade mais baixa da rede”. O problema aconteceu no cultivo de células em larga escala para fabricar o insumo farmacêutico ativo. (As vacinas da AstraZeneca destinadas ao Brasil são produzidas na Índia, pelo Serum Institute, que terá uma fatia de um bilhão de doses no total de três bilhões previstos pela farmacêutica para este ano).

A Pfizer, que exporta para o âmbito europeu a produção de sua fábrica na Bélgica, também teve problemas de atraso devido a adaptações para aumentar a capacidade das instalações. “A situação é inaceitável”, protestaram os ministros da Saúde dos países nórdicos. Quando nórdicos usam termos assim, a coisa é grave.  Mal disfarçando a satisfação em ver os vizinhos europeus em situação complicada, comentaristas ingleses partidários do Brexit usaram termos nada compassivos como “república de bananas” e “era hipersurrealista da guerra das vacinas”.

Podem criticar de barriga cheia: praticamente toda a produção de vacinas utilizadas no reino caminha para ser de fabricação local. Mas se a União Europeia interferir na entrega de 40 milhões de doses da vacina da Pfizer que o Reino Unido comprou “legalmente e legitimamente”, as relações entre a partes seriam “envenenadas” por toda uma geração, engrossou o primeiro-ministro Boris Johnson.

A coincidência entre a primeira fase da vacinação em massa e o agravamento da pandemia, com o temor generalizado de que novas cepas sejam mais deletérias ainda, esquenta os ânimos e causa disputas por um motivo muito simples: todo mundo quer vacina e o mais rápido possível. Atrasar sua distribuição e administração virou o mais mortal dos pecados.

Blog Mundialista - Vilma Gryzinski - VEJA

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O melhor presente de Natal: vacina pronta, testada, em produção - Vilma Gryzinski

Mundialista - VEJA

Os pesquisadores “pulam de alegria”, as bolsas bombam e o mundo comemora os bons resultados da vacina da Pfizer, pronta para ser distribuída

Ela não vai ser a única, mas tem chances de ser a primeira, se for descontada a vacina russa, até agora com pouco sucesso no mercado. A vacina da Pfizer usa uma nova tecnologia para dar “uma pancada dupla” no vírus da Covid-19, ativando  simultaneamente anticorpos e as células de defesa do organismo, segundo descreveu o chefe de pesquisas do laboratório, o sueco Mikael Dolsten.

A imunização demanda duas doses e não sai barata. Em julho, o governo americano “encomendou” 100 milhões de doses da vacina, ainda em fase inicial de testes, por 1,95 bilhão de dólares. Ou seja, 19,50 dólares cada.  Depois do acordo, a Pfizer começou a produção da vacina num laboratório em Puurs, na Bélgica. Todas as grandes farmacêuticas estão usado o mesmo método de fabricação simultânea aos testes, para acelerar os processos.

A Grã-Bretanha também já reservou 40 milhões de doses da vacina da Pfizer, sendo a primeira leva de 10 milhões antes do fim do ano. A explosão de otimismo, medida, entre outros índices, pela reação das bolsas, foi tamanha que o primeiro-ministro Boris Johnson, um dos vários políticos cujo destino está atrelado à pandemia, precisou lembrar dos “obstáculos” ainda no caminho da aprovação final.

 A perspectiva de que o horrível ano de 2020 termine com uma vacina começando a chegar na época de Natal, como nos filmes, desafia qualquer advertência de cautela.

A parte principal do anúncio da Pfizer, que desenvolveu a vacina em conjunto com o laboratório alemão de biotecnologia BioNTech, é que os testes indicaram 90% de eficácia sete dias depois da segunda dose. Vacinas com até 70% ou menos de eficácia já são consideradas factíveis num caso como a pandemia que matou até agora 1,25 milhão de pessoas.

O resultado da vacina da Pfizer vem da primeira análise dos testes com 43 538 participantes. A metade recebeu placebo. O processo de imunização demora ao todo 28 dias. “Hoje é um grande dia para a ciência e para a humanidade”, comemorou o presidente da Pfizer, Albert Bourla. Nascido numa família judia de Tessalônica, na Grécia, ele começou como veterinário, e estava exultante, obviamente, com a boa notícia.

É sempre recomendável que as expectativas otimistas não ultrapassem os dados da realidade. Mas  se a perspectiva de que a imunização em massa seja alcançada já no começo do segundo semestre do ano que vem tirou os cientistas dia Pfizer do sério e deixou os envolvidos “pulando de alegria”, segundo Mikael Dolsten, o resto da humanidade também tem o direito a sonhar com um presentão de Natal.

Blog Mundialista -  Vilma Gryzinski - VEJA