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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Bêbado a uma hora dessa? - Nas Entrelinhas

Apesar de todo o seu poder, Góis Monteiro não escapou da gozação, até mesmo entre os colegas de farda, no auge da luta para o Brasil entrar na guerra contra o nazifascismo

Desculpem-me a analogia. Tem certas coisas no Brasil que não escapam da gozação, mesmo quando são muito sérias e preocupantes. Por exemplo, o namoro de Getúlio Vargas com o fascismo de Benito Mussolini, o ditador da Itália, e o nazismo de Adolf Hitler, da Alemanha, cujo ponto alto foi a entrega da judia alemã Olga Benário, a esposa do líder comunista Luís Carlos Prestes, grávida de sua filha Anita Prestes, à Gestapo. [antes que lágrimas sejam derramadas por compaixão da 'santa' Olga, vale a pena ler sobre o assunto no livro 'Olga! de Fernando de Morais, editado pelo Círculo do Livro. Já no inicio comprovarão que antes de vir para o Brasil a 'santinha' já era uma condenada e fugitiva da Alemanha - condenação proferida por tribunal e  anterior ao nazismo; antes de vir para o Brasil, fez um 'estágio' em Moscou.] Olga foi morta na câmera de gás do campo de extermínio de Bernburg, mas sua filha foi resgatada antes disso, depois de uma grande campanha internacional. Hoje é professora de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). 

Nessa época, em plena ditadura Vargas, havia uma luta surda entre o ministro da Guerra, Góis Monteiro, e o chefe de Polícia do Distrito Federal, Filinto Muller, que defendiam uma aliança com o Eixo, de um lado, e o chanceler Oswaldo Aranha e o almirante Amaral Peixoto, genro de Vargas, que articulavam a entrada do Brasil na guerra ao lado dos Estados Unidos e seus aliados da Europa, de outro.

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Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense



terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Notícias Populares - Nas entrelinhas

“A morte do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, no interior da Bahia, embora a versão oficial seja a de que resistiu à prisão, alimenta suspeitas de queima de arquivo”


Os programas de tevê que fazem a cobertura policial no estilo bandido bom é bandido morto” foram a principal causa do fechamento do jornal Notícias Populares, ligado ao Grupo Folha, que circulou de 1963 a 2001 na capital paulista e se notabilizou pelas manchetes “se-espremer-sai-sangue”e fotos de mulheres nuas. Criado pelo romeno Jean Nelle, abusava do que hoje seria chamado de fake news, como a história do Bebê Diabo, uma série fantasiosa de reportagens sobre uma criança que nasceu com deformações físicas, e o desaparecimento de Roberto Carlos, que, na verdade, estava em viagem aos Estados Unidos e, por isso, não havia sido localizado pelos repórteres do jornal.

Ex-capitão do Bope,  Adriano da Nóbrega, curtindo uma de fazendeiro - papel que não combina com o fuzil que carrega e que não foi encontrado entre as armas apreendidas. Foto: Divulgação


 
No Rio de Janeiro, o jornal Luta Democrática, fundado pelo político fluminense Tenório Cavalcanti, que circulou de 1954 a 1980, também abusava de manchetes sensacionalistas, como “Violada no Auditório”, a propósito do fato de o cantor Sérgio Ricardo ter quebrado o violão durante uma apresentação musical, e “Cachorro fez mal à moça”, um caso banal de infecção intestinal por causa de um sanduíche de salsicha, ambas de autoria do jornalista Carlos Vinhaes. Sexo, sangue, dinheiro e poder eram os quatro pilares dos jornais policiais norte-americanos da década de 1950 que serviram de paradigma para o NP e a Luta.

O escritor norte-americano James Ellroy, autor de Los Angeles — Cidade Proibida, se inspirou no noticiário policial para escrever sua trilogia sobre a política norte-americana, que começa com Tablóide Americano, sobre os bastidores do assassinato do presidente John Kennedy, continua com Seis Mil em Espécie, a operação de “queima de arquivo” da conspiração, e termina com Sangue Errante, no qual narra a derrocada norte-americana no Vietnã e os bastidores do governo de Richard Nixon. Todos foram publicados no Brasil pela Editora Record. Ellroy é um dos grandes escritores “noir”, gênero de literatura policial que surgiu nos Estados Unidos na época do macarthismo. Sua narrativa se baseava em pesquisas sobre personagens reais e muita literatura, ou seja, a fusão de realidade e ficção.

A morte do ex-capitão do Bope do Rio de Janeiro Adriano da Nóbrega, que estava foragido no interior da Bahia, é um prato cheio para um escritor “noir”. Embora a versão oficial seja a de que resistiu à prisão, as circunstâncias de sua morte alimentam suspeitas de que teria havido uma “queima de arquivo”. Adriano não estava sendo investigado no caso do assassinato da vereadora do PSol Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, mas era um dos chefões do chamado Escritório do Crime, grupo de extermínio da milícia do Rio de Janeiro, do qual faziam parte o sargento reformado da PM Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz, suspeitos do assassinato de Marielle.

Adriano era um dos denunciados da Operação Intocáveis, coordenada pelo Gaeco do Rio de Janeiro. Quando foi deflagrada, em janeiro de 2019, foram presos cinco homens acusados de integrar a milícia que atuava em grilagem de terra, agiotagem e pagamento de propina em Rio das Pedras e na Muzema, na Zona Oeste do Rio. Segundo a polícia baiana, estava sendo investigado por envolvimento em operações de compra e venda de gado e de fazendas na Bahia, para lavagem de dinheiro.

Parceiros
Primeiro, a operação ocorreu na Costa do Sauípe. Adriano não foi achado no local. Entretanto, o Bope da Bahia o localizou na chácara do vereador Gilson Lima, do PSL de Esplanada, município a 165 quilômetros de Salvador, irmão do deputado estadual Alex Lima, ex-PTN, hoje filiado ao PSB. Os dois são irmãos de Rodrigo de Dedé, ex-prefeito de Esplanada. O secretário de Segurança da Bahia, Maurício Barbosa, sustenta que os policiais abriram fogo contra Adriano porque ele resistiu à abordagem.


Adriano sempre teve ligações com Fabrício Queiroz, amigo do presidente Jair Bolsonaro e ex-assessor parlamentar do senador Flávio Bolsonaro, então deputado na Assembleia Legislativa fluminense. Os dois trabalhavam juntos no 18º Batalhão da Polícia Militar, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, quando mataram Anderson Rosa de Souza, durante uma ronda na Cidade de Deus. No mesmo ano, por iniciativa do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, a Assembleia Legislativa do Rio aprovou uma moção de louvor a Adriano “pelos inestimáveis serviços” prestados à PM. [cabe um esclarecimento: alguém ser agraciado com uma medalha é fruto da situação do agraciado no momento da indicação - não é uma garantia de que o mesmo não esteja envolvido (envolvimento não público) ou não venha a se envolver em atos ilícitos.
Quem indica, o faz diante de conduta louvável do indicado realizada antes e durante a indicação.]

Adriano foi condenado por homicídio em 2005. Mesmo assim, na Câmara, o então deputado federal Jair Bolsonaro discursou em sua defesa. E a Assembleia Legislativa do Rio concedeu a Adriano a Medalha Tiradentes, sua mais alta honraria, por iniciativa de Flávio. À época, Adriano já era ligado ["ligado"]  aos milicianos. Chefe de gabinete de Flávio na Assembleia, Queiroz empregou a filha e a ex-mulher de Adriano, que são acusadas pelo Ministério Público de terem devolvido a Queiroz R$ 203 mil, parte dos seus salários. Queiroz e Flávio são investigados por envolvimento com a chamada “rachadinha” da Alerj. [causa surpresa que a filha e a ex-mulher de Adriano, estejam sendo acusadas de devolver ao Queiroz, parte de seus salários.

Vamos supor que existisse o suposto esquema de 'rachadinha' envolvendo Queiroz e que ele fosse o coletor das devoluções - que podem ser consideradas extorsões.

Queiroz, concretizada esta hipótese, estaria cometendo o crime de extorsão, mas, quem devolve seria a vítima.
Uma vítima não costuma ser denunciada, exceto em situações excepcionais em que durante o crime praticado contra tenha tido alguma conduta criminosa - mas, no caso da rachadinha os que devolvem não podem ser acusados de extorsão.]

Nas Entrelinhas  - Luiz Carlos Azedo - Corrreio Braziliense

domingo, 17 de julho de 2016

Doutores da escola de Tenório Cavalcanti, milicianos perpetuam cultura da violência na Baixada e na Zona Oeste

Quase 30 anos após a morte de Tenório Cavalcanti, a Baixada Fluminense ainda convive com rajadas tão ruidosas quanto as da mítica Lurdinha, a metralhadora com que o deputado ameaçava adversários políticos e protegia aliados. Antes da projeção nacional que o levaria a Brasília, Cavalcanti encarnava exatamente o que hoje são os milicianos da Baixada e da Zona Oeste. Talvez tenha sido o primeiro deles. Começou a prosperar no fim da década de 1920, quando seu grupo de homens armados oferecia um dos serviços que mais faltava à população pobre que vinha do Nordeste para povoar a Baixada: segurança. Aos seus adversários, reservava a bala. 

 Menos caricato, o miliciano típico do Rio de 2016 é mais audacioso do que foi o Homem da Capa Preta. Fizeram doutorado no assunto, com assassinatos de pré-candidatos a prefeito e vereador meses antes da eleição de outubro. Um deputado federal da região diz que, se a investigação em curso pela Polícia Federal prosperar, serão encontrados números bem maiores. Na Baixada, as primárias são à bala.
 
Incapaz de controlar esses grupos, dado o contágio das polícias Civil e Militar, à Secretaria de Segurança do Rio só resta assistir, sem corar, à convocação das Forças Armadas a cada pleito. Mas, embora ajudem, os militares não garantem uma eleição sem influência da milícia. Pelo contrário: são os milicianos que ditam as regras eleitorais nas áreas que dominam, principalmente nas campanhas municipais.

A intervenção começa no primeiro semestre, quando disputas pelo domínio de bairros e favelas levam a ameaças e mortes. Donos de distribuidoras de gás, de gelo e motoristas de vans, entre outros, são achacados e forçados a contribuir para caixas dois de campanhas de vereadores e prefeitos. Depois, até a hora da eleição, só faz campanha quem paga ou se compromete com o grupo miliciano local.

A contaminação com os políticos favorece a impunidade. A Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) concluiu em 2000 uma CPI sobre o assunto sem comprovar qualquer motivação política concreta para o assassinato de 25 políticos do estado de 1985 até 2000. Uma série de recomendações da CPI das Milícias, de 2008, até hoje não foi cumprida pelo governo do estado.

O fim da cultura de violência política na Baixada e na Zona Oeste passa pelo combate a esses grupos. Por isso, a entrada da Polícia Federal nas investigações, na semana passada, a pedido do procurador regional eleitoral do Rio, Sidney Madruga, é bem-vinda. Mas, sem um combate mais firme às milícias, Tenório Cavalcanti seguirá fazendo escola.

Fonte: Análise - O Globo