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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Pandemia: até quando o povo e a economia aguentam?

 Vilma Gryzinski

Na primeira onda, havia um clima de medo diante do desconhecido; agora, mesmo entre os resignados, imperam a descrença e até o repúdio

E se as vacinas tiverem efeitos limitados? 
E se os mais prejudicados em seu ganha-pão não aceitarem resignadamente o que os novos confinamentos prenunciam? 
E se as economias nacionais não suportarem continuar a manter trabalhadores que não trabalham e empresas que não empreendem?

A semana nem chegou ao meio e a sucessão de más notícias na Europa já derrubou as bolsas, os ânimos e os planos de recuperação dos que escaparam dos estragos da primeira onda da pandemia. Os governantes que juraram nunca, jamais decretar de novo um confinamento tiveram que voltar atrás depois que o número de mortos, reduzidos a quase zero, voltou a entrar na casa das centenas por dia.

Como num jogo de dominó, foram tombando Espanha, França, Itália, Inglaterra, Alemanha. Todos tentando preservar as escolas, cujo fechamento se mostrou tão deletério para as crianças, ou dar alguma esperança de sobrevivência a setores tão devastados como o de bares e restaurantes. Deixá-los funcionar apenas até as 18 horas, como na Itália, não acalmou protestos de garçons, taxistas e oportunistas em geral. 

No mesmo país que, com todo seu poder de dramaticidade, a união nacional diante da peste foi orgulhosamente proclamada das sacadas em que se cantava ópera, o clima está mais para desunião. “Liberdade, liberdade, liberdade”, entoavam manifestantes em Milão, Turim e Nápoles, como na época do Ressurgimento, o movimento do século 19 que levou à unificação da Itália dividida. Também houve protestos na Espanha e na Alemanha, nessa de trabalhadores da “veranstaultungsbranche”, a indústria de eventos, uma das mais atingidas. 

A passividade temerosa dos primeiros meses da pandemia está menos unânime nessa nova fase de proibições. No início da crise, a oposição ao fechamento total partiu principalmente da direita libertária, afetada em seus fundamentos pela intervenção em massa nas atividades privadas. Agora, são as camadas mais prejudicadas pela paralisação que se manifestam.

Para qualquer lugar que se olhe, as perspectivas são negativas. “Vai ser pior dessa vez, com mais mortes”, disse ao Telegraph uma fonte com conhecimento dos prognósticos apresentados a Boris Johnson pelos especialistas que assessoram o governo britânico. “Foi essa a projeção apresentada ao primeiro-ministro, agora fortemente pressionado a impor um novo confinamento”. O cenário projetado é parecido com o do platô infernal que reinou no Brasil durante os meses em que as mortes estabilizaram-se num patamar alto e demoraram para começar a cair.

Na pior projeção, poderia haver 85 mil mortes, quase o dobro do atual total de 45 mil. Os prognósticos altamente negativos estão sendo vazados para convencer a opinião pública a aceitar restrições maiores ainda.

Boris Johnson, Emmanuel Macron e outros líderes europeus estão lidando com a possibilidade de que um confinamento total ou parcial em novembro possibilite um pequeno relaxamento no Natal, um respiro para não estragar totalmente as festas em família. Está difícil. A polícia britânica avisou que, embora não seja sua função, poderá registrar flagrantes de famílias que não obedeçam a regra proibindo que integrantes de domicílios diferentes se reúnam sob o mesmo teto  e cometam o grave crime de comemorar o Natal.

Os pequenos ditadores que moram no fundo de todas as instituições afloraram. No País de Gales, um dos quatro componentes do Reino Unido,  o governo mandou selar todas as gôndolas de supermercados que não tenham produtos de primeira necessidade. E o que são eles? É claro que o governo baixou uma diretiva definindo-os. Brinquedos e enfeites de Natal estão na lista dos proibidões, provavelmente feita por gente que não precisa administrar crianças presas em casa na época das festas de fim de ano.

Um desses burocratas tinha proibido, inicialmente, os tampões absorventes. Certamente não foi uma “pessoa que menstrua”,  a nova designação de mulher. 

Blog Mundialista Vilma Gryzinski, jornalista - Veja - leia MATÉRIA COMPLETA


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Transplante de cabeça = simplesmente impossível. Mas, se fosse possível Dilma seria a primeira candidata



Um transplante de cabeça pode acontecer até 2017, diz cientista
O cientista italiano Sergio Canavero diz que a ciência avançou o bastante para tornar a operação possível. Sua intenção, com ela, é aumentar o tempo de vida de pessoas que sofram de doenças debilitantes

O italiano Sergio Canavero diz que é possível cortar cabeças de maneira elegante. Desde 2013, o cirurgião de Turim, e membro do Grupo de Neuromodulação Avançada de Turim, advoga que é possível fazer um transplante de cabeça bem-sucedido. Em junho deste ano, Canavero dará início a uma iniciativa internacional com o objetivo de realizar a operação até 2017. Sua intenção é, através da cirurgia, aumentar o tempo de vida de pessoas que sofram de doenças debilitantes severas, cujos músculos e órgãos degeneraram ou sofram de câncer em estágio avançado.

Neste mês, o cientista publicou um compilado de técnicas que, segundo ele, permitirão aos médicos transplantar uma cabeça para um novo corpo sadio. É preciso resfriar corpo e cabeça para que suas células sobrevivam sem oxigênio por mais tempo. É necessário, também, cortar as terminações que ligam a cabeça à medula espinhal de maneira cuidadosa e limpa. Depois, para fundir as duas extremidades, Canavero deve borrifar a região com uma substância chamada polietilenoglicol. Ele vai estimular a gordura nas células a se misturar, fundindo cabeça e espinha. Em estudos já realizados, o polietilenoglicol estimulou o crescimento de células da medula espinhal em animais.

Para evitar que o corpo se mova, o indivíduo que passar pelo transplante será mantido em coma por duas ou três semanas. Durante o período, vai receber pequenas descargas elétricas – alguns estudos indicam que esse tipo de estímulo ajuda a criar novas conexões nervosas. Canavero disse
à revista New Scientist que, ao acordar, a pessoa operada será capaz de sentir o próprio rosto e falar com a mesma voz de sempre. Com fisioterapia, dentro de 1 ano ela poderá voltar a andar.

Até hoje, nenhum transplante de cabeça realizado deu certo. Eles foram operados em animais como cachorros e macacos. Feita a operação, os indivíduos sobreviveram por poucos dias. Em 1970, um transplante de cabeça em um macaco terminou com a morte do animal depois de oito dias. Isso aconteceu porque o sistema imunológico do corpo receptor rejeitou a cabeça nova e intrusa. A operação foi realizada pelo Dr. Robert White, da Universidade Harvard. O macaco transplantado respirava com a ajuda de aparelhos e sua medula não foi reconectada: não se movia do pescoço para baixo. Esteve consciente por apenas algumas horas. Quem estava presente diz que, pelas suas expressões, o bicho parecia confuso e cheio de dor.

Canavero acredita que a possibilidade de rejeição é contornável: hoje em dia, a ciência já é capaz de evitar a rejeição no caso do transplante de grandes porções de tecido, como pernas ou transplantes conjuntos de coração e pulmão. Uma cabeça nova pode ser um desafio, mas há cientistas confiantes de que o problema possa ser resolvido.

Outro desafio para Canavero será encontrar um país que autorize a realização de uma operação como essa em humanos. “A grande questão aqui é de natureza ética”, disse ele à
New Scientist. “Esse transplante deve ser feito? Há, obviamente, muitas pessoas que vão discordar”.

Revista Época