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segunda-feira, 11 de julho de 2022

Imprensa lunática - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo

Fazia um tempo que eu não lia a coluna de Vera Magalhães no jornal O GLOBO. 
Fui dar uma conferida para verificar o que a datilógrafa mais bem paga do país anda dizendo por aí. 
E fiquei simplesmente de queixo caído com o grau de inversão em suas narrativas!

Na coluna de hoje, Verinha simplesmente responsabiliza Bolsonaro pela imagem negativa do STF perante... bem, basicamente TODOS! Ela afirma que os bolsonaristas foram bem sucedidos na "campanha de difamação" e que os ministros supremos se sentem acuados (difícil de perceber isso quando mandam prender até deputado ou jornalista de forma arbitrária). Diz Vera:

O presidente conseguiu incutir em apoiadores na Esplanada dos Ministérios e no Congresso a versão segundo a qual o Supremo Tribunal Federal (STF) o impede de governar ou exorbita de suas atribuições. Mesmo políticos que publicamente se colocam como opositores do presidente partilham, em privado, essa avaliação a respeito da atuação dos ministros, o que leva a que, hoje, o Judiciário seja uma ilha isolada na Praça dos Três Poderes. E seus integrantes se percebem dessa maneira.

Imagina só pensar que ministros que fazem campanha política contra o atual presidente, que abrem inquéritos ilegais assim considerados pelos maiores juristas do país, que fazem "live" com influenciadores antibolsonaristas, que se consideram o bem incorporado contra o mal absoluto que seria o próprio presidente, que exigem explicações para as políticas públicas em 24 horas o tempo todo, etc etc etc, imagina só, dizia eu, pensar que ministros que agem assim estariam "exorbitando de suas atribuições"! Onde já se viu?!

Segundo Vera Magalhães, isso não passa de uma "versão", de Fake News
Bolsonaro é tão sinistro que convenceu até o jurista Ives Gandra Martins! As Forças Armadas, que foram convidadas pelo TSE e depois ridicularizadas e ignoradas pelo mesmo TSE, também estariam sob influência do "nefasto" presidente, com seus poderes de hipnose.
 
Nem passa pela cabeça da jornalista de esquerda que os ministros supremos possam, de fato, estar mesmo abusando e muito de suas funções, agindo como militantes partidários. Vera afirma que Bolsonaro é antiestablishment e por isso não é possível "pacificar" a relação. Acerta numa coisa: é o sistema podre todo contra o presidente. 
Ela "só" erra quem é o lado agressor e antidemocrata nessa briga...
 
Claro que, ao rebater as sandices de Vera, estou expondo toda uma imprensa tucanopetista que, por ódio a Bolsonaro, passa pano em todo tipo de abuso supremo
É uma mídia lunática, que vive em um país paralelo, criado em seus delírios ideológicos. 
Nessas fantasias, Bolsonaro é um golpista perigoso, e quem rasga a Constituição diariamente para perseguir Bolsonaro, efetivamente praticando um golpe, são os salvadores da democracia, que estariam "acuados" pelo presidente, coitadinhos...
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

segunda-feira, 10 de junho de 2019

A crise de Itararé (a que não houve) e a dúvida existencial da oposição

Semanas atrás, a agitação em torno da anunciada instabilidade, talvez terminal, do governo Jair Bolsonaro trouxe um ânimo para a oposição. Que andava meio entorpecida (natural, nas circunstâncias) e recebeu uma lufada de ar naquele 15 de maio. Baixada a poeira, a realidade se impôs: tudo continua mais ou menos do jeito que estava.  A oposição tem um longo caminho pela frente, pois a hegemonia da direita leva jeito de ser menos provisória do que poderia parecer no pós-eleição. E os atritos intestinos no governo e no bloco político nascido da longa crise (aí sim, a palavra cabe) de 2013-18 são, como a diz palavra, internos. Os personagens em luta pelo poder são uma turma só.
Algum governista está tão infeliz que apoiaria a volta do PT, ou algum satélite?  
[ NÃO.] Se você não vive no mundo da lua, e por isso respondeu negativamente, pode concluir fácil que as melancias estão chacoalhando e se ajeitando na carroceria do caminhão situacionista mas ele não está perto de capotar. E nunca esteve. Mais uma batalha de Itararé.
A raiz da agitação está num fato e numa constatação. O fato: a eleição do ano passado teve um vencedor, o bolsonarismo, um perdedor, o petismo, e os dizimados, o chamado centro liberal e a social-democracia não propriamente de esquerda. A constatação: a relativa instabilidade deve-se a que os dizimados querem mandar nos vencedores.
  Mas isso só seria viável se os dizimados aceitassem juntar com os derrotados numa frente ampla para emparedar o governo. E o que exatamente têm a oferecer à esquerda, além da agenda do progressismo liberal? A liberdade de Lula? Mais oxigênio (recursos) para os sindicatos? A volta da reforma agrária? Mais orçamento para os pobres?
Difícil. O dito centro está aprisionado pela direita pois as diferenças entre ambos não estão no que fazer. Estão no jeito de fazer. O pedaço da elite econômica e política que torce o nariz para Bolsonaro não tem alternativa à agenda dele. Daí que enquanto o apocalipse era anunciado o Congresso voltava a andar, e sintonizado.
Então tudo são flores para o governismo? Não. Ele tem seu encontro marcado com a crescente turbulência política se a economia e os empregos não reagirem. Mas isso ainda leva algum tempo. E quando mais o Congresso enrolar na reforma da previdência mais o presidente poderá dizer que a situação só não melhora por causa dos políticos.
Sim, a tática tem limite, pois governos são eleitos para resolver, e não para explicar por que não resolveram
E a esquerda? Tem um problema, uma oportunidade e uma dúvida. O problema é o isolamento social. A oportunidade é a onda antiestablishment, quem sabe?, abrir possibilidades para o “novo de esquerda”, pois a direita está no poder. A dúvida? Se dá prioridade a alternativas eleitorais próprias ou se apoia dissidências do outro lado.
A resposta a essa última questão vai depender principalmente de que programa a esquerda vai levar às campanhas eleitorais do próximo ano e de 2022. Se optar por uma plataforma liberal-progressista, termo que a Ciência Política vem usando, será quase automático que não consiga se distinguir do tal centro, e será natural o apoio a terceiros. 
Mas se preferir um caminho mais raiz, explorando a polarização social e o custo do ajuste austero liberal, a esquerda precisará construir dentro de seu campo alternativas eleitorais. Algumas viáveis, algumas destinadas a preparar o terreno para dali a dois anos. Quando enfrentará ou Bolsonaro ou um bolsonarismo recauchutado para agradar aos salões.
*

Os Estados Unidos do livre-comércio distribuem sanções e sobretaxas a torto e a direito, como cura para todos os males. E esta semana China e Rússia saíram em defesa da “globalização de face humana”. O mundo não está para principiantes. 


terça-feira, 2 de abril de 2019

O governo, visto por Guedes

Acaba de completar três meses no centro do poder em Brasília um sonho de antigo militante do liberalismo. “Eu sou de Marte, cheguei agora, estou olhando”, disse a meia centena de senadores, semana passada. Tentava amenizar as relações com o Congresso — onde o esporte predileto sempre é falar mal do governo.  Paulo Guedes, ministro da Economia, enriqueceu com o Plano Real, e guarda eterna gratidão aos formuladores: “Foi o plano monetarista mais brilhante que já vi: juros na lua... Foi muito generoso comigo. Eu tinha o meu banco... Foi muito generoso.”

Eis o panorama, visto da sua janela: “Lá fora (do país) perguntam: ‘A democracia está em risco?’ Eu: ‘De jeito nenhum, mudou o polo de gravidade, para o outro lado’... Apesar de ser alguém que estava com vocês aí (parlamentares) há 30 anos, era considerado como um antiestablishment.” “Foi uma aliança em torno de valores” —acrescenta —, “e mais uma aliança com liberais. Virou uma espécie de aliança de centro-direita. No combate da eleição, se definiu: ou é esquerda ou é centro-direita, o que é uma simplificação. No fundo, a gente sabe que não é isso. No fundo, a gente sabe que um social-democrata bem centrado está muito próximo de um liberal-democrata. E eles estão muito longe dos extremos. Seja da extrema direita ou da extrema esquerda.”

Acabara de tomar um susto com a aprovação de emenda constitucional na Câmara em dois turnos e em uma hora —, tornando obrigatórias mais despesas orçamentárias. “Foi uma exibição de poder político.” Outro sobressalto ocorreu ao suspeitar que seria tratado como adversário pelos próprios aliados do PSL de Bolsonaro ao explicar-lhes a reforma da Previdência. “É um choque de acomodação”, contemporiza.

Talvez. Batalha maior, permanente, acontece dentro do governo. De um lado está um presidente crédulo nas virtudes da concentração de poder. De outro, há um ministro da Economia empenhado “em tentar formar uma liberal-democracia”. Por ironia das urnas, são prisioneiros das próprias convicções.
 
José Casado, jornalista - O Globo