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quarta-feira, 24 de maio de 2023

Pela Constituição - Temos Constituição, mas só é cumprida se o Supremo quiser - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo - Vozes

Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, localizado no Parque Ibirapuera, em São Paulo.| Foto: Governo do Estado de São Paulo

Neste 23 de maio faz 91 anos que quatro estudantes paulistas morreram por uma Constituição. Getúlio Vargas havia assumido o poder pela Revolução de 1930, e governava discricionariamente, arbitrariamente, segundo sua vontade, sem assembleias que representassem o povo no Poder Legislativo. A federação deixara de existir - país unitário.  
São Paulo já era o estado mais importante - e o mais atingido. 
Não se conformou com isso. E começaram manifestações; em 25 de janeiro de 1932, aniversário da cidade, 100 mil pessoas se reuniram na Praça da Sé. No dia 23 de maio, numa esquina da Praça da República, houve confronto entre manifestantes e um grupo armado pró-Vargas. Fuzilaria e muitos mortos, entre eles, quatro jovens estudantes, que entraram para a história do Brasil como MMDC: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. O Obelisco do Ibirapuera, o mais alto monumento da cidade, foi construído para abrigar os corpos dos quatro precursores da Revolução Constitucionalista de 32.
 
Hoje convivemos com uma situação parecida. Temos Constituição, mas só é cumprida se o Supremo quiser.  
Somos chamados de República Federativa, mas a prática tributária mostra que o sistema é unitário, porque tudo depende do governo federal. Estados e municípios andam de pires na mão, à mercê da caridade federal. A existência de três poderes apenas está escrita na Constituição, mas a prática é a hegemonia do Supremo  sobre os demais - ironicamente, o Judiciário é o único que não tem representação popular, não recebe a procuração do voto. 
A Constituição, como garantidora de liberdades básicas e do devido processo legal, não tem-se imposto a decisões monocráticas de juízes do Supremo. Os direitos de reunião, de opinião, de expressão, estão reprimidos pelo medo, ante decisões que dispensam inquérito legal, ministério público, juiz natural e contraditório.
 
O chefe do Poder Executivo foi impedido de nomear subordinados, o presidente do Senado tem medo de adotar os remédios previstos na Constituição para retornar à normalidade democrática.  
Prisões em massa de manifestantes sem flagrante e cassação de mandato de deputado sem justa causa, deixam os mandantes e os mandatários com medo de se manifestarem. Diferente de 1930 nas aparências, mas não nas consequências.
 
A prisão de 1.390 manifestantes e a conversão deles em réus, certamente tem o efeito de atemorizar e dissuadir os que pretenderem manifestar nas ruas seu desejo de ver cumprida a Constituição. 
Afinal, os mais ingênuos queriam vê-la ultrapassada por forças militares. Erraram de endereço. Gritaram em vão diante dos quartéis.  
O alvo deveria ser os ouvidos de Rodrigo Pacheco. Mas, enfim, exerceram o livre direito de expressão sem anonimato, garantido pela Constituição. 
A prisão deles, em massa, era para intimidar. Mas os teimosos pela Constituição voltaram domingo às ruas  - e na icônica Curitiba - em favor de um deputado injustiçado, Deltan Dallagnol.  Não temeram, tal como os paulistas de 32. Haverá um dia um obelisco para eternizar os que lutam hoje pela Constituição.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

 


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

HEGEMONIA OU POLARIZAÇÃO? - Percival Puggina

Há um poder multiforme instalado no país. Décadas de formação e consolidação lhe permitem agir por conta própria e com agendas próprias. Embora de esquerda e interaja com seus partidos, dispensa representação política, tal a liberdade com que opera. O poder multiforme vale-se da democracia e das instituições para agir até contra a vontade das urnas na comunicação, no ambiente cultural, no sistema de ensino, no Poder Judiciário, no Ministério Público. Controla seus militantes no aparelho estatal e, embora laicista, influencia diretamente algumas igrejas.

O nome disso é hegemonia, fenômeno nefasto à democracia, que só pode ser superado pelo surgimento de força oposta, em um novo polo, vale dizer, através de polarização. No desempenho de seu papel acusador, investigador e julgador, o ministro Alexandre de Moraes costuma elencar, entre as razões de seu enfado contra alguém, o “estímulo à polarização”, ou o “reforço ao discurso de polarização”. A palavra entrou para o circuito dos chavões sem sentido no mundo dos fatos contra os quais briga.

Polarização é condenada por quem quer ser “terceira via”, ou por quem rejeita o conservadorismo, como o ministro e a quase totalidade de seus pares. Por longos anos, a formação esquerdista constituiu atributo necessário à indicação para o Supremo.

Tão logo Bolsonaro foi eleito, tudo ficou muito evidente. Ele poderia ser perfeito como um cristal de Baccarat (coisa que, não é) e ainda assim desabariam sobre ele e seu governo os males que pudessem pedir ao deus da mitologia nórdica, Thor e seu martelo de raios e trovões.  
A eleição do novo presidente inquietou a hegemonia esquerdista no país.  
Os mais poderosos setores de influência política e cultural na sociedade brasileira não concedem a isso indulto, nem habeas corpus.
 
Pelo muito que a hegemonia significa para a imposição de um poder efetivo sobre a vida social, era preciso que o imprevisto eleitoral tivesse a mais curta duração possível. 
A derrota da esquerda não a destruiu nem a levou a parar com o que sempre fez. 
No entanto, serviu para dar nitidez à sua existência e para mostrar o quanto era necessário o surgimento de outro polo no espaço real onde vivem cidadãos comuns, com anseios também comuns por liberdade, ordem, segurança, justiça e progresso; cidadãos que prezam a sacralidade do espaço familiar, o direito de propriedade e de defesa; cidadãos que afirmam valores comuns à cultura ocidental de que são herdeiros.

É isso que nós, conservadores, sustentamos. Esse é o polo onde nos situamos, de onde não queremos sair, e onde persistiremos em agir, malgrado as dificuldades que nos são impostas pelos ardilosos que protegem sua hegemonia condenando a polarização.

Se até eu aprendi, lendo Gramsci, que a banda toca assim...

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 21 de setembro de 2019

Lula livre - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Não por ele ou pelo PT, mas em defesa de um precioso bem público: o Estado de Direito

[pergunta boba, mas, pertinente: Que 'estado de direito' é este?  que entre as várias coisas que impõe se destaca o respeito irrestrito a Constituição, se para manter tal 'estado' se viola a Constituição que determina que prova ilícitas não serão anexadas ao processo (o que não está no processo não existe no mundo.

Provas que também não foram devidamente periciadas para confirmação de sua autenticidade.]

O STF examinará, logo mais, as condenações impostas a Lula. Hoje sabemos, graças à Vaza Jato, que os processos tinham cartas marcadas. O conluio entre Estado-julgador e Estado-acusador violou as leis que regulam o funcionamento do sistema de Justiça. A corte suprema tem o dever de preservar o Estado de Direito, declarando a nulidade dos julgamentos e colocando o ex-presidente em liberdade.
Lula livre. Evito adicionar o clássico ponto de exclamação porque, sob a minha ótica, Lula é politicamente responsável pela orgia de corrupção que se desenrolou na Petrobras.

A corrupção lulopetista nasce de uma tese política elaborada, em versões paralelas, por José Dirceu e Luiz Gushiken. O PT, no poder, deveria modernizar o capitalismo brasileiro, encampando o programa que uma “burguesia nacional” submissa ao “imperialismo” recusava-se a conduzir. Lula converteu a tese em estratégia, articulando a aliança entre empresas estatais, fundos de pensão e setores do alto empresariado privado que reativaria nosso capitalismo de Estado. Numa segunda volta do parafuso, parte da renda gerada pelo mecanismo financiaria o projeto de poder, assegurando ao lulopetismo uma maioria parlamentar estável e a hegemonia perene na arena eleitoral.

O mecanismo corrupto provocou uma erosão nos alicerces da democracia. Lula e o PT devem ser julgados por isso, mas no tribunal certo, que é o das urnas. Não creio em bruxas. Do Planalto, Lula avalizou pessoalmente a colonização de diretorias da Petrobras por agentes do PT, do PMDB e do PP que aplicaram as regras do jogo da corrupção, distribuindo contratos ao cartel de empreiteiras e cobrando propinas destinadas tanto a seus amos políticos quanto a formar patrimônios próprios.

A promiscuidade entre o presidente e as empreiteiras estendeu-se para além das fronteiras nacionais, gerando contratos corruptos, financiados pelo BNDES, com governantes amigos na América Latina e na África. Lula beneficiou-se diretamente do mecanismo, por meio de palestras no exterior patrocinadas pelas empreiteiras. Nelas, um ex-presidente que detinha a palavra final no governo da sucessora traficava influência, trocando seus bons ofícios por remunerações milionárias. Segundo minha convicção, o tribunal dos eleitores não cobre toda a responsabilidade de Lula. Acho que ele deve responder perante a lei por uma cadeia de atos de corrupção que lhe propiciaram benefícios políticos e materiais. Mas, felizmente, [sic]  na esfera jurídica, o que eu penso —e o que você, leitor, pensa— não tem valor nenhum. No Estado de Direito democrático, juízes independentes ignoram o “clamor popular”, escrevendo sentenças embasadas na lei e informadas por um processo delimitado por formalidades que protegem os direitos do réu. Fora disso, ingressamos no mundo da Justiça politizada, que é o de Putin, Erdogan e Maduro.

Sergio Moro agiu como juiz de instrução italiano, uma espécie de coordenador dos procuradores —mas no Brasil, onde inexiste essa figura, não na Itália, onde um juiz diferente profere a sentença. Batman e Robin. Moro e Dallagnol, comparsas, esculpiram juntos cada passo do processo, nos tabuleiros judicial e midiático. No Partido dos Procuradores, milita também a juíza Gabriela Hardt, que copiou a sentença de Moro para fabricar a do sítio —e que, num trecho original de sua peça plagiária, trata José Aldemário Pinheiro e Leo Pinheiro, nome e apelido da testemunha-chave, como pessoas distintas.

Batman, Robin e cia merecem sentar no banco dos réus sob a acusação de fraudar o sistema de Justiça. Lula livre, não por ele ou pelo PT, mas em defesa de um precioso bem público, de todos nós, ao qual tantos brasileiros pobres precisam ter acesso: o Estado de Direito. Que o ex-presidente seja processado novamente, segundo os ritos legais, e julgado por magistrados sem partido.

Demétrio Magnoli, sociólogo, artigo publicado na Folha de S. Paulo
 
 

segunda-feira, 10 de junho de 2019

A crise de Itararé (a que não houve) e a dúvida existencial da oposição

Semanas atrás, a agitação em torno da anunciada instabilidade, talvez terminal, do governo Jair Bolsonaro trouxe um ânimo para a oposição. Que andava meio entorpecida (natural, nas circunstâncias) e recebeu uma lufada de ar naquele 15 de maio. Baixada a poeira, a realidade se impôs: tudo continua mais ou menos do jeito que estava.  A oposição tem um longo caminho pela frente, pois a hegemonia da direita leva jeito de ser menos provisória do que poderia parecer no pós-eleição. E os atritos intestinos no governo e no bloco político nascido da longa crise (aí sim, a palavra cabe) de 2013-18 são, como a diz palavra, internos. Os personagens em luta pelo poder são uma turma só.
Algum governista está tão infeliz que apoiaria a volta do PT, ou algum satélite?  
[ NÃO.] Se você não vive no mundo da lua, e por isso respondeu negativamente, pode concluir fácil que as melancias estão chacoalhando e se ajeitando na carroceria do caminhão situacionista mas ele não está perto de capotar. E nunca esteve. Mais uma batalha de Itararé.
A raiz da agitação está num fato e numa constatação. O fato: a eleição do ano passado teve um vencedor, o bolsonarismo, um perdedor, o petismo, e os dizimados, o chamado centro liberal e a social-democracia não propriamente de esquerda. A constatação: a relativa instabilidade deve-se a que os dizimados querem mandar nos vencedores.
  Mas isso só seria viável se os dizimados aceitassem juntar com os derrotados numa frente ampla para emparedar o governo. E o que exatamente têm a oferecer à esquerda, além da agenda do progressismo liberal? A liberdade de Lula? Mais oxigênio (recursos) para os sindicatos? A volta da reforma agrária? Mais orçamento para os pobres?
Difícil. O dito centro está aprisionado pela direita pois as diferenças entre ambos não estão no que fazer. Estão no jeito de fazer. O pedaço da elite econômica e política que torce o nariz para Bolsonaro não tem alternativa à agenda dele. Daí que enquanto o apocalipse era anunciado o Congresso voltava a andar, e sintonizado.
Então tudo são flores para o governismo? Não. Ele tem seu encontro marcado com a crescente turbulência política se a economia e os empregos não reagirem. Mas isso ainda leva algum tempo. E quando mais o Congresso enrolar na reforma da previdência mais o presidente poderá dizer que a situação só não melhora por causa dos políticos.
Sim, a tática tem limite, pois governos são eleitos para resolver, e não para explicar por que não resolveram
E a esquerda? Tem um problema, uma oportunidade e uma dúvida. O problema é o isolamento social. A oportunidade é a onda antiestablishment, quem sabe?, abrir possibilidades para o “novo de esquerda”, pois a direita está no poder. A dúvida? Se dá prioridade a alternativas eleitorais próprias ou se apoia dissidências do outro lado.
A resposta a essa última questão vai depender principalmente de que programa a esquerda vai levar às campanhas eleitorais do próximo ano e de 2022. Se optar por uma plataforma liberal-progressista, termo que a Ciência Política vem usando, será quase automático que não consiga se distinguir do tal centro, e será natural o apoio a terceiros. 
Mas se preferir um caminho mais raiz, explorando a polarização social e o custo do ajuste austero liberal, a esquerda precisará construir dentro de seu campo alternativas eleitorais. Algumas viáveis, algumas destinadas a preparar o terreno para dali a dois anos. Quando enfrentará ou Bolsonaro ou um bolsonarismo recauchutado para agradar aos salões.
*

Os Estados Unidos do livre-comércio distribuem sanções e sobretaxas a torto e a direito, como cura para todos os males. E esta semana China e Rússia saíram em defesa da “globalização de face humana”. O mundo não está para principiantes. 


quarta-feira, 6 de março de 2019

O general diz que sua função no governo é assegurar a estabilidade, cutuca o filósofo Olavo de Carvalho e confessa que não liga para as redes sociais

SAIU DE CENA o general que em 2015 chamou a eventual queda da então presidente Dilma Rousseff "descarte da incompetência, má gestão e corrupção". E que, dois anos depois, acusou governo de Michel Temer- de ser "um balcão de negócios". Em seu lugar, entrou em cena o político de terno bem cortado, autor de declarações que colidem com o que diz e pensa seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro.


A Venezuela pega fogo? 
"É problema dos venezuelanos, não vamos nos meter", disse ele. Jean Wyl]is renunciou ao mandato de deputado pelo PSOL por se sentir ameaçado? "Lamento, pois numa democracia lodo mundo tem o direito de defender suas ideias", decretou Antonio Hamilton Mourão, de 65 anos, torcedor do Flamengo e jogador de vôlei, está à vontade no cargo de vice-presidente, e com a corda toda. A seguir, sua entrevista.


O senhor acaba de participar na Colômbia de uma reunião sobra a Venezuela. A crise venezuelana tem jeito?

Tem. E passa pela saída de Maduro e sua turma mais próxima. Em seguida, por meio de eleições livres, justas e sob supervisão internacional, os venezuelanos escolherão seu novo presidente. A não ser assim, a crise ainda se arrastará por muito tempo.

O senhor achou desleal e vazamento dos áudios trocados por Gustavo Bebianno  e o presidente?

Conversas íntimas são intimas. Se Bebianno queria provar que se comunicara como presidente, poderia ter escolhido outro diálogo qualquer para divulgar. Aquele sobre a Amazônia, por exemplo, em que o presidente cancela urna viagem à região. E não uma conversa em que o presidente se refere a uma rede de televisão (a Rede Globo).

O presidente não teria sido desleal antes, ao chamar seu ministro de mentiroso em público?

No momento da troca de mensagens, o presidente se recuperava de urna cirurgia. Estava sob o efeito de antibióticos fortes. Não era momento para discussões.


Até quando os filhos do presidente se meterão em assuntos do governo?

A família do presidente é muito unida por tudo o que enfrentou. Com ele em forma, cada filho entenderá o tamanho da cadeira que tem.


É certo que uma pessoa vá despachar com o presidente e encontre ali um de seus filhos?

Se o assunto a ser despachado for sigiloso, acredito que o presidente não permitirá a presença do filho.


A atuação dos filhos preocupa a ala militar do governo?

A grande preocupação que temos é que o governo realize aquilo a que se propôs. Que não se perca num emaranhado de questões menores. Que se concentre no que de fato é relevante.


O senhor já conversou com o presidente sobre a questão dos filhos?

Não. Desde que sofreu o atentado, o presidente tinha uma situação de saúde difícil, com risco de vida, e a família se aproximou muito dele. Era a defesa do patriarca. Agora, ao ver que o pai está bem, cada um dos filhos cuidará de suas atividades. Se a partir de agora ocorresse algo distinto, aí seria o caso de eu conversar com ele.


Esgotou-se a crise provocada pelo episódio que envolveu Bebianno e o presidente?

Sem dúvida. Acho que há um espírito crítico muito aguçado sobre o nosso governo, principalmente em tomo da figura do presidente. Desde o primeiro dia é urna cobrança para que tudo seja resolvido logo, como se tivéssemos urna varinha de condão. Estão aí o projeto da nova Previdência, o do combate ao crime e ã corrupção. Acho natural a pressão sabre o governo, mas o episódio Bebianno acabou.

"Agora, ao ver que o pai está bem, cada um dos filhos cuidará de suas atividades. Se a partir de agora ocorresse algo distinto, aí sena o caso cie eu conversar com ele"


A cobrança não acontece com todos os governos?

Acompanho o trabalho dos analistas. Mas o que disseram sobre a eleição do presidente do Senado? Que se Renan Calheiros fosse eleito seria ruim para o governo. Ele perdeu. O que passaram a dizer? Que a derrota dele seria ruim para o governo. Nossos analistas ainda estão querendo entender o que se passa. Por exemplo: a história de ala militar do governo. Não tem, não tem grupo militar.


Não tem?

Existem militares que foram selecionados pelo presidente. Eu me coloco fora disso. Fui eleito junto com ele. Nada tenho a ver com o pacote grupo militar. O general Augusto Heleno também não, porque ocupa cargo destinado à militar. Você sempre poderá dizer que o general Fernando Azevedo e Silva, da Defesa, ocupa um cargo que na maioria das vezes pertenceu a um civil, Mas ali ele não é um estranho no ninho. Parece até que os militares se reúnem todo dia e perguntam: "E ai, o que vamos fazer agora?". Não existe isso.


O presidente consulta os militares antes de tomar uma decisão?

Não, não. A imprensa está criando uma tutela que não existe.


Nos três últimos governos do período militar havia, em cada um deles, sete ministros militares em cargos tradicionalmente destinados a civis. Agora, são oito.

O presidente é oriundo do meio militar. A relação com seus auxiliares mais próximos é de confiança. Tenho confiança em fulano, vou botar o fulano. O que acontecia antes? Você pegava o ministério A e o entregava ao partido B. E seguia o baile. Era assim que funcionávamos.


°General Eduardo Villas Boas disse que é preciso separar o Exército do governo.

Concordo com ele. O Exército continua a cumprir sua missão constitucional.


Para quem está de fora é difícil achar que governo e Exército seguem separados.

Tem de ser visto assim, cada um do seu lado.


Se o governo der errado, o fracasso poderá respingar nas Forças Armadas?

Risco há, mas as Forças Armadas sempre serão unia instituição permanente. Devido a erros recentes, criou-se a mentalidade de que a correção de rumos só se daria por meio de um grupo militar. Ela ocorrerá, sim, pela ação dos brasileiros de bem.


O senhor recebe com frequência pessoas das quais o presidente prefere manter distância. Qual é a Ideia?

O presidente, assim como eu, tem urna visão clara: fomos eleitos para governar para o pais todo. Hoje eu me vejo como uma pessoa que pode receber muita gente, estabelecei ido assim um diálogo. O presidente é mais ocupado, tem de tornar decisões o tempo todo.


Isso cria ruído entre o senhor e o presidente?

Não. Eu recebo as pessoas, sias demandas, e as que considero justas encaminho aos ministérios competentes, ou então vou conversar com o presidente a respeito.
 

Por que o presidente se mantém afastado de mídia ou de parte dela?

Parte da mídia nunca foi condescendente com o presidente. Tratou-o até com certo sarcasmo, como uma figura folclórica. Ele não é isso. Sempre foi um homem de ideias, quer você concorde ou não com elas. Ele ainda está magoado. Só o tempo poderá resolver.


O senhor não tem mágoa?

Nunca sofri as críticas que ele sofreu. Às vezes falam, basta olhar as redes sociais. Mas não dou bola para isso.


Trump e Bolsonaro dão, não?

Esse ainda é um caminho que está sendo descoberto. As redes sociais viraram o que era o sonho da esquerda: a democracia direta.


Até que a esquerda perdeu a hegemonia nas redes.

Na verdade, ela não tinha hegemonia nas redes. Tinha na grande imprensa, por questões que não seria o caso de discutirmos aqui. As redes sociais permitem que todos escrevam. Não sou fã delas. Estou no Twitter, porque é aquela história: se você não pode com ele, una-se a ele. Tenho um assessor que se encarrega de postar. Mas tudo o que sai ali é sob minha supervisão. Às vezes, respondo a comentários.


O senhor exclui comentários incômodos?

Não, deixo lá. Não estou preocupado com essas coisas.


Nem com os comentários do filósofo Olavo de Carvalho?

Olavo nunca se sentou para conversar comigo. Nunca li livro dele, mas li artigos em jornais. Em determinado momento no Brasil, ele era o único cara que tinha um pensamento de direita.


O senhor gostava do que lia?

De algumas coisas, sim. Outra, eu achava que ele estava muito além do jardim...

Olavo de Carvalho emplacou dois ministros no governo e faz a cabeça dos filhos do presidente e até a dele mesmo. 0 senhor não o subestima?


Não é questão de subestimar. Olavo arrumou aí, em linguagem militar, uma via de acesso por onde progride, conquista adeptos, os filhos do presidente gostam dele... É urna questão de gosto.


O senhor e o presidente conversam muito?

Durante a campanha, ele passou boa parte do tempo no hospital ou em recuperação. Depois da posse, viajou e novamente se hospitalizou. Trocamos mensagens pelo celular. Não gosto de perturbá-lo. Prefiro manter uma posição mais recuada, e, quando ele precisa ou eu adio que devo ir lá, vou. Várias vezes, sozinhos, já tivemos longas conversas.


O presidente não poderia aproveitar melhor o senhor?

Na primeira reunião depois da nossa vitória, ele perguntou se eu não queria um ministério. Não quis. Até para que ele pudesse compor o governo de maneira mais ampla. A figura do vice existe para assegurar a estabilidade. À medida que for necessário, o presidente poderá me delegar missões. Estou naquilo que em linguagem militar se chama "dispositivo de expectativa".
 

"Parte da mídia nunca foi condescendente com o presidente. Tratou-o até com certo sarcasmo, como uma figura folclórica. Ele não é isso. Ele ainda está magoado"

O senhor gostou de trocar a farda pelo terno de politico?

Meu tempo de Farda havia se esgotado. Foram 51 anos usando uniforme.
Quando terminar o mandato. pretende continuar na politica?
Vamos ver o que acontecerá daqui para a frente. Se o presidente prosseguir...


E se não?

Se ele não prosseguir, acho que terminarei por aqui A renovação é importante.


A democracia brasileira está forte ou inspira cuidados?

Forte. A democracia liberal enfrentou e venceu a crise dos impérios na I Guerra, o nazifascismo na II Guerra, o comunismo, e agora vive a crise da sociedade de consumo, da comunicação ampla, da queda de todas as fronteiras. A nossa, em particular, tem dado mostras de sua força. Veja o que enfrentamos nos últimos tempos.  E todas as crises foram resolvidas dentro dos limites do nosso sistema.


E assim continuará?

É claro. Sou crítico de várias coisas. Do nosso sistema político. Do partidário, que é uma zorra. Deveríamos ter partidos políticos que representassem as várias correntes de pensamento, e ai estaríamos até mais fortes.


O PT fez boas coisas pelo Brasil?

Vamos colocar assim... A parcela boa do PT tem o pensamento voltado para a solução dos problemas sociais, apesar de eu não concordar com ela em tudo. Você não tem de dar esmola, mas capacitar as pessoas oferecendo-lhes saúde, educação de qualidade. Não adianta querer fazer tudo por decreto, achar que todos serão felizes, porque os seres humanos são diferentes. Assistencialismo apenas não resolve.


VEJA – Entrevista General-de-Exercito Hamilton Mourão - Transcrita do site DefesaNet