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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

‘Está acontecendo um movimento muito forte nas casernas’, diz ministro do TCU

Revista Oeste

Declaração foi feita em áudio a um grupo de amigos na manhã desta segunda-feira, 21 

Ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes | Foto: Agência Brasil
Ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes | Foto: Agência Brasil

Em áudio enviado na manhã desta segunda-feira, 21, a um grupo de amigos e vazado à imprensa, o ministro do Tribunal de Contas das União (TCU), Augusto Nardes, faz uma análise do momento político brasileiro e afirma que “está acontecendo um movimento muito forte nas casernas”.

“Eu acho que é questão de horas, dias, no máximo uma semana, duas, talvez menos que isso, que vai acontecer um desenlace bastante forte na nação. Imprevisíveis, imprevisíveis”, declarou. “Os próximos dias serão nebulosos. Teremos desdobramentos muito fortes nos próximos dias.”

No áudio, de pouco mais de oito minutos, Nardes, que se tornou próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL), disse que foi ele, Bolsonaro, “que despertou a sociedade conservadora e hoje todo mundo está na rua fazendo a defesa desses princípios. Demoramos, mas felizmente acordamos.”

Segundo o ministro, seu áudio é direcionado também ao produtor rural. “A fala desse cidadão é para despertar o produtor rural também. Porque não adianta só o caminhoneiro trabalhar. Vamos perder? Sim, vamos perder. Mas a situação para o futuro da nação poderá se desencadear de forma positiva, apesar desse principal conflito que devemos ter nos próximos dias ou nas próximas horas.”

Nardes também disse que está “tudo muito nebuloso em relação ao futuro do país”. Na avaliação feita pelo ministro no áudio, o único jeito de evitar o movimento é a “capitulação por parte de alguns integrantes importantes”.[nossa opinião é que para a maior parte dos brasileiros a saída mais rápida, portanto, a melhor é o eleito pedir para sair; porém, entendemos que o caminho constitucional, democrático, legal e que não depende da vontade do eleito, é usar o parágrafo 10 do artigo 14 da Constituição Federal. 
Que outros dispositivos legais serão utilizados na sequência,  a depender do tratamento dado pelo TSE ao pedido de impugnação de mandato eletivo, ou pelo STF, em grau de recurso, visto se tratar de um pedido amparado na Constituição Federal.
Com o nosso notório domínio do idioma oficial do Brasil e no mais puro acacianismo, encerro lembrando que as consequências virão depois. 
Em tempo: parece que a leitura dos artigos 13,  14 e 142, todos da CF e do artigo 15 da LC 97, mudaram alguns planos dos brasileiros, incluindo esquecer a famigerada LINGUAGEM NEUTRA.]

O ministro do TCU também comentou o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, afirmando que a cassação da petista “desmontou de certa forma essas estruturas que eles conseguiram remontar agora baseado na estrutura que tinha já ficado, que foi muito longa”. O TCU teria encontrado R$ 340 bilhões em irregularidades, segundo declarou Nardes, no áudio.

O ministro afirmou que tentou alertar o PT, na época de Dilma, mas eles “nunca aceitaram o diálogo, eles foram para um confronto”. “E agora é um confronto decisivo. Eles vão vir para um confronto que nós todos sabemos quais são as consequências.”

Nardes revelou, ainda, que conversou com pessoas próximas a Bolsonaro e que o presidente “não está bem”, em razão da ferida na perna [erisipela] , mas espera ter “condições de enfrentar o que irá acontecer”.

Redação - Revista Oeste


quinta-feira, 28 de maio de 2020

Imprensa marrom - Carlos Alberto Sardenberg

Antigamente, era mais fácil. Havia muita diversificação entre os veículos de imprensa, mas com uma divisão principal: os independentes e os chapa-branca. Aliás, esta última expressão é ela mesma do tempo antigo. Hoje, as autoridades circulam em carros com placas de bronzeevoluíram, não é mesmo?  – ou com chapas frias. Sabem como é, o povo hoje sabe com quem está falando e muitas vezes não gosta.

[a imprensa livre, independente, investigativa é e sempre será necessária.
Se torna inconveniente, abusiva mesmo, que passa a ser repetitiva, cansativa, na tentativa - sempre vã - de impor o que pensa ser correto, de apresentar sua versão, sua interpretação, como fato.
Se necessário, procede até o fatiamento da noticia, esquartejamento mesmo, para enfiar goela abaixo, trecho por trecho, o que lhe convém.
Só que o povo, especialmente o brasileiro, não aceita - pode não saber votar, votando em coisas como lula e dilma - mas não aceita versões. Vota mal, mas interpreta fatos de versões.]

Mas voltemos ao que interessa, a imprensa. Os veículos chapa-branca eram aqueles que só existiam para fazer propaganda e/ou defender os interesses do governo, de políticos, de igrejas e de negócios setoriais. Viviam de verbas públicas ou de dinheiro colocado pelo patrocinador. A imprensa independente era aquela que vivia da notícia e, no caso da tevê, do entretenimento. Vivia no duplo sentido: tinha que ser reconhecida como tal pelo público (credibilidade) e tinha de ganhar dinheiro com venda em bancas, de assinaturas e de publicidade. A independência deveria ser editorial e econômica ao mesmo tempo. Aqui, essa imprensa independente amadureceu ao longo da vida democrática pós-1985.

Tem várias características, algumas boas, outras ruins, mas há um ponto essencial. A imprensa brasileira não é bem agressiva, é atrevida. Nem sempre foi. Tornou-se atrevida, especialmente a política,  em tempos relativamente recentes. Por exemplo: alguns anos atrás, repórteres políticos não se atreveriam a perguntar ao presidente se ele queria interferir na Polícia Federal ou melar uma investigação sobre atividades de seus filhos. Na verdade, não é que não se atreveriam, nem lhes ocorria perguntar esse tipo de coisa. Parecia normal que autoridades tivessem privilégios, incluindo as famosas mordomias.

Também não era um vício apenas nacional. Na Washington de John Kennedy, todo mundo sabia que o presidente gostava muito de mulheres e que as recebia na piscina da Casa Branca quando Jacqueline não estava por perto. Jornalistas sabiam, alguns até participavam das farras – e não publicavam nada. Ao contrário, publicava-se que se tratava de um feliz casal presidencial. Em Brasília dos anos 80 e 90, os jornalistas também sabiam das mazelas pessoais (amantes, rolos) e, digamos, profissionais dos políticos, tais como negócios paralelos. Não lhes ocorria publicar, mesmo porque muitos jornalistas desfrutavam de vantagens indevidas, como empregos no Congresso, em autarquias e estatais. Além de financiamentos especiais em bancos públicos.

A mudança forte começou a aparecer na passagem dos anos 80 para os 90. Repórteres mais novos começaram a publicar os privilégios, os bastidores, inclusive das casernas – ou seja, as informações não oficiais, não autorizadas, mas obtidas por apuração e investigação independente.
Ao mesmo tempo, desenvolveu-se o jornalismo opinativo – outro que tanto incomoda as autoridades. Para o presidente Bolsonaro e seus seguidores, ou a imprensa é a favor ou é mentirosa, canalha, lixo e tantas outras ofensas. Mas na democracia, quem decide se uma imprensa é boa ou não é o público, com sua audiência, sua leitura, seu respeito.

Essa imprensa está aí. Ainda bem. As redes sociais, claro, são uma novidade. Mas a divisão entre independência e militância de qualquer tipo é a mesma que se via na imprensa tradicional. Então, os principais veículos independentes, aqui e no mundo, estão migrando para as redes sociais. Continuam sendo a representação da imprensa livre e responsável.  Mas as redes também tornaram mais fácil o surgimento dos veículos “fake news”, que bem poderia ser a nova designação para imprensa marrom, aquela sem nenhum escrúpulo. Do mesmo modo que antes não se poderia fechar a imprensa para bloquear o lado marrom, também hoje não se pode bloquear as redes para afastar os provedores de fake news, ofensas e ameaças. Mas, atenção, liberdade de expressão não é um salvo conduto. Não pode haver censura prévia. Mas a publicação e seus autores podem ser processados, na devida forma da lei.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista