Neste último domingo, enquanto muitos acordavam de sua omissão e saíam às ruas para protestar contra a opacidade da apuração de votos, circulava no ambiente restrito das redes sociais a notícia de que a CPI queria bisbilhotar as contas de veículos ditos “bolsonaristas” e propagadores de “fake news” sobre tratamento precoce.
No Brasil orwelliano a estupidez zurra e distribui coices. Uma mídia que perdeu a noção de ridículo assiste às sessões da CPI serem dominadas por um grupo oposicionista escandalosamente majoritário, cuja soberba infla com o codinome G7, e no parágrafo seguinte diz que quatro dos sete são “independentes”. A razão fica à deriva num vazio moral.
No aparelho investigador instalado na Câmara Alta da República, opinião fora da narrativa esquerdista é motivo de grave suspeita. A moral de qualquer divergência é confrontada ante o mesmo espelho en que se miram os senadores Omar Aziz e Renan Calheiros. Depois das sessões de escárnio, os porcos de George Orwell falam a jornalistas sedentos de notas turvas.
Mobilizam-se agora os senadores para quebrar o sigilo bancário de pessoas físicas responsáveis por alguns dos principais sites “de direita”, “conservadores”, que acusam de “fake news”, de promover “estratégia de confronto ideológico” e “radicalização dos ataques contra adversários”. As doces donzelas petistas e psolistas ficam escandalizadas, claro. No pacote de meios digitais que passa a ser perseguido pelo Estado se incluem veículos em que o talento, o aplauso social e o valor do trabalho prestado à nação fazem arder a inveja em grandes grupos de comunicação do país.
Como não ser assim? A sociedade aprendeu, nos últimos anos, que o veículo que lê, ouve ou assiste é perfeitamente capaz de silenciar perante a censura, bem como a ameaça e a prisão de jornalistas, se forem “de direita”. É capaz de emudecer enquanto o Supremo despedaça a Constituição, contanto que “a direita” seja atingida, o presidente obstado e a vontade social atropelada. Simultaneamente, o mesmo veículo usa vocabulário ardiloso para desqualificar as notáveis e pacíficas manifestações populares de ontem.
O presidente da República não é odiado por si mesmo, mas por ser o escudo político-eleitoral que os contém e aparta de nós esse passado.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.