Visitava a filha em Fortaleza. Médica há 40 anos, trabalhava no interior e duvidava da “pandemia” anunciada na véspera (11/3), pela OMS. Existiam 83 casos no país, nenhum no Ceará. E Bolsonaro falava em “muita fantasia” (10/3), insistindo: “Outras gripes mataram muito mais” (11/3).

Celebrou o presidente na catarse antipolítica (15/3) organizada por grupos autoproclamados de direita. Às 13h41m do dia seguinte, repetiu a “lógica” presidencial: “Existem vírus muito mais potentes e que matam muito mais (H1N1 por exemplo) e ninguém está nem aí... Porque será??????” E acrescentou: “Nenhuma morte ainda registrada do coronavírus no Brasil, mas a imprensa já matou quase a metade da população.” Mais tarde foi anunciada a primeira morte. Bolsonaro vangloriava-se: “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar.”

Seguiu para casa, em Iguatu, a 370 quilômetros, na beira do Jaguaribe. A cidade foi fundada por pecuaristas expulsos do litoral açucareiro no início do século XVII. Tem 102 mil habitantes e é um polo educacional.
Na sexta (27/3), antes de voltar ao Posto de Saúde da Família de Gadelha, na zona rural, anunciou uma carreata no Recife, a 670 quilômetros de distância: “Todos precisam que o Brasil volte a funcionar, já!” Bolsonaro insistia: “Outros vírus já mataram muito mais.”

Atravessou os dias seguintes na batalha contra a Covid-19. Já não era médica, mas vítima. Lucia Dantas de Abrantes morreu na sexta (10/4). O  presidente já tem novo “diagnóstico” da pandemia, adequado à sua luta contra o ministro da Saúde: “Está começando a ir embora.” Ontem, o número de mortos ultrapassou 1,3 mil.

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