José Casado
A médica que morreu do vírus do qual desdenhou
‘O coronavírus vai invadir o Brasil”, ironizou numa rede social às 16h32m de quinta-feira, 12 de março. Atendia à incitação do presidente para protestos contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. O sorriso largo no rosto cheio indicava uma mulher de bem com a vida. Aos 65 anos, viu em Jair Bolsonaro a referência da sua identidade política.
[alguém conteste, se puder:
- a Covid-19 já matou muitos e vai continuar matando - medidas de precauções e de combate ao coronavírus são necessárias e importantes - sem exageros e sem matar o doente;
- o presidente Bolsonaro tem o direito de ter, e expressar, opiniões - ficando ao seu critério e sob sua responsabilidade a forma de expressá-las;
- quanto a afirmação “Outras gripes mataram muito mais”, procede, apresenta fatos:: a gripe espanhola matou 50.000.000 em 1918 (muitos dirão que naquela época a medicina ainda era incipiente, concordamos e lembramos que a movimentação de pessoas ocorria de forma bem mais lenta); A H1N1 só em 2019, matou no Brasil quase mil pessoas e o assunto sequer foi noticiado.]
Celebrou o presidente na catarse antipolítica (15/3) organizada por grupos autoproclamados de direita. Às 13h41m do dia seguinte, repetiu a “lógica” presidencial: “Existem vírus muito mais potentes e que matam muito mais (H1N1 por exemplo) e ninguém está nem aí... Porque será??????” E acrescentou: “Nenhuma morte ainda registrada do coronavírus no Brasil, mas a imprensa já matou quase a metade da população.” Mais tarde foi anunciada a primeira morte. Bolsonaro vangloriava-se: “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar.”
Seguiu para casa, em Iguatu, a 370 quilômetros, na beira do Jaguaribe. A cidade foi fundada por pecuaristas expulsos do litoral açucareiro no início do século XVII. Tem 102 mil habitantes e é um polo educacional.
Na sexta (27/3), antes de voltar ao Posto de Saúde da Família de Gadelha, na zona rural, anunciou uma carreata no Recife, a 670 quilômetros de distância: “Todos precisam que o Brasil volte a funcionar, já!” Bolsonaro insistia: “Outros vírus já mataram muito mais.”
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José Casado, jornalista - O Globo
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