Para
se livrar do presidente da República, a mídia militante vem fazendo
isso com o Brasil. Não há limites para a ação cotidiana e dedicação
exclusiva.
A
oposição propriamente dita retraiu-se perante a persistência e a
intensidade com que esses meios de comunicação operam. Num regime de
feitio democrático, caberia a ela, claro, antagonizar o governo. No
entanto, a fração partidária da oposição opta por discreta contenção.
Delega o trabalho diário à mídia, que o executa com superior amplitude e
resíduos de presumível credibilidade. Mesmo que a estas alturas seja
mera ilusão, a opinião expressa no editorial, a notícia, a manchete de
um grande veículo de comunicação parecem mais confiáveis ou isentas do
que a fala de quem tem o carimbo político.
Internamente, ademais, vivemos uma convergência incomum entre os
interesses ideológicos sempre dominantes nas redações e os interesses
empresariais dos veículos da mídia militante. Por motivos diferentes
todos querem se livrar do zelador. Vemos a morte da moderação e da
prudência. O que acabei
de escrever não desenha, infelizmente, o quadro inteiro. Ele se expande e
se agrava pelos reflexos no plano internacional. A contaminação do
jornalismo e da cultura do mundo ocidental pela filosofia revolucionária
não é menor nem menos ativa lá fora do que aqui no Brasil. Ao
contrário, é de lá que vem toda a droga intelectual fumada e cheirada
nestes trópicos. São de lá os filósofos canonizados nas cátedras,
inspiradores de teses tão estapafúrdias quanto prósperas.
Por isso, a
vitória eleitoral de um candidato conservador no Brasil foi mais
indigesta à cultura hoje dominante na Europa do que a vitória de Trump
nos Estados Unidos. Lá, o rodízio no poder é sempre um resultado
corrente no jogo democrático. Aqui, não. Um quarto de século fluiu com a
esquerda embaralhando, dando cartas, jogando de mão e ainda portando
coringas de reserva no bolso. Os conservadores e liberais brasileiros
foram os otários desse jogo.
A guerra
contra o presidente começou logo após as primeiras pesquisas eleitorais.
Os laboratórios de linguística aplicada ao charlatanismo político
trabalharam febrilmente disparando etiquetas para lhe desconstruir a
imagem. Contra essa avalanche, a inabilidade verbal de Bolsonaro não lhe
presta serviços, seja na defesa, seja no ataque. No exterior, foi fácil
aos interesses políticos, ideológicos, econômicos contrariados
empacotar tudo com o rótulo “Brasileiro”.
O processo
não parou mais e já vai para o terceiro ano consecutivo. Perder a
capacidade de manipulação foi duro golpe para aquela parcela da mídia
que se considerava reitora das opiniões, dos costumes e, claro, dos
resultados eleitorais.
Tentando retomar o antigo poder, buscando
socorro, vem recebendo intenso e firme apoio externo.
Estava armado o
complô contra o Brasil!
Nele se unificam apetites amazônicos,
inconveniência geopolítica de um governo conservador antagônico ao
globalismo em curso no Ocidente e interesses comerciais contrariados
pelo competente agrobusiness nacional (nada lhe diz o empenho de tantos
em reduzir a área plantada no Brasil?).
Nunca a
estatística foi tão manipulada, a matemática tão vilipendiada, uma
doença tão politizada. São profissionais da mistificação. E estão
destruindo o Brasil para afastar o zelador. Só assim se entende a
manchete que, em outros tempos, caracterizaria crime de traição à
pátria, encimando matéria (1)
de O Globo do dia 5 deste mês de março: “Pária global: Brasil vira
'ameaça sanitária' no mundo”. Quem subscreve e proclama isso não ama o
próprio país.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e
Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do
site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba,
a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus
brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.