O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, avalia que não é o “melhor quadro para o Brasil” ter um réu na linha sucessória da Presidência da República.
[a nossa infinitesimal sabedoria jurídica nos impede da pretensão de censurar o Supremo Tribunal Federal ou seus ministros.
Mas, no exercício da liberdade de expressão pedimos vênia para apresentar alguns comentários:
- nos parece absurdo que ministros do Supremo, ou magistrado de qualquer instância, se manifestem sobre atos do Poder Legislativo que possam vir a ser contestados junto ao STF. Compete unicamente à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal eleger seus presidentes, bem como indicar integrantes da Comissões - permanentes ou temporárias.
O ministro Fux em entrevista a O Estado de S. Paulo disse: "Eu acho que realmente uma pessoa denunciada assumir a Presidência da República, seja ela qual for, é algo que até no plano internacional não é o melhor quadro para o Brasil".
"O deputado Arthur Lira pode, eventualmente, substituir Bolsonaro e Mourão, mesmo com denúncias já recebidas pelo STF?
Nessas questões limítrofes, você tem duas posições. Uma que entende que, se já teve a denúncia recebida, e a nossa Constituição elege a moralidade no âmbito da política e das eleições como um valor principal, ele não possa assumir. E tem outro aspecto importante, a ação penal não teve ainda a eficácia de torná-lo réu porque há (em análise) embargos de declaração (um tipo de recurso) que impedem que a decisão (de tornar Lira réu) seja considerada definitiva."
Sobre eventual impeachment do presidente da República, o presidente do STF considera um desastre. (cá entre nós: um desastre que não tem o menor risco de ocorrer - o impeachment do presidente Bolsonaro são devaneios dos inimigos do Brasil.) Só que qualquer manifestação, comentário, declaração do presidente do STF, que preside todas as sessões do Senado da República, destinadas a julgamento do presidente da República em caso de processo de impeachment, tem repercussão, que nem sempre é benéfica para a independência e harmonia dos poderes da República.
- Mais grave é quando a manifestação é realizada 'reservadamente'.]
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ouvidos reservadamente pelo Correio,
relatam apreensão com as futuras votações no Congresso Nacional. A
avaliação é a de que deve aumentar o número de decisões do Legislativo
que acabam nas mesas dos gabinetes dos magistrados e que entram para a
pauta do plenário em razão de eventuais inconstitucionalidades. [ao se manifestar reservadamente a autoridade indiscreta deixa um ar de disse me disse que não contribui para a credibilidade da instituição que tem entre seus integrantes o reservado;
mais grave quando o falador é um ministro do STF, instância máxima do Poder Judiciário que pode vir a se manifestar sobre o assunto objeto de cogitação na manifestação reservada.] Ao mesmo
tempo,
a eleição de aliados nos comandos da Câmara e do Senado
deve dar fôlego ao Executivo para avançar com a pauta ideológica. Deve
ser questionada no Supremo, por exemplo,
maior abertura para aquisição
da posse e do porte de armas de fogo, potenciais alvos de decretos do
presidente Jair Bolsonaro na próxima semana.
O ministro Edson Fachin, do STF, vetou, no começo deste
ano, a medida provisória que zerava o imposto de importação para armas
de fabricantes estrangeiras. A medida ainda precisa ser avaliada pelo
colegiado, no entanto, demonstra uma tendência do Supremo em barrar
pautas armamentistas. A maioria dos ministros entende que a segurança
pública é responsabilidade do Estado, que deve garantir também a
integridade do patrimônio privado e a inviolabilidade do domicílio dos
brasileiros, repelindo ações criminosas isoladas ou fruto do crime
organizado. [E quando o Estado não tem condições? no quadro atual, só os moradores de algumas favelas do Rio é que tem seu patrimônio e a inviolabilidade dos seus domicílios garantidas por decisão do Supremo - garantia que alcança apenas ações das autoridades policiais. Por óbvio, tal garantia deixa aqueles cidadãos expostos a ação dos criminosos que sabem da impossibilidade da polícia intervir e a seu favor.]
Um ponto praticamente unânime entre os ministros do
Supremo é de que a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) não tem condições
de assumir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Em
razão de um acordo entre os partidos, a escolha do comando do colegiado é
do PSL, partido da parlamentar. A grande crítica é de que a deputada é
alvo de um inquérito aberto na Corte para investigar ataques e fake news
contra os ministros. “Ela foi uma das críticas mais ferrenhas do
ministro Celso de Mello, algo que mexeu muito com todos, pois, à época,
ele era nosso decano e continua com o respeito de todos os seus pares”,
diz um interlocutor do Supremo, sob a condição de anonimato.
“Independência” Pelas redes sociais, Bia Kicis fez apelos para que seja
ela a escolhida para presidir a comissão. Apesar de assumir seu
alinhamento com o presidente da Câmara e não esconder sua admiração por
Bolsonaro, a parlamentar afirma que, se for alçada ao cargo, vai atuar
com independência.
“Todos sabem das minhas convicções políticas. Se
honrada com a confiança dos meus pares, minha atuação à frente da CCJ
será pautada pela imparcialidade, diálogo, previsibilidade e respeito à
Constituição Federal e ao regimento, com isenção em todos os projetos
apresentados. Sigo a linha de Arthur Lira”, escreveu.
A constitucionalista Vera Chemim, mestre em direito
público pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em STF,
destaca que a CCJ precisa realizar um trabalho técnico e de
neutralidade, tendo em vista que “essa comissão é a mais importante da
Câmara, que se encarrega de avaliar projetos de lei antes de irem a
plenário, decidir sobre a constitucionalidade de todos os projetos. Essa
deputada não vai satisfazer essa condição, de presidir uma comissão
desta natureza. Ela tem postura mais radical e agressiva, o que não é o
perfil ideal para se presidir um colegiado técnico e que deve ser
neutro”, afirma.
As relações do STF com o governo neste ano têm atenção
especial por conta da aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello. Em
junho, ao completar 75 anos de idade, o magistrado vai deixar a Corte. A
escolha de um novo nome é do presidente Jair Bolsonaro, mas precisa
passar pela chancela do Senado. Em razão disso, a eleição de Rodrigo
Pacheco para o comando da Casa legislativa ganha atenção especial.
Pazuello A pandemia do novo coronavírus trouxe consigo abalos na
estrutura política, e criou pontos de atrito entre o Legislativo e o
Executivo, e afetou o Judiciário, em razão da quantidade de ações que
foram protocoladas sobre o tema no Supremo. De acordo com dados do
Painel Covid-19 do STF, a Corte recebeu 6.946 ações relacionadas à
covid-19, que resultaram em 8.120 decisões. Desse contingente, a maioria
foi negada, sendo que apenas 393 foram deferidas, por meio de liminar
ou no colegiado da Corte. Muitas das ações são apresentadas por partidos
políticos.
Até agora, o ministro Ricardo Lewandowski tem sido o
autor das decisões que geram impacto também no meio político. Ele
estabeleceu o prazo de 72 horas para que a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) conceda autorização para importação e uso
de insumos médicos, medicamentos e vacinas contra a covid-19 que já
tenham sido registrados em pelo menos uma das agência reguladoras de
Estados Unidos, Europa, Japão ou China. O magistrado também é o autor do
despacho que manteve, por tempo indeterminado, a possibilidade de que
governos dos estados, municípios e o governo federal decretem o
fechamento do comércio, restrições de circulação nas cidades e a
importação de insumos de maneira emergencial.
O ministro Luís Roberto Barroso, em outro processo,
determinou que o governo federal instale barreiras sanitárias em
comunidades indígenas e garanta o acesso dessa população aos serviços de
saúde. Lewandowski também relata ações que acusam o presidente Jair
Bolsonaro e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, de omissão no combate
ao avanço da doença em Manaus e no Pará.
Para Vera Chemim, as novas configurações na Câmara e no
Senado, pós-eleições, devem intensificar a judicialização da política.
“Partindo do pressuposto de que o Arthur Lira vá assumir uma postura de
alinhamento com a Presidência, nas pautas de costumes, como voto
impresso e posse de armas, nós devemos observar um aumento das demandas
dos partidos no Supremo. Isso deve ocorrer principalmente nos partidos
políticos de oposição. Mas existe a possibilidade de que ele se mostre
um líder político, e, de repente, se forma um consenso no próprio
Congresso”, diz.
Política - Correio Braziliense