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sábado, 15 de julho de 2023

A escravidão do pensamento - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

O fechamento das escolas cívico-militares é uma declaração de guerra à disciplina, à educação, ao respeito às leis, aos professores e educadores que não são doutrinadores

 

 Ilustração: Schmock

Em mais uma semana conturbada para a República do Brasil, já apelidada por muitos de “democracia relativa”, dessa vez tivemos um superbônus, ou supremo-bônus, como queiram. 
Ao participar de um evento organizado pela União Nacional dos Estudantes, a UNE, famoso braço da extrema esquerda no Brasil, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, cometeu um ato de extrema sinceridade e, como se estivesse em um palanque partidário, bradou: “Derrotamos o Bolsonarismo!”.  
Se meio mundo suspeitava de que essa turma já estava sem roupa, mesmo com a recente aprovação de mais gastos para as togas luxuosas de cetim, agora o rei está nu.
 
Apesar de ilegal e inconstitucional, a fala do ministro não causa nenhuma perplexidade. 
O ativismo judicial do tribunal que deveria ser apenas constitucional e não político não é um espanto para absolutamente nenhum brasileiro. 
Um país que preza por instituições independentes não terá um futuro próspero com a grave militância à qual o Brasil está sendo submetido por parte de ministros do STF. 
Mas houve outra notícia esta semana, igualmente preocupante, que afeta da mesma maneira nosso futuro como nação. A notícia de que o governo Lula vai acabar com as escolas cívico-militares, modelo educacional criado durante a gestão de Jair Bolsonaro, é uma declaração de guerra à disciplina, à educação, ao respeito às leis, aos professores e educadores que não são doutrinadores.[dificilmente o presidente vai ter êxito em mais essa investida = mais da metade dos estados e o DF já decidiram manter as ESCOLAS CÍVICO-MILITARES com recursos estaduais.]

O Ministério da Educação (MEC) decidiu pôr fim ao Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, em um ofício assinado em 10 de julho pela coordenadora-geral de Ensino Fundamental, Fátima Timóteo, e pelo diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Integral Básica, Alexsandro do Nascimento Santos. A razão para o corte seria remanejamento de recursos da pasta. Ministro da Educação, Camilo Santana | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil [esse ministro é tão INcomPeTente que por possuir sérios problemas de raciocínio errou feio, quando  em uma entrevista tentou efetuar uma conta envolvendo aritmética básica. Sua professora foi a Dilma]

O programa, criado em 2019 por meio de uma parceria do Ministério da Educação com o Ministério da Defesa, atende estudantes em situação de vulnerabilidade econômica e foi implementado em escolas públicas de ensino regular que possuem um baixo resultado no índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb). 
De acordo com o MEC, até 2022, o programa já havia atendido em todo o país mais de 120 mil alunos. 
Em uma pesquisa com cerca de 25 mil pessoas da comunidade escolar, o programa constatou que a redução dos casos de violência física foi de 82%, além das diminuições da violência verbal em 75%, e da violência patrimonial em 82%. 
O número mais impressionante do programa mostra que a evasão e o abandono escolar diminuíram quase 80%.
 
O término do programa pelo governo Lula não é por acaso
Esse tipo de escola traz em sua concepção um grande perigo a qualquer projeto de poder, a qualquer regime totalitário: a independência intelectual. 
 Alunos que se transformam em cidadãos apreciadores da ordem, da virtude do trabalho, do amor à pátria e da família. 
Conceitos demonizados pelo governo Lula e pela esquerda.  
Quando me perguntam qual foi o maior legado que o esporte deixou para a minha vida, respondo sem pestanejar: a disciplina. 
E o que nem todos podem receber como uma espetacular ferramenta para a vida através do esporte, as escolas cívico-militares oferecem e principalmente para aqueles em situações sociais e econômicas desprivilegiadas na vida.

A atrocidade cometida pelo Ministério da (des)Educação de Lula não fere apenas o promissor caminho acadêmico de crianças e adolescentes. O corte atinge o crescimento intelectual e o coração da alma soberana: a livre visita a diferentes opiniões, o passeio mental pelos caminhos oferecidos e, finalmente, a escolha do que se mostra correto e justo. Um plano arquitetado para que a escravidão do pensamento siga muito bem estabelecida no país. 

O ex-presidente Jair Bolsonaro, durante o lançamento do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim) | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Doutrinação como escola
Já há algum tempo, principalmente durante a pandemia, ficou evidente que governos tentam doutrinar seu povo para aumentar o poder e a influência do próprio governo. 
Infelizmente, governos ambiciosos não se limitam a controlar o que seu povo pode fazer; eles devem controlar suas mentes. 
A doutrinação acontece por meio de muitos canais na vida, como o entretenimento, movimentos culturais e plataformas digitais, mas o principal instrumento de qualquer doutrinação ainda é o sistema escolar. Ali, qualquer semente pode ser plantada desde muito cedo em um solo extremamente fértil. Os professores têm um público cativo de jovens mentes maleáveis por vários anos, e muitos podem não saber como tornar os alunos inteligentes e produtivos, mas podem pelo menos torná-los submissos e obedientes.
 
Há um ponto central no caminho de sucesso de qualquer doutrinação, e esse caminho é religiosamente seguido hoje na grande maioria das escolas: a ausência de pensamento. Infelizmente, até muitos professores que se engajam na doutrinação o fazem inconscientemente. Eles mesmos pegam o que recebem e repassam sem pensar, em um ciclo que pode infectar gerações.
 
A doutrinação nas escolas no Brasil está tão formatada que o currículo, que deveria ajudar a guiar o professor a criar aulas e a usar materiais que vão treinar os alunos a pensar e agir de forma independente, faz o oposto. 
A doutrinação progressiva incubada nas aulas sufoca o pensamento independente e o desenvolvimento intelectual. Em parceria com o politicamente correto, os currículos entregues por professores ativistas efetivamente treinam os alunos a não pensar, enfatizando os padrões relativos sobre os absolutos.

O ensino promove a presença do pensamento ativo — não do pensamento uniforme e é o que acabará por consertar e civilizar nosso país, tão maltratado por supremos doutrinadores

No sistema de doutrinação que impera nas atuais escolas, o oposto das escolas cívico-militares, o pensamento é apenas a articulação da opinião e não tem relação com a verdade. 
Isso significa que as pessoas realmente não precisam pensar de maneira crítica e entender por que acreditam no que dizem ou fazem. 
Elas só precisam ter o ponto de vista correto da turba e forçar os outros a se conformar com a realidade paralela empurrada pela histeria. 
 
Falta de pensamento crítico
E o que esse sistema composto de doutrinadores — e não educadores — está formando? Grupos de pessoas unidas em torno de sentimentos e opiniões, mas não em razão e verdade. E o pior: a falta de pensamento torna todos esses grupos vulneráveis aos meios de comunicação de massa e impede qualquer resistência organizada a um Estado invasor ou a um ideólogo sem lei no poder. 
A doutrinação está completa quando a percepção — ou o que quer que esteja na tela, nos jornais ou que um “especialista” tenha dito — realmente se torna realidade para a maioria das pessoas, porque elas se tornaram estúpidas ou apáticas o suficiente para responder de maneira racional.
A educação nas escolas públicas como conhecemos realmente merece ser tomada pelo modelo da disciplina, do valor ao trabalho, dos valores familiares e patrióticos e, principalmente, do respeito a mestres e professores.
 
Somente o pensamento claro a independência intelectual — trará a morte da doutrinação obscura. E eles sabem disso. 
Em algum momento, a doutrinação sempre cairá sobre si mesma e deixará a mediocridade em seu rastro. Ensinar, ao contrário, é o que sustentará nossa cultura e revelará suas virtudes. O ensino promove a presença do pensamento ativo não do pensamento uniforme — e é o que acabará por consertar e civilizar nosso país, tão maltratado por supremos doutrinadores. 
 
Um salve aos governadores que já decidiram que vão manter as escolas cívico-militares em parcerias com outras forças estaduais! 
A educação nas escolas públicas como conhecemos realmente merece ser tomada pelo modelo da disciplina, do valor ao trabalho, dos valores familiares e patrióticos e, principalmente, do respeito a mestres e professores. 
Não há dúvida de que o sistema da escravidão do pensamento continuará a ser sustentado pelos parasitas de sempre — as elites prostituídas com governos corruptos que dependem do cultivo da ignorância enquanto constroem uma subclasse dependente, complacente e ignorante para sustentar seus vícios, seu hedonismo e sua perversão intelectual. 
 
Apesar da força contra nossos jovens e a verdadeira educação, não tenho dúvida de que a implosão dessa bolha maligna é inevitável — desde que consigamos manter nossa espinha dorsal ereta para combater o totalitarismo que caminha a passos largos no Brasil. 
Se nossa coragem for o único norte para esse propósito, o legado que deixaremos para nossos filhos é o mais divino de todos eles: o direito de nascença ao livre-pensamento.  
O número mais impressionante do programa mostra que a evasão e o abandono escolar diminuíram quase 80% | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


Leia também “Um império das leis, e não dos homens”

Coluna Ana Paula Henkel - Revista Oeste

 

quarta-feira, 8 de março de 2023

Governo lança programa de absorventes para ‘pessoas que menstruam’

Iniciativa contempla a população abaixo da linha da pobreza 

O presidente Lula criou nesta quarta-feira, 8, o Programa de Proteção e Promoção da Dignidade Menstrual. Trata-se de uma iniciativa voltada à população abaixo da linha da pobreza. Cerca de R$ 420 milhões serão gastos de modo a contemplar 8 milhões de “pessoas que menstruam”.

A gestão petista usa esse termo para incluir na política pública, além de “mulheres cisgênero” (heterossexuais), homens transgênero, pessoas não binárias e pessoas intersexo, que precisariam fazer uso dos absorventes.

Além disso, o Ministério da Saúde começará a centralizar a compra de absorventes. Até então, o governo federal repassava a verba para que municípios fizessem a compra e distribuição. A avaliação da pasta é a de que centralizar a compra dos absorventes garante equidade no país. Também serão atendidas “pessoas em situação de privação de liberdade” e que cumprem “medidas socioeducativas”.

Durante a cerimônia de lançamento do programa para pessoas que menstruam, Lula aproveitou para atacar o ex-presidente Jair Bolsonaro. [por sorte Bolsonaro está apenas na categoria homens cisgênero (heterossexuais) o equivalente masculino da categoria “mulheres cisgênero” (heterossexuais). Inexplicável o quanto certas pessoas não conseguem esquecer o EX-presidente Bolsonaro, que está bem longe do Brasil = só pensa em voltar final de 2025 inicio de 2026.]“Isso é respeito que faltou ao governo anterior, quando optou pela destruição de políticas públicas, cortou recursos orçamentários essenciais e chegou a estimular, de forma velada, a violência contra as mulheres”, disse Lula. “Tenho a satisfação de dizer a vocês que finalmente o Brasil voltou.

Pessoas que menstruam e homens trans
Em maio do ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decidiu que o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), tem de incluir “homens trans” na lei que estabelece o Programa de Distribuição de Absorventes Descartáveis e itens de higiene nas escolas municipais.

Sancionada em julho de 2021, a lei tem o objetivo de diminuir a “evasão escolar durante o período menstrual”. No entanto, por fazer menção a apenas “alunas”, o texto supostamente excluía pessoas classificadas como mulheres biológicas, mas que se identificam com gênero diferente daquele que nasceu.

Leia também: “Violações patrocinadas pelo Prétorio Excelso”, reportagem publicada na Edição 130 da Revista Oeste

Ministros do STF terão árdua e importante missão:STF vai decidir se clientes de bares têm direito a ‘água grátis’

Confederação Nacional do Turismo entrou na Justiça contra lei paulistana

Redação - Revista Oeste

 

 

quarta-feira, 18 de maio de 2022

STF julga ação que pode excluir pessoas com deficiência do mercado de trabalho

Tribunal julga ação que questiona a redução ou extinção de cotas para PcD e também para jovens aprendizes. Especialistas criticam a proposta 

O Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar nesta quarta-feira (18/5) uma ação que pode excluir do mercado de trabalho jovens aprendizes e pessoas com deficiência (PcD). O processo questiona a possibilidade de redução ou mesmo extinção de cotas de vagas para essas categorias. Cerca de 1 milhão de profissionais podem ser afetados, a depender da decisão dos ministros do Supremo. O tema entrou na pauta do STF por meio de diversas ações de entidades empresariais. As associações questionaram a Justiça sobre a possibilidade de realizar acordos sobre as cotas tendo como base a reforma trabalhista sancionada em 2017. [curioso é que no Brasil tem cota para tudo - qualquer hora vão criar cotas para pessoas sem cotas e por isso o mérito deixou de valer.
Agora o Supremo aceita julgar uma ação que pretende reduzir ou extinguir cotas para deficientes e jovens aprendizes - os que realmente necessitam, já que possuem os méritos mas parte deles tem limitações decorrentes de deficiências e os demais as limitação decorrem da inexperiência.]

A lei que estabelece cotas de 2% a 5% da força de trabalho para pessoas com deficiência foi criada em 1991. No caso dos menores aprendizes, a legislação determinou, no fim de 2000, que empresas consideradas de médio e grande porte reservem vagas para adolescentes e jovens de 14 a 24 anos, sem idade máxima para os aprendizes com deficiências.

O presidente da Federação Brasileira de Associações Socioeducacionais de Adolescentes (Febraeda), Antonio Pasin, demonstra preocupação com o tema e destaca que a diminuição de cotas fere direitos básicos dos trabalhadores. “Tem uma série de direitos que não podem ser objetos de negociação. Só que por ter repercussão geral e o ministro Gilmar Mendes, que é o relator desse tema, ter dado aderência a outros assuntos correlatos, existe a possibilidade concreta de que no julgamento estabeleçam um marco histórico devastador”, disse.

Pasin ressalta o impacto econômico e social. “As pessoas com deficiência no mercado de trabalho são aproximadamente 500 mil. Dessas, 91,16% estão avançadas ao cumprimento da cota. Aprendizes são 500 mil em cumprimento pela cota. Então, estamos falando de 1 milhão de empregados de forma direta. E não é qualquer desempregado. Estamos falando de pessoas em situação de risco, em vulnerabilidade pessoal, social, econômica”, destaca.

Ao Correio, a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), ressaltou que, no caso das pessoas com deficiências, o impacto é ainda maior. “Falamos de uma minoria que ainda é fortemente discriminada. São pessoas que driblam no dia a dia a falta de acessos para tudo, inclusive para ter acesso à educação. Sem contar a visão capacitista da sociedade e de muitas empresas, que só contratam essas pessoas hoje porque são obrigadas por nossa legislação”, observa.

“São medidas justas de proteção já que os índices de evasão escolar no ensino médio chega a cerca de 50% entre os jovens e, historicamente, a taxa de desemprego nessa parcela da população sempre foi maior do que a média geral. Aliar ensino e empregabilidade é uma política eficaz de desenvolvimento que não pode ser negociada”, defende Gabrilli.

Dignidade humana
A nova legislação trabalhista estabeleceu que os acordos entre patrões e funcionários terão peso maior do que as leis que regulam o trabalho, com exceção dos direitos resguardados pela Constituição. Como as cotas não estão na lista dos direitos expressos no texto constitucional, abriu brecha para as ações dos empresários. Na avaliação do advogado Marcelo Dias, especialista em direito trabalhista, a diminuição ou extinção das cotas é ilegal, mesmo diante das mudanças previstas pela reforma.

“Fica claro que essa redução é ilegal, é ilícita. Ela não pode ocorrer por meio de convenção e acordo coletivo. Ou seja, a convenção e o acordo tem prevalência sobre a lei, mas quando não trata de redução de direitos”, destaca. “Não pode haver redução no percentual estipulado na lei 1.813 de pessoas com deficiências a serem contratadas, independentemente do segmento empresarial”, afirma o especialista.

Dias também lembra do princípio da dignidade humana que prevê a inclusão social. “O STF deve invocar a questão do princípio da dignidade da pessoa humana, da não-discriminação, que também está prevista na reforma trabalhista. A reforma trabalhista acrescentou dando preferência ao acordo e convenção coletiva sobre a lei, mas não para suprimir os direitos”, defende.

A advogada trabalhista Estela Nunes argumenta que a decisão do Supremo pode impactar ganhos sociais que foram conquistados por essas classes vulneráveis por meio de uma luta histórica. “É importante anotar que o papel do judiciário, aqui no caso, do Supremo Tribunal Federal, será o de interpretar as normas que já foram criadas pelo legislativo, não cabendo inovação jurídica na atuação deste poder. Ou seja, as cartas do jogo estão postas, caberá ao STF por fim a essa discussão que atualmente aflige a uma diversidade de brasileiros”, diz.

Política - Correio Braziliense


sexta-feira, 11 de junho de 2021

Resgate de alunos - O Estado de S. Paulo

Entre os desafios que o Brasil terá de enfrentar, após a pandemia, está o de recolocar na escola 5,1 milhões de crianças e adolescentes que desistiram de estudar. Por falta de condições financeiras para comprar equipamentos eletrônicos, eles não puderam acompanhar as aulas virtuais enquanto as escolas ficaram fechadas. Isso fez com que o País regredisse duas décadas no acesso ao ensino básico. Esse é o número de crianças e de adolescentes que estavam fora da escola no início da década de 2000.

Essa é uma das conclusões de um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), realizado com base em estatísticas da última Pnad Contínua, concluída em novembro de 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Desses 5 milhões de crianças e adolescentes, mais de 40% tinham entre 6 e 10 anos – idade em que a escolarização estava quase universalizada antes da pandemia. 

Em outras palavras, a evasão escolar causada pelo coronavírus acabou atingindo meninos e meninas para quem o acesso às salas de aula já não era mais um problema. Com isso, parte dos recursos aplicados pelo poder público na universalização do ensino fundamental ao longo dos últimos 20 anos acabou sendo desperdiçada, em decorrência do fechamento das escolas por causa da covid-19. 

Segundo a representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer, crianças de 6 a 10 anos sem acesso à educação eram exceção no Brasil antes da pandemia. “Essa mudança observada em 2020 pode ter impactos em toda uma geração. São crianças dos anos iniciais do ensino fundamental, fase de alfabetização e outras aprendizagens essenciais às demais etapas escolares. Ciclos de alfabetização incompletos podem acarretar reprovações e abandono escolar”, diz ela, após chamar a atenção para a importância da reabertura das escolas. 

Como as crianças e adolescentes que desistiram dos estudos pertencem a famílias de baixa renda, na prática isso significa que elas se tornarão ainda mais vulneráveis. O estudo revela que a evasão escolar se concentrou mais no Norte (28,4%) e Nordeste (18,3%) do que nas Regiões Sudeste (10,3%), Centro-Oeste (8,5%) e Sul (5,1%). Também mostra que a evasão foi maior entre crianças e adolescentes pretos, pardos e indígenas. Além de deixar de aprender, ao abandonar a escola essas crianças e adolescentes perderam a merenda escolar e ficaram expostos à violência familiar. 

São números alarmantes, o que obriga o poder público, gestores escolares e entidades da área educacional “a ir atrás de cada criança e cada adolescente que está com seu direito à educação negado”, afirma a representante do Unicef no Brasil. O estudo aponta que, para reverter essa exclusão, será necessário garantir acesso à internet para todos, promover campanhas de comunicação comunitária em todos os municípios, mobilizar as escolas e criar condições para que as crianças e adolescentes retomem os estudos. E, para impedir o aprofundamento das desigualdades na formação dos alunos, será preciso desenvolver instrumentos pedagógicos para a recuperação do aprendizado perdido”, afirma Priscila Cruz, presidente executiva do Todos pela Educação, uma ONG que também vem desenvolvendo programas para resgatar alunos que desistiram de estudar. 

Muitas dessas medidas podem ser implementadas pelos municípios e pelos Estados, com apoio técnico de entidades como essas. Mas, para que possam dar os resultados esperados, é preciso que elas sejam articuladas pelo governo federal. É aí, justamente, onde está o problema. Se antes da pandemia o Ministério da Educação já primava pela inépcia, depois dela a pasta se omitiu ainda mais, limitando-se a cuidar de temas menores, mas que interessam por razões eleitorais ao presidente Jair Bolsonaro.  Ao se negar a ajudar os esforços dos Estados e municípios para reverter o problema da evasão e avançar em direção a um ensino público de qualidade e com equidade, essa omissão é um crime contra as novas gerações.

Opinião - O Estado de S. Paulo

 

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Uma vergonha nacional

Estudos mostram que há muito a fazer na educação, em várias frentes. Planejamento, competência e coordenação são requisitos para o País avançar


O Brasil tem índices alarmantes de evasão e abandono escolar. Em 2017, havia cerca de 10,3 milhões de jovens entre 15 e 17 anos de idade. Desse grupo, 1,5 milhão de jovens não se matricularam no início do ano letivo. E dos 8,8 milhões que fizeram a matrícula, 700 mil abandonaram a escola antes do final do ano letivo. Somado a outras vicissitudes, como as repetências, o resultado deixa muito a desejar: apenas 6,1 milhões de jovens – 59% do total – concluem o ensino médio na idade correspondente. Essa é a média nacional. Se o recorte for feito, por exemplo, entre jovens negros, residentes em áreas rurais do Nordeste e que a mãe é analfabeta, apenas 8% concluíram o ensino médio até os 18 anos.

Esses números não são o reflexo de um quadro momentâneo. Nos últimos 15 anos, não houve melhora no porcentual de jovens entre 15 e 17 anos que estão fora da escola. [oportuno lembrar que em 13 desses 15 anos o Brasil teve um presidente analfabeto -  cujo maior orgulho era o de nunca ter lido um livro do começo ao final. Agora que é um presidiário e livros lidos reduzem a pena,  ele inventou que estava lendo, só que foi flagrado 'lendo' um livro de cabeça para baixo (o livro).
Ele enrolou durante 8 anos e a presidente que o substituiu - indicada por ele - é uma analfabeta funcional. 
Consertar esse estrago levo tempo.] 
 
Apesar de ter crescido o número de jovens que chegam ao ensino médio, houve aumento da evasão e do abandono escolar. A não conclusão do ensino médio tem graves consequências para a vida de cada um dos jovens que abandonam a escola. Além de impor inúmeras limitações ao horizonte profissional, com a diminuição da empregabilidade e de renda, a interrupção prematura dos estudos coloca os adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social, mais expostos, por exemplo, a problemas de saúde, à delinquência e ao crime.

De acordo com o estudo Políticas públicas para redução do abandono e evasão escolar de jovens, de Ricardo Paes de Barros, professor do Insper, a conclusão do ensino médio gera um acréscimo salarial médio de R$ 35 mil ao longo da vida, em relação aos que concluíram apenas o ensino fundamental. Essa diferença é ainda maior nos centros urbanos.

Além do custo individual que cada jovem que não concluiu a formação acadêmica sofre diretamente, a evasão escolar produz efeitos negativos sobre toda a coletividade. As evidências mostram que trabalhadores mais qualificados são mais produtivos, atraem mais investimentos e demandam menos gastos públicos com saúde, combate ao crime e bem-estar social.

Utilizando critérios elaborados pelo California Dropout Research Project para avaliar o custo social da evasão escolar nos Estados Unidos, o professor Paes de Barros fez uma estimativa para o caso brasileiro. Os números impressionam. Para cada jovem que não conclui o ensino médio, o custo para o País é de R$ 95 mil ao ano. Desse total, R$ 49 mil correspondem à perda de salário e de produtividade; R$ 18 mil a despesas relacionadas ao crime e à violência (Justiça, sistema prisional e polícia); e R$ 28 mil a questões de saúde (gastos médicos e hospitalares, além da perda resultante de faltas no trabalho por problemas de saúde). Tendo em vista que o contingente de jovens de 15 a 17 anos fora da escola é de 1,5 milhão de pessoas, a perda total para o País chega a R$ 142,5 bilhões por ano.

Como o estudo destaca, a evasão escolar mostra que o aprendizado do aluno é uma questão mais ampla do que a discussão sobre a oferta de uma educação de qualidade. “Reconhecer a distinção entre oportunidades e resultados torna-se imprescindível. (…) O aprendizado (resultado desejado) não resulta de forma mecânica e diretamente apenas do acesso às oportunidades educacionais com a necessária qualidade; o aprendizado também depende do interesse e, portanto, do engajamento dos estudantes no aproveitamento das oportunidades que, por sua vez, não é determinado exclusivamente pela qualidade das oportunidades educacionais oferecidas”, diz o estudo.

O cumprimento efetivo do direito à educação envolve, portanto, avaliar o engajamento dos jovens no processo educativo, “seja porque aponta para a existência de uma oferta adequada e de qualidade dos serviços, seja porque aponta para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento e aprendizado”. Segundo o Panorama Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), os estudantes brasileiros faltam mais às aulas do que em 84% dos países avaliados. Há, como se vê, muito a fazer na educação, em várias frentes. Planejamento, competência e coordenação são requisitos para avançar.

Editorial - O Estado de S. Paulo