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domingo, 15 de janeiro de 2023

O Foro de São Paulo no poder - Flávio Gordon

Revista Oeste

Eleição de Lula consolida o projeto do Foro de São Paulo de tingir a América Latina de vermelho 

Gustavo Petro, Nicolás Maduro, Cristina Kirchner, Lula, Gabriel Boric e Fidel Castro | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Shutterstock/Reprodução redes sociais
Gustavo Petro, Nicolás Maduro, Cristina Kirchner, Lula, Gabriel Boric e Fidel Castro | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Shutterstock/Reprodução redes sociais

“O que explica a confusão na América Latina é o Foro de São Paulo.”
Luiz Felipe Lampreia, ex-chanceler brasileiro,
em entrevista ao programa Painel da Globo News, em 30/6/2012

Há pouco mais de uma semana, no programa Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, irrompeu um bate-boca entre o deputado federal Nikolas Ferreira, entrevistado do programa, e o jornalista Diogo Schelp, um dos entrevistadores da bancada. 
A querela deu-se a propósito da qualificação do PT como um partido socialista e do estatuto preciso da entidade conhecida como Foro de São Paulo. Fundada nos anos 1990 por Lula e Fidel Castro, como se sabe, o Foro passou a reunir periodicamente os principais partidos, grupos e movimentos de extrema esquerda do continente latino-americano. Para o jornalista, o Foro de São Paulo — desde 2019 rebatizado como “Grupo de Puebla” — nunca passou de um inócuo fórum de debates, sem qualquer consequência política relevante.  
Para Nikolas Ferreira, ao contrário, trata-se ainda de uma organização decisiva para a ascensão do socialismo ao poder nos países da região.

Ora, os encontros anuais do Foro não são o Foro. Não seria exagero dizer, inclusive, que o Foro é tudo aquilo que acontece no intervalo dos encontros, nas conversas de bastidores e nos acordos privados entre os falcões do socialismo latino-americano

No decorrer da discussão, Schelp fez referência a uma antiga videorreportagem que ele havia preparado para a revista Veja, por ocasião do XIVº Encontro do Foro de São Paulo, ocorrido em Montevidéu, no ano de 2008. Intitulada “Foro de São Paulo: o encontro dos dinossauros”, a reportagem pretendia-se crítica. Mas, com notável ingenuidade política — na melhor das hipóteses —, o jornalista acabou por dourar a pílula da entidade, reduzida a uma reunião de esquerdistas vetustos, inofensivos em sua embolorada retórica anti-imperialista, e dignos não da indignação, mas da misericórdia do público. “O figurino geral é um atestado da monotonia do evento” — Schelp narrava em off, distraindo-se com minudências e irrelevâncias. “Jaquetas de couro, paletó e, às vezes, gravata. Nada de militantes com camisetas do Che Guevara ou boinas.” A conclusão era uma só: extintos como os dinossauros, aqueles fósseis ideológicos já não representavam ameaça alguma.

Mas basta olhar para o mapa atual da América Latina para notar que, contrariamente ao que sugeria e continua sugerindo Schelp, os partidos e os movimentos articulados no Foro incluindo o PT — voltaram a ocupar a quase totalidade do poder no continente, e que, portanto, a entidade não pode ser tão inócua quanto ele queria nos fazer crer. O engano de Schelp quanto ao fenômeno é, todavia, bastante comum no ambiente midiático nacional.  
Ele consiste basicamente na tentativa de compreender o que é o Foro de São Paulo partindo exclusivamente da observação dos encontros anuais. Por ter presenciado um desses eventos, parcialmente abertos à imprensa, o jornalista acreditou captar de uma vez a natureza última da organização, uma crença tão inusitada quanto querer compreender a natureza de uma universidade a partir da observação da fachada externa de seus edifícios.
 
Ora, os encontros anuais do Foro não são o Foro. Não seria exagero dizer, inclusive, que o Foro é tudo aquilo que acontece no intervalo dos encontros, nas conversas de bastidores e nos acordos privados entre os falcões do socialismo latino-americano
Falcões como Lula, Fidel, Chávez, Maduro, Kirchner, Morales, Petro, Boric, que, ao chegarem ao poder em seus respectivos países, começam a pôr em prática, de maneira constante, estratégica e sempre articulada, o seu projeto comum e continental de poder.  
Basta ver a reação conjunta do bloco — notadamente manifesta nas posições do ex-terrorista Gustavo Petro (quanta ironia!) sobre ações estratégicas para combater o “terrorismo fascista” no Brasil em relação à “invasão do Capitólio” à brasileira.


Essas ações estratégicas e conjuntas vêm sendo tomadas há muito tempo, e só podem ser bem compreendidas à luz do projeto comum de poder, que, utilizando uma expressão cunhada por Hugo Chávez, poderíamos definir como “o socialismo do século 21”.  
Sem considerar a existência desse projeto comum, tornam-se incompreensíveis uma série de decisões e atitudes dos governantes dos países membros, que só se esclarecem vistas no todo, como peças de um vasto quebra-cabeça geopolítico. 
Hoje compreendemos melhor, por exemplo, as razões do empenho da então presidente argentina Cristina Kirchner para interferir nas investigações e encobrir a participação iraniana no atentado terrorista contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que, em 1994, matou 85 e feriu outras centenas de pessoas em Buenos Aires. 
 Como mostra o jornalista Leonardo Coutinho no indispensável Hugo Chávez, O Espectro, o acobertamento era parte de um acordo sigiloso de cooperação nuclear entre Kirchner e Ahmadinejad, que buscava avançar o seu programa nuclear com fins belicistas. 

Com mediação e participação de Hugo Chávez (um notório antissemita, fã declarado do regime dos aiatolás, e a quem Ahmadinejad foi pessoalmente pedir ajuda), o acordo envolveu toda sorte de crimes, incluindo o trânsito ilegal de dinheiro, equipamentos, produtos químicos, armamentos e tecnologia entre os três governos, nos moldes tradicionais do crime organizado, via empresas de fachada e lavagem de dinheiro. Recorde-se que investigações sobre a participação de Kirchner na trama culminaram no assassinato do promotor Alberto Nisman, que, justo às vésperas de apresentar os resultados de seu inquérito no Parlamento argentino, “se suicidou” no banheiro de casa.

Quem ignora o projeto continental do “socialismo do século 21” dificilmente entenderá também fatos cujos detalhes foram revelados pela Operação Lava Jato, a exemplo da construção do Porto de Mariel, em Cuba. Declaradamente destinado a fortalecer a ditadura dos irmãos Castro, o empreendimento resultou de um pedido direto de Hugo Chávez a Emilio Odebrecht. Obviamente, o trato contou com o aval e a mediação de Lula, que interveio junto ao BNDES para que fosse concedido um generoso empréstimo de quase US$ 700 milhões ao regime cubano. Para garantir a liberação do dinheiro a juros muito abaixo dos de mercado, o petista ignorou uma série de pareceres técnicos que afirmavam a inviabilidade do negócio, em tudo prejudicial aos interesses do Brasil. Como prova adicional do caráter espúrio do negócio, decretou-se sobre o empréstimo um sigilo que deveria durar até o ano de 2027.

A construção da Refinaria Abreu e Lima é outro caso emblemático de interferência de Hugo Chávez nos assuntos brasileiros, e mais uma prova inconteste de que, para as lideranças da organização, os objetivos estratégicos do Foro sempre prevaleceram sobre os interesses nacionais. Projetada com um custo inicial de US$ 2,3 bilhões, a obra foi parcialmente concluída com sete anos de atraso, a um custo final 20 vezes maior, e metade do rendimento da quantidade prevista de barris de petróleo processados.  

A coisa toda não passara de um desejo pessoal do ditador venezuelano, prontamente atendido pelo companheiro Lula, ainda que com sacrifício do Erário brasileiro. 
A parceria estimada entre a Petrobras e a petrolífera chavista PDVSA, que deveria arcar com 40% dos custos, terminou sem que os venezuelanos pusessem US$ 1 sequer no empreendimento
Coube ao Brasil arcar inteiramente com o prejuízo da refinaria mais cara e ineficiente do mundo.

Trata-se de uma confissão explícita, uma prova cabal de que as razões e as necessidades dos membros do Foro, discutidas interna e sigilosamente, se sobrepunham aos interesses nacionais que presidentes “eleitos”, como Lula, Chávez, Morales et caterva, deveriam atender

Poderíamos citar ainda o conluio entre Lula e Evo Morales para expropriar as refinarias da Petrobrás na Bolívia, causando ao Brasil um prejuízo de R$ 1,5 bilhão. “O Evo me perguntou: ‘Como vocês ficarão se nós nacionalizarmos a Petrobras?’. 
Respondi: ‘O gás é de vocês’” confessou Lula, em 2015, tratando um patrimônio do Estado brasileiro como propriedade particular a ser distribuída entre os coleguinhas de Foro. Na época, a imprensa brasileira não viu nada de mais na confissão, e, desviando o olhar, deu o assunto por encerrado.
 
Recorde-se também que, em 2011, a então presidente Dilma Rousseff anunciou mudanças no Tratado de Itaipu, atendendo a um pedido do companheiro Fernando Lugo, presidente do Paraguai e também membro do Foro. 
 Relatora do projeto no Senado, Gleisi Hoffmann defendeu a aprovação das mudanças, que triplicaram a taxa anual paga pelo Brasil ao Paraguai pela energia não utilizada da hidrelétrica de Itaipu, e enchia com dinheiro brasileiro os cofres paraguaios.
Poderíamos mencionar o famigerado programa Mais Médicos uma indústria de exploração de trabalho semiescravo de médicos cubanos enviados ao exterior, que rendia aproximadamente US$ 6 bilhões anuais ao caixa da ditadura castrista —, a criação por Lula e Dirceu de um comando estratégico no Brasil para a campanha de Hugo Chávez em 2012, que incluiu o envio dos publicitários João Santana e sua esposa, Mônica Moura (ver delação à Lava Jato), para cuidar do marketing eleitoral chavista, e uma série de medidas similares, todas com o mesmo sentido: a pilhagem dos recursos dos países governados por membros do Foro com o objetivo de atender aos interesses comuns da organização socialista. 
 Em todos esses casos, tratou-se sempre de uma ação entre companheiros. 
Quem o confessou, aliás, foi o próprio Lula.
pt
Encontro do Foro de São Paulo | Foto: DIVULGAÇÃO/PT

Em 2 de julho de 2005, em discurso oficial de celebração dos 15 anos do Foro, o hoje descondenado-em-chefe explicitou os termos daquelas relações, que envolviam decisões importantes de política externa e interna dos países membros, decisões tomadas às sombras, sem passar pelo escrutínio público e pelo aval dos Poderes Legislativo e Judiciário desses países (aliás, frequentemente comprados e submissos ao Executivo)

Nas palavras de Lula: “E eu queria começar com uma visão que eu tenho do Foro de São Paulo. Eu que, junto com alguns companheiros e companheiras aqui, fundei esta instância de participação democrática da esquerda da América Latina, precisei chegar à Presidência da República para descobrir quanto foi importante termos criado o Foro de São Paulo… Foi assim que nós, em janeiro de 2003, propusemos ao nosso companheiro, presidente Chávez, a criação do Grupo de Amigos, para encontrar uma solução tranquila que, graças a Deus, aconteceu na Venezuela. E só foi possível graças a uma ação política de companheiros. Não era uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro presidente. 
Quem está lembrado, o Chávez participou de um dos foros que fizemos em Havana. E graças a essa relação foi possível construirmos, com muitas divergências políticas, a consolidação do que aconteceu na Venezuela, com o referendo que consagrou o Chávez como presidente da Venezuela. Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com os nossos companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política”.
 
Trata-se de uma confissão explícita, uma prova cabal de que as razões e as necessidades dos membros do Foro, discutidas interna e sigilosamente, se sobrepunham aos interesses nacionais que presidentes “eleitos”, como Lula, Chávez, Morales et caterva, deveriam atender. 
Esses e outros “companheiros” puseram-se sempre a serviço do projeto de poder do Foro, valendo-se dos cargos que ocupavam para esse fim. Como sugerem as revelações sobre a caixa-preta do BNDES, que Palocci começou a abrir, ao Brasil cabia especificamente o papel de caixa eletrônico da organização. 
Eis por que, em seu primeiro mandato, o lulopetismo não podia se dar ao luxo de solapar a economia nacional de uma vez por todas, optando por manter o tripé da política econômica que tinha sido construída durante o governo de FHC: metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal.  
Como todo projeto socialista, o lulopetismo pensa a longo prazo, avança por etapas e aproximações sucessivas. Ou seja, o período que Schelp enxerga como prova definitiva de que o partido “nada tem de socialista” — como se concessões circunstanciais e temporárias à economia de mercado fossem novidade na história do movimento comunista — era apenas uma etapa preparatória para avanços futuros.

Resta que, ao contrário de Schelp, os expoentes da organização nunca perderam uma oportunidade de destacar a importância estratégica da organização. Em julho de 2012, por exemplo, no vídeo de encerramento do 18° encontro, Lula celebrava as conquistas do Foro e prestava apoio à reeleição de Hugo Chávez: “Em 1990, quando criamos o Foro de São Paulo, nenhum de nós imaginava que, em apenas duas décadas, chegaríamos aonde chegamos. Naquela época, a esquerda só estava no poder em Cuba. Hoje, governamos um grande número de países”.  

Note-se o emprego da primeira pessoa do plural, sugerindo que o Foro como instituição é quem governa os países no continente, e não os presidentes individuais formalmente eleitos. No ano seguinte, discursando na abertura do encontro, Lula voltou a enfatizar a importância histórica da organização: “Eu quero debitar parte da chegada da esquerda ao poder na América Latina a essa cosita chamada Foro de São Paulo”. Também José Dirceu, ao ser perguntado por Antônio Abujamra se poderia ter previsto o espantoso avanço da esquerda na América Latina, respondeu: “Prever, não. Mas nós já lutávamos e trabalhávamos por isso. Inclusive porque nós criamos o Foro de São Paulo, que lutava para isso”. Já em 1997, durante a propaganda eleitoral, o então presidente admitira que o Foro havia sido “uma resposta direta e afirmativa da esquerda latino-americana à crise do socialismo, à queda do Muro de Berlim, à desintegração da União Soviética”. Uma década depois, no vídeo preparatório de seu 3º Congresso Nacional, o PT proclamava o objetivo de “extinguir o capitalismo e iniciar a construção do socialismo” na América Latina, caracterizando o Foro de São Paulo como “um espaço de articulação estratégica”, dedicado à consolidação de “um novo internacionalismo”.

Diante de tudo isso, cabe ao leitor decidir se acredita nas cândidas impressões do jornalista ou nas reiteradas confissões dos criadores e dos principais expoentes da entidade, bem como na correspondência fatual entre planos traçados e resultados políticos conquistados. Afinal, tal como no filme hollywoodiano, os “dinossauros” de Schelp parecem ter voltado à vida, e estão à solta pelo continente, ferozes e famintos, ocupando todos os espaços e destruindo tudo em sua passagem. Quanto ao socialismo… Esse, como se sabe, morreu há muito tempo. Mas passa bem.

Leia também “O vermelho é a nova cor da América Latina”

Flávio Gordon, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Falta combinar com os russos

“O folclore futebolístico tem tudo a ver com a situação da Venezuela. A ofensiva de Trump e  Bolsonaro esbarrou na aliança de Maduro com o presidente russo Vladimir Putin


Na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, o técnico Vicente Feola, em preleção antológica, explicou, na prancheta, a tática para derrotar a seleção da antiga União Soviética: 
 Nilton Santos lançaria a bola da esquerda do meio de campo para a direita do ataque, nos pés de Garrincha, que driblaria três adversários e cruzaria para Mazola cabecear na grande área. Com ingenuidade ou ironia, não se sabe, o anjo das pernas tortas perguntou: “Seu Feola, o senhor combinou com os russos?”

O folclore futebolístico tem tudo a ver com a situação atual da Venezuela. A ofensiva diplomática protagonizada pelo presidente norte-americano Donald Trump e pelo presidente Jair Bolsonaro contra Nicolás Maduro, que denunciou a autoproclamação do líder do Legislativo, Juan Guaidó, como presidente interino do país, como um “golpe de Estado”, esbarrou na resistência do ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino, ao lado da cúpula militar das Forças Armadas do seu país. Mas também na aliança de Maduro com o presidente russo Vladimir Putin, liderando uma coalizão de oito países, o que transformou a Venezuela no epicentro de uma disputa semelhante àquela que ocorre entre potências mundiais no Oriente Médio.

Além da Rússia, Cuba, México, Bolívia, Nicarágua, Turquia, China e Irã apoiam o regime chavista, enquanto Guaidó é reconhecido como presidente interino pelos seguintes países: Estados Unidos, Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Reino Unido. A União Europeia assumiu uma posição intermediária: a defesa da realização de eleições livres na Venezuela. A crise prossegue sob muita tensão, a qualquer momento pode haver emprego da força por parte dos militares contra a oposição, com o fechamento da Assembleia Nacional e prisão de Guaidó, além de outros líderes oposicionistas. Fala-se em divisão nas Forças Armadas, mas o pronunciamento sinaliza apoio da cúpula militar ao regime. [existe cúpula com tropas e cúpula apenas com o cargo e título e o comando de uma mesa.]

O presidente Nicolás Maduro, na verdade, é um fantoche da cúpula militar, que controla a maior parte do governo e praticamente todas as empresas estatais. Como o regime não tem mais nenhuma sustentação política da sociedade e a Assembleia Nacional tem mais respaldo popular do que o governo, vive-se uma situação de dualidade de poderes, que pode ter desdobramento trágico, porque o governo perdeu controle da economia, mas não o poder de coerção sobre a sociedade. A repressão política na Venezuela é muito violenta, protagonizada pela Guarda Nacional e pela milícia bolivariana armada, a tropa de choque de Maduro.

Intervenção
Os Estados Unidos solicitaram uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para tratar do assunto, logo após o presidente Donald Trump falar que examina todas as possibilidades de intervenção na crise venezuelana, inclusive militar. Maduro ontem mandou fechar a embaixada dos EUA em Caracas e vai expulsar os diplomatas, o que aumenta a escalada de tensão. Não foi à toa que o presidente em exercício Hamilton Mourão, ontem, descartou a participação do Brasil em qualquer intervenção militar. O envolvimento do Brasil na crise venezuelana é uma ruptura com a tradição do Itamaraty, que costuma operar nos bastidores para saídas negociadas durante as crises nos países vizinhos. Ontem, porém, o Itamaraty anunciou que somente o chanceler Ernesto Araujo falará sobre o tema. O ministro defende o alinhamento automático com Trump e outros falcões da política internacional.

O apoio aberto da Rússia ao regime de Maduro, com quem tem intensa cooperação militar, não deve ser subestimado, embora a situação geopolítica da Venezuela seja completamente diferente da situação, por exemplo, da Síria, onde Putin conseguiu garantir a sobrevivência do regime de Bashar al-Assad, o ditador sírio que se recusou a deixar o poder e os ex-presidente Bush e Obama tentaram derrubar. Hoje, os Estados Unidos estão se retirando da Síria e os russos continua por lá, com sua base naval. Na Venezuela, não existe base militar da Rússia, apenas blindados e aviões de caça de fabricação russa.

Em termos militares, o Brasil tem as Forças Armadas mais numerosas da região, contando com 366 mil militares da Força Aérea, Marinha e Exército. A Venezuela fica um pouco atrás, com 365 mil efetivos. [o que conta é o efetivo realmente operacional e na Venezuela não alcança sequer 150.000 militares. A situação de extrema penúria da Venezuela, com repercussão na capacidade militar, faz com que suas forças armadas apesar de dotadas de bom armamento tem pouca capacidade para ações que exijam apoio logístico, o que reduz em muito sua capacidade ofensiva, tornando-as praticamente só defensivas e mesmo assim para combates de curta duração.] O México (267 mil) e a Colômbia (265 mil) seguem de perto; depois, vêm Argentina (79 mil), Peru (78 mil), Chile (67 mil), República Dominicana (58 mil), Equador (41 mil), Bolívia (34 mil), El Salvador (24 mil), Uruguai (22 mil), Guatemala (18 mil), Paraguai (16 mil) e Honduras (15 mil militares).

 Proporcionalmente, porém, a Venezuela fica no primeiro lugar da lista, com 118 militares por 100 mil habitantes. O Uruguai, fica em segundo, com 65. O Brasil tem apenas 18 militares por cada 100 mil habitantes. Trocando em miúdos, ninguém com juízo apostaria numa guerra com a Venezuela, nem Maduro está em condições de uma iniciativa dessa ordem, mesmo em relação à Guiana. Aí, sim, daria pretexto para uma intervenção militar dos Estados Unidos.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB


 

quinta-feira, 10 de março de 2016

O veneno da jararaca



Cobras não fazem política, porém lembram algumas de suas práticas. São répteis exclusivamente carnívoros que engolem suas vítimas inteiras. A ciência reconhece mais de 20 famílias, 465 gêneros e mais de 2.900 espécies. No Brasil, são quase 400 espécies diferentes, sendo mais de 60 peçonhentas.

A jararaca (em biologia, família Viperidae, gênero Bothrops) é robusta, porém menor que as outras do mesmo gênero. De enorme capacidade adaptativa, é a espécie mais comum na Região Sudeste brasileira. Troca de pele à medida que cresce, ao longo de toda sua vida. Parece político? [a troca de pele da jararaca nada mais é do que a ‘METAMORFOSE’ auto atribuída ao Lula quando se declarou ‘metamorfose ambulante – a fixação por serpentes é antiga no ‘nosso guia’, aliás, ele possui e pratica um dos principais atributos das serpentes: ataca traiçoeiramente.]

A maioria das espécies de jararacas vive em ambiente preferencialmente úmido, como a beira de rios, onde também se encontram ratos e sapos, seus pratos prediletos. Dorme durante o dia debaixo de folhagens, mas gosta de tomar sol. Com hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares, tem comportamento agressivo ao ver se aproximar uma eventual vítima; suas presas inoculadoras de veneno se projetam no momento do bote.

Perigosíssima, é a responsável por mais de 90% das vítimas de cobras peçonhentas no Brasil. A maioria de suas picadas atinge os membros, e seu veneno produz dor no local, equimose, edema, hemorragia, necrose, podendo levar a paralisia dos rins. As vítimas devem ser internadas para receber o soro específico. Mesmo que atendido a tempo e num local que tenha experiência com esse tipo de problema, um por cento das vítimas morre. 

 Hoje morre mais gente de dengue e tuberculose!  No Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos, do Ministério de Saúde, que não é atualizado desde 2001, aprendemos que são notificados 20 mil acidentes ofídicos por ano, em geral trabalhadores no campo. Somente em 2014, surgiu outra publicação oficial, desta vez pela Fundação Ezequiel Dias, vinculada à Secretaria de Saúde do governo de Minas Gerais. Esse excelente manual, muito bem ilustrado, ensina até como se prevenir de acidentes com animais peçonhentos.

Sendo ora presas de gaviões, corujas e falcões e ora predadoras de diversos animais, inclusive ratazanas, as serpentes contribuem para o equilíbrio ecológico, não sendo adequado eliminá-las sistematicamente. Cabe ao homem se prevenir dos seus ataques, mas, se necessário, eliminá-las, para se defender. O ideal é capturá-las com técnica adequada, para que sejam utilizadas por cientistas na produção de soro contra seu veneno, para salvar vidas.

Recentemente, ao ouvir um político experiente se comparar a uma jararaca, fiquei preocupado com o simbolismo da metáfora.

No Brasil, o ecossistema e o sistema político estão em constante e progressivo desequilíbrio. As jararacas, escorpiões e aranhas têm seu inequívoco papel na ecologia. O que se espera é que os políticos tenham equilíbrio para não envenenar o país. Caso isso não aconteça, desculpem a metáfora, a cobra vai fumar, obedecendo a Constituição.

Por: Alfredo Guarischi