Presidente representa o legado de Sylvio Frota
[Geisel foi o segundo melhor presidente do Brasil;
o 1º foi o general Médici e o marechal Costa e Silva, se tornou merecidamente 'hors-concours', por ter tido a coragem de editar a medida que salvou o Brasil e os brasileiros = o Ato Institucional nº 5;
Geisel, cometeu dois grandes erros:
-escolher Figueiredo como sucessor; e,
- demitir o general Sylvio Couto Coelho da Frota, impedindo com isso que o general se tornasse presidente e conduzisse com firmeza o processo de abertura.]
O presidente Jair Bolsonaro, de credenciais inequívocas na direita, de
certa forma é "trotskista e gramsciano". Acredita na revolução
internacional permanente e aposta no estabelecimento de uma hegemonia
cultural. Bolsonaro precisa da derrota mundial da esquerda [o mundo precisa e passo a passo e com velocidade crescente a esquerda desaparecerá.] não para emergir como o
líder de uma tendência, algo que jamais será, mas para subsistir. Em
suas colocações e entrevistas, é frequente o raciocínio de que a era
Lula não teve origem em circunstâncias muito particulares da conjuntura
brasileira, mas em uma conjura de agitação e propaganda transnacional em
grande parte tocada pelo Foro de São Paulo. O fim do ciclo petista no
Brasil, em sua concepção, só se consolida com a repetição do fenômeno
além fronteira.
Daí a importância da Venezuela em sua equação. A queda da ditadura
venezuelana, se e quando se materializar, permitiria a Bolsonaro
investir na radicalização no Brasil, jogando a pecha do autoritarismo na
testa de seus adversários, estratégia para a qual o PT contribui de
maneira estúpida, ao se solidarizar com o sangrento regime de Maduro.
Daí porque Bolsonaro se sente ameaçado por um eventual retorno de
Cristina Kirchner ao poder na Argentina. E esta é a razão para a qual
fez um apelo a políticos de direita no Uruguai para que derrotem a
Frente Ampla naquele país. O presidente brasileiro porta-se como um cabo
eleitoral de Trump, porque prefere nem pensar na hipótese de ter que
lidar com alguém como Joe Biden à frente da Casa Branca. Não tanto pelas
mudanças de orientação na política externa que um governo democrata
faria, mas pelo impacto de uma derrota de Trump no imaginário da
revolução mundial 'neocon'.
Trump não é mais uma pessoa, é uma ideia. Na visão do chanceler de
Bolsonaro, o líder de uma reação da cristandade ocidental contra o
globalismo. Bolsonaro precisa de Trump no poder e Maduro acuado para
sustentar a sua narrativa. Assim como Trotski não acreditava na
sobrevivência do socialismo em um só país, o bolsonarismo também anseia
pela revolução mundial. A vertente gramsciana do atual grupo no poder está na enorme preocupação
com o suposto predomínio da esquerda no pensamento acadêmico, na
intelectualidade, nos meios de comunicação. O bolsonarismo pensa a
educação pública como uma ferramenta de disseminação de um pensamento
político, de exercício de poder. Sem uma estratégia clara de como tomar
de assalto estes aparelhos, o bolsonarismo pretende antagonizá-los, e no
limite, sufocá-los financeiramente. Pela primeira vez na história
brasileira, a educação pública torna-se não uma solução, mas um
problema. Um obstáculo a ser transposto.
A visão de que as ameaças ao exercício do poder vêm da cultura e da
conjuntura internacional foi exposta por clareza de uma espécie de um
líder ancestral de alguns integrantes do governo, o general Sylvio Frota
(1910-1996). Era o ministro do Exército que foi demitido por Ernesto
Geisel em 1977 quando começava a articular a sua candidatura a
presidente nas eleições indiretas. Frota queria aprofundar o movimento
de 64, e não desmontá-lo com uma abertura, lenta, gradual e segura.
Para Frota, o marxismo buscava "infiltrar-se em quase todos os setores
da vida pública brasileira, chamando de fascistas os que se opõem aos
seus desígnios", conforme afirmou em uma ordem do dia de 1975, de acordo
com o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, da Fundação Getulio
Vargas. No seu livro de memórias, "Ideais Traídos", cujo nome é bastante
sugestivo de sua visão sobre o processo de abertura, Frota argumentou
que o governo Geisel era de centro-esquerda. Acreditava que havia 97
comunistas infiltrados dentro do governo federal. A política externa do
governo de então, que restabeleceu relações diplomáticas com a China e
aproximou-se das recém independentes nações da África, era alvo
frequente de suas críticas.
A cruzada de Frota também era contra "a existência de um processo de
domínio, pelo Estado, da economia nacional - inclusive de empresas
privadas - de modo a condicionar o empresariado brasileiro aos ditames
do governo", conforme registrou em sua carta de demissão. O
ultraconservador Frota unia assim o anticomunismo à defesa do Estado
mínimo. A demissão sumária do general desarticulou a linha-dura e consolidou o
fim do regime militar dentro de um processo negociado com a classe
política. Frota tentou reagir, mas a cúpula do Exército não o
acompanhou.
Bolsonaro era muito jovem à época desses acontecimentos, mas as figuras
que sempre nominou como referências, como o ministro do GSI, Augusto
Heleno, ou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015,
estavam na órbita do frotismo. O primeiro era ajudante de ordens do
ministro, o segundo subchefe de operações do Centro de Inteligência do
Exército (Ciex).
As forças que Frota reuniu em torno de si ficaram sem perspectiva de
poder pouco mais de sete anos antes do insucesso da ala pragmática do
regime em fazer o sucessor de Figueiredo. Não foram elas que perderam em
1985. Como escreveu Frota na sua despedida, "existe uma evidente
intenção de alienar as Forças Armadas dos processos decisórios do país,
açambarcados por um grupelho, encastelado no governo". A baixa oficialidade daquele tempo, mera espectadora da briga dos
estrelados, vive atualmente uma luta com os seguidores do polemista
Olavo de Carvalho para deter a hegemonia do governo do capitão, mas
talvez não esteja tão distante de seus contendores nas premissas
básicas. [o governo do capitão vai bem com viés de melhorar e não precisa ter sua hegemonia detida, ao contrário, tem que ser estimulada;
quem precisa ser detido, em todos os aspectos é o 'filósofo' de Virginia.']