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domingo, 24 de maio de 2020

Barulho por celular é farsa; quer ilusão de vitória. Machado para Bolsonaro - UOL

Coluna Reinaldo Azevedo 

A nota do general Augusto Heleno e a bravata de Jair Bolsonaro em seu destampatório depois da divulgação do vídeo constituem duas maneiras de declarar vitória quando estão perdendo o jogo. [o jogo ainda não começou.] Explico. Ao pé letra, a nota de Heleno ameaça com golpe. Nem seria tão difícil de dar o dito-cujo, caso houvesse consenso nas Forças Armadas. Não há. A dificuldade mesmo estaria em mantê-lo. Eles não conseguem organizar um plano para enfrentar o coronavírus, e não há consenso no próprio governo sobre o rumo econômico a tomar. Ou alguém acha que os militares acreditaram no palavrório de Paulo Guedes?

Sair dando tiro, prendendo e arrebentando, havendo soldadesca disposta e armas, bem, isso é relativamente fácil. A questão é governar depois. Quanto tempo duraria a aventura? O destino dos golpistas seria a cadeia. Ou juntar os corpos da guerra civil aos das vítimas da Covid-19.  O que está em pauta é outra coisa: uma tática de intimidação do Supremo.

Bolsonaro e Heleno sabem que estão, no caso do telefone, fazendo tempestade em copo d'água. O pedido para recolher o celular do presidente foi feito por deputados da oposição. É uma petição como qualquer outra. [uma petição que, como qualquer outra, pode ser deferida. E o desejo por holofotes, torna os piores absurdos possívei.] A obrigação do ministro do Supremo é encaminhar à Procuradoria Geral da República.

Eu estou entre aqueles, por exemplo, que avaliam, e já escrevi isso aqui e disse no rádio, que o pedido não procede com o que se tem até agora.
É certo que Augusto Aras vai opinar que o pedido é descabido. Aliás, imprudente, como sempre, Bolsonaro diz ter a certeza de que será essa a opinião do procurador. Faz parecer que uma decisão de caráter técnico é um arranjo.

Como certamente já lhe disseram que Mello dificilmente mandaria recolher seu celular, quer fazer parecer, de novo, que uma decisão técnica corresponde a um recuo do ministro, para que suas milícias digitais possam gritar: "Ficou com medo, ficou com medo!!!" Basta esse joguinho vulgar para desqualificar essa gente toda no trato com a institucionalidade.

Sim, é evidente que se trata de uma tática para intimidar o Supremo. E não! Eu não acho que Mello, agora, deva, então, mandar recolher o celular só para mostrar quem manda. [será que o ministro pró condução 'debaixo de vara' também pensa assim?]  Tanto quanto possível, tem de esquecer a gritaria e decidir segundo a razoabilidade. Para a investigação que está em curso no Supremo, o recolhimento do celular não se mostra, parece-me, necessário. Até porque a reunião revelou coisas muito mais graves. A intervenção ilegal na polícia federal, como resta claro, não fica caracterizada na reunião. O que se tem é a determinação de intervir em tudo, também na PF.

Estupidamente grave, reitero, é a confissão de que o presidente quer armar a população pensando num futuro confronto de natureza política. E a admissão, pelo presidente, de que ele tem um sistema particular de inteligência. [o que o presidente chamou de sistema particular de inteligência consiste, em sua definição, de informações que recebe de amigos.
Imprudência no falar é uma característica do nosso presidente.]

Quem sairá mal no retrato é Augusto Aras. Aposta que vai fazer de conta que nada aconteceu. Afinal, ele tinha com ele esse conteúdo e opinou que deveria permanecer em sigilo. Ele tentou escondê-lo da opinião pública. Imagino Lula ou Dilma a fazer uma declaração com esse conteúdo. [Dilma é uma criminosa esperando condenação - questão de tempo - e Lula é um criminoso com duas condenações - em uma o cumprimento da pena ainda não iniciou e na outra falta cumprir alguns anos e ainda  responde a vários processos criminais.
Com uma folha corrida desse tipo, os dois tem quer ser prudentes.] Ou o contrário disso: imaginem os petistas a dizer, na fase de implementação, que o Estatuto do Desarmamento buscava tirar armas do povo para ficar mais fácil implementar uma agenda política.

Isso é o que os paranoicos dizem sobre o Estatuto, mas nunca foi uma confissão.  Pois Bolsonaro confessou: suas portarias sobre armas têm um horizonte político. Afinal, como ele diz, "a liberdade é mais importante do que a vida".

MACHADO DE ASSIS
Ai, ai... Citarei Machado de Assis num texto que trata de Bolsonaro e do general Heleno. É para elevar o debate. No romance "Esaú e Jacó", o enterro de Flora, disputada ferrenhamente pelos gêmeos Pedro e Paulo -- moralmente, eles a mataram --, se dá durante a decretação do estado de sítio pelo presidente Floriano Peixoto.

E o estupendo Machado escreve:
"Não há novidade nos enterros. Aquele teve a circunstância de percorrer as ruas em estado de sítio. Bem pensado, a morte não é outra coisa mais que uma cessação da liberdade de viver, cessação perpétua, ao passo que o decreto daquele dia valeu só por 72 horas. Ao cabo de 72 horas, todas as liberdades seriam restauradas, menos a de reviver. Quem morreu, morreu. Era o caso de Flora; mas que crime teria cometido aquela moça, além do de viver, e porventura o de amar, não se sabe a quem, mas amar? Perdoai estas perguntas obscuras, que se não ajustam, antes se contrariam. A razão é que não recordo este óbito sem pena, e ainda trago o enterro à vista..."

Com o seu "liberalismo de baioneta", é evidente que Bolsonaro não saberá o tamanho da asneira que é opor a vida à liberdade. Quando se luta por liberdade, ARRISCANDO A VIDA (ISSO É OUTRA COISA), o que se quer é uma vida livre, não uma liberdade que vague sem corpo. Porque isso não existe. Daí que Machado escreva: "A morte é a cessação da liberdade de viver". Sem vida, presidente, então se é livre para quê?  Mas, claro!, essa é uma pergunta feita por quem preza a vida.
Naquele dia 22, o da reunião macabra, já haviam morrido três mil pessoas. E havia 46 mil contaminados. Não houve uma só palavra, de ninguém!, que denotasse solidariedade, empatia ou dor.

Um mês depois, doentes e cadáveres foram multiplicados por sete. E eles todos continuam a não dar a mínima para a "cessação da liberdade de viver".  Estão ocupados em ameaçar o país com golpe de estado.

A história não lhes será leve.

Reinaldo Azevedo, jornalista - Coluna no UOL




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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

É hora de cobrar Janot, Renan e ministros do TCU

CONTRA O ARRANJÃO – Alô, Movimento Brasil Livre! Alô, Revoltados Online! Alô, Vem Pra Rua! Alô, decentes!
É na hora de a onça beber água que se testam as convicções, inclusive a de falsas vestais que conseguem se esconder em biombos de moralidade de ocasião. Se há quem ainda não tenha entendido, então sou mais claro: ESTÁ EM CURSO UMA MEGA-ARMAÇÃO EM BRASÍLIA PARA LIVRAR A CARA DOS VERDADEIROS RESPONSÁVEIS PELO PETROLÃO E CULPAR OS SUSPEITOS DE SEMPRE E OS INIMIGOS DE ESTIMAÇÃO DA IMPRENSA.

A armação é gigantesca, bem urdida e nem sempre fácil de entender. Mas os passos estão sendo dados. Contei aqui de manhã um dos sonhos de impunidade que se desenham em Brasília:
1: Rodrigo Janot livraria a cara de Renan Calheiros, não oferecendo denúncia contra o presidente do Senado — também se safariam os senadores petistas Humberto Costa (PE) e Gleisi Hoffmann (PR);
2: Renan faria valer a sua influência no Senado para aprovar a recondução de Janot ao cargo — e alguns imbecis diriam que a troca vale a pena. Como é mesmo? Tudo pela moralidade da Lava Jato!
3: Mas não só! Renan precisa se livrar da Lava Jato porque é a nova âncora de estabilidade escolhida pelo Planalto. De quebra, ele “influenciaria” três votos no TCU, antes contrários a Dilma: Bruno Dantas, Raimundo Carreiro e Vital do Rêgo.

O primeiro passo do sonho já começa a ser realidade. O TCU já anunciou o adiamento da votação do relatório. Em tese, o governo ganhará mais tempo para dar resposta a suas dúvidas. De fato, esse é o tempo necessário da cooptação. Também se espera um abrandamento da fervura.

Leio hoje no Painel da Folha que o terrível Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deve ser, de fato, o homem mais poderoso do Brasil, teria orientado seus seguidores a pôr Renan Calheiros na mira das manifestações. Vai ver também faço parte dessa nova conspiração… Sim, é preciso pôr Renan na mira das manifestações porque é evidente que o “arranjão Fica-Dilma” passa por ele.

Que peninha! Não combinei antes com o deputado. Não falo com ele ou com qualquer assessor seu desde o dia 13 de julho, quando concedeu uma entrevista ao programa “Os Pingos nos Is”, que ancoro na Jovem Pan — antes ainda de Julio Camargo tê-lo acusado de ter recebido US$ 5 milhões de propina. Coisas assim são sempre comprováveis porque parto do princípio de que não existe mais sigilo telefônico (ou de qualquer natureza) no país.

Mas não é só Renan, não! Também Rodrigo Janot deve ser alvo do interesse dos movimentos de rua que cobram a saída de Dilma. O acordão que está em curso depende também da sua participação. Ah, sim, se quiserem, merecem atenção alguns ministros do Supremo: sabem como é… São eles que aceitam ou rejeitam as denúncias oferecidas pela Procuradoria.

O jogo que se trava em Brasília é por demais óbvio, não é mesmo? Sim, claro!, podemos considerar mera coincidência que Lula estivesse discursando para as ditas “margaridas”, nesta terça, em patuscada financiada por estatais, enquanto Dilma discursava em jantar para Janot, cinco ministros do Supremo, três ministros de estado e presidentes de demais tribunais superiores.

No dia seguinte, nesta quarta, a Câmara dos Deputados foi cercada pelas ditas margaridas, como direi?, “PTeladas”, que pedem, ora vejam, a cabeça de Eduardo Cunha. Fosse porque ele está na Operação Lava Jato, também cobrariam a de Renan, Vaccari e outros. Mas não! Não estão contra ele por seus eventuais e supostos crimes, mas porque ele é, afinal, um adversário do governo.

É preciso, sim, que as ruas passem a cobrar também o procurador-geral da República. Por que não? Como sabe qualquer um que se ocupe da Constituição e da jurisprudência do Supremo, a presidente Dilma pode, sim, no mínimo, ser investigada em inquérito. Quanto ao oferecimento de denúncia, há uma controvérsia, a meu ver, sobre o nada — e bastaria, para tanto, ler o que está na Carta. Em vez disso, Janot está indo jantar com Dilma para comemorar o Dia do Advogado… Tenham paciência!

O “Arranjão” já está combinado. É preciso ver, agora, se as ruas, ao denunciar a farsa, conseguem desfazê-lo. Não é fácil. A máquina, como se nota, é poderosa e opera em várias frentes: no Legislativo, no Judiciário, no Ministério Público, no TCU, nos ditos movimentos sociais, na imprensa. Enfrentar a hegemonia que as esquerdas firmaram nesses anos não é tarefa simples.

E só para arrematar. Há muito tempo vislumbro um acordão sendo desenhado — afinal, a um analista cabe ir além do calor da hora e da simples torcida. Idiotas gritam aqui e ali. Se não o fizessem, idiotas não seriam. O tempo está se encarregando de esclarecer as coisas. No dia 22 de fevereiro, escrevi aqui:
(…)
Muito bem! O Brasil está de olho em Rodrigo Janot, procurador-geral da República. E espera-se que Rodrigo Janot esteja de olho no Brasil, mais preocupado em dar a resposta necessária à impressionante sucessão de descalabros na Petrobras do que em, digamos, “administrar” a denúncia para amenizar a crise política. Esse é, afinal, um papel que cabe aos… políticos. Sim, é preciso que a gente acompanhe com lupa o trabalho do Ministério Público Federal.
Janot andou a pensar alto por aí. E este blog revela um desses pensamentos, prestem atenção: “Passei a régua e, felizmente, Lula e Dilma estão limpos”. É? Então é hora de voltar à prancheta.
(…)
Um dos interlocutores frequentes de Cardozo, diga-se, tem sido justamente Janot. E isso não é bom. É evidente que um procurador-geral deve manter relações institucionais com o ministro da Justiça. E só! Em dias como os que vivemos, conversas cordiais entre quem investiga e porta-vozes informais de investigados não parecem constituir atitude muito prudente.(…)
A hipótese de que o petrolão chegue à fase de julgamento como mero esquema de assalto aos cofres do país, protagonizado por empreiteiros que decidiram corromper agentes públicos, é coisa ainda mais grave do que uma mentira: É UMA CORRUPÇÃO DA VERDADE. Tal leitura busca absolver o PT de seu crime principal: O ASSALTO À INSTITUCIONALIDADE.

Fonte: Blog do  Reinaldo Azevedo